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Cuidados à saúde sexual de duas gerações de homens: permanências e volatilidades de roteiros e habitus

Cuidados à saúde sexual de duas gerações de homens: permanências e volatilidades de roteiros e habitus

Autores:

Bruno José Barcellos Fontanella,
Romeu Gomes

ARTIGO ORIGINAL

Ciência & Saúde Coletiva

versão impressa ISSN 1413-8123

Ciênc. saúde coletiva vol.20 no.1 Rio de Janeiro jan. 2015

http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232014201.21272013

Introdução

Neste artigo reportamos um dos produtos analítico-interpretativos de uma investigação cujo objetivo geral foi compreender os sentidos atribuídos por homens jovens aos cuidados de saúde sexual. Apresentamos os resultados e conclusões sobre alguns objetivos específicos, formulados para responder à questão: quais as similitudes e assimetrias entre os significados atribuídos por homens de duas diferentes gerações a este tipo de cuidado?

Esta questão refere-se à incerteza sobre o quanto um mesmo habitus masculino resiste ou o quanto de durabilidade há neste sistema de disposições no decurso de duas gerações próximas. Consideramos que a resposta à questão se beneficiaria também do conceito de geração e da teoria da roteirização sexual, a seguir também comentadas.

Habitus. A noção de habitus, desenvolvida por Pierre Bourdieu, insere-se numa tradição de textos filosóficos que remonta ao hexis aristotélico. Liga-se diretamente ao conceito de socialização, mas também se refere a comportamentos, atos e condutas dos indivíduos em suas vidas práticas. O conceito se situa no intermédio dos sistemas sociais e do psiquismo, servindo à organização e à expressão de ambas as instâncias, conciliando "a oposição aparente entre realidade exterior e as realidades individuais"1 e se contrapondo ao dua lismo indivíduo-sociedade2. Bourdieu3 referiu-se a certos indicadores de habitus: "disposições", "esperanças", "antecipações", "domínio prático do espaço englobante"; referiu-se também aos conhecimentos e avaliações dos sujeitos sobre as funções que lhes são socialmente atribuídas e sobre a razoabilidade cultural de suas expectativas, demandas e atos.

A noção específica de habitus masculino serviria para "classificar todas as coisas do mundo e todas as práticas segundo distinções redutíveis à oposição entre o masculino e o feminino"4. Compreenderia também os hexis corporais atuantes nas diversas esferas de relações sociais e nas próprias relações sexuais, incluindo seus preâmbulos e sucedâneos comportamentais, alguns insuspeitados quanto à vinculação ao referido habitus, sendo considerado, portanto, intensamente incorporado.

Roteirização sexual. Esta teoria relaciona-se ao construto mais amplo de roteiro social e foi elaborada, a partir do final da década de 1960, por John Gagnon e outros sociólogos também alinhados com a perspectiva teórica teatral5. Os roteiros sociais constituem-se, basicamente, de expectativas que os atores sociais utilizam para se orientarem diante das situações com que se defrontam cotidianamente, prescrevendo parcialmente seus desempenhos. Oferecem aos indivíduos indicações norteadoras, mas permitem desempenhos criativos e improvisações diante das situações concretas vividas. Assim, as expe riências individuais seriam vivenciadas como que inseridas em roteiros preestabelecidos, embora o desempenho final não decorra apenas desses scripts.

As condutas sexuais, relacionadas aos roteiros disponíveis aos indivíduos, devem ser vistas como fenômenos locais, "com sentidos e propósitos específicos em contextos cultural-históricos particulares", palavras de Gagnon5, que ajudam balizar a presente pesquisa pelo estudo de gerações.

Habitus masculino e roteiros sexuais masculinos. Uma síntese que coordene os elementos teóricos desenvolvidos por Bourdieu e Gagnon é dificultada pelo fato de os autores não terem se referido um ao outro em suas respectivas obras. De todo modo, habitus e roteiros são, ambos, construtos acerca de fenômenos situados na interface do individual (psiquismo e comportamento) e do social, sobre os quais os indivíduos e as sociedades geralmente não têm consciência, vivenciando-os como facticidades. Os construtos compartilham o intuito de explicar certas regularidades das cognições e dos comportamentos desempenhados socialmente.

Os habitus corresponderiam a potencialidades e configurações culturais ou subculturais responsáveis por regularidades de aspectos da vida social ao longo do tempo, confundindo-se com identidades sociopsicológicas. Roteiros, por seu turno, seriam configurações mais dinâmicas e distinguíveis de representações e expectativas que norteiam de maneira mais imediata certos comportamentos. Embora os roteiros não sejam conscientes, é possível que os indivíduos falem e descrevam em pormenores sobre quais foram suas condutas ou, metaforicamente, sobre como percorreram determinada trilha, mesmo que tenham sentido percorrer um caminho inédito.

Considerando habitus e roteiros referentes a uma mesma esfera de fenômenos sociais (no presente caso, habitus masculino e roteiros sexuais masculinos), os roteiros situar-se-iam numa esfera de maior volatilidade, de menores permanências, ao passo que os habitus estariam mais próximos de um núcleo cultural mais sólido e de maior inércia a mudanças. Dentre os níveis de roteirização distinguidos por Gagnon, o nível cultural seria aquele mais próximo de habitus, pelo caráter de menor mobilidade que tem em relação aos níveis interpessoal e intrapsíquico.

Geração. Em vista da crescente pluralização dos padrões de comportamento e de interpretação do que é vivenciado em sociedade (estilos de vida), pareceu-nos preferível recorrer a um dos sentidos sociológicos específicos do termo geração, considerando fenômenos culturais mais abrangentes do que os restritos às linhagens familiares. Assim, entendemos geração como um conjunto de pessoas nascidas numa mesma época e que compartilham, ao longo da vida, uma mesma sequência aproximada de experiências6. Tais conjuntos são por vezes marcados por episódios históricos impactantes, como foi o advento da epidemia de AIDS na década de 1980, que, como adiante explicado, "separa" as duas gerações estudadas.

Considerando os conceitos acima comentados como o pano de fundo teórico para a abordagem empírica da questão formulada, os objetivos específicos deste presente estudo foram:

a) analisar, nos relatos de participantes de duas gerações, as similitudes e assimetrias de condicionamentos, disposições, comportamentos e representações presentes em seus roteiros sexuais mentais e interpessoais, por ocasião de suas respectivas iniciações sexuais;

b) analisar analogias e contraposições culturais nos roteiros de iniciação sexual das duas gerações ou, noutras palavras, marcas geracionais correspondentes a elementos dos habitus masculino atuantes;

c) compreender possíveis significados dessas marcas geracionais, em contraposição às continuidades das disposições encontradas, em que medida e de que maneira seriam resultantes dos dois marcantes contextos históricos e sociais (décadas de 70 e 90, pré e pós-AIDS) e constatar se é possível, apesar das rupturas eventualmente constatadas, falar-se em homologias hegemônicas do habitus masculino;

d) formular hipóteses sobre como as assimetrias e homologias e identificadas entre os participantes das duas gerações se relacionam aos seus comportamentos de cuidado de saúde no campo da sexualidade.

Método e procedimentos

O método utilizado baseou-se na delineação de Thompson7 das etapas de pesquisas empíricas que pretendam uma hermenêutica de significações expressas por participantes de estudos qualitativos sociológicos e antropológicos, por ele chamada de "hermenêutica de profundidade". Tal processo parte do momento etnográfico (apreensão da hermenêutica da doxa), por meio, por exemplo, como no presente caso, de coleta de narrativas e entrevistas semiestruturadas.

As etapas pós-etnográficas do processo investigativo conferem-lhe o caráter propriamente interpretativo. Baseados no pressuposto de que as formas simbólicas "não subsistem no vácuo", sendo, ao contrário, "produzidas, transmitidas e recebidas em condições sociais e históricas específicas"7, estivemos atentos à identificação das situações têmporo-espaciais em que ocorreram a produção, a circulação e a recepção dos elementos culturais expressos, como também aos campos de interação em que essas trocas ocorreram e às estruturas e instituições e sociais que lhes serviram de pano de fundo (entre elas, as instituições governamentais responsáveis pelas campanhas contra DST/AIDS que, em particular, conjecturamos terem exercido papel preponderante). Sobre a estrutura social, ressaltamos dois aspectos na análise dos relatos: as questões de gênero envolvidas nas iniciações sexuais e a assimetria social dos participantes (diferentes níveis de escolaridade de cada uma das subamostras das duas gerações).

A análise discursiva dos relatos foi realizada por meio de leituras atentas à bipolaridade das representações e experiências dos participantes sobre os cuidados com a saúde8, procurando focalizar suas compreensões e inferir sobre os significados psicoculturais de terem-se iniciado sexualmente e empreender cuidados com a saúde. Ao fim, tentamos realizar uma síntese do processo hermenêutico e interpretar (ou reinterpretar) os dados das etapas analíticas precedentes, projetando possíveis significados ou, noutros termos, procedendo a uma explanação interpretativa dos relatos dos participantes e, portanto, interpretando um território já interpretado, no dizer de Thompson.

Técnicas de coleta de dados

Os momentos etnográficos (coleta e apreensão da hermenêutica da doxa) ocorreram em duas pesquisas que abordaram homens da cidade do Rio de Janeiro, ambas coordenadas pelo segundo autor do presente texto. A primeira ("A Construção da Masculinidade como Fator Impeditivo do Cuidar de Si" - empreendida entre 2003 e 2005) contou com a participação de homens adultos e objetivou compreender aspectos do imaginário social relacionados ao "ser homem" que fossem potencialmente comprometedores de suas saúdes. A segunda ("Sexualidade Masculina e Cuidados" de Saúde, entre 2006 e 2008) propôs-se a analisar os sentidos atribuídos por homens jovens à sexualidade masculina e aos cuidados de saúde sexual. Ambas utilizaram abordagens qualitativas e foram empreendidas com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e aprovadas pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, da Fundação Oswaldo Cruz. Na presente investigação, utilizamos apenas os acervos dessas pesquisas, não suas análises.

As amostras dessas pesquisas foram formadas considerando os sujeitos em número suficiente para que houvesse saturação de sentidos9, incluindo sucessivamente sujeitos para viabilizar discussões teoricamente abrangentes. Em ambas, foi usada a estratégia de amostragem de "universos familiares"10 , 11, em que pessoas conhecidas do pesquisador indicam outras para participarem da pesquisa que, por sua vez, indicam outros participantes.

Cada uma das duas amostras foi composta por homens que, nascidos numa mesma época, teriam experimentado acontecimentos sociais comuns, compondo uma mesma geração6. A partir deste ponto do artigo, tais amostras serão denominadas de "jovens" e "adultos".

Os jovens compõem uma coorte nascida aproximadamente na segunda metade da década de 1980. Com 18 a 25 anos ao serem entrevistados, começaram o período de iniciação sexual no final dos anos 90, período escolhido porque compôs o cenário de várias campanhas de prevenção da AIDS.

A geração de adultos tinha à época dos relatos acima de 40 anos, tendo vivido o período de iniciação sexual na década de 1970, antes do início da epidemia de AIDS.

Cada amostra contou com subgrupos de participantes diferentes em termos socioeconômicos e culturais. Entre os jovens, uma parte cursava o ensino superior e outra parte não, residindo numa comunidade de classe popular (uma favela). Entre os adultos, uma parte tinha o ensino superior completo e outra parte até quatro anos de frequência escolar. Com isso, pretendemos supor se os sentidos atribuídos à sexualidade masculina e aos cuidados de saúde sexual se diferenciavam de acordo com os subgrupos de escolaridades e classes socioeconômicas distintas.

O acervo finalmente analisado contou com 60 relatos, 42 de jovens e 18 de adultos. A heterogeneidade quanto à escolaridade e classe socioeconômica resultou em especificidades de certos aspectos dos relatos. Entretanto, várias homologias também foram observadas, como se destacará a seguir.

Resultados

O Quadro 1 esquematiza os principais elementos da análise contextual sócio-histórica, panos de fundo dos relatos. O Quadro 2 apresenta e sumariza a estrutura da categorização analítica a que chegamos.

Quadro 1. Elementos da análise da contextualização sócio-histórica possivelmente atuantes no processo de iniciação sexual (IS) dos participantes (primeiro momento pós-etnográfico). 

Quadro 2. Sinopse da seção Resultados. 

Sobre as permanências e as rupturas nos roteiros mentais

O Quadro 3 mostra as características, permanências e rupturas dos roteiros (scripts) mentais a partir dos relatos das duas subamostras (adultos e jovens), por ocasião das respectivas iniciações sexuais.

Quadro 3. Características, permanências e rupturas dos roteiros (scripts) mentais a partir dos relatos das duas subamostras (adultos e jovens), por ocasião das respectivas iniciações sexuais. 

Reflexividades das duas gerações quanto à sexualidade

Entre os jovens, as informações científicas sobre saúde sexual, distorcidas ou não, pareceram amalgamadas às suas vidas sociais, alguns se comportando como "porta-vozes da sensatez" quanto a "sexo seguro". Embora isso certamente tenha ocorrido para as gerações anteriores, supõe-se que houve um incremento na abrangência e na rapidez de circulação dos conhecimentos científicos a partir dos anos 1990.

Expostos desde o início de suas vidas sexuais às interpretações de outras instâncias, como nas campanhas preventivas da AIDS, as falas dos jovens mostraram-se imbuídas de reflexividade e assertividade sobre suas próprias condutas se xuais, comentando, segundo suas visões, as possibilidades e escolhas pessoais que tinham. Porém, as campanhas preventivas da década de 1990, tendo sido implementadas por autoridades socialmente reconhecidas (instituições de saúde e ensino), podem tê-los instado a ver como suas as ideias e representações destas instituições governamentais. De todo modo, uma dessas "escolhas" disse respeito ao uso do preservativo: usar ou não, e como usar.

Embora alguns participantes de escolaridade superior tenham mostrado reflexividade, inclusive utilizando conceitos sociológicos em suas falas, em geral os adultos mostraram dificuldades de exercerem uma hermenêutica do que vivenciaram, possível alheamento do passado (na expressão de Gagnon5), ou certa desvinculação dos processos passados, propiciadores das situações culturais atuais. Trabalharam com a ideia de condutas já anteriormente definidas, em que escolhas cruciais não eram tidas como possíveis, sugerindo um estatuto de maior alienação de suas sexualidades, aparentemente pensando-as e vivendo-as como facticidades, recorrendo inclusive a ideias religiosas fundamentalistas para explicá-las. Mesmo que tenham vivido no perío do histórico de "liberação" sexual das décadas de 1960-70, não foi esta a leitura do que vivenciaram, embora se deva considerar a possibilidade de tratar-se, nos termos de Gagnon5, de uma camada da memória sobrepujada, ocultada e distorcida pelas situações sociais vividas nas décadas seguintes.

Antevisão de dois tipos de parceria: fixa e não fixa

Com uma exceção, os participantes das duas gerações empreenderam enredos heterossexuais, orientados por ideações de uma tipologia diádica das mulheres com quem se relacionariam. Esta antevisão, existente antes das primeiras experiências sexuais com outra pessoa, e analisada em outro texto12, teria contribuído para dois diferentes tipos de roteiros interpessoais, comentados adiante, e, no extremo, para uma expectativa de não mais ser necessário o uso do preservativo depois do estabelecimento de um relacionamento estável.

Busca dos jovens por um relacionamento estável

Dentre as motivações práticas que impulsionam os roteiros sexuais dos jovens, não constou dos relatos a questão do desempenho orgástico. A ideia de "ter que fazer" (tomar iniciativas, dominar técnicas sexuais) esteve presente, porém as motivações práticas mencionadas foram do tipo alcançar um "relacionamento estável".

Os adultos pareceram também sensíveis à questão da estabilidade, pela via um "amor romântico" ou casamento. Porém, a geração dos mais jovens almeja esse amor, tratando-se para eles de uma motivação prática ("tem que ter sentimento" - S).

Extrativismo VS conquista sexual

Nas duas gerações há uma ênfase na "conquista" da mulher. Embora, em geral, deem conotações diversas a esse empreendimento (para os adultos, conquista sexual; para os jovens, conquista emocional), os dois grupos usaram a mesma metáfora bélica relacionada à obtenção de uma parceira.

Para os jovens, que percebem grande "oferta" de parceiras e um acesso sexual facilitado a elas, a conquista sexual não pareceu constituir-se em problema. A frequente metáfora extrativista ("pegar" uma mulher) parece de fato indicar certa facilidade para empreender sexo, embora o ideal para eles pareça ser a monogamia, mesmo que em série. A aproximação pessoal parece ser vista como um ato visando outro tipo de posse, a emocional. Em suas falas, não esteve ausente a ideia de tomar para si as iniciativas da aproximação sexual, porém houve certa desnaturalização deste comportamento: embora necessário, não o consideram esperado somente para os homens.

Para a geração de adultos, sobretudo quando esteve envolvida a aproximação com uma mulher que se almejava como "fixa", a ideia da responsabilidade pelas iniciativas de conquista sexual foi prevalente. Adicionalmente, esta geração enfrentou, segundo as óticas dos participantes, uma situação de acesso difícil à parceiras sexuais, de modo a visarem sobretudo a posse sexual ao se aproximarem das mulheres.

Sexualidade "segura" para as duas gerações

Ambas as gerações valorizaram a "segurança" de suas vidas sexuais, havendo, porém, uma marcante diferença entre elas a respeito das informações e conhecimentos tidos como importantes para isso. Os jovens enfatizaram o know-how sobre suas integridades físicas, ou seja, para suas saúdes, sobretudo com relação à AIDS, terminando por configurar o que chamamos de um padrão de "sexualidade informada" nesta geração13.

A geração dos adultos enfatizou um know-how assegurador de outro tipo de integridade, qual seja, de suas integridades identitárias masculinas. Considerando que dos homens são esperados certos desempenhos, seus proto-roteiros sexuais compreendiam conhecer e terem bem avaliadas suas técnicas sexuais, visando a um acúmulo progressivo de experiências que culminassem no domínio do ciclo orgástico - do seu próprio e, em grande medida, também o de suas parceiras, sendo tal domínio visto como uma função masculina.

Confiança VS medos

Aos elementos cognitivos dos roteiros mentais comentados, somaram-se outros da esfera da afetividade (medo, tensão, angústias, "pesos" e preocupações), espécie de pano de fundo dos relatos dos jovens e dos adultos. Em narrativas dos jovens, evidenciou-se certo fatalismo, como se algo muito grave pairasse sobre suas sexualidades ("não peguei nada ainda [nenhuma doença], mas de repente estou na fila" - S; "é uma doença que mata aos poucos, uma coisa que nunca vai ter cura" - R). Entre os jovens, "proteger-se" e "proteger [o outro]" foram repetidos frequentemente.

Mas o objeto dos medos dos jovens diferiu-se daquele dos adultos. Os mais novos vivenciavam medo de doenças e da morte precoce, a sexualidade como um "risco moderno"13 , 14. Os mais velhos, em contraposição, expressaram o medo de não encontrarem um locus para o exercício sexual, ou seja, o medo de não terem como e com quem desempenhá-la. O medo de doenças e morte para os adultos apareceu como uma inserção nova em seus roteiros mentais.

Dos medos dos jovens decorre provavelmente a importância que deram às estratégias de "policiamento" e "atenção constante" aos "perigos sexuais", assim como a valorização de um sentimento muito citado entre eles, a confiança. Contraponto do medo, a "confiança" ajudaria na separação entre dois roteiros interpessoais distintos: "sexo somente" e o "sexo na 'relação fixa'", sendo a confiança a chave psicológica para o exercício da "relação fixa" e independentemente do quanto de objetividade pudesse haver na "fixidez" da relação (indo, nos relatos, de minutos a anos). A confiança na mulher pareceu ser um indicador do relacionamento ideal almejado pelos jovens: fixo, monogâmico ou "tranquilo" (S).

Perspectivas de longevidade sexual

Os jovens entrevistados trabalharam com a ideia de uma vida sexual duradoura, relacionando isso com uma grande expectativa de vida. "Saúde" seria um fator de garantia disso ("se você se cuidar, você vai longe" - S). Entre os adultos, a ideia apareceu apenas indiretamente inserida em seus atuais roteiros sexuais mentais.

Sobre as permanências e rupturas nos roteiros interpessoais

As características, as permanências e as rupturas dos roteiros (scripts) interpessoais a partir dos relatos das duas subamostras (adultos e jovens), por ocasião das respectivas iniciações sexuais, são mostradas no Quadro 4.

Quadro 4. Características, permanências e rupturas dos roteiros (scripts) interpessoais a partir dos relatos das duas subamostras (adultos e jovens), por ocasião das respectivas iniciações sexuais. 

Uso e o não uso do preservativo nas duas gerações

Para os adultos, o preservativo (ou outros "cuidados") não foi mencionado ao se referirem aos roteiros interpessoais seguidos em suas iniciações sexuais. Para os jovens, ao contrário, as ideias de cuidado parecem inseridas nos roteiros interpessoais seguidos cotidianamente, embora não necessariamente associadas a práticas eficazes de cuidado sob a ótica científica.

Para se contrapor à prevalente ideia de sexo como algo perigoso, um jovem mencionou suas diretrizes: usa o preservativo, escolhe "parceiras regulares" e evita "várias parceiras não conhecidas". Para outro, a ideia de cuidado cotidiano se associou a "exames preventivos" periódicos, sendo um "erro" estar mais "relaxado" nesses cuidados.

Embora argumentem sobre o preservativo com base na "razão" e no "saber" (contrapondo-se à "doidera" de não usar - R), as motivações para o uso dirigiram-se a diferentes alvos: além da contracepção e prevenção de transmissão de patógenos, também à aquisição da confiança da parceira e à percepção de estar inserido na ordem sociossexual vigente. Embora introjetadas, essas prescrições geraram momentos de dissonância durante o efetivo exercício dos roteiros interpessoais: "é complicado na hora você lembrar da camisinha, mas tem que lembrar" (S).

Para a geração dos jovens, a visão diádica das mulheres pareceu contribuir decisivamente para a escolha entre usar (com as "não fixas") ou não usar o preservativo (com as "fixas"). Para os adultos, tal tipologia determinou claramente os tipos de relações que teriam com as mulheres: com as "não fixas" aprenderiam a desempenhar-se se xual mente, visando o domínio do ciclo orgástico; com "fixas", desempenhariam a função de conquista emocional, já com seus desempenhos sexuais referendados pelas "não fixas".

Controle biográfico e "semiológico" sobre a mulher

A distinção entre um tipo e outro de parceiras sexuais ("fixa" e "não fixa")12 leva às vezes ao uso de uma espécie de semiologia que, embora praticada sem fundamentação clínica, parece a alguns jovens suficiente para conotar estados de saúde ou doença. Influenciando seus juízos quanto aos riscos, valorizaram observações, sobretudo visuais e, no extremo, a "beleza" foi considerada um indicador de saúde ("escolhendo pela cara... se ela for feia, você usa camisinha" - S).

Em outros momentos parecem exercer uma "semiotécnica" ainda menos operacional quanto ao que estaria sob exame. Um jovem resumiu o atributo avaliado como sendo o grau de cuidado consigo próprio que as mulheres teriam ("você vê que a pessoa tem uma certa falta de cuidado..." - S). Durante o próprio ato sexual, pode-se empreender uma "semiotécnica" a partir de uma empiria mais objetiva e igualmente não fundamentada, examinando os órgãos sexuais da parceira.

Sobre as permanências e rupturas nos roteiros culturais

O Quadro 5 mostra as características, as permanências e as rupturas dos roteiros (scripts) culturais a partir dos relatos das duas subamostras (adultos e jovens), por ocasião das respectivas iniciações sexuais.

Quadro 5. Características, permanências e rupturas dos roteiros (scripts) culturais a partir dos relatos das duas subamostras (adultos e jovens), por ocasião das respectivas iniciações sexuais. 

Busca de uma sexualidade não conflitante

Um elemento aparentemente estável ao longo das duas gerações, embora com roupagens diferentes, foi o desejo de exercer uma sexualidade que não se mostre conflituosa com as instâncias sociais em que os participantes estão inseridos. Não entrar em conflitos, não aderir a uma sexualidade anômica, sem regras, refletiu-se em um aspecto dos enredos mentais dos participantes, qual seja, o de lidarem com a noção de privação sexual crônica e constante, em termos absolutos ou relativos àquilo que pretendem. Tal privação seria eventualmente dirimida se seguissem determinados roteiros que, embora eficazes (exitosos), são vivenciados como trabalhosos e por vezes infrutíferos. A ideia de que privação é constituinte do ser homem é algo evidenciável entre os adultos, e pareceu se manter na geração dos jovens: suportar tais privações foi percebida como uma virtude moral: "porque nós devemos, como homem, indivíduo, nós devemos ter nossas privações" (S). Nesta postura estóica parece residir uma permanência cultural entre as duas gerações, indicativa de uma provável permanência de habitus.

Reações aos "desvirtuamentos" da ordem sociossexual masculina

De modo complementar a esta resignação quanto à privação, os participantes parecem reagir àquilo que supõem ser infrações ou violações da ordem sociossexual vigente. São notáveis, entretanto, algumas diferenças entre os componentes das duas gerações.

Entre os mais velhos, houve frequentes menções desvalorizadoras sobre as configurações não heterossexuais. Os jovens, por sua vez, expressaram frequentemente julgamentos morais sobre a vida sexual de outros homens, baseando tais juízos na presença ou na ausência da atitude de se cuidarem. A esses "outros" faltariam virtudes frente à prevenção da AIDS, seriam incapazes frente às exigências adaptativas representadas pela doença. Demais aspectos das sexualidades desses "outros" não pareceram relevantes para os jovens, sendo tomados como opções éticas pessoais, sem conotação de ofensa ou desacato à ordem social sexual; não foram valorizadas ou desvalorizadas, por exemplo, a orientação sexual, a configuração de gênero e a fidelidade conjugal.

Tais elementos ideativos críticos e, por vezes, também autocríticos, parecem basear-se em uma noção dicotômica de sexualidades "certas" ou "erradas", uma aparente permanência cultural entre as gerações.

Tipologia diádica e a sexualidade das mulheres

Outra permanência cultural parece ser a manutenção entre as duas gerações de uma tipologia diádica das mulheres. Os membros das duas gerações pareceram organizar seus roteiros interpessoais segundo esta estrutura cognitiva básica12.

Em relação aos juízos feitos sobre a vida sexual das mulheres, aparecem questões de "contabilidade moral"5, mantendo-se nos roteiros intrapsíquicos e culturais das duas gerações a tipologia que as divide basicamente em "acessíveis" e "inacessíveis"5.

Dependendo do lócus geográfico e biográfico que essas mulheres ocupam (casa ou rua; biografia conhecida ou desconhecida), foram reconhecidos indicadores de virtude e de "tranquilidade" (S) na atividade sexual: conhecer uma mulher, suas atitudes, "garantiria" segurança física e identitária dos homens. Parece tratar-se de indícios de que a "vontade masculina de controle e apropriação"15 se mantém, embora com roupagens um tanto diversas.

Outro tipo de juízo sobre a sexualidade feminina associou "gostar muito de sexo" com algo "não saudável" ou "doença" - menções que aparecem apenas nas narrativas dos adultos. Embora haja a percepção nas duas gerações de que o comportamento feminino é o que determina as oportunidades sexuais, as iniciativas ou arroubos das mulheres não são esperados, mas sim, somente, a "dedicação" ao relacionamento (S).

Inviolabilidade do corpo masculino

Em contraponto com a ideia de que o corpo feminino deve ser constantemente vigiado, controlado e mesmo avaliado durante o ato sexual à procura de indícios de problemas12, os participantes de ambas as gerações deram indicações de não considerarem que o corpo masculino deva ser examinado pelas parceiras.

Valorização da paternidade

Para vários jovens participantes, foi nítida a tendência de não se importarem muito com a possibilidade de uma gravidez decorrente de suas atividades sexuais, quando uma parceria fixa estivesse estabelecida. Isto não parece preocupá-los e também não parece determinar atitudes relacionadas ao uso ou não uso de preservativo. Querer "fazer filho" (R) foi citado inclusive como uma motivação prática de algumas relações sexuais.

Entre os adultos, a questão da paternidade não apareceu como algo importante de atingir, mas como uma decorrência "natural" dos relacionamentos fixos institucionalmente alcançáveis.

Discussão

Houve permanências e rupturas de habitus entre as duas gerações?

Levantamos a hipótese de que alguns elementos do habitusmasculino permaneceram estáveis ao longo das duas gerações abordadas, por vezes variando apenas a forma como se apresentam.

Dentre eles, foi chamativa, por aparentemente se fundamentar em forte base cultural (a ponto de não ser verbalizada, embora pareça atuante todo o tempo), a busca do exercício de uma sexualidade sem conflitos explícitos com as instâncias sociais. Embora os possíveis focos de conflito tenham se alterado ao longo das décadas (uma ordem sociossexual fortemente baseada na segurança identitária masculina passou, em boa medida, a basear-se também na ideia de segurança física), os participantes revelaram enredos, em ambas as gerações, em estreita conformidade com essas ordens. Indicadores disso seriam os enredos hegemonicamente heterossexuais nas duas gerações e os discursos fortemente reativos aos desvirtuamentos das ordens sociossexuais, sendo o discurso preventivista dos jovens uma aparente variante disso.

Outra permanência chamativa diz respeito à manutenção da tipologia diádica das mulheres. Seres historicamente "perigosos" para os homens16, as mulheres ainda precisariam ser "controladas", hoje não mais institucionalmente, porém sim, de modo chamativo, a partir de certas práticas individuais (como a avaliação biográfica, a semiologia exercida sobre seus corpos e o espaço físico ainda a elas "reservado" - a casa).

Ainda outra permanência é a noção prevalente de que o corpo masculino não se destina ao exame ou ao olhar da outra pessoa, como o de uma parceira sexual ou os de profissionais do setor saúde17.

Por outro lado, uma importante ruptura de elemento do habitus masculino parece ser representada pela tendência atual de desenvolver, com as mesmas mulheres, de modo simultâneo e paralelo, um roteiro sexual interpessoal e um roteiro emocional. Na geração dos adultos entrevistados, o desenvolvimento de ambos os roteiros tendia a ser em série: primeiro o sexual, com tentativa de pleno desenvolvimento do ciclo orgástico, e depois o emocional.

Embora a conquista (mantendo a metáfora bélica) permaneça como um objetivo, entre os jovens, a ênfase parece ser dada à estratégia que visa o desempenho afetivo mais global na relação da dupla, ao passo que para a geração de adultos o desempenho orgástico era praticamente o único buscado, o que talvez se explique pelas instituições sociais que até então ainda garantiam a "conquista" da estabilidade por meio do casamento. A sobrevalorização atual da paternidade entre os jovens participantes pode ser uma decorrência desta busca do desempenho afetivo mais global.

Uma inversão parece ter ocorrido: para a geração dos adultos, em suas juventudes, sexo era algo a ser obtido, enquanto o relacionamento era algo garantido a priori pelas instituições. Para os jovens, ocorre o inverso: o sexo é garantido pelas instituições sociais (pois alguns de seus aspectos são "ensinados" na escola, nas famílias e em outras instituições), ao passo que o relacionamento precisa ser conquistado, sendo este aspecto sobrevalorizado em suas falas. Tais características parecem revelar-se, desta forma, como marcas geracionais.

Hipóteses explicativas para as rupturas e permanências

As duas gerações estudadas estiveram expostas a dois momentos característicos quando se iniciaram sexualmente, mesmo se se considerar somente as balizas desenhadas pelas ciências biomédicas em cada uma dessas épocas. A geração dos adultos foi historicamente a primeira a fazê-lo, podendo contar com os recursos contraceptivos efetivos. A dos jovens, por sua vez, esteve exposta a uma maciça campanha de prevenção de DST, em razão da emergência da epidemia de AIDS na década de 1980. Estiveram, portanto, expostos a certos elementos cognitivos que devem ter influenciado os roteiros sexuais a eles "disponibilizados" socialmente. Já havia sido acentuado por Gagnon na década de 19605 que, dentre todas as práticas sociais, as práticas sexuais estariam particularmente sujeitas, na atualidade, a modificações decorrentes de conhecimentos advindos de pesquisas científicas, que se transmutam em conhecimentos na cultura popular. Embora as instâncias científicas e políticas tenham se ocupado do cotidiano sexual das populações nos últimos dois séculos, na década de 1990 elas procuraram exercer influências maciças e contundentes.

Assim, as campanhas oficiais sobre "sexo seguro" podem ter ajudado a moldar diferenciadamente, em relação à geração anterior, os roteiros sexuais dos jovens estudados, sobretudo nas suas dimensões mais voláteis (interpessoal e intrapsíquica). Pode-se supor igualmente que tenham tido tal função moldadora não apenas as iniciativas oficiais de larga escala, que visaram e ainda visam explicitamente promover mudanças, mas também as variadas iniciativas informais reverberatórias, no cotidiano social, das ideias surgidas nas esferas acadêmica e política.

Já a influência de outros universos reificadores, como o teológico ou o filosófico, provavelmente não se alterou tão substancialmente ao longo das duas gerações estudadas, à medida que estão menos sujeitos a "descobertas", reviravoltas epidemiológicas ou contingências políticas.

Comentários finais

Uma gama de condicionamentos, disposições, comportamentos e representações foram identificados nas três diferentes dimensões dos roteiros sexuais vivenciados pelos participantes, por ocasião de suas iniciações sexuais. Possibilidades simultâneas de roteirização sexual intrapsíquica foram relatadas e apresentaram, frequentemente, dissonâncias em relação aos roteiros interpessoais e culturais, não se podendo falar de uma transposição imediata de um para outro.

Comparando as gerações estudadas, foram inferidas algumas continuidades das referidas disposições, possíveis elementos de habitus masculino, que, por definição, são duráveis, embora sejam também transponíveis. Permanências culturais em torno da sexualidade masculina puderam ser constatadas entre os dois diferentes contextos históricos e sociais que foram cenários para os roteiros sexuais relatados.

Outros achados apontaram para diferenças ou rupturas, disposições que não se demonstraram duráveis e que não foram transpostas para a geração seguinte. Tais rupturas possibilitam circunscrever possíveis marcas geracionais, ou roteiros diferenciados para cada geração.

Foi chamativa uma aparente inversão ocorrida de uma geração para outra: para os adultos, as garantias institucionais eram dadas sobre os relacionamentos estáveis (casamento), ao passo que, para a geração dos jovens, tais garantias se dão sobre suas atividades sexuais. Complementarmente, se para o adulto iniciar-se na vida sexual representava uma tarefa árdua e cheia de percalços e dificuldades, visando talvez principalmente garantir suas identidades sociais como homens, para os jovens as dificuldades maiores se assentariam em como obter garantias de relacionamentos estáveis, agora não mais garantidos pelo casamento, e no medo constante relacionado à integridade física, ou seja, o medo de doenças. Mesmo que a análise tivesse se restringido unicamente à geração de jovens, a observação dos dois subgrupos de diferentes escolaridades já seria suficiente, a nosso ver, para evidenciar a existência de uma diversidade cultural considerável, a despeito de terem idades próximas e de coabitarem uma mesma cidade.

Os contextos históricos vividos pelas duas gerações parecem ter sido fatores dessas marcas geracionais. A epidemia de AIDS e todas as atividades educacionais de cunho preventivo que se sucederam, incluindo as campanhas oficiais de incentivo ao "sexo seguro", pareceram constituir-se em um pano de fundo algo aterrorizante para os roteiros, um "risco moderno", diante do qual seria difícil fazer escolhas mais corretas. Ademais, na década de 1990, "da informação", em que os jovens se iniciaram sexualmente, houve uma valorização grande destes elementos (informações) como subsídio para agir. Por outro lado, longe de estarem imunes ao terror representado pela epidemia, a geração dos adultos se viu instada a incorporar esses novos elementos aos roteiros já bem estabelecidos que exerciam.

Outra aparente ruptura chamativa se deu quanto à simultaneidade do desenvolvimento do roteiro sexual e do roteiro emocional para os jovens, ao passo que, para a geração dos adultos, isso tendia a se dar em série: primeiro o aprendizado do desempenho sexual e depois do relacionamento. Alguns conflitos e instabilidades em relação ao uso do preservativo - sempre usado de forma inconsistente pelos participantes - parecem decorrer do impulso de proteger-se e, ao mesmo tempo, do impulso de "confiar" na parceira que se pretende como "fixa" em um relacionamento estável.

Por outro lado, constatamos continuidades persistentes ao longo das duas gerações, constituindo possíveis homologias hegemônicas do habitus masculino. Algumas delas parecem repetir-se há muitas gerações, como as dificuldades dos homens em terem seus corpos examinados - e o inverso: suas convicções conscientes de que o corpo feminino é aquele "dado" à observação. Outras aparentes permanências dizem respeito à ênfase na conquista das mulheres e a uma tipologia diádica quanto a elas, possível permanência ao longo de épocas e não apenas ao longo de algumas gerações.

As rupturas e permanências constatadas nas disposições ou no habitusmasculino parecem conformar as possibilidades roteirísticas à disposição dos jovens. Em meio a uma gama de possibilidades, dois grandes roteiros parecem se organizar: um deles com as parceiras "fixas" e o outro com as parceiras "não fixas", levando inclusive a condutas diferentes quanto ao uso do preservativo e a outras medidas de cuidado à saúde sexual.

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