versão impressa ISSN 0021-7557versão On-line ISSN 1678-4782
J. Pediatr. (Rio J.) vol.94 no.6 Porto Alegre nov./dez. 2018
http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2018.05.018
Caro Editor:
Conforme proposto pelos autores em seu estudo, o raios X de tórax tem um papel significativo na diferenciação e na identificação da etiologia bacteriana da pneumonia.1 Os principais achados do raios X de tórax que sugerem uma patologia de origem bacteriana são: consolidação lobar ou segmentar, pneumatocele e presença de abscesso pulmonar. Esses achados são significativamente associados a uma infecção bacteriana típica.1
Apesar disso, na maior parte dos casos, a pneumonia bacteriana típica não é acompanhada por esses padrões radiológicos clássicos, principalmente nos primeiros estágios da doença.2 Por outro lado, algumas infecções virais podem mostrar padrões radiológicos semelhantes; por exemplo, um padrão de consolidação pode ser observado em uma infecção por adenovírus.2 Esse cenário é uma barreira para o diagnóstico etiológico somente com raios X de tórax. Em um estudo de 215 crianças com pneumonia adquirida na comunidade (PAC), das quais 62% apresentaram etiologia bacteriana e o restante foi exclusivamente viral, Virkki et al. constataram que os infiltrados alveolares apresentaram sensibilidade de 72% e especificidade de 51% na identificação de uma etiologia bacteriana.3 Eles também relataram que a especificidade aumentou até 85% quando os infiltrados alveolares foram do tipo lobar, principalmente em crianças com menos de dois anos. Os infiltrados intersticiais, por outro lado, não mostraram diferenciação adequada entre a pneumonia viral e bacteriana. A hiperplasia, a atelectasia e o pequeno derrame pleural também não apresentaram relevância para essa diferenciação.2
Em contrapartida, Moreno et al. encontraram, em crianças com PAC, uma forte correlação da interpretação das radiografias torácicas em ambas: nas interpretadas por um pediatra e pelos radiologistas, com excelente precisão de diagnóstico. A escala radiológica que eles usaram foi a escala de Khamapirad e mostrou sensibilidade de 100% (IC de 95%: 90%-100%), especificidade de 98% (IC de 95%: 93%-99%), valor preditivo positivo de 96% (IC de 95%:85%-99%) e valor preditivo negativo de 100% (IC de 95%: 96%-100%) para prever pneumonia bacteriana com um simples raios X de tórax.4 Este estudo reforça fortemente a utilidade de um de raios X no diagnóstico etiológico da pneumonia bacteriana, bem como sua utilidade para descartá-la quando o resultado é negativo.
Além disso, Torres et al. , em seu estudo com crianças internadas por PAC, também com o uso da escala de Khamapirad, encontraram sensibilidade de 100% (IC de 95%: 83%-100%), especificidade de 94% (IC de 95%: 88%-97%), valor preditivo positivo de 77% (IC de 95%: 58%-90%) e valor preditivo negativo de 100% (IC de 95%: 96%-100%) para prever pneumonia bacteriana.5 Isso corrobora os achados de todos os autores acima e nos mostra a capacidade de identificação etiológica bacteriana por meio do uso de um raios X de tórax e uma escala adequada.5 Por fim, Guanoluisa & Geovanny obtiveram um índice kappa de 0,87, que representa uma concordância muito boa. Nesse estudo, eles também usaram a escala de Khamapirad para avaliar as radiografias de tórax das crianças.6
Com base nos achados do estudo de Andrade et al. e além da literatura revisada, pode-se concluir que o uso da escala de Khamapirad em um raios X de tórax para identificar a etiologia bacteriana da pneumonia é muito precisa, tanto para confirmar a etiologia quanto para descartá-la de acordo com a pontuação radiológica. O uso de uma pontuação de avaliação como essa de Khampirad permite uma melhor sensibilidade e especificidade do raios X de tórax. Dessa forma, recomenda-se introduzir esses critérios para melhorar a identificação etiológica e o manejo terapêutico de pacientes pediátricos com diagnóstico de pneumonia, principalmente nas áreas onde não há pediatras.