versão On-line ISSN 2317-1782
CoDAS vol.30 no.4 São Paulo 2018 Epub 19-Jul-2018
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20182017148
A narrativa oral de história é uma tarefa complexa de linguagem que requer conhecimentos linguísticos (sintáticos, semânticos e fonológicos), conhecimento de mundo (pragmáticos) e domínio de funções cognitivas, como a memória de trabalho, capacidade de monitoramento, organização e integração de informações e capacidade para fazer inferências(1,2) e, assim, uma tarefa importante para investigar trajetórias desenvolvimentais típicas e desviantes(3).
A habilidade para narrar inicia-se aos 3 anos e por volta dos 6 anos a criança frequentemente já será capaz de produzir histórias bem estruturadas e completas(1). Aproximadamente aos 10 anos de idade, o desenvolvimento da habilidade narrativa atinge um pico de complexidade(4), sendo que, aos 12 anos, é esperado que a criança domine o esquema narrativo de história e que, conjuntamente com suas capacidades linguísticas e cognitivas, ela seja capaz de produzir histórias com múltiplos episódios, com estruturas gramaticais complexas interligadas por elementos coesivos e utilizar verbos para se referir ao estado mental dos personagens(5).
Além da idade e da escolaridade, sabe-se que o contato da criança com o modelo de esquema narrativo de histórias no contexto familiar e escolar também são fatores considerados relevantes no desenvolvimento da habilidade narrativa(2,6-8).
Por ser uma tarefa que permite investigar a capacidade da criança para lidar com esquemas, organização, construções e convenções, mesmo de crianças que ainda não foram alfabetizadas(2), e por ser o desempenho narrativo considerado preditor do desempenho acadêmico(9,10), a narrativa oral de história têm sido amplamente utilizada em estudos com crianças em circunstâncias típicas e atípicas do desenvolvimento(3,11-13).
O desempenho narrativo tem sido investigado por meio de diferentes recortes e parâmetros de análise. A análise com base nos parâmetros macroestruturais considera a presença e a organização dos elementos da história, como: a manutenção do personagem e do tema; e a relação entre eventos, desfecho e coerência da narrativa(14-16). Por sua vez, a análise dos aspectos microestruturais considera a sequencialidade e sentido da narrativa, além dos elementos de coesão que regem a sequência estrutural, com base nos princípios sintáticos e semânticos e medidas de vocabulário e complexidade sintática(16,17).
Dentre os poucos instrumentos formais para investigar habilidades de compreensão e produção da narrativa oral e que abrange tanto aspectos macro quanto microestruturais da narrativa, o Test of Narrative Language (TNL)(18) é um instrumento amplamente utilizado na literatura internacional para avaliar a habilidade de narrativa oral em crianças. Este instrumento tem sido utilizado em circunstâncias típicas e atípicas do desenvolvimento com o propósito de investigar a habilidade narrativa de crianças com déficit de atenção e hiperatividade(19); investigar os efeitos do ruído sobre as habilidades narrativas em crianças típicas(20); aprofundar o conhecimento sobre as dificuldades narrativas de crianças com transtorno de linguagem(12,21); correlacionar a influência de atualizar a memória de trabalho com o desempenho narrativo em circunstâncias típicas do desenvolvimento(22), e investigar a habilidade narrativa de crianças bilíngues, com ou sem alteração de linguagem(23,24) e monitoramento da intervenção voltada às habilidades narrativas de crianças com alteração de linguagem(25).
No Brasil, o TNL foi traduzido e adaptado por Rossi et al.(26), não havendo, até o momento, estudo sobre o desempenho no TNL de crianças com desenvolvimento típico de linguagem e falantes do Português do Brasil. Diante disto, o presente estudo foi proposto partindo de duas hipóteses: (a) ao utilizar a versão adaptada para o Português do Brasil haverá diferença entre as faixas etárias com desempenho de compreensão e de produção superior para crianças nas faixas etárias maiores e (b) para as crianças menores, o desempenho de compreensão será melhor que o de produção e, com o aumento da idade, esse desempenho será semelhante.
O objetivo deste estudo foi investigar o desempenho de falantes do português brasileiro no Test of Narrative Language e correlacionar o desempenho nas tarefas de produção e compreensão da narrativa.
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (no. 1015/2014) e todas as crianças tiveram sua participação autorizada mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e Termo de Assentimento, elaborados para fins específicos desta pesquisa, segundo resolução do Conselho Nacional de Saúde – CNS 466/12 sobre Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos.
Inicialmente foram selecionados 146 indivíduos com idade entre 5 anos e 11 anos e 11 meses para triagem fonoaudiológica. As crianças que tiveram sua participação consentida pelos pais e/ou responsáveis e aceitaram participar da pesquisa foram selecionadas para realização da triagem fonoaudiológica para confirmar ausência de déficits na linguagem, antes de serem submetidas à aplicação do TNL. A triagem fonoaudiológica foi feita segundo o Roteiro Descritivo da Avaliação Fonoaudiológica da Criança(27). Este roteiro está organizado em oito blocos, a saber(1): Dados de identificação e informações sobre a criança(2); Funções sensoriais/perceptuais(3); Funções cognitivas(4); Linguagem falada(5); Dimensões relacionadas à linguagem falada (Voz, articulação, fluência e práxis oral e verbal)(6); Funções relacionadas à ingestão, manipulação e deglutição de alimentos(7); Linguagem escrita; e(8) Habilidades matemáticas(27). Das 146 crianças, foram excluídas seis (uma menina e cinco meninos) que tiveram baixo desempenho nas habilidades de linguagem. Os critérios de inclusão das crianças para esta pesquisa foram: história negativa de alteração visual, auditiva, sensorial e/ou neuropsicomotora, e ausência de alterações de linguagem e/ou aprendizagem.
A casuística foi formada por 140 falantes do português brasileiro com desenvolvimento típico de linguagem, de ambos os gêneros, com idade cronológica entre 5 anos e 11 anos e 11 meses. Os participantes foram divididos em sete grupos etários, conforme dados normativos da versão original do TNL (Tabela 1).
Tabela 1 Distribuição dos participantes do grupo amostral por idade e gênero
Grupos etários | Idade | Número de participantes | Masculino | Feminino | Média Idade (Meses) | Desvio Padrão | |||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
N | (%) | N | (%) | N | (%) | ||||
05 | 5 anos a 5 anos e 11 meses | 20 | 100 | 10 | 50 | 10 | 50 | 66 | 3,7 |
06 | 6 anos a 6 anos e 11 meses | 20 | 100 | 10 | 50 | 10 | 50 | 78,8 | 4 |
07 | 7 anos a 7 anos e 11 meses | 20 | 100 | 10 | 50 | 10 | 50 | 88 | 3,6 |
08 | 8 anos a 8 anos e 11 meses | 20 | 100 | 10 | 50 | 10 | 50 | 103 | 2,8 |
09 | 9 anos a 9 anos e 11 meses | 20 | 100 | 10 | 50 | 10 | 50 | 115 | 4,5 |
10 | 10 anos a 10 anos e 11 meses | 20 | 100 | 10 | 50 | 10 | 50 | 123,4 | 2 |
11 | 11 anos a 11 anos e 11 meses | 20 | 100 | 10 | 50 | 10 | 50 | 139,5 | 3,8 |
A distribuição dos participantes por escolaridade, em função da faixa etária, está apresentada na Tabela 2.
Tabela 2 Distribuição dos participantes do grupo amostral por escolaridade
Grupos etários | Número de indivíduos em cada série | ||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Infantil II | 1º ano | 2º ano | 3º ano | 4º ano | 5º ano | 6º ano | |
05 | 19 | 1 | - | - | - | - | - |
06 | - | 20 | - | - | - | - | - |
07 | - | 10 | 10 | - | - | - | - |
08 | - | - | 1 | 19 | - | - | - |
09 | - | - | - | 3 | 17 | - | - |
10 | - | - | - | - | - | 20 | - |
11 | - | - | - | - | - | 1 | 19 |
Para investigar o desempenho narrativo, foi utilizado o Test of Narrative Language (TNL)(18), versão brasileira adaptada(26). O teste é composto por seis tarefas organizadas em dois subtestes (compreensão narrativa e narração oral), a partir de três diferentes formatos: sem apoio de figura, com apoio de figuras em sequência e com apoio de figura única. As medidas fornecidas pelo TNL permitem estabelecer valores que representam, separadamente, o desempenho no subteste de compreensão narrativa e de narração oral. Essas medidas são representadas pelo escore bruto, idade equivalente, percentil e escore padrão. O teste também prevê uma medida global, representada pelo escore bruto total, Índice de Habilidade de Linguagem Narrativa (IHLN), classificação do percentil e a classificação descritiva do desempenho da criança (muito superior, superior, acima da média, média, abaixo da média, pobre e muito pobre)(26).
As narrativas dos participantes foram gravadas e transcritas para análise segundo normas do manual original do instrumento. Para este estudo, dentre as medidas fornecidas pelo TNL, foram utilizadas: escore bruto de compreensão, escore bruto de produção e escore bruto total (soma dos escores de compreensão e produção). O escore bruto foi utilizado neste estudo por representar a soma de acertos de cada subteste.
Foi usada a planilha eletrônica MS-Excel na versão do MS-Office 2013 para a organização dos dados, e o pacote estatístico IBM SPSS (Statistical Package for Social Sciences) na versão 23.0, para a obtenção dos resultados. Foram utilizados os seguintes testes estatísticos Teste de Jonckheere-Terpstra; Teste de Mann-Whitney, ajustado pela Correção de Bonferroni e o teste de Correlação de Spearman. O nível de significância adotado no estudo foi <0,05.
A estatística descritiva e comparativa do escore bruto de compreensão, de produção no TNL, bem como a soma dos escores (compreensão e produção), nos grupos etários, está apresentada na Tabela 3. Nota-se diferença estatisticamente significante entre os grupos quanto ao escore bruto nas três medidas analisadas.
Tabela 3 Desempenho e comparação entre os grupos etários quanto ao escore bruto de compreensão, escore bruto de produção e escore bruto total do TNL
Variável | Grupo etário | M | DP | Mín. | Máx. | Md. | p |
---|---|---|---|---|---|---|---|
Compreensão Escore Bruto |
5 | 23,30 | 5,45 | 16,00 | 34,00 | 21,00 | < 0,001* |
6 | 29,05 | 3,79 | 21,00 | 33,00 | 29,50 | ||
7 | 29,50 | 3,62 | 23,00 | 36,00 | 29,00 | ||
8 | 32,35 | 2,08 | 27,00 | 36,00 | 33,00 | ||
9 | 34,40 | 2,68 | 28,00 | 39,00 | 34,50 | ||
10 | 33,60 | 4,12 | 29,00 | 46,00 | 33,50 | ||
11 | 34,20 | 2,04 | 30,00 | 38,00 | 34,00 | ||
Produção Escore Bruto |
5 | 30,35 | 6,12 | 18,00 | 40,00 | 30,50 | < 0,001* |
6 | 35,70 | 5,73 | 24,00 | 45,00 | 35,50 | ||
7 | 39,05 | 7,97 | 26,00 | 51,00 | 37,00 | ||
8 | 46,50 | 11,02 | 25,00 | 61,00 | 47,50 | ||
9 | 50,10 | 7,75 | 31,00 | 63,00 | 49,50 | ||
10 | 51,95 | 7,05 | 40,00 | 64,00 | 53,50 | ||
11 | 54,60 | 7,33 | 39,00 | 72,00 | 55,00 | ||
Soma dos Escores Brutos | 5 | 53,65 | 10,53 | 37,00 | 73,00 | 51,50 | < 0,001* |
6 | 64,75 | 8,64 | 45,00 | 77,00 | 65,00 | ||
7 | 68,55 | 10,86 | 50,00 | 87,00 | 66,00 | ||
8 | 78,85 | 11,85 | 55,00 | 94,00 | 80,50 | ||
9 | 84,50 | 8,60 | 62,00 | 98,00 | 84,50 | ||
10 | 85,55 | 9,00 | 71,00 | 102,00 | 86,00 | ||
11 | 88,80 | 7,58 | 75,00 | 106,00 | 88,00 |
*Teste de Jonckheere-Terpstra
Legenda: M = Média; DP = Desvio Padrão; Mín. = Mínimo; Máx. = Máximo; Md = Mediana; p = significância (<0,05)
Para investigar a existência de diferenças entre o escore bruto (compreensão, produção e total), levando em consideração cada um dos grupos etários, foi aplicado o Teste de Mann-Whitney, ajustado pela Correção de Bonferroni, para identificarmos quais grupos etários diferem dos demais, quando comparados par a par (Tabela 4).
Tabela 4 Comparação par a par entre os grupos etários quanto ao escore bruto de compreensão, de produção e escore bruto total do TNL
Par de grupos etários p |
Compreensão Escore Bruto total p |
Produção Escore Bruto total p |
Soma dos Escores Brutos p |
---|---|---|---|
5 x 6 | 0,001* | 0,010* | 0,001* |
5 x 7 | 0,001* | 0,001* | 0,001* |
5 x 8 | < 0,001* | < 0,001* | < 0,001* |
5 x 9 | < 0,001* | < 0,001* | < 0,001* |
5 x 10 | < 0,001* | < 0,001* | < 0,001* |
5 x 11 | < 0,001* | < 0,001* | < 0,001* |
6 x 7 | 0,946 | 0,249 | 0,416 |
6 x 8 | 0,002* | 0,002* | 0,001* |
6 x 9 | < 0,001* | < 0,001* | < 0,001* |
6 x 10 | 0,002* | < 0,001* | < 0,001* |
6 x 11 | < 0,001* | < 0,001* | < 0,001* |
7 x 8 | 0,007 | 0,020 | 0,007 |
7 x 9 | < 0,001* | < 0,001* | < 0,001* |
7 x 10 | 0,003 | < 0,001* | < 0,001* |
7 x 11 | < 0,001* | < 0,001* | < 0,001* |
8 x 9 | 0,013 | 0,357 | 0,136 |
8 x 10 | 0,428 | 0,163 | 0,049 |
8 x 11 | 0,010 | 0,042 | 0,010 |
9 x 10 | 0,237 | 0,456 | 0,797 |
9 x 11 | 0,795 | 0,076 | 0,119 |
10 x 11 | 0,270 | 0,408 | 0,238 |
*Teste de Mann-Whitney, ajustado pela Correção de Bonferroni; p = significância (<0,05)
É possível observar na Tabela 4 que foi encontrada diferença estatisticamente significante na faixa etária de 5 anos em relação a todas as outras faixas etárias em todas as variáveis. A faixa etária de 6 anos não apresentou diferença estatisticamente significante da faixa etária de 7 anos para todas as variáveis analisadas, mas apresentou para as demais (8, 9, 10 e 11). A faixa etária de 7 anos não apresentou diferença estatisticamente significante da faixa etária de 8 anos, mas apresentou para as demais (9, 10 e 11). A partir de 8 anos, os grupos etários não apresentaram diferença estatisticamente significante entre si para todas as variáveis analisadas.
O teste de Correlação de Spearman foi utilizado para verificar o grau de correlação entre o escore total de produção e o escore total de compreensão em cada grupo etário (Tabela 5). Pode-se observar que existe correlação entre as variáveis (produção e compreensão) nas faixas etárias de 5, 6 e 7 anos. A partir da faixa etária de 8 anos, a correlação não foi encontrada.
Tabela 5 Correlação entre escore total de compreensão e escore total de produção do TNL nos grupos etários
Par de Variáveis | Grupo Etário | r | p |
---|---|---|---|
escore total de produção × escore total de compreensão |
5 | +0,729 | < 0,001* |
6 | +0,571 | 0,009* | |
7 | +0,688 | 0,001* | |
8 | +0,270 | 0,250 | |
9 | +0,146 | 0,540 | |
10 | +0,272 | 0,246 | |
11 | +0,130 | 0,583 |
*Teste de Correlação de Spearman
Legenda: r = Coeficiente de Correlação; p = significância (<0,05)
O objetivo do presente estudo foi investigar o desempenho de falantes do português brasileiro no Test of Narrative Language e correlacionar o desempenho nas tarefas de produção e compreensão da narrativa.
O desempenho dos indivíduos no TNL, por meio do escore bruto das tarefas de compreensão, de produção e da soma total dos escores (compreensão e produção), foram apresentados na Tabela 3. Conforme apresentado na comparação entre os grupos etários, observaram-se diferenças estatisticamente significantes quanto às variáveis analisadas (escore bruto de produção, de compreensão e total). No entanto, na comparação par a par (Tabela 4), apenas o grupo etário de 5 anos apresentou diferença estatisticamente significante em relação a todos os demais grupos etários investigados.
Para o grupo de 6 anos, não foi observada diferença estatisticamente significante nas habilidades de compreensão e de produção oral de histórias quando comparado ao grupo de 7 anos. Para o grupo de 7 anos, não houve diferença nas habilidades de compreensão e de produção oral de histórias quando comparado ao grupo de 8 anos, em todas as variáveis (Tabela 4). Observou-se, então, que o grupo de 7 anos não diferiu das faixas etárias fronteiriças (6 e 8 anos) e isso pode se dar pelo fato de que, apesar de todas as crianças estarem dentro da faixa etária de 7 anos, o grupo era heterogêneo quanto à seriação: 50% do grupo cursava o primeiro ano e 50% do grupo, o segundo ano, quando o teste foi aplicado (Tabela 2).
Especula-se que tal resultado pode ser atribuído à escolaridade dos indivíduos, pois as crianças do grupo de 7 anos que cursavam o primeiro ano (50%) tinham o mesmo período de exposição escolar que as crianças do grupo de 6 anos. As crianças com mais tempo de exposição escolar poderiam ter desenvolvido habilidades necessárias para um bom desempenho em narrativa oral, como a alfabetização, que tem seu início no primeiro ano e vai se consolidando no ano seguinte. Alguns estudos destacaram a alfabetização como um fator determinante no desenvolvimento da narrativa oral, pois a escrita requer mais do que a simples aprendizagem de um código, mas o domínio de recursos como coesão, sequência lógica, construções e convenções linguísticas(2,8,9). É importante mencionar que esta é uma explicação ainda especulativa, uma vez que, neste estudo, não foi realizada uma análise específica que permitisse discutir com propriedade a influência da alfabetização no desempenho da narrativa oral, e sugere-se que seja feita em estudos posteriores.
Em relação aos demais grupo, verificou-se que, entre os grupos de 8, 9, 10 e 11 anos, não houve diferença estatisticamente significante quando comparados par a par, em nenhuma das variáveis (Tabela 4). Esse último dado apontou que o desempenho na narrativa, medida pelo TNL, não discriminou os grupos de 8 a 11 anos.
Na versão original do TNL(18), foi investigado o efeito da idade sobre o desempenho no teste, e foi encontrada correlação positiva entre a idade e os escores brutos de produção e compreensão, embora as médias dos escores brutos, principalmente de compreensão, também tenham sido próximas nas faixas etárias a partir dos 9 anos.
É válido mencionar que o TNL atualmente dispõe de uma nova versão(28) com dados de análise ampliados e a idade expandida para crianças de 4 a 15 anos e 11 meses, o que sugere a continuidade de estudos com o instrumento aqui no Brasil incluindo a nova versão. O aumento da casuística, incluindo amostra representativa do ensino particular e de outras regiões do país, deverá promover uma discussão mais robusta dos dados encontrados até o momento.
Também, o que poderia justificar os resultados encontrados mais especificamente para os grupos etários a partir de 9 anos é o fato de que, segundo alguns estudos, as mudanças mais representativas no desempenho narrativo ocorreriam até os 8 anos de idade, quando a maior parte do esquema narrativo é adquirida pela criança(29), embora a habilidade narrativa continue a se desenvolver após esta idade(1-3,8).
Quanto à correlação entre o desempenho nas tarefas de produção e compreensão da narrativa, pode-se observar que houve correlação positiva entre as variáveis (produção e compreensão) nas faixas etárias de 5, 6 e 7 anos, sinalizando que quanto maior o escore de produção, maior o de compreensão narrativa (Tabela 5). A ausência de correlação a partir da faixa etária de 8 anos poderia ser explicada pelo fato de que, a partir desta idade, não haveria diferenças significativas entre as habilidades de produção e compreensão narrativa.
Por fim, é importante considerar que os resultados encontrados não devem ser generalizados para todas as regiões do país, pois a coleta foi feita na região Sudeste, e sabe-se que o Brasil é um país com ampla diversidade cultural. Sugere-se a continuidade de estudos para que a amostra seja ampliada, incluindo zonas rurais e habitantes de diferentes regiões do país, bem como a ampliação da amostra para coleta em escolas particulares.
Diferenças no desempenho de linguagem e narrativa escrita de crianças inseridas no ensino público vs. ensino privado têm sido observadas(30) e devem ser exploradas também no contexto da narrativa oral.
Pode-se concluir que o teste diferenciou as faixas etárias de 5, 6 e 7 anos, sendo o desempenho entre as crianças dessas faixas etárias diferente estatisticamente, o que não ocorreu nas faixas etárias a partir dos 8 anos.
Foi possível correlacionar os desempenhos das crianças nas tarefas de produção e de compreensão da narrativa, e observou-se que os grupos etários de 5 a 7 anos apresentaram correlação positiva, ou seja, quanto maior o desempenho nas tarefas de compreensão, maior o desempenho nas tarefas de produção de narrativa oral, o que não ocorreu nas faixas etárias a partir dos 8 anos.
Conclui-se que, na análise do desempenho narrativo, deve-se levar em conta as habilidades tanto de compreensão quanto de produção. Estas habilidades podem se correlacionar no início do desenvolvimento da capacidade de narrar e só se tornarão independentes quando a criança adquirir grande repertório de habilidades narrativas.