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Coocorrência de Fatores de Risco para Doenças Cardiometabólicas: Alimentação Não Saudável, Tabaco, Álcool, Estilo de Vida Sedentário e Aspectos Socioeconômicos

Coocorrência de Fatores de Risco para Doenças Cardiometabólicas: Alimentação Não Saudável, Tabaco, Álcool, Estilo de Vida Sedentário e Aspectos Socioeconômicos

Autores:

Maury-Sintjago Eduard,
Parra-Flores Julio,
Rodríguez-Fernández Alejandra

ARTIGO ORIGINAL

Arquivos Brasileiros de Cardiologia

versão impressa ISSN 0066-782Xversão On-line ISSN 1678-4170

Arq. Bras. Cardiol. vol.113 no.4 São Paulo out. 2019 Epub 04-Nov-2019

https://doi.org/10.5935/abc.20190213

A doença cardiometabólica (DCM) é a principal causa de morbimortalidade em todo o mundo. Os fatores de risco no desenvolvimento da DCM são diversos; compreendê-los contribui significativamente para a criação de estratégias clínicas e/ou comunitárias para sua prevenção e/ou tratamento.1 Uma dieta não saudável, tabagismo, estilo de vida sedentário e maior consumo de álcool aumentam significativamente o risco de DCM, câncer, perda de anos de vida saudáveis e mortalidade prematura.2

Em uma revisão sistemática de Meader et al.,3 37 estudos foram analisados para avaliar comportamentos de risco como tabagismo, inatividade física e dieta não saudável através de uma metanálise. Uma associação maior foi encontrada quando grupos de fatores de risco coexistiam (≥ 4) em comparação com fatores de risco individuais. O abuso de álcool e o tabagismo foram os fatores de risco mais comumente identificados. Também foi relatado que o nível socioeconômico é um preditor de múltiplos riscos.3 Por outro lado, em um estudo de coorte de mais de 20 anos, a mortalidade associada a 1, 2, 3 ou 4 fatores de risco foi de 1,85 (IC 95%, 1,28-2,68), 2,23 (IC 95%, 1,55-3,20), 2,76 (IC 95%, 1,91-3,99) e 3,49 (IC 95%, 2,31-5,26), respectivamente. O risco de mortalidade por DCM foi maior do que em outras causas de morte, como o câncer.4

Entre os aspectos socioeconômicos, o padrão socioespacial dos pontos de venda de bens e serviços é o fator que mais prediz estilos de vida pouco saudáveis. Macdonald et al.,5 em seu estudo na Escócia, mostram que a distribuição de locais que fornecem álcool, fast food, tabaco e pontos de jogos de azar está concentrada em áreas geográficas com maior privação socioeconômica.5 Outro estudo mostra que nos países em desenvolvimento, as áreas mais pobres têm maior prevalência de hábitos inadequados de dieta e tabagismo e a co-ocorrência de fatores de risco é de 20%.6

Zwolonsky et al.,7 em um estudo com homens do Reino Unido, descobriram que 72% exibiam combinações de fatores de risco; inatividade física (72,8%), juntamente com a falta de consumo de frutas e vegetais (73%), foi a combinação mais comum. Além disso, 29,5% consumiam mais álcool que o limite recomendado e 25% eram fumantes.7

Nesse contexto, Zancheta et al.,8 detectaram uma forte correlação entre ingestão de álcool e tabagismo. Além disso, alimentação não saudável e inatividade física foram os fatores de risco mais frequentes. Aproximadamente 3% não apresentaram fatores de risco, enquanto 38,0%, 32,9%, 9,4% e 1,8% apresentaram dois a cinco fatores, respectivamente. É digno de nota que a maior incidência desses fatores de risco ocorreu em meninas, adolescentes mais velhos, que não moram com ambos os pais, filhos de mães com menor escolaridade, estudantes que frequentam escolas públicas e moradores de cidades em áreas urbanas mais desenvolvidas do país.8

Nesta edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Stolses et al.,9 avaliaram a co-ocorrência de tabagismo e alimentação não saudável em adultos em uma amostra populacional, mostrando uma alta prevalência de alimentação inadequada (68,4-72,6%) e hábitos de tabagismo (7,8-15,65%). A ocorrência de ambos os fatores de risco ocorreu principalmente em homens (47%), residentes na parte sul do país (44,1%), indivíduos com idade de 18 a 39 anos (59,4%) e que consumiam álcool (18,5%). Por fim, mostra-se que, residentes da região sul (PRadj 1,50; IC 95% 1,18-1,89), sem plano de saúde privado (PRadj 1,14; IC95% 1,03-1,25), com consumo abusivo de álcool (PRadj 3,22; 95 % IC 2,70-3,85) e relato de estado precário de saúde (PRadj 1,7; IC95% 1,18-2,44), mostravam uma associação significativa com o tabagismo e dieta inadequada em adultos brasileiros.

Em vista das evidências científicas relatadas, é cada vez mais necessário realizar estudos sobre a co-ocorrência de fatores de risco cardiometabólicos, porque eles respondem à complexidade multicausal dos principais problemas de saúde em todo o mundo. Portanto, a abordagem estratégica para prevenção e/ou tratamento requer a abordagem dos fatores de risco de maneiras múltiplas, e não individuais.

REFERÊNCIAS

1 American Diabetes Association. Cardiovascular disease and risk management. Diabetes care, 2016; 39(1):S60-S71.
2 Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME). Findings from the Global Burden of Disease Study 2017. Seattle (WA);2018.
3 Meader N, King K, Moe-Byrne T, Wright K, Graham H, Petticrew M, Power C, Whiter M y Sowden A. A systemic review on the clustering and co-occurrence of multiple risk behaviors. BMC Public Health. 2016;16:657.
4 Kvaavik E, Batty D, Ursin G, Huxley R, Gale C. Influence of individual and combined health behaviors on total and cause-specific mortality in men and women. Arch Intern Med. 2010;170(8):711-8.
5 Macdonald L, Olsen J, Shortt N, Ellaway A. Do "environmental bads" such as alcohol, fast food, tobacco, and gambling outlets cluster and co-locate in more deprived areas in Glasgow City, Scotland?. Health Place. 2018;51:224-31.
6 Nigatu T, Oti S, Egondi T, Kyobutungi C. Co-occurrence of behavioral risk factors of common no-communicable diseases among urban slum dwellers in Nairobi, Kenya. Global Health Action, 2015:8(1):28697
7 Zwolinsky S, Raine G, Robertson S. Prevalence, co-occurrence and clustering of lifestyle risk factors among UK men. Journal of Men´s Health, 2016; 12(2):15-24.
8 Zancheta C, M2219370. disease risk factors in Brazilian adolescents: Analysis of a national school-based survey. PLoS ONE 14(7):0219370.
9 Stolses P, De Assumpção D, Carvalho D. Co-occurrence of smoking and unhealthy diet in the Brazilian adult population. Arq Bras Cardiol. 2019; 113(4):699-709.