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Doença de Forestier: uma causa de disfagia a ser lembrada

Doença de Forestier: uma causa de disfagia a ser lembrada

Autores:

Francisco Otavio Camargo Pereira,
Flavio Ramalho Romero,
Kleber Carlos Azevedo Junior,
Ismael Augusto Silva Lombardi,
Priscila Watson Ribeiro,
Roberto Colichio Gabarra,
Marco Antonio Zanini

ARTIGO ORIGINAL

Einstein (São Paulo)

versão impressa ISSN 1679-4508versão On-line ISSN 2317-6385

Einstein (São Paulo) vol.12 no.3 São Paulo jul./set. 2014 Epub 21-Ago-2014

http://dx.doi.org/10.1590/s1679-45082014ai2659

Raio X cervical em perfil e ressonância magnética sagital ponderada em T2. Observamos extensa calcificação em frente aos corpos vertebrais de C2 a C6 na topografia do ligamento longitudinal anterior. O esôfago e a via aérea apresentam-se comprimidos posteriormente, determinando um segmento estenosado, o que dificultou a intubação orotraqueal na ocasião do procedimento cirúrgico 

Paciente do gênero masculino, 68 anos, portador de doença de Chagas, hipertensão arterial e diabetes mellitus tipo 2. Acompanhado em hospital quaternário pelas especialidades Otorrinolaringologia e Gastroenterologia devido à quadro crônico de disfagia e odinofagia para alimentos sólidos, com a hipótese diagnóstica não confirmada de megaesôfago chagásico.

Durante investigação complementar foi submetido à radiografia cervical simples em perfil, a qual evidenciou compressão extrínseca esôfago-laríngea secundária à osteófito exuberante, no nível C3-C4. Na radiografia, puderam ser observados ainda acometimento dos níveis adjacentes (C2-C3, C4-C5 e C5-C6), ossificação do ligamento longitudinal anterior e preservação da altura dos espaços discais. Tais achados, somados à ausência de comprometimento radiológico das articulações sacroilíacas, correspondem aos critérios de Resnick(1) encontrados na hiperostose esquelética idiopática difusa (DISH, sigla do inglês diffuse idiopathic skeletal hyperostosis), descrita primeiramente em 1950 por J. Forestier.(2)

A doença de Forestier caracteriza-se por proliferação óssea em locais de inserção dos ligamentos e tendões(3,4) (entesopatia), sendo que a maior parte dos pacientes é assintomática e a doença é descoberta de forma incidental ou em investigação de outros sintomas. Acomete com maior frequência indivíduos do gênero masculino acima dos 50 anos, sendo observada uma correlação com o diabetes.(5) O paciente em questão apresentava hiperglicemia de difícil controle, a despeito de tratamento clínico otimizado.

Os principais diagnósticos diferenciais(6) são a espondilite anquilosante, que acomete indivíduos mais jovens e é mais sintomática, e a espondilodiscartrose, na qual ocorrem osteófitos de tração e não há comprometimento do ligamento longitudinal anterior.

De modo geral a DISH não apresenta tratamento específico, uma vez que a evolução é lenta, e os pacientes são em sua maioria assintomáticos.(7) O tratamento clínico medicamentoso, composto por mudança de hábitos alimentares e pelo uso de relaxantes musculares associado à fisioterapia, é uma boa opção para os casos de sintomatologia leve a moderada. Em nosso caso, optamos pelo tratamento cirúrgico devido à sintomatologia grave e ao comprometimento da qualidade de vida do paciente. A osteofitectomia cirúrgica por acesso cervical anterolateral foi realizada sem intercorrências, e o paciente apresentou melhora expressiva da sintomatologia prévia, recebendo alta hospitalar 48 horas após o procedimento.

REFERÊNCIAS

1. Resnick D, Niwayama G. Radiographic and pathologic features of spinal involvement in diffuse idiopathic skeletal hyperostosis (DISH). Radiology. 1976;119(3):559-68.
2. Forestier J, Rotes-Querol J. Senile ankylosing hyperostosis of the spine. Ann Rheum Dis. 1950;9(4):321-30.
3. Fornasier VL, Littlejohn G, Urowitz MB, Keystone EC, Smythe HA. Spinal entheseal new bone formation: the early changes of spinal diffuse idiopathic skeletal hyperostosis. J Rheumatol. 1983;10(6):939-47.
4. Artner J, Leucht F, Cakir B, Reichel H, Lattig F. Diffuse idiopathic skeletal hyperostosis: current aspects of diagnostics and therapy. Orthopade. 2012;41(11):916-22.
5. Sencan D, Elden H, Nacitarhan V, Sencan M, Kaptanoglu E. The prevalence of diffuse idiopathic skeletal hyperostosis in patients with diabetes mellitus. Rheumatol Int. 2005;25(7):518-21.
6. Inman RD. The spondyloarthropathies. In: Goldman L, Ausiello D, editors. Cecil Textbook of Medicine. 22nd ed. Philadelphia: WB Saunders; 2004. p.1654-60.
7. Ohki M. Dysphagia due to Diffuse Idiopathic Skeletal Hyperostosis. Case Rep Otolaryngol. 2012;2012:123825.