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Correção cirúrgica de pênis e escroto ectópicos associada à orquidopexia bilateral

Correção cirúrgica de pênis e escroto ectópicos associada à orquidopexia bilateral

Autores:

Daniel Santos Rocha Sobral Filho,
Helder Damásio da Silva,
Eulálio Damázio

ARTIGO ORIGINAL

Einstein (São Paulo)

versão impressa ISSN 1679-4508versão On-line ISSN 2317-6385

Einstein (São Paulo) vol.15 no.2 São Paulo abr./jun. 2017

http://dx.doi.org/10.1590/s1679-45082017rc3927

INTRODUÇÃO

Diversas anomalias genitais congênitas acometem o sexo masculino. Dentre elas, a criptorquidia é a mais comum.1 Outras patologias, apesar de raras, são o escroto ectópico e o pênis ectópico, sendo este último mais relatado em casos de transposição peno-escrotal.2 Relatamos aqui uma abordagem cirúrgica inédita para um caso de extrema raridade, devido à associação entre pênis ectópico, escroto ectópico e criptorquidia bilateral.

RELATO DE CASO

Paciente do sexo masculino, 10 anos, com pênis e escroto ectópicos (Figura 1), na região perineal, sem transposição peno-escrotal e com criptorquidia bilateral. Em associação, apresentava deformidade esquelética do tipo diáfise púbica com anquilose dos joelhos, e nenhuma associação com anomalias do trato urinário. Anteriormente, a criança fora submetida a uma orquidopexia esquerda, sem sucesso, devido à localização ectópica do escroto, sendo o testículo, então, posicionado na base do pênis. Iniciou-se a cirurgia com incisão inguinal à direita, objetivando a mobilização do testículo direito, que, entretanto, só foi possível até a posição anatômica do escroto, no púbis, e não à ectópica, na região perineal. Prosseguiu-se com a correção cirúrgica do pênis e escroto ectópicos, iniciada por uma incisão em Y invertido e complementada inferiormente para separar o pênis do escroto (Figura 2). Em seguida, o pênis foi mobilizado do períneo até sua posição anatômica, no púbis, onde foi fixado. Da pele escrotal perineal, foi mobilizado um retalho para configuração da bolsa testicular, adjacente e inferiormente ao pênis, com formação da rafe mediana e de duas hemibolsas testiculares. Prosseguiu-se com a orquidopexia, iniciada pelo posicionamento do testículo direito na hemibolsa testicular direita (Figura 3) e continuada pela abordagem do testículo esquerdo até sua disposição na hemibolsa esquerda. Ao final, realizou-se uma postectomia.

Figura 1 Pênis e escroto ectópicos localizados na região perinea 

Figura 2 Incisão em Y invertido complementada inferiormente para separar o pênis do escroto 

Figura 3 Posicionamento do testículo direito na hemibolsa testicular direita formada a partir da pele escrotal perineal 

No pós-operatório imediato (Figura 4A), pôde-se observar a disposição do pênis e do escroto em suas posições anatômicas, com os testículos acomodados em suas respectivas hemibolsas. A pele perineal apresentou-se livre de tensão, devido à retirada não excessiva de pele escroto-perineal. Após 8 meses de cirurgia (Figura 4B), observou-se boa cicatrização, permanência da pele perineal livre de tensão, e manutenção de todas as estruturas em suas posições tópicas, com preservação de suas funcionalidades e ausência de complicações.

Figura 4 Pós-operatório imediato (A) e retorno após 8 meses (B) revelam o sucesso da cirurgia 

DISCUSSÃO

O pênis ectópico é uma anomalia que geralmente ocorre associada à transposição peno-escrotal. Isoladamente, representa menos de 20 casos na literatura.3 Já o escroto ectópico é a mais rara anomalia escrotal.4 No paciente deste caso, pênis e escroto ectópicos representavam uma associação ainda não descrita na literatura, com a manutenção da posição relativa entre tais estruturas, apesar da ectopia, não caracterizando uma transposição peno-escrotal.5 A anomalia deste paciente provavelmente é decorrente da malformação óssea ao nível da diáfise púbica. A raridade da associação e a ausência de relatos justificam a realização tardia da correção cirúrgica da ectopia, essencial para o tratamento da criptorquidia do caso, como demonstrado pela tentativa malsucedida de orquidopexia antes da correção das posições ectópicas. Além de permitir a orquidopexia, o procedimento cirúrgico promoveu ganho na autoimagem do paciente.

REFERÊNCIAS

1. Kolon TF, Herndon CD, Baker LA, Baskin LS, Baxter CG, Cheng EY, Diaz M, Lee PA, Seashore CJ, Tasian GE, Barthold JS; American Urological Association. Evaluation and treatment of cryptorchidism: AUA guideline. J Urol. 2014;192(2):337-45.
2. Fathi K, Perovic S, Pinter A. Successful surgical correction of an extreme form of ectopic penis. J Pediatr Urol. 2010;6(4):426-8.
3. Somoza I, Palacios MG, Mendez R, Vela D. Complete penoscrotal transposition: a three-stage procedure. Indian J Urol. 2012;28(4):450-2.
4. Redman JF, Ferguson SF. Unilateral perineal ectopic scrotum resulting in debilitating orchialgia: diagnosis and management. J Urol. 2005;173(1):104-5.
5. Kolligian ME, Franco I, Reda EF. Correction of penoscrotal transposition: a novel approach. J Urol. 2000;164(3 Pt 2):994-6; discussion 997.