Compartilhar

Desafio no diagnóstico de estrongiloidíase pulmonar

Desafio no diagnóstico de estrongiloidíase pulmonar

Autores:

Andrea dos Santos Pereira,
Alexandre Gimenes Marques,
André Mario Doi,
Marinês Dalla Valle Martino,
Paula Célia Mariko Koga,
Vivian Renata Chiarato,
Liang Fung,
Rima Batah Martins,
Jacyr Pasternak

ARTIGO ORIGINAL

Einstein (São Paulo)

versão impressa ISSN 1679-4508versão On-line ISSN 2317-6385

Einstein (São Paulo) vol.17 no.1 São Paulo 2019 Epub 17-Dez-2018

http://dx.doi.org/10.31744/einstein_journal/2019ai4441

Paciente do sexo masculino, 33 anos, deu entrada na Unidade de Terapia Intensiva de alta complexidade com diagnóstico de cirrose por álcool, drogadição por cocaína e choque séptico a esclarecer. Foram solicitados exames para investigação.

Raios X não apresentaram padrões compatíveis com estrongiloidíase pulmonar, hemoculturas positivas para enterobactéria produtora de KPC, hemograma com discreta eosinofilia e cultura de secreção traqueal.

Na cultura solicitada 6 dias após a internação, foram observados crescimento de flora polimicrobiana característica e padrão incomum entre as colônias no meio de cultura. Nas figuras 1 e 2, observa-se o fenômeno de “trilhas”, sugerindo que algo se movia entre as colônias no ágar, como já demonstrado por outros autores.(1) Nesta cultura, foi realizada pesquisa a fresco, tendo sido confirmada a presença de larvas de Strongyloides stercoralis (Figura 3).

Figura 1 Ágar sangue com 24 horas de incubaçãoDesenho de “trilhas" entre as colônias bacterianas (setas). 

Figura 2 Ágar sangue com 48 horas de incubaçãoDesenho de “trilhas" entre as colónias bacterianas (seta). 

Figura 3 Larva de Strongyloides stercoralis em pesquisa a fresco da secreção traqueal 

O resultado da pesquisa foi imediatamente comunicado ao departamento de controle de infecção hospitalar e à equipe médica. Foi iniciado o tratamento com ivermectina. O paciente, apesar de receber terapia específica para estrongiloidíase disseminada, faleceu devido a complicações clínicas avançadas.

A estrogiloidíase é uma infecção parasitária causada pelo helminto Strongyloides stercoralis. Sua distribuição se dá principalmente em países tropicais e subtropicais em áreas rurais e de nível socioeconômico baixo. Possui dois ciclos de vida: (1) ciclo de vida livre, no qual a larva no solo penetra a pele intacta, iniciando a infecção e (2) a larva migra até os pulmões e, depois, à faringe, na qual é deglutida, tornando-se adulta no intestino e sendo eliminada nas fezes.

Em pacientes imunossuprimidos, é fundamental que tanto o médico como o laboratório de microbiologia fiquem atentos ao crescimento de microrganismos que geralmente não são observados em culturas de pacientes imunocompetentes. A microscopia do material a fresco foi fundamental para elucidação diagnóstica, uma vez que a pesquisa de strongyloides não foi incialmente solicitada. Em indivíduos imunossuprimidos, a infecção pode ser fulminante e fatal.(2,3)

REFERÊNCIAS

1. Kia EB, Mahmoudi M, Zahabiun F, Meamar AR. An evaluation on the efficacy of agar plate culture for detection of strongyloides stercoralis. Iranian J Parasitol. 2007;2(1):29-34.
2. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). DPDx - Laboratory identification of parasites of public health concern. Strongyloidiasis [Internet]. USA: CDC; 2017 [cited 2018 June 20]. Available from:
3. Ash LR, Orihel TC. Atlas of Human Parasitology. 4th ed. Chicago: ASCP Press; 1997.