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Craniocerebral trauma in motorcyclists: relation of helmet use and trauma severity

Craniocerebral trauma in motorcyclists: relation of helmet use and trauma severity

Autores:

Viviane da Cunha Dutra,
Rita Catalina Aquino Caregnato,
Maria Renita Burg Figueiredo,
Daniela da Silva Schneider

ARTIGO ORIGINAL

Acta Paulista de Enfermagem

On-line version ISSN 1982-0194

Acta paul. enferm. vol.27 no.5 São Paulo Sept./Oct. 2014

http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201400079

Introdução

Nos últimos anos, a estabilidade econômica brasileira proporcionou o crescimento de diversos setores produtores de bens de consumo, registrando aumento de 250% no mercado de automóveis, motocicletas e caminhões.(1) Neste contexto de expansão, constata-se aumento na produção de automóveis e de motocicletas não somente no Brasil, mas em nível mundial.(2-5)

A utilização da motocicleta como meio de locomoção e trabalho representa um fenômeno ocasionado pela facilidade de sua aquisição e manutenção, aliada à agilidade que este meio de transporte possibilita, explicando o crescimento da venda desta no mercado.(6) O aumento da quantidade de veículos, principalmente motocicletas, trafegando nas cidades e rodovias do país trouxe como consequência negativa o aumento das ocorrências e um grande número de vítimas de acidentes.(2,7)

O Brasil tem um dos trânsitos mais perigosos do mundo, apresentando um acidente para cada lote de 410 veículos em circulação, enquanto na Suécia é de 1/21.400 veículos. Estes números refletem um problema de graves consequências para a sociedade, considerando-se a morbidade, como a invalidez total ou parcial, além do alto custo financeiro decorrente.(8) Os acidentes de trânsito custam aos cofres públicos aproximadamente R$ 28 milhões por ano, sem contabilizar os custos indiretos.(1,3)

Os acidentes que vitimam motociclistas configuram um problema de saúde pública de grande magnitude e transcendência, com forte impacto na morbidade e mortalidade da população. No conjunto de lesões decorrentes de causas externas, o Traumatismo Craniocerebral destaca-se em termos de magnitude, sobretudo como causa de morte e incapacidade, especialmente de jovens em idade produtiva.(2,9)

A avaliação inicial do paciente vítima de Traumatismo Craniocerebral inclui a Escala de Coma de Glasgow, dados relativos ao acidente e tomografia computadorizada. Esta Escala determina a gravidade dos Traumatismos Craniocerebrais, quantificando os achados neurológicos resultantes do somatório dos escores da avaliação de abertura ocular, resposta verbal e resposta motora, avaliando a profundidade e duração clínica de inconsciência e coma.(10)

A utilização de equipamentos de segurança, sobretudo do capacete, representa um importante atenuante das implicações decorrentes do acidente de motocicleta, sendo observado quando a vítima recebe o atendimento de emergência; portanto, torna-se imprescindível a utilização correta deste item de proteção. O capacete tem como objetivo atenuar o choque decorrente do impacto.(11)

Na colisão de uma motocicleta, o motociclista é atirado para fora do veículo. O movimento de sua cabeça para frente é interrompido ao atingir um obstáculo, mas o cérebro continua até bater na parte interna do crânio e retornar, atingindo o lado oposto, podendo resultar em uma lesão menor ou fatal.(11) Os motociclistas que não usam capacete correm um risco muito maior de sofrer lesões traumáticas na cabeça e no cérebro ou uma combinação delas. Os capacetes criam uma camada protetora adicional para a cabeça, resguardando o usuário de algumas das mais graves formas de lesão cerebral traumática.(11) Portanto, as vítimas de acidentes de motocicletas sofrem menos lesões com o uso do capacete de proteção, reduzindo em dois terços o risco de ferimentos na cabeça e pela metade na coluna cervical.(3)

A principal causa de morte entre usuários de motocicletas e bicicletas são lesões na cabeça e no pescoço. Nos países europeus, lesões na cabeça contribuem aproximadamente em 75% das mortes entre usuários de veículos motorizados de duas rodas; em alguns países de baixa e média renda, estima-se que as lesões na cabeça sejam responsáveis por 88% das mortes. Fraturas de nariz, mandíbula, afundamento da face e do crânio, além de lesões no globo ocular e arcada dentária estão entre as ocorrências mais comuns.(11)

Frente a este contexto surgiu o interesse em investigar a questão: a gravidade dos Traumatismos Craniocerebrais tem relação com o uso do capacete em acidentados de motociclistas? Para responder ao questionamento de pesquisa definiu-se como objetivo relacionar o uso do capacete à gravidade dos Traumatismos Craniocerebrais, através da utilização da Escala de Coma de Glasgow em motociclistas acidentados atendidos em hospital de trauma.

Métodos

Trata-se de um estudo transversal retrospectivo quantitativo realizado no setor de emergência de um hospital de trauma localizado em Porto Alegre/RS, Brasil. Esta instituição integra o Sistema Único de Saúde (SUS), sendo referência em trauma na zona norte da cidade.

A população constituiu-se de registros dos pacientes vítimas de acidentes motociclísticos atendidos na emergência do hospital com diagnóstico de Traumatismos Craniocerebrais, entre 01/10/2012 e 31/01/2013. A amostra considerou todos os pacientes que internaram na emergência do hospital de estudo durante o período definido para a pesquisa. Os critérios de inclusão foram: registros dos pacientes acidentados de motocicleta com diagnóstico médico de Traumatismo Craniocerebral, independentemente se havia registro do uso do capacete. Neste serviço a média de atendimento de vítimas de acidentes motociclísticos é de 200/mês, dos quais 25% apresentam Traumatismo Craniocerebral. Não houve necessidade de realizar cálculo amostral, visto que foram selecionados todos os registros (100%) de pacientes que ingressaram no hospital devido à acidente de motocicleta com Traumatismo Craniocerebral , durante o período estudado, resultando em 188 registros. Elaborou-se como instrumento de coleta dos dados uma planilha em Excel com as seguintes variáveis: idade, sexo, uso de capacete, gravidade do Traumatismo Craniocerebral e posição ocupada no veículo.

Utilizou-se para análise dos dados coletados o software para a análise estatística SPSS versão 13.0. Os dados foram analisados através de tabelas e porcentagens simples. Para a verificação de associação significativa entre as variáveis utilizou-se o Teste Exato de Fisher. Nas análises dos resultados o nível de significância máximo assumido foi de 5% (p≤0,05).

O desenvolvimento do estudo atendeu as normas nacionais e internacionais de ética em pesquisa envolvendo seres humanos.

Resultados

Quanto ao perfil da amostra, 84,6% dos 188 pacientes foram identificados do sexo masculino, sendo que 55,3% encontravam-se na faixa etária entre 18 e 28 anos.

Em relação ao uso do capacete, em 51,6% havia o registro do uso; em 17,6% o registro de uso foi considerado inadequado, pois ocorreu queda do equipamento no momento do acidente; e em 6,4% não foi utilizado. Chama atenção que em 24,5% dos casos não havia registro do uso ou não do referido equipamento.

A distribuição das vítimas de acidentes motociclísticos com Traumatismos Craniocerebrais em relação ao uso de capacete e as variáveis: idade, sexo, posição do motociclista, local do trauma e gravidade da lesão são apresentados na tabela 1.

Tabela 1 Distribuição das vítimas de acidentes motobilísticos com Traumatismo Craniocerebrais em relação ao uso de capacete 

Variáveis Categoria Uso do capacete Uso do capacete p-value
Sim Não Inadequado Não informado
n(%) n(%) n(%) n(%)
Idade 7 – 17 9(4,8) 2(1,0) 1(0,5) 3(1,6) 0,332NS
  18 – 28 50(26,6) 6(3,2) 22(11,7) 26(13,9)  
  29 – 39 28(14,9) 3(1,6) 3(1,6) 9(4,8)  
  40 – 50 7(3,7) 1(0,5) 6(3,2) 7(3,8)  
  51 – 60 3(1,6) -- 1(0,5) 1(0,5)  
Sexo Masculino 82(43,6) 9(4,8) 30(16,0) 38(20,2) 0,554NS
  Feminino 15(8) 3(1,6) 3(1,6) 8(4,2)  
Posição Condutor 82(43,6) 11(5,9) 30(16) 33(17,5) 0,118NS
  Carona 15(8) 1(0,5) 3(1,6) 13(6,9)  
Trauma Crânio 97(35,0) 12(4,3) 33(11,9) 46(16,6) NSA
  Ocular 3(1,1) 2(0,7) 2(0,7) 3(1,1)  
  Nasal 9(3,2) 1(0,4) 3(1,1) 3(1,1)  
  Mandíbula 10(3,6) 3(1,1) 6(2,2) 4(1,4)  
  Face 4(1,4) 2(0,7) 3(1,1) 8(2,8)  
  Dentário 3(1,1) 3(1,1) 1(0,4) 2(0,8)  
  Pescoço 5(1,8) -- 3(1,1) 6(2,2)  
GLASGOW Leve 84(44,7) 6(3,3) 14(7,4) 37(19,7) 0,000*
  Moderado 12(6,4) 5(2,7) 18(9,5) 5(2,7)  
  Grave 1(0,5) 1(0,5) 1(0,5) 4(2,1)  

NS – não significativo; NSA – Não se aplica, pois esta variável é de múltiplas respostas

Observa-se que a faixa etária entre 18 e 28 anos correspondeu à maioria das vítimas que perdeu o equipamento por ocasião do acidente.

As 188 vítimas sofreram 277 traumas na região da cabeça, correspondendo a mais de um trauma por paciente. Todas tiveram trauma de crânio, além de trauma na mandíbula, face e no pescoço. Também ocorreram traumas oculares e dentários, em menor frequência. As lesões na face podem estar associadas ao não uso do equipamento de proteção ou ao uso inadequado. Verificou-se ainda a ocorrência de traumas de nariz e mandíbula nas vítimas que faziam uso do capacete. O trauma na mandíbula foi observado com maior frequência nas vítimas que usaram inadequadamente o capacete. Os traumas na face e pescoço foram mais frequentes nas vítimas sem registro de uso do equipamento de proteção.

Através dos resultados do teste Exato de Fisher, verifica-se que existe associação significativa do uso do capacete com a variável Glasgow. Para esta variável, observa-se que os pacientes que usavam capacete foram associados à classificação leve (13 a 15 pontos); naqueles em que o uso do capacete foi identificado como inadequado à classificação moderado (9 a 12 pontos); e os graves (3 a 8 pontos) foram aqueles nos quais não havia registro (p≤0,000).

Na tabela 2 apresentam-se as vítimas de acidentes motociclísticos com Traumatismo Craniocerebral em relação à gravidade do Trauma avaliado pela Escala de Coma de Glasgow com as variáveis: mês, idade, sexo, posição e local do trauma.

Tabela 2 Distribuição das vítimas de acidente motociclístico em relação à gravidade do Traumatismo Craniocerebral pela Escala de Coma de Glasgow 

Variáveis Categoria Glasgow p-value
Leve Moderada Grave
n(%) n(%) n(%)
Idade 7 – 17 13(6,9) 2(1,1) -- 0,550NS
  18 – 28 76(40,1) 23(12,2) 5(2,7)  
  29 – 39 35(18,6) 7(3,7) 5(2,7)  
  40 – 50 15(8,0) 5(2,7) 1(0,5)  
  51 – 60 2(1,1) 3(1,6) 1(0,5)  
Sexo Masculino 119(63,3) 33(17,5) -- 0,723NS
  Feminino 22(11,7) 7(3,7) 7(3,7)  
Posição Condutor 114(60,6) 35(18,6) -- 0,399NS
  Carona 27(14,4) 5(2,7)    
Trauma Crânio 141(50,9) 40(14,4) 7(2,5) NSA
  Ocular 7(2,5) 2(0,8) 1(0,4)  
  Nasal 15(5,4) -- --  
  Mandíbula 13(4,7) 9(3,2) --  
  Face 16(5,8) 1(0,4) --  
  Dentário 3(1,1) 3(1,1) --  
  Pescoço 15(5,4) 2(0,8) --  

NS – não significativo; NSA – Não se aplica, pois esta variável é de múltiplas respostas

Quanto à gravidade dos Traumatismos Craniocerebrais sofridos pelas vítimas, 141 (50,9%) foram classificados como leve; 40 (14,4%) moderada; e 7 (2,5%) grave. A faixa etária predominante das vítimas com trauma leve, moderado e grave também foi entre 18 e 28 anos.

Em relação à posição de ocupação no veículo, identificou-se que 83% das vítimas eram os condutores e 17% estavam na carona. Evidenciou-se 21 (11%) vítimas de fraturas de mandíbula entre os condutores; 15 (8%) com trauma na face; 14 (7%) com trauma nasal, seguido do trauma em pescoço 13 (7%), denotando o uso inadequado do equipamento de proteção.

Discussão

Embora os resultados desta pesquisa esbarrem na limitação de uma amostra pequena, não abrangente de uma avaliação anual, consideram-se representativos do fenômeno estudado, contribuindo para o esclarecimento do tema e apontando evidências que ratificam resultados de outras pesquisas. O enfermeiro participa do atendimento à saúde desde o nível primário ao terciário. Os resultados sustentam o planejamento e o desenvolvimento tanto de ações preventivas quanto de recuperação para a prática do enfermeiro, podendo impactar na diminuição da morbimortalidade. Quando o acidente ocorre, o enfermeiro presta atendimento em todas as etapas, envolvendo-se desde o atendimento pré-hospitalar até a reabilitação. Portanto, quanto mais evidências melhor a ação tanto na prevenção quanto no atendimento às vítimas, uma vez que os motociclistas têm a segunda maior taxa de internação hospitalar por acidente de trânsito, perdendo apenas para os pedestres.(12)

Um aspecto surpreendente nesta pesquisa refere-se ao fato de cinco dos condutores serem da faixa etária entre 16 e 17 anos, visto que no Brasil a idade mínima legal para obtenção da carteira de motociclista é 18 anos.(13)

O perfil da amostra deste estudo foi de 84,6% homens, a maioria na faixa etária entre 18 e 28 anos, o que vem ao encontro de outras pesquisas que evidenciaram altos índices de acidentes com motociclistas do sexo masculino(4,5,14,15) e do envolvimento destes em acidentes de trânsito, por serem condutores de veículos, possuírem habilitação e terem aprendido a dirigir com menor idade.(16) A idade entre 18 e 28 anos relaciona-se principalmente à liberação para dirigir, passando a constituir uma população de alto risco pela inexperiência na condução de veículos, pela impulsividade característica da idade, além de outros fatores como o consumo de álcool e outras drogas, aliados à deficiente fiscalização do Estado.(15) Pesquisa realizada na cidade de Fortaleza-CE com vítimas de acidentes com motocicletas teve resultados semelhantes, com predomínio do sexo masculino, na faixa etária entre 18 e 29 anos. Jovens são vítimas mais frequentes por apresentarem determinados comportamentos socioculturais, assumindo maior risco na condução de veículos.(15)

Ao relacionar as variáveis pesquisadas neste estudo, evidenciou-se a relação mais significativa entre o uso de capacete com a classificação do Traumatismo Craniocerebral. A maior parte das vítimas (51,6%) que fazia uso efetivo do equipamento foi acometida de traumas menos graves, apresentando Traumatismo Craniocerebral conforme Escala de Coma de Glasgow: 44,7% leve, 6,4% moderado e 0,5% grave. Nos casos em que a vítima usou inadequadamente o capacete, os traumas foram em média 10,7% leve, 12,2% moderado e 1% grave, observando-se o dobro dos percentuais em relação aos traumas moderados e graves nestas vítimas. O Glasgow grave foi maior naquelas vítimas nas quais não constava o registro da informação sobre uso do capacete no momento do acidente. Acredita-se que a omissão da informação acerca do uso do capacete no local do acidente esteja relacionada aos futuros entraves jurídicos decorrentes do registro do não uso do equipamento de proteção.

Estudo realizado na Austrália(17) constatou a redução na probabilidade de lesão intracerebral de 66% para motociclistas e ciclistas com uso do capacete. Em outro estudo, realizado em Taiwan,(18) os motociclistas sem capacete tiveram mais de quatro vezes a probabilidade de sofrer lesões na cabeça e dez vezes mais propensão a lesões cerebrais.

Pesquisa realizada em Pernambuco no Brasil, evidenciou, nos condutores de motocicleta atendidos após acidente no serviço de urgência, ter sido a cabeça/pescoço a segunda região corpórea mais atingida, enquanto o uso efetivo do capacete reduziu de forma significativa a gravidade destas lesões.(14,19) Constata-se em outra pesquisa, no Rio Grande do Norte, também no Brasil, que a motocicleta foi responsável por 53,2% dos acidentes, com 38,8% dos motociclistas com lesões do tipo leve e moderada e 83,2% apresentando trauma leve.(20) Tais dados corroboram os índices encontrados nesta pesquisa e salientam a importância do uso do equipamento de proteção para prevenção de lesões de maior gravidade.

Pesquisadores no Estado de Michigan, Estados Unidos, estudaram o impacto do uso de capacete nos condutores de motocicletas com o custo hospitalar. Apesar da obrigatoriedade do uso do capacete neste estado, 19% dos condutores não estavam usando quando colidiram. Os motociclistas sem capacete sofreram mais lesões na cabeça e no pescoço e tiveram índices mais altos de lesões graves.(11) Neste estudo, 51,6% faziam uso do equipamento e 83% eram os condutores da motocicleta. Na pesquisa brasileira realizada em Pernambuco, 80,1% faziam uso do capacete;(14) em Quênia metade dos pilotos e 20% dos passageiros utilizaram capacete;(5) na Jamaica 49,9% usavam capacete no momento do acidente.(4) Como o Brasil é um país com grandes diferenças culturais, observa-se que os percentuais encontrados nesta pesquisa realizada em uma cidade da região sul foram diferentes dos percentuais encontrados em outra do nordeste do país; os índices encontrados neste estudo se assemelham mais aos índices encontrados no Quênia e na Jamaica.

Nesta pesquisa, além dos pacientes apresentarem Traumatismos Craniocerebrais, também ocorreram 89 traumas associados: ocular, nasal, mandíbula, face, dentário e pescoço, sendo que as vítimas que não usavam o capacete, ou o perderam, tiveram dois ou mais traumas. O uso obrigatório e correto do dispositivo de segurança (capacete) pelos motociclistas contribui para que haja uma menor incidência tanto das lesões de tecidos moles quanto das fraturas de face,(14,20) confirmado neste estudo.

A não utilização do capacete ou uso não adequado constituem-se ato ilegal, uma vez que a partir de 1982 a legislação brasileira tornou obrigatório o uso do capacete. O artigo 244, do Código Brasileiro de Trânsito, considera infração gravíssima o não uso, tendo como penalidades multa e suspensão do direito de dirigir e, como medida administrativa, o recolhimento da Carteira Nacional de Habilitação (CNH).(13) Equipamentos de segurança como os capacetes muitas vezes não são usados por motociclistas, tornando necessárias medidas de educação e fiscalização.(12)

Conclusão

Este estudo permitiu relacionar o uso do capacete à gravidade dos Traumatismos Craniocerebrais dos motociclistas acidentados que receberam atendimento em um serviço de referência em trauma. Os resultados apontaram 51,6% dos motociclistas com uso do capacete no momento do acidente. Houve associação significativa entre a avaliação da Escala de Coma de Glasgow e a gravidade dos Traumatismos Craniocerebrais, evidenciando-se nos motociclistas que utilizaram corretamente o capacete Trauma leve em 44,7%, moderado em 6,4% e grave em 0,5%. As vítimas que não apresentavam registro da situação do uso do capacete tiveram traumatismos graves (p≤0,000).

A prevalência maior ocorreu entre o sexo masculino, na faixa etária entre 18 e 28 anos, e que ocupavam a posição de condutores da motocicleta.

É necessário ampliar as estratégias educativas, associadas às políticas públicas efetivas e ao maior rigor na fiscalização para o uso do capacete, no sentido de reduzir os índices elevados de acidentes envolvendo motociclistas sem uso do capacete, uma vez que todas as pesquisas comprovam a sua eficácia, atenuando a gravidade das lesões. Também é importante maior conscientização dos profissionais da saúde no registro do uso do capacete no momento do atendimento pré-hospitalar.

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