Compartilhar

Conhecimento e comportamento preventivo de gestantes sobre Toxoplasmose no município de Imperatriz, Maranhão, Brasil

Conhecimento e comportamento preventivo de gestantes sobre Toxoplasmose no município de Imperatriz, Maranhão, Brasil

Autores:

Ivone Pereira da Silva Moura,
Ilma Pastana Ferreira,
Altem Nascimento Pontes,
Cléa Nazaré Carneiro Bichara

ARTIGO ORIGINAL

Ciência & Saúde Coletiva

versão impressa ISSN 1413-8123versão On-line ISSN 1678-4561

Ciênc. saúde coletiva vol.24 no.10 Rio de Janeiro out. 2019 Epub 26-Set-2019

http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320182410.21702017

Introdução

A toxoplasmose é uma zoonose mundial causada pelo protozoário intracelular obrigatório Toxoplasma gondii1-3. Quando a doença acontece na gestação constitui um grave problema de saúde pública, e a taxa de transmissão vertical é diretamente proporcional à idade gestacional em que ocorre a priminfecção, variando de 6% a 10% no primeiro trimestre para 70% a 90% no terceiro trimestre1,4,5. No entanto, a doença é mais grave se ocorrer no início da gestação6,7, quando pode provocar sérias manifestações clínicas no feto8,9.

O T. gondii está entre um grupo de microorganismos com potencial de transmissão perinatal como o citomegalovírus, HIV, Herpes Simplex, vírus da rubéola, da hepatite B, além de outros10. Contra tal possibilidade deve-se dar maior importância ao conhecimento e às medidas preventivas das gestantes em relação a estas doenças.

A maior parte dos estudos sobre toxoplasmose na gravidez procura estimar a prevalência da doença ou da infecção e seus fatores de risco1-3. Por outro lado, é preciso compreender que o conhecimento e o comportamento preventivo à toxoplasmose na gravidez podem contribuir para o início de atividades de prevenção primária, fundamentais para o direcionamento de políticas públicas6,11,12.

Neste contexto, alguns estudos avaliaram o conhecimento relacionado à toxoplasmose e mostram que as gestantes não estão cientes sobre as formas de transmissão e não adotam comportamentos preventivos11,13,14. Nos Estados Unidos foi observado baixo nível de conhecimento sobre fatores de risco, apesar de uma elevada porcentagem de gestantes ter indicado que pratica bons comportamentos preventivos15.

Partindo-se do pressuposto de que um comportamento em saúde prende-se a um processo sequencial, com origem na aquisição de um conhecimento cientificamente correto, que pode explicar a formação de uma atitude favorável e consequentemente adoção de uma prática de saúde16, constata-se que a falta de conhecimento sobre a toxoplasmose pode apresentar associação significativa com a positividade para a doença, sendo considerada um fator de risco importante17.

Desse modo, foi considerado importante realizar uma pesquisa nesta temática que discorre sobre o conhecimento e o comportamento preventivo da toxoplasmose entre gestantes na região Nordeste do Brasil, em um município do Estado do Maranhão, levando-se em conta a importância de sua repercussão para a gravidez, otimizando a logística já estruturada a partir do programa da Estratégia Saúde da Família que visa medidas de prevenção no nível da atenção primária à saúde, no momento do pré-natal.

Foram consideradas questões fundamentais a serem respondidas: (1) estariam as gestantes em condições de risco potencial para a toxoplasmose, considerando baixo nível de conhecimento e comportamento não-preventivo? (2) estariam as gestantes adotando comportamento preventivo a doença?

Método

Trata-se de estudo de corte transversal analítico, descritivo, com abordagem quantitativa realizado no período de junho de 2016 a fevereiro de 2017, no município de Imperatriz-MA (5º31’32” S e 47º26’35” W), com aproximadamente 252.123 habitantes, atendidos por 28 Unidades Básicas de Saúde (UBS) e 38 Equipes de Saúde da Família (ESF), localizadas na zona urbana do município, onde o estudo foi realizado. Está aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade do Estado do Pará.

A população sob estudo foi de gestantes que realizavam pré-natal nas UBS, consideradas pelo Ministério da Saúde como classe de risco para a infecção pelo T. gondii, mediante a possibilidade da transmissão placentária ocasionando a forma congênita do agravo18,19. O “n” amostral baseou-se na frequência esperada de gestantes com conhecimento e comportamento preventivo à toxoplasmose de 50% na população finita de 876 gestantes cadastradas na zona urbana em Imperatriz para o ano de 2016, de acordo com os dados do Sistema Informação da Atenção Básica (SIAB), que permitiu estimar o parâmetro com margem de erro amostral de 5% e nível de confiança de 95%. O tamanho ideal foi de 275 gestantes, porém cinco unidades básicas não adotam a mesma rotina para a realização de consultas pré-natais, ficando então definido em 239 gestantes, por escolha aleatória, de acordo com a presença nas salas de pré-natal, que atendiam os critérios de inclusão (cadastro em uma das ESF urbanas, residentes no bairro da respectiva UBS, com idade superior a 18 anos), e concordavam em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram excluídas aquelas que estavam realizando a primeira consulta de pré-natal e cadastrada em ESF de zona rural.

Os dados foram coletados a partir de um questionário estruturado e pré-testado, composto por itens relacionados aos aspectos sociodemográficos, ambientais e à assistência pré-natal, e com perguntas relacionadas à doença incluindo quatro domínios com 24 itens para avaliar o conhecimento sobre as formas de transmissão da doença, quadro clínico, toxoplasmose congênita e prevenção da infecção1,14,15,20. As perguntas fechadas foram usadas com formatos verdadeiros, falsos e não sabe. Para a seção de conhecimento, a resposta correta atribuiu um ponto, quando ‘incorreta’ ou ‘não sabe’ foi atribuída pontuação nula.

Dados adicionais, incluindo a data de início do pré-natal, o número de consultas e os testes sorológicos realizados no pré-natal, foram obtidos a partir dos registros no cartão da gestante. Tal espaço foi preenchido quando o cartão continha a informação.

Para analisar quantitativamente o conhecimento e comportamento das gestantes sobre toxoplasmose foram aplicados métodos estatísticos descritivos e inferenciais. As variáveis qualitativas foram apresentadas por distribuições de frequências absolutas e relativas. As variáveis quantitativas foram apresentadas por medidas de tendência central e de variação, e tiveram sua distribuição avaliada pelo teste de D’Agostino-Pearson.

Para quantificar o conhecimento e o comportamento preventivo das gestantes foi atribuída uma escala que varia conforme a quantidade de respostas corretas em relação ao conhecimento e aos comportamentos adequados. A pontuação de conhecimento varia de 0% (Errou todas as perguntas) a 100% (Acertou todas as perguntas). A pontuação de comportamento varia de 0% (Todos os comportamentos inadequados) a 100% (Todos os comportamentos adequados). Foi previamente fixado o nível de Conhecimento Bom (maior ou igual a 70%), Regular (maior que 51% e menor que 69%) e Ruim (menor ou igual a 50%). E para o Comportamento Adequado (maior ou igual a 70%), Regular (maior que 51% e menor que 69%) e Inadequado (menor ou igual a 50%). O critério para indicar as gestantes com maior risco potencial para a toxoplasmose foi o seguinte: ter pontuação menor que 70% em ambas as escalas, tanto em conhecimento quanto em comportamento.

Para realizar a avaliação do risco potencial, a amostra de n = 239 foi classificada em dois grupos: GA (Conhecimento e comportamento ruins ou inadequados, n = 84 - Maior Risco) e GB (Conhecimento e comportamento bons ou adequados, n = 155 - Menor Risco). Foi aplicado o teste G e o teste do Qui-quadrado seguido do Odds Ratio. Foi previamente fixado o nível alfa = 0,5 (Erro Alfa 5%) para rejeição da hipótese nula. O processamento estatístico foi realizado nos softwares SAM (Statistical Analysis Model) e BioEstat versão 5.3.

Resultados

Características sociodemográficas

Entre as 239 gestantes que participaram do estudo, a média da idade foi 24,4 anos. A maioria (77,8%) era casada ou vivia com o companheiro e 41,8% das gestantes tinha ensino médio completo; 52,3% mencionaram não trabalhar formal ou informalmente; e 34,3% referiram não trabalhar por ocupar-se com as atividades domésticas. A renda mensal familiar de 77,3% variou de 1 a 2 salários mínimos; o número de pessoas que vivem com a gestante variou de uma a oito pessoas. Nenhuma associação significativa foi encontrada entre o grupo de risco para toxoplasmose e as variáveis sociodemográficas (Tabela 1).

Tabela 1 Distribuição dos aspectos sociodemográficos de gestantes, atendidas na Estratégia Saúde da Família, Imperatriz-MA, 2016, conforme a classificação GA (Conhecimento e comportamento ruins ou inadequados - Maior risco) e GB (Conhecimento e comportamento bons ou adequados - Menor risco). 

GA GB Total
N % n % N % p-valor
Estado Civil** 1,0000(ns)
Solteira 20 23,8 28 18,1 48 20,1
Casada 35 41,7 69 44,5 104 43,5
União Estável 27 32,1 55 35,5 82 34,3
Separada 1 1,2 1 0,6 2 0,8
Divorciada 1 1,2 2 1,3 3 1,3
Viúva 0 0,0 0 0,0 0 0,0
Estuda* 0,0827(ns)
Sim, estuda 10 11,9 34 21,9 44 18,4
Não estuda 74 88,1 121 78,1 195 81,6
Escolaridade** 0,3345(ns)
Analfabeta 0 0,0 0 0,0 0 0,0
1ª a 3ª série Ensino Fundamental 1 1,2 0 0,0 1 0,4
4ª a 7ª série Ensino Fundamental 1 1,2 5 3,2 6 2,5
Ensino Fundamental Completo 12 14,3 17 11,0 29 12,1
Ensino Médio Incompleto 21 25,0 34 21,9 55 23,0
Ensino Médio Completo 38 45,2 62 40,0 100 41,8
Ensino Superior Incompleto 8 9,5 29 18,7 37 15,5
Ensino Superior Completo 3 3,6 8 5,2 11 4,6
Informou a renda* 0,7886(ns)
Sim 77 91,7 139 89,7 216 90,4
Não 7 8,3 16 10,3 23 9,6
Renda familiar** 0,2656(ns)
Abaixo de 1 salário mínimo 7 9,5 12 8,5 19 8,8
1 salário mínimo 35 47,3 49 34,5 84 38,9
1 a 2 salários mínimos 25 33,8 58 40,8 83 38,4
2 a 3 salários mínimos 5 6,8 19 13,4 24 11,1
3 a 4 salários mínimos 1 1,4 4 2,8 5 2,3
Acima de 4 salários mínimos 1 1,4 0 0,0 1 0,5
Com quantas pessoas mora** 0,1446(ns)
Mora só 6 7,1 8 5,2 14 5,9
1 ou 2 pessoas 23 27,4 44 28,4 67 28,0
3 ou 4 pessoas 51 60,7 82 52,9 133 55,6
5 ou + pessoas 4 4,8 21 13,5 25 10,5
Etnia* 0,8933(ns)
Branca 15 20,0 32 21,1 47 20,7
Preta 12 16,0 22 14,5 34 15,0
Amarela 7 9,3 19 12,5 26 11,5
Parda 41 54,7 79 52,0 120 52,9
Religião** 1,0000(ns)
Religiosa 58 24,3 112 46,9 170 71,2
Católica 36 62,1 60 53,6 96 56,5
Evangélica 22 37,9 51 45,5 73 42,9
Espírita 0 0,0 0 0,0 0 0,0
Umbanda 0 0,0 0 0,0 0 0,0
Outra 0 0,0 1 0,9 1 0,6
Situação trabalhista** 0,7778(ns)
Servidora pública 3 3,7 6 3,9 9 3,8
Empregada com carteira de trabalho 15 18,5 35 22,6 50 20,9
Empregada sem carteira de trabalho 5 6,2 8 5,2 13 5,4
Trabalhadora autônoma 15 18,5 26 16,8 41 17,2
Empregadora 1 1,2 0 0,0 1 0,4
Não trabalha 45 53,6 80 51,6 123 52,3
Porque não trabalha** 1,0000(ns)
Dona de casa 28 33,3 54 34,8 82 34,3
Não encontrou Trabalho 5 6,0 8 5,2 13 5,4
Trabalhos não remunerados 0 0,0 0 0,0 0 0,0
Estudos 3 3,6 12 7,7 15 6,3
Doença 1 1,2 0 0,0 1 0,4
Outro 6 7,1 8 5,2 14 5,9

*Salário mínimo atual de R$ 880,00. Testes aplicados: Qui-quadrado* e Teste G**.

Características do pré-natal

Foram identificadas como primigestas 48,1%, e a idade na primeira gestação mostrou uma média de 23,9 ± 4,8 anos. A idade gestacional variou de cinco a 40 semanas (média de 26,8 ± 8,0); 6,7% encontravam-se no primeiro, 48,9% no segundo e 43,9% no terceiro trimestre de gestação. O número de consultas variou entre uma e oito consultas pré-natais (média de 4,1 consultas), somente 23,0% realizaram seis ou mais consultas pré-natais. O início do pré-natal ocorreu em média com 2,5 meses de gestação, sendo que 86,2% das gestantes deram início ao pré-natal no primeiro trimestre. Complicação durante a gestação com aborto foi citado por 12,6% das gestantes.

A maioria das gestantes (93,7%) foi submetida à sorologia para toxoplasmose, 62,8% realizaram logo no primeiro trimestre, e apenas 7,9% realizaram o teste mais de uma vez. A proporção de gestantes de acordo com o grupo de risco para toxoplasmose não difere estatisticamente em relação às variáveis do pré-natal (Tabela 2).

Tabela 2 Distribuição dos dados de pré-natal de gestantes atendidas na Estratégia Saúde da Família, Imperatriz-MA, 2016, conforme a classificação GA (Conhecimento e comportamento ruins ou inadequados - Maior risco) e GB (Conhecimento e comportamento bons ou adequados - Menor risco). 

GA GB Total
n % N % N % p-valor OR IC95%
Primeira gravidez 42 50,0 73 47,1 115 48,1 0,7693 1,1233 0,66 a 1,91
Gestações anteriores 42 50,0 82 52,9 124 51,9 0,9257 0,9885 0,58 a 1,68
Semanas de Gravidez 25 ± 8 26 ± 8 26 ± 8 0,7256 ---
Número de consultas 4 ± 2,1 4 ± 2,2 4,1 ± 2,2 0,8087 ---
Início do Pré-natal (meses) 3,0 ± 2,0 2,5 ± 1,5 2,5 ± 2,0 0,5614 ---
Complicações 13 15,5 19 12,3 32 13,4 0,6181 1,3106 0,61 a 2,80
Abortos 14 16,7 16 10,3 30 12,6 0,2267 1,7375 0,80 a 3,76

Testes aplicados: Qui-quadrado e OddsRatio.

Características ambientais

Em relação às condições ambientais, 98,7% das gestantes faziam uso da água da rede pública de abastecimento. Para consumo, 64,1% realizavam a filtração (OR = 0,4705; IC95% = 0,27-0,81; p = 0,0098), sendo que 28,7% encontram-se no grupo de gestantes em que conhecimento e comportamento são adequados (menor risco) e 71,3% das gestantes estão no grupo em que ambos são inadequados (maior risco); 31,6% utilizavam água sem tratamento (OR = 2,1245; IC95% = 1.20 a 3.73; p = 0,0128). A análise mostrou que a filtração da água atua como fator de proteção para a doença, enquanto o consumo de água sem tratamento configura-se um fator de risco.

Quanto ao destino dado ao esgoto, 35,1% mencionaram que o esgoto se destinava à rede pública (OR = 0.5323; IC95% = 0.29 a 0.95; p = 0.0463) e 4,2% referiram direcionar-se para o rio ou córregos (OR = 4.6061; IC95% = 1.15 a 18.30; p = 0,0434). Não houve diferença significativa para o risco à toxoplasmose entre os grupos de gestantes em relação às variáveis destino dado ao lixo e as condições da rua onde residem (Tabela 3).

Tabela 3 Distribuição dos aspectos ambientais de moradia de gestantes atendidas na Estratégia Saúde da Família, Imperatriz-MA, 2016, conforme a classificação GA (Conhecimento e comportamento ruins ou inadequados - Maior risco) e GB (Conhecimento e comportamento bons ou adequados - Menor risco). 

GA GB Total
Saneamento n % n % N % p-valor OR IC95%
Consumo de água
Rede pública 81 98,8 153 98,7 234 98,7 0,4820 0,3529 0,05 a 2,15
Poço artesiano 0 0,0 2 1,3 2 0,8 0,7628 --- ---
Poço aberto 1 1,2 0 0,0 1 0,4 --- --- ---
Água filtrada 43 52,4 107 70,4 150 64,1 0,0098* 0,4705 0,27 a 0,81
Água sem tratamento 35 42,7 39 25,7 74 31,6 0,0128* 2,1245 1,20 a 3,73
Água mineral engarrafada 4 4,9 6 3,9 10 4,3 0,9921 1,2417 0,34 a 4,52
Destino do esgoto
Rede pública 22 26,2 62 40,0 84 35,1 0,0463* 0,5323 0,29 a 0,95
Fossa 47 56,0 81 52,3 128 53,6 0,6811 1,1605 0,68 a 1,97
Céu aberto 8 9,5 9 5,8 17 7,1 0,4215 1,7076 0,63 a 4,60
Rio/córrego 7 8,3 3 1,9 10 4,2 0,0434* 4,6061 1,15 a 18,30
Destino do lixo
Coleta pública 74 88,1 148 95,5 222 92,9 0,0632 0,3500 0,12 a 0,95
Terreno baldio 4 4,8 4 2,6 8 3,3 0,6041 1,8875 0,45 a 7,74
Quintal 1 1,2 1 0,6 2 0,8 0,7628 1,8554 ---
Queima 5 6,0 2 1,3 7 2,9 0,1012 4,8418 0,91 a 25,52
Condições da rua onde residem
Asfaltada 41 48,8 84 54,2 125 52,3 0,5093 0,8059 0,47 a 1,37
Sem asfalto 40 47,6 64 41,3 104 43,5 0,4205 1,2926 0,75 a 2,20
Alagada 3 3,6 7 4,5 10 4,2 0,9921 0,7831 0,78 a 3,11

Testes aplicados: Qui-quadrado e OddsRatio.

Conhecimento sobre toxoplasmose

A maioria das gestantes (55,6%) mencionou que desconhecia qualquer informação sobre toxoplasmose. Entre as que referiram conhecer a toxoplasmose, fizeram relatos sobre a infecção como: “doença causada pelo gato” (28,3%); “doença das fezes do gato” (17,9%); “doença que pega por alimento contaminado” (5,6%). E, 64,0% afirmaram não ter recebido orientação do profissional de saúde sobre como evitar a doença. Entre as que receberam alguma orientação, 51,2% mencionaram que foram orientadas como lavar bem frutas e verduras, não alimentar gatos com carne crua ou mal passada, não ter contato com gato e não ter contato com as fezes do gato. Foram os enfermeiros a categoria que mais repassou informações (65,1%); 43,9% mencionaram saber que a toxoplasmose causa algum problema ao bebê durante a gestação; os problemas citados foram: “doença mental”; “passa para o bebê”; “má formação”; “cegueira”; “deficiência”; “come o olho”.

A análise do conhecimento sobre a toxoplasmose mostrou que 17 entre os 24 itens relacionados ao conhecimento foram associados como fator de proteção estatisticamente significativos. Não houve diferença significativa entre os grupos de gestantes conforme o grupo de risco à toxoplasmose e os itens do domínio quadro clínico. O domínio do conhecimento relacionado à prevenção mostrou maior proporção de respostas corretas do que em relação à transmissão da infecção e à toxoplasmose congênita. O escore total de conhecimento variou de 0 a 22 (de 24 pontos) e apenas 23,4% das gestantes apresentaram bom conhecimento sobre a doença (> 70%) (Tabela 4).

Tabela 4 Distribuição dos itens relacionados ao conhecimento sobre toxoplasmose por gestantes atendidas na Estratégia Saúde da Família, Imperatriz-MA, 2016, conforme a classificação GA (Conhecimento e comportamento ruins ou inadequados - Maior risco) e GB (Conhecimento e comportamento bons ou adequados - Menor risco). 

GA GB Total
n % N % N % p-valor OR IC 95%
Fatores de risco e transmissão
Q1 - A toxoplasmose é uma doença infecciosa 38 45,2 111 71,6 149 62,3 0,0001* 0,3275 0,18 a 0,56
Q2 - A toxoplasmose pode ser causada por um veneno 32 38,1 99 63,9 131 54,8 0,0002* 0,3481 0,20 a 0,60
Q3 - A toxoplasmose pode ser encontrada nas fezes do gato 53 63,1 127 81,9 180 75,3 0,0022* 0,3769 0,20 a 0,68
Q4- A toxoplasmose pode ser causada por limpar as fezes do gato 47 56,0 105 67,7 152 63,6 0,0954 0,6049 0,35 a 1,04
Q5- A toxoplasmose pode ser causada por comer carne crua ou mal cozida 28 33,3 100 64,5 128 53,6 0,2750 0,15 a 0,48
Q6- A toxoplasmose pode ser causada por pegar em carne crua 17 20,2 34 21,9 51 21,3 0,8883 0,9030 0,46 a 1,73
Q7- A toxoplasmose pode ser causada por pegar em areia/solo (jardim, quintal ou horta) 31 36,9 85 54,8 116 48,5 0,0120* 0,4817 0,27 a 0,83
Quadro clínico
Q8- A gestante com toxoplasmose sempre apresenta os sintomas da doença 15 17,9 45 29,0 60 25,1 0,0808 0,5314 0,27 a 1,02
Q9- A toxoplasmose em gestantes pode causar febre ou sintomas como os da "gripe" 24 28,6 63 40,6 87 36,4 0,0870 0,5841 0,32 a 1,03
Q10- A toxoplasmose em gestantes pode causar ínguas no pescoço e/ou no corpo 19 22,6 52 33,5 71 29,7 0,1059 0,5790 0,31 a 1,06
Toxoplasmose congênita
Q11- A toxoplasmose só pode ser passada de uma gestante para o feto, se ela adquirir a doença durante a gravidez 9 10,7 24 15,5 33 13,8 0.4099 0,6550 0,28 a 1,48
Q12- A mulher que tem toxoplasmose antes da gravidez raramente transmite a doença para o seu bebê 26 31,0 64 41,3 90 37,7 0,1513 0,6374 0,36 a 1,11
Q13- O bebê com toxoplasmose pode nascer sem sinais e sintomas da doença 19 22,6 77 49,7 96 40,2 < 0,0001* 0,2961 0,16 a 0,53
Q14- Os sinais da toxoplasmose nos recém-nascidos podem aparecer meses após o parto 19 22,6 73 47,1 92 38,5 0,0004* 0,3283 0,18 a 0,59
Q15- O bebê com toxoplasmose pode ter problemas de visão 24 28,6 93 60,0 117 49,0 < 0,0001* 0,2667 0,15 a 0,47
Q16- A toxoplasmose na gestante tem tratamento 45 53,6 105 67,7 150 62,8 0,0430* 0,5495 0,31 a 0,94
Q17- A toxoplasmose no bebê tem tratamento 38 45,2 103 66,5 141 59,0 0,0023* 0,4171 0,24 a 0,71
Prevenção
Q18- Gestantes que alimentam gato somente com ração podem evitar toxoplasmose 20 23,8 67 43,2 87 36,4 0,0045* 0,4104 0,22 a 0,74
Q19- Os gatos que se alimentam de ratos podem causar toxoplasmose nas gestantes 29 34,5 88 56,8 117 49,0 0,0016* 0,4014 0,23 a 0,69
Q20- As gestantes que evitam contato com gatos de rua podem evitar a toxoplasmose 37 44,0 115 74,2 152 63,6 < 0,0001* 0,2738 0,15 a 0,48
Q21- As gestantes que deixam que outras pessoas troquem à caixa de areia do gato podem evitar a toxoplasmose 30 35,7 92 59,4 122 51,0 0,0008* 0,3804 0,21 a 0,65
Q22- A areia da caixa do gato deve ser trocada diariamente 53 63,1 121 78,1 174 72,8 0,0198* 0,4804 0,26 a 0,86
Q23- As gestantes que comem carnes bem cozidas podem evitar a toxoplasmose 48 57,1 110 71,0 158 66,1 0,0442* 0,5455 0,31 a 0,94
Q24- Lavar e descascar cuidadosamente todas as frutas e legumes antes de comê-los pode evitar a toxoplasmose 51 60,7 125 80,6 176 73,6 0,0014* 0,3709 0,20 a 0,67

Testes aplicados: Qui-quadrado e OddsRatio.

Comportamento preventivo relacionado à toxoplasmose

Quanto ao contato com animais, 53,1% referiram que possuem, e entre aquelas que criam gatos 35,2% possuem mais de um gato, mais da metade dos gatos são filhotes (63,6%), sendo que 38,6% mencionaram fazer limpeza das fezes dos animais e, dessas, nenhuma usa luvas. Mais de 43,0% das gestantes alimentam seus gatos com carne crua e deixam o gato sair de casa (48,8%).

Quanto ao consumo de carne mal cozida ou mal passada, 38,1% informaram consumir com uma frequência média de 1,9 vezes/semanas; 5,5% consumiam diariamente. O tipo de carne consumido com maior proporção foi de gado (72,7%).

A limpeza de frutas e verduras somente com água antes do consumo, assim como limpeza de utensílios de cozinha, foram referidas por 84,5% e 24,7% das gestantes, respectivamente. Aquelas que afirmaram ter contato direto com areia/terra corresponderam a 16,3% e destas 48,7% possuem horta em casa.

O comportamento preventivo à toxoplasmose foi adotado por 58,9% das gestantes e 41,1% não apresentaram esse comportamento.

Comparando o comportamento preventivo da toxoplasmose entre as gestantes, verificou-se associação positiva, atuando como fator de proteção à toxoplasmose: lavar os utensílios de cozinha com água morna e sabão após terem tido contato com carne crua, frutas e verduras não lavados (OR = 0,4547; IC95% = 0,25-0,80; p < 0.0093) e não ter hábito de pescar ou nadar (OR = 0,4910; IC95% = 0,25-0,94; p < 0.0488). Porém, os outros itens do comportamento avaliados demonstraram estar associados a fatores de risco para a doença, sendo que a proporção de gestantes segundo o grupo de risco para toxoplasmose difere estatisticamente em relação a esses comportamentos (Tabela 5).

Tabela 5 Comportamento preventivo relacionado à toxoplasmose entre gestantes atendidas na Estratégia Saúde da Família, Imperatriz-MA, 2016, conforme a classificação GA (Conhecimento e comportamento ruins ou inadequado - Maior risco) e GB (Conhecimento e comportamento bons ou adequados - Menor risco). 

GA GB Total
N % N % N % p-valor OR IC 95%
Contato com animais 72 85,7 55 35,5 127 53,1 < 0,0001* 10,9091 5,44 a 21,8
Gatos 56 66,7 32 20,6 88 36,8 < 0,0001* 7,6875 4,22 a 13,97
Gatos peridomicílio 4 4,8 5 3,2 9 3,77 0,8105 1,5000 0,39 a 5,74
Aves 4 4,8 3 1,9 7 2,93 0,4035 2,5333 0,55 a 11,59
Ninhada de gatos 4 4,8 2 1,3 6 2,51 0,2283 3,8250 0,68 a 21,33
Cães 46 54,8 38 24,5 84 35,1 < 0,0001* 3,7271 2,11 a 6,55
Cão fica solto na rua 27 32,1 9 5,8 36 15,1 < 0,0001* 7,6842 3,40 a 17,34
Faz a limpeza das fezes do gato 25 29,8 9 5,8 34 14,2 < 0,0001* 6,8738 3,02 a 15,60
Usa luvas para limpar as fezes 0 0,0 0 0,0 0 0 --- --- ---
Gatos até 1 ano 39 46,4 17 11,0 56 23,4 < 0,0001* 7,0353 3,63 a 13,63
Gato sai de casa 33 39,3 10 6,5 43 18 < 0,0001* 9,3824 4,31 a 20,38
Gato consome carnes cruas 27 32,1 11 7,1 38 15,9 < 0,0001* 6,2010 2,88 a 13,32
Não tem gatos, mas aparecem outros 4 4,8 3 1,9 7 2,93 0,4035 2,5333 0,55 a 11,59
Consome carne crua ou mal cozida 54 64,3 37 23,9 91 38,1 < 0,0001* 5,7405 3,21 a 10,24
Carne de gado 50 59,5 30 19,4 80 33,5 < 0,0001* 6,1275 3,39 a 11,05
Carne de porco 2 2,4 9 5,8 11 4,6 0,3771 0,3957 0,08 a 1,87
Carne de frango 10 11,9 9 5,8 19 7,95 0,1575 2,1922 0,85 a 5,62
Carne de carneiro 0 0,0 0 0,0 0 0 --- --- ---
Carne de outros 1 1,2 3 1,9 4 1,67 0,9208 0,6104 ---
Come verduras e frutas cruas 76 90,5 136 87,7 212 88,7 0,6719 1,3272 0,55 a 3,17
Lava verduras e frutas antes de consumir 70 83,3 132 85,2 202 84,5 0,8527 0,8712 0,42 a 1,79
Come Quibe cru 0 0,0 2 1.3 2 0,84 0,7628 0,0000 ---
Lava os utensílios de cozinha após terem tido contato com carne crua, e com frutas e verduras não lavados
Lava com água 29 34,5 30 19,4 59 24,7 0,0147* 2,1970 1,20 a 4,00
Lava com água morna e sabão 49 58.3 117 75,5 166 69,5 0,0093* 0,4547 0,25 a 0,80
Não lava 6 7,1 8 5,2 14 5,9 0,7381 1,4135 0,47 a 4,22
Consome leite in natura 41 48,8 55 35,5 96 40,2 0,0618 1,7336 1,01 a 2,97
Ferve o leite 38 45,2 52 33,5 90 37,7 0,1008 1,6363 0,94 a 2,81
Leite de vaca 40 47,6 55 35,5 95 39,7 0,0907 1,6529 0,96 a 2,83
Leite de cabra 1 1,2 0 0,0 1 0,42 --- --- ---
Come linguiça artesanal 59 70,2 86 55,5 145 60,7 0,0366* 1,8935 1,07 a 3,33
Come queijo fresco 69 82,1 85 54,8 154 64,4 < 0,0001* 3,7882 1,99 a 7,19
Mexe com areia/terra 31 36,9 8 5,2 39 16,3 < 0,0001* 10,7376 4,64 a 24,85
Pescar ou Nada no rio 20 23,8 16 10,3 36 15,1 0,0095* 2,7148 1,32 a 5,58
Pescar ou Nada no lago 0 0,0 0 0,0 0 0 --- --- ---
Pescar ou Nada na represa/açude 1 1,2 4 2,6 5 2,09 0,8075 0,4548 0,05 a 4,13
Não tem hábito pescar ou nadar 62 73,8 132 85,2 194 81,2 0,0488* 0,4910 0,25 a 0,94
Prepara os alimentos 53 63,1 101 65,2 154 64,4 0,8595 0,9141 0,52 a 1,58
Não prepara Alimentos 4 4,8 12 7,7 16 6,7 0,4525 0,5958 0,19 a 1,90
Às vezes prepara os alimentos 27 32,1 42 27,1 69 28,9 0,5013 1,2744 0,71 a 2,27
Possui horta em casa 12 14,3 7 4,5 19 7,95 0,0157* 3,5238 1,33 a 9,33

Testes aplicados: Qui-quadrado e OddsRatio.

Discussão

Numerosos estudos sobre toxoplasmose têm sido relatados em várias partes do mundo, uma vez que esta doença tem se tornado relevante se for adquirida na gestação. Este é o primeiro estudo baseado em cuidados primários que explora toxoplasmose relacionada ao conhecimento e comportamento preventivo entre as gestantes no município de Imperatriz, e também no Estado do Maranhão. A importância dessa temática leva em consideração que o desconhecimento e o comportamento não preventivo à toxoplasmose podem contribuir para o aumento do risco de adquirir a doença10,12,20.

As características sociodemográficas são apontadas por vários autores como podendo evidenciar fatores de risco para toxoplasmose, entre os quais a baixa renda12,21 e escolaridade3,10, porém, nessa análise não se evidenciou associação significativa em relação aos aspectos sociodemográficos como nos estudos anteriores. Predominaram gestantes na faixa etária entre 18 e 22 anos (42,7%), com ensino médio completo (41,8%) e renda familiar de 1 a 2 salários mínimos (83,3%), que foram compatíveis com um estudo realizado no Estado do Tocantins, onde também não houve correlação entre a infecção toxoplásmica e idade, nível de escolaridade ou origem das gestantes2.

Cabe ressaltar que apesar da não associação estatística ao perfil sociodemográfico, relatos anteriores demonstraram que a escolaridade é um fator de risco importante para a ocorrência da infecção por T. gondii, e em geral, as pessoas com maior nível de escolaridade têm mais conhecimento sobre a infecção e os métodos de prevenção2. Outra pesquisa no Rio Grande do Sul, mostrou que a menor escolaridade e o pré-natal no sistema público estiveram associados ao menor grau de informação sobre a doença entre as gestantes22.

Apesar da escolaridade não ter apresentado associação significativa ao risco de infecção, um estudo em Niterói-RJ demonstrou que ter concluído o ensino médio foi um fator de proteção contra a soropositividade anti-T. gondii8. Nesse estudo, a maioria das gestantes também declarou ter concluído o ensino médio, o que pode estar associado a um maior nível de informação acerca da prevenção da toxoplasmose .

Considera-se que o pré-natal é o momento ideal para implementação de medidas preventivas das doenças de transmissão materno-fetal, como a toxoplasmose3,23. A primeira consulta deve fazer-se o mais precocemente possível e o número de consulta deve ser no mínimo 6, conforme recomendado pelo Ministério da Saúde24, o que foi de certa forma observado entre as gestantes da amostra estudada. Observou-se que a maioria iniciou o pré-natal no primeiro trimestre (86,2%), com uma média de 4,1 consultas, mas, apenas 23,0% das gestantes realizaram seis ou mais consultas. O número de consultas foi inferior aos estudos de Belo Horizonte e Goiânia, com média de 7 consultas25,26.

Uma boa observação foi que 62,8% das gestantes realizaram o teste sorológico para toxoplasmose no primeiro trimestre, taxa bem superior aos 34,7% observados entre as gestantes de Belo Horizonte25, aos 35,4% no Estado do Mato Grosso do Sul27 e 54,6% em Goiânia26.

Ainda que o estudo não tenha evidenciado associação significativa às variáveis do pré-natal, os percentuais permitem refletir que é fundamental o início do pré-natal no primeiro trimestre da gestação, com a realização da sorologia, possibilitando a identificação precoce dos casos agudos de toxoplasmose gestacional e, nos casos de sorologia não reagente, é necessário re­fazer o teste no segundo e terceiro trimestres da gravidez19. Tal orientação encontra-se em dissonância com os dados encontrados neste estudo, uma vez que somente 7,9% das gestantes repetiram o exame. Além disso, pressupõe-se que quanto maior o número de consultas realizadas, mais informações essas gestantes recebem sobre fatores de risco, medidas profiláticas e toxoplasmose congênita25,26.

Em relação às condições ambientais, evidenciou-se associação significante entre o consumo de água não tratada e o destino do esgoto para rio/córregos como um fator de risco para toxoplasmose, porém o consumo de água tratada e filtrada e o destino do esgoto para rede pública foram estimados como proteção à doença, ao contrário de outros estudos onde não houve associação importante entre as condições de saneamento e as gestantes investigadas1,2,11.

O consumo de água potável realizado pelas gestantes da amostra diverge dos obtidos em uma pesquisa realizada em Michelena, na Venezuela, onde se identificou valor mais elevado de gestantes que consumiam água não potável28, dado este que está associado a 4,5 vezes maior risco de infecção pelo T. gondii29. De fato, há diversos relatos de surtos no Brasil e no mundo associando o abastecimento de água como uma fonte de infecção por T. gondii, atuando como disseminador de oocistos, e a contaminação de tanques de água municipais pelas fezes de gatos infectados podendo levar a epidemias8,30,31.

Foi bem negativa a análise quanto a falta geral de conhecimento, ilustrada pelo fato de que apenas 44,4% das entrevistadas já haviam lido, visto ou ouvido falar sobre a doença. E, quando avaliadas posteriormente sobre cada domínio do conhecimento investigado acerca da toxoplasmose, houve uma baixa proporção de gestantes com bom conhecimento (23,4%).

Estudos semelhantes também demonstraram um baixo nível de conhecimento sobre a parasitose, como o realizado no Estado do Paraná, onde as mulheres grávidas geralmente não tinham conhecimento sobre medidas preventivas para toxoplasmose congênita11; em Belo Horizonte, menos de 10% das gestantes demonstraram conhecimento sobre a doença25.

Este aspecto sobre o conhecimento da toxoplasmose entre gestantes também foi objeto de estudo em três países asiáticos, onde a maioria das entrevistadas não tinha conhecimento ou estava insegura acerca da infecção toxoplásmica10. Nos Estados Unidos, as gestantes investigadas também demonstraram baixo nível de conhecimento15.

Outra evidência importante foi a baixa porcentagem de gestantes que recebeu orientações sobre toxoplasmose, apenas 36,0%, corroborando com outros estudos que constataram um percentual inferior de gestantes que haviam sido orientadas7,25. Nesse estudo, o item do domínio fatores de risco e transmissão com maior proporção de acertos e estatisticamente associado a fator de proteção entre as gestantes foi a “toxoplasmose pode ser encontrada nas fezes do gato” (75,3%). Andiappan et al (2014) demonstraram que somente 19,4% das gestantes entrevistadas identificaram corretamente que o contato com fezes de gato é o principal modo de transmissão da doença10. Porém, em pesquisa realizada nos Estados Unidos, 61,0% das gestantes indicaram que o gato está associado à transmissão da toxoplasmose e apenas 30,0% estavam cientes do risco de adquirir a infecção de carne crua ou mal cozida15.

Os itens com maior número de acertos no domínio toxoplasmose congênita foram “a toxoplasmose tem tratamento na gestante e no bebê”. Apesar desses itens serem estimados estatisticamente como fator de proteção, provavelmente as gestantes foram motivadas a dar as respostas corretas por tendência a acreditar que a doença tem tratamento independente da condição da gestação. Nesse domínio ainda, 49,0% das gestantes tinham a consciência de que a toxoplasmose pode causar problema de visão no bebê. Em estudo com adolescentes gestantes foi diagnosticado pouco conhecimento em relação aos problemas que podem ser causados ao bebê20.

Entre os domínios investigados, houve maior conhecimento acerca da prevenção, estimado como fator de proteção estatisticamente significativo. As gestantes mencionaram que lavar e descascar todas as frutas e legumes antes de comê-los, e comer carnes bem cozidas podem evitar a toxoplasmose, e a maioria identificou os papéis do contato com gatos e com a areia da caixa do gato na prevenção à doença. Em discordância aos resultados desse estudo, no Estado do Paraná, houve falta de conhecimento sobre medidas preventivas para a toxoplasmose congênita entre as gestantes investigadas11. Gestantes holandesas indicaram que evitando a mudança da lixeira do gato, não comer carne pouco cozida e lavar e descascar frutas e vegetais são formas de prevenir a toxoplasmose13.

Embora houvesse falta de conhecimento sobre toxoplasmose em vários itens investigados, as gestantes pesquisadas indicaram que praticam comportamentos que poderiam prevenir a toxoplasmose. De forma geral, este estudo demonstrou que as gestantes mostraram um bom conhecimento em relação às práticas preventivas, sendo corroborado por um estudo dos Estados Unidos, onde a maioria das gestantes entrevistadas apontaram práticas preventivas corretas para evitar a infecção14. Alguns estudos apontam que o conhecimento adequado dos fatores de risco para a toxoplasmose apoia a adoção de comportamento preventivo contra complicações graves resultantes de infecção congênita e somente com esse conhecimento as gestantes podem reduzir o risco de infecção fetal10,14.

Em outra análise, o risco potencial para a toxoplasmose mostrou que uma parte considerável das gestantes (n = 155) apresentou conhecimento e comportamento bons ou adequados (>70%). Apesar da maioria não ter recebido orientações adequadas sobre a doença durante o pré-natal, é provável que a gestante tenha adotado atitudes apropriadas nessa fase, por ter o conhecimento sobre a probabilidade de contrair a doença infecciosa durante a gravidez, contribuindo assim para o estabelecimento de mudanças comportamentais, momento no qual os cuidados geralmente se intensificam13,32. Além disso, uma vez que a maior porcentagem de gestantes indicou a prática de bom comportamento preventivo, questiona-se se as entrevistadas foram motivadas a dar as respostas corretas por estarem na unidade de saúde15.

Compreender o comportamento preventivo das gestantes pode ajudar no aconselhamento, cuja importância é primordial na redução do risco fetal14. Nesse estudo, o contato com gato ou cão foi semelhante ao relatado em outros estudos, com associação estatisticamente significativa para o risco à toxoplasmose2,8,33. Entretanto, outro estudo com gestantes demonstrou resultados diferentes, não encontrando associação entre contato com gatos e possibilidade de infecção por T. gondii34.

Entre as gestantes que tinham contato com gato e faziam limpeza das fezes, nenhuma utilizava luvas para a limpeza, associando-se a forte fator de risco para a infecção. Em contraste aos resultados desse estudo, Costa et al.12 relataram que gestantes entrevistadas faziam uso de luvas para limpar caixa de fezes dos gatos. Além disso, o contato com gatos filhotes foi estatisticamente associado à transmissão da toxoplasmose, o que provavelmente poderia aumentar o risco de infecção, uma vez que os gatos ainda filhotes quando infectados podem eliminar milhões de oocistos, podendo permanecer no ambiente, esporular e tornar-se infectante34,35.

Outro comportamento associado a fator de risco estatisticamente significativo foi o consumo de carne de gado mal cozida ou mal passada e o consumo de linguiça artesanal. A infecção com toxoplasmose durante a gravidez é altamente associada à ingestão de carne crua ou pouco cozida3,36, e embora mais da metade das gestantes demonstraram conhecimento dessa relação, uma baixa proporção de gestantes indicou que evitava o comportamento. Outro estudo realizado na região nordeste do Brasil verificou a não associação entre sororeatividade para o T. gondii e linguiça caseira em gestantes1.

O contato com o solo e presença de horta em casa foram associados ao risco de infecção para a toxoplasmose. O hábito de manuseamento de solo ou areia, também deve ser considerado na infecção toxoplásmica34,36. Em discordância aos resultados deste estudo, em Niterói (Rio de Janeiro) não foi verificado essa associação8, embora tenha sido amplamente citado na literatura como um fator de risco para a doença. O hábito de lavar os utensílios de cozinha com água morna e sabão foi associado estatisticamente à fator de proteção à doença. Resultados semelhantes foram relatados entre gestantes sauditas14.

Os estudos sobre esta temática tem demonstrado que a educação relacionada à toxoplasmose aumentou o conhecimento das gestantes sobre a doença e a prevenção, destacado por estudos anteriores12,14,32. Na Bélgica houve uma diminuição significativa na incidência de soroconversão de toxoplasmose após a introdução de aconselhamento intensivo para gestantes37.

Esse estudo fornece informações para uma melhor compreensão sobre o conhecimento e o comportamento preventivo à toxoplasmose entre gestantes nesta região. Além disso, ressalta a importância de implementação da educação em saúde contínua entre este grupo-alvo, uma vez que o conhecimento e a conscientização adequados, através da educação sobre a saúde na toxoplasmose, podem contribuir para a diminuição da taxa da doença e, consequentemente, sobre a carga de sequelas causadas pela toxoplasmose congênita10. É fundamental que a educação em saúde para doenças infecciosas, especialmente aquelas com complicações graves, como a toxoplasmose, seja considerada no início do período pré-natal, por meio de campanhas, palestras e programas educacionais para evitar o contato com materiais potencialmente contaminados3,15,32.

Conclusão

De uma forma geral, houve baixo nível de conhecimento entre as entrevistadas, porém, uma parte considerável teve conhecimento sobre as medidas de prevenção para evitar a toxoplasmose durante a gravidez. A maioria das gestantes praticava adequadamente os comportamentos preventivos, destacando-se como fatores de proteção, comportamentos relacionados a hábitos de higiene com os alimentos (lavagem dos utensílios de cozinha com água morna e sabão após ter contato com carne crua e frutas e não lavados) e não ter o hábito de pescar ou nadar. Entretanto, comportamentos não-preventivos associaram-se fortemente à fatores de risco, como contato com gatos, consumo de carne crua ou mal cozida, contato com gatos filhotes na residência, realizar limpeza das fezes do gato, mexer com areia.

As características sociodemográficas e de pré-natal não apresentaram associação significativa para o risco de toxoplasmose entre as gestantes, porém isto não exclui a possibilidade desses componentes propiciarem o contato com o T. gondii durante a gestação. E entre as condições ambientais, o consumo de água sem tratamento e destino do esgoto para rio e/ou córregos são fatores de risco importantes para a transmissão deste agravo.

Considerando-se o pouco conhecimento sobre a doença, entende-se que a educação continuada acerca da toxoplasmose, entre outras doenças infecciosas com potencial de transmissão congênita, para as gestantes atendidas na atenção primária seria útil na prevenção da transmissão da doença e, por extensão, da toxoplasmose congênita.

É importante enfatizar a necessidade do seguimento sorológico para as gestantes, enquanto rotina das unidades de saúde, onde as gestantes devem receber orientações mais precisas sobre a importância da sorologia, sobre os fatores de risco e a relevância da adoção de comportamentos preventivos, devidamente realizada pelo profissional de saúde. Além disso, se faz necessário a implementação de medidas preventivas mais integrais, por meio de políticas públicas de saúde e educação que levem em consideração questões econômicas, sociais, ambientais e culturais.

REFERÊNCIAS

1 Câmara JT, Silva MG, Castro AM. Prevalência de toxoplasmose em gestantes atendidas em dois centros de referência em uma cidade do Nordeste, Brasil. Rev Bras Ginecol e Obstet 2015; 37(2):64-70.
2 Rocha EM, Lopes CWG, Ramos RAN, Alves LC. Risk factors for Toxoplasma gondii infection among pregnant women from the State of Tocantins, Northen Brazil. Rev Soc Bras Med Trop 2015; 48(6):773-775.
3 Silva MG, Vinaud MC, Castro AM. Prevalence of toxoplasmosis in pregnant women and vertical transmission of Toxoplasma gondii in patients from basic units of health from Gurupi, Tocantins, Brazil, from 2012 to 2014. PLoS One 2015; 10(11):1-15.
4 Stajner T, Bobic B, Klun I, Nikolic A, Srbljanovic J, Uzelac A, Rajnpreht I, Djurkovic-Djakovic O. Prenatal and early postnatal diagnosis of congenital toxoplasmosis in a setting with no systematic screening in pregnancy. Medicine (Baltimore) 2016; 95(9):e2979.
5 Thaller R, Tammaro F, Pentimalli H. Fattori di rischio per la toxoplasmosi in gravidanza in una popolazione del centro in central Italy. Le Infez Med 2011; (4):241-247.
6 Bichara CNC, Canto GAC, Tostes CL, Freitas JJS, Carmo EL, Póvoa MM, Eda CS. Incidence of congenital toxoplasmosis in the city of Belém, State of Pará, Northern Brazil, determined by a neonatal screening program: preliminary results. Rev Soc Bras Med Trop 2012; 45(1):122-124.
7 Branco BHM, Araújo SM, Falavigna-Guilherme AL. Prevenção primária da toxoplasmose: conhecimento e atitudes de profissionais de saúde e gestantes do serviço público de Maringá, estado do Paraná. Sci Med (Porto Alegre) 2012; 22(4):185-190.
8 Moura FL, Amendoeira MRR, Bastos OMP, Mattos DPBG, Fonseca ABM, Nicolau JL, et al. Prevalence and risk factors for Toxoplasma gondii infection among pregnant and postpartum women attended at public healthcare facilities in the City of Niterói, State of Rio de Janeiro, Brazil. Rev Soc Bras Med Trop 2013; 46(2):200-207.
9 Pappas G, Roussos N, Falagas ME. Toxoplasmosis snapshots: Global status of Toxoplasma gondii seroprevalence and implications for pregnancy and congenital toxoplasmosis. Int J Parasitol 2009; 39(12):1385-1394.
10 Andiappan H, Nissapatorn V, Sawangjaroen N, Khaing SL, Salibay CC, Cheung MM, Dungca JZ, Chemoh W, Xiao Teng C, Lau YL, Mat Adenan NA. Knowledge and practice on Toxoplasma infection in pregnant women from Malaysia, Philippines, and Thailand. Front Microbiol 2014; 5:291.
11 Contiero-Toninato AP, Cavalli HO, Marchioro AA, Ferreira EC, Caniatti MCCL, Breganó RM, Navarro I, Falavigna-Guilherme AL Toxoplasmosis: an examination of knowledge among health professionals and pregnant women in a municipality of the State of Paraná. Rev Soc Bras Med Trop 2014; 47(2):198-203.
12 Costa FF, Gondim APS, Lima MB, Braga JU, Vieira LJEDS, Araújo MAL. Preventive behavior for toxoplasmosis in pregnant adolescents in the state of Ceara, Brazil. BMC Public Health 2012; 12(1):73.
13 Pereboom MTR, Manniën J, Spelten ER, Schellevis FG, Hutton EK. Observational study to assess pregnant women's knowledge and behaviour to prevent toxoplasmosis, listeriosis and cytomegalovirus. BMC Pregnancy and Childbirth 2013; 13:98.
14 Amin TT, Ali MN, Alrashid AA, Al-agnam AA, Sultan AA. Toxoplasmosis preventive behavior and related knowledge among Saudi pregnant women: an exploratory study. Glob J Health Sci 2013; 5(5):131-143.
15 Jones JL, Ogunmodede F, Scheftel J, Kirkland E, Lopez A, Schulkin J, Lynfield R. Toxoplasmosis-related knowledge and practices among pregnant women in the United States. Infect Dis Obs Gynecol 2003;11(3):139-145.
16 Paiva EP, Fófano GA, Jasmin JS, Rocha LT, Souza MO, Marques TO. Conhecimento, atitudes e práticas das mulheres acerca da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida em uma Unidade de Atenção Primária à Saúde. HU Rev Juiz Fora 2013; 39(1 e 2):45-49.
17 Moura FL. Ocorrência de toxoplasmose congênita, avaliação do conhecimento sobre toxoplasmose e do acompanhamento sorológico das gestantes e implantação de medidas de prevenção primária nos programas de pré- natal da rede pública de saúde do município de Niterói-RJ [tese]. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2016.
18 Sandrin LNA, Ponzi CC, Binda G, Nardi A. Perfil epidemiológico de toxoplasmose em gestantes. Rev Bras Clin Med 2012; 10(6):486-489.
19 Lopes-Mori FMR, Mitsuka-Breganó R, Capobiango JD, Inoque IT, Reiche EMV, Marimoto HK, Casella AMB, Bittencourt LHFB, Freire RL, Navarro IT. Programas de controle da toxoplasmose congênita. Rev Assoc Med Bras 2011; 57(5):594-599.
20 Costa FF. Conhecimentos e atitudes das gestantes adolescentes em relação à toxoplasmose em Fortaleza, Ceará [dissertação]. Fortaleza: Universidade de Fortaleza; 2011.
21 Kamal AM, Ahmed AK, Abdellatif MZM, Tawfik M, Hassan EE. Seropositivity of toxoplasmosis in pregnant women by ELISA at Minia University Hospital, Egypt. Korean J Parasitol 2015; 53(5):605-610.
22 Lehmann LM, Santos PC, Scaini CJ. Evaluation of pregnant and postpartum women's knowledge about toxoplasmosis in Rio Grande - RS , Brazil. Rev Bras Ginecol Obs 2016; 38(11):538-544.
23 Jorge HMF, Hipólito MCV, Masson VA, Silva RM. Assistência pré-natal e políticas públicas de saúde da mulher: revisão integrativa. Rev Bras em Promoç Saúde 2015; 28(1):140-148.
24 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília: MS: 2012.
25 Carellos, EVM, Andrade GMQ, Aguiar RALP. Avaliação da aplicação do protocolo de triagem pré-natal para toxoplasmose em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Avaliação da aplicação do protocolo de triagem pré-natal para toxoplasmose em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil: estudo transversal em puérperas de duas maternidades. Cad Saude Publica 2008; 24(2):391-401.
26 Sartori AL, Minamisava R, Avelino MM, Martins CA. Triagem pré-natal para toxoplasmose e fatores associados à soropositividade de gestantes em Goiânia, Goiás. Rev Bras Ginecol Obs 2011; 33(2):93-98.
27 Figueiró-Filho EA, Lopes AHA, Senefonte FRA, Souza Júnior VG, Botelho CA, Figueiredo MS, Duarte G. Toxoplasmose aguda: estudo da frequência, taxa de transmissão vertical e relação entre os testes diagnósticos materno-fetais em gestantes em estado da Região Centro-Oeste do Brasil. Rev Bras Ginecol Obs 2005; 27(8):442-449.
28 Issa D, Rosales R, Ramírez R, Pérez F, Y W. Frecuencia de factores de riesgo para adquirir toxoplasmosis en embarazadas que acuden a control prenatal en el Ambulatorio Urbano I Michelena: septiembre 2005. Col Med Estado Táchira 2006; 15(1):29-25.
29 López-Castillo CA, Díaz-Ramirez J, Gómez-Marín JE. Factores de riesgo en mujeres embarazadas, infectadas por Toxoplasma gondii en Armenia- Colombia. Rev Salud pública 2005; 7(2):180-190.
30 Helena L, Oliveira H, Navarro IT. Aspectos sociopolíticos da epidemia de toxoplasmose em Santa Isabel do Ivaí (PR). Cien Saude Colet 2011; 16(Supl. 1):1363-1373.
31 Jones JL, Dubey JP. Waterborne toxoplasmosis - recent developments. Exp Parasitol 2010; 124(1):10-25.
32 Pawlowski ZS, Skommer J, Paul M, Rokossowski H, Suchocka E, Schantz PM. Impact of health education on knowledge and prevention behavior for congenital toxoplasmosis: the experience in Poznan, Poland. Health Educ Res 2001; 16(4):493-502.
33 Barbosa IR, Carvalho XHCM, Andrade-Neto VF. Toxoplasmosis screening and risk factors amongst pregnant females in Natal, northeastern Brazil. Trans R Soc Trop Med Hyg 2009; 103(4):377-382.
34 Cristina R, Dias F, Lopes-mori FMR, Mitsuka-breganó R, André R, Dias F. Factors associated to infection by Toxoplasma gondii in pregnant women attended in basic health units in the city of Rolândia, Paraná, Brazil. Rev Inst Med Trop Sao Paulo 2011; 53(4):185-91.
35 Tabile PM, Teixeira RM, Pires MC, Fuhrmann IM, Matras RC, Toso G, Assmann L, Machado CPH. Toxoplasmose gestacional: uma revisão da literatura. Rev Epidemiol Control Infect 2015; 5(3):158-162.
36 Dubey JP. Sources of Toxoplasma gondii infection in pregnancy. Until rates of congenital toxoplasmosis fall, control measures are essential. BMJ 2000; 321(7254):127-128.
37 Carter AO, Gelmon SB, Wells GA, Toepell AP. The effectiveness of a prenatal education programme for the prevention of congenital toxoplasmosis. Epidemiol Infect 1989; 103(3):539-545.