versão impressa ISSN 1679-4508versão On-line ISSN 2317-6385
Einstein (São Paulo) vol.17 no.1 São Paulo 2019 Epub 17-Dez-2018
http://dx.doi.org/10.31744/einstein_journal/2019ai4441
Paciente do sexo masculino, 33 anos, deu entrada na Unidade de Terapia Intensiva de alta complexidade com diagnóstico de cirrose por álcool, drogadição por cocaína e choque séptico a esclarecer. Foram solicitados exames para investigação.
Raios X não apresentaram padrões compatíveis com estrongiloidíase pulmonar, hemoculturas positivas para enterobactéria produtora de KPC, hemograma com discreta eosinofilia e cultura de secreção traqueal.
Na cultura solicitada 6 dias após a internação, foram observados crescimento de flora polimicrobiana característica e padrão incomum entre as colônias no meio de cultura. Nas figuras 1 e 2, observa-se o fenômeno de “trilhas”, sugerindo que algo se movia entre as colônias no ágar, como já demonstrado por outros autores.(1) Nesta cultura, foi realizada pesquisa a fresco, tendo sido confirmada a presença de larvas de Strongyloides stercoralis (Figura 3).
Figura 1 Ágar sangue com 24 horas de incubaçãoDesenho de “trilhas" entre as colônias bacterianas (setas).
Figura 2 Ágar sangue com 48 horas de incubaçãoDesenho de “trilhas" entre as colónias bacterianas (seta).
O resultado da pesquisa foi imediatamente comunicado ao departamento de controle de infecção hospitalar e à equipe médica. Foi iniciado o tratamento com ivermectina. O paciente, apesar de receber terapia específica para estrongiloidíase disseminada, faleceu devido a complicações clínicas avançadas.
A estrogiloidíase é uma infecção parasitária causada pelo helminto Strongyloides stercoralis. Sua distribuição se dá principalmente em países tropicais e subtropicais em áreas rurais e de nível socioeconômico baixo. Possui dois ciclos de vida: (1) ciclo de vida livre, no qual a larva no solo penetra a pele intacta, iniciando a infecção e (2) a larva migra até os pulmões e, depois, à faringe, na qual é deglutida, tornando-se adulta no intestino e sendo eliminada nas fezes.
Em pacientes imunossuprimidos, é fundamental que tanto o médico como o laboratório de microbiologia fiquem atentos ao crescimento de microrganismos que geralmente não são observados em culturas de pacientes imunocompetentes. A microscopia do material a fresco foi fundamental para elucidação diagnóstica, uma vez que a pesquisa de strongyloides não foi incialmente solicitada. Em indivíduos imunossuprimidos, a infecção pode ser fulminante e fatal.(2,3)