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Efeitos da Rosuvastatina sobre Apolipoproteína J em Artérias de Ratos Lesionadas com Balão

Efeitos da Rosuvastatina sobre Apolipoproteína J em Artérias de Ratos Lesionadas com Balão

Autores:

Ning Yang,
Bo Dong,
Jinyu Yang,
Yang Li,
Lu Kou,
Yue Liu,
Qin Qin

ARTIGO ORIGINAL

Arquivos Brasileiros de Cardiologia

versão impressa ISSN 0066-782Xversão On-line ISSN 1678-4170

Arq. Bras. Cardiol. vol.111 no.4 São Paulo out. 2018 Epub 21-Set-2018

https://doi.org/10.5935/abc.20180163

Resumo

Fundamento:

A reestenose após intervenção coronária percutânea (ICP) após doença coronariana continua um problema não solucionado. Estudos relataram que os níveis de clusterina (CLU), também chamada de apolipoproteína (Apo) J, encontram-se elevados na progressão da reestenose pós-angioplastia e na aterosclerose. Contudo, seu papel na hihperplasia neointimal ainda é controverso.

Objetivo:

Elucidar o papel da Apo J na hiperplasia neointimal na artéria carótida utilizando um modelo experimental com ratos in vivo, com e sem intervenção com rosuvastatina.

Métodos:

ratos Wistar machos foram divididos aleatoriamente em três grupos - grupo controle (n = 20), grupo modelo (n = 20), e grupo intervenção com estatina (n = 32). Os ratos no grupo intervenção receberam 10 mg/kg de rosuvastatina. Um cateter Fogarty 2 F foi introduzido para induzir lesão vascular. A formação de neoíntima foi analisada 1, 2, 3 e 4 semanas após lesão com balão. Concentrações de Apo J foram medidas por PCR em tempo real, imuno-histoquímica e western blotting.

Resultados:

A razão área íntima/média (I/M) aumentou após a lesão com balão e atingiu o valor máximo 4 semanas pós-lesão no grupo modelo; observou-se um pequeno aumento na I/M na semana 2, que cessou após a administração de rosuvastatina. Os níveis de mRNA e proteína da Apo J nas artérias carótidas aumentaram significativamente após administração de rosuvastatina em comparação ao grupo modelo, atingindo o máximo na semana 2, mais cedo em comparação ao grupo modelo (semana 3).

Conclusão:

A Apo J atuou como reagente de fase aguda após lesão com balão nas artérias carótidas de ratos. A rosuvastatina pode reduzir a formação de neoíntoma por aumento de Apo J. Nossos resultados sugerem que a Apo J exerce um papel protetor na reestenose após lesão com balão em ratos.

Palavras-chave: Doença da Artéria Coronária; Intervenção Coronária Percutânea; Rosuvastatina Cálcica; Apolipoproteína J; Reestenose Coronária; Ratos

Abstract

Background:

Restenosis after percutaneous coronary intervention in coronary heart disease remains an unsolved problem. Clusterin (CLU) (or Apolipoprotein [Apo] J) levels have been reported to be elevated during the progression of postangioplasty restenosis and atherosclerosis. However, its role in neointimal hyperplasia is still controversial.

Objective:

To elucidate the role Apo J in neointimal hyperplasia in a rat carotid artery model in vivo with or without rosuvastatin administration.

Methods:

Male Wistar rats were randomly divided into three groups: the control group (n = 20), the model group (n = 20) and the statin intervention group (n = 32). The rats in the intervention group were given 10mg /kg dose of rosuvastatin. A 2F Fogarty catheter was introduced to induce vascular injury. Neointima formation was analyzed 1, 2, 3 and 4 weeks after balloon injury. The level of Apo J was measured by real-time PCR, immunohistochemistry and western blotting.

Results:

Intimal/medial area ratio (intimal/medial, I/M) was increased after balloon-injury and reached the maximum value at 4weeks in the model group; I/M was slightly increased at 2 weeks and stopped increasing after rosuvastatin administration. The mRNA and protein levels of Apo J in carotid arteries were significantly upregulated after rosuvastatin administration as compared with the model group, and reached maximum values at 2 weeks, which was earlier than in the model group (3 weeks).

Conclusion:

Apo J served as an acute phase reactant after balloon injury in rat carotid arteries. Rosuvastatin may reduce the neointima formation through up-regulation of Apo J. Our results suggest that Apo J exerts a protective role in the restenosis after balloon-injury in rats.

Keywords: Coronary Artery Dsease; Percutaneous Coronary Intervention; Rosuvastatin Calcium; Apolipoprotein J; Coronary Reestenosis; Rats

Introdução

A doença coronária é uma das doenças cardiovasculares mais comuns, com alta morbidade e mortalidade. As principais técnicas consideradas eficazes para revascularização do miocárdio são a intervenção coronária percutânea (ICP) e a cirurgia de bypass coronário. A angioplastia coronária transluminal percutânea (ACTP) é um método eficaz para o tratamento da doença coronária, mas seu efeito em longo prazo é influenciado por uma alta taxa de reestenose. Apesar de stents farmacológicos, combinados à terapia antiplaquetária dupla, reduzirem a ocorrência de reestenose, a taxa de incidência ainda excede 10%.1,2 O mecanismo da reestenose após a IPC tem sido amplamente estudado em todo o mundo, porém, alvos moleculares ou celulares eficazes para o tratamento da reestenose após ICP precisam ser identificados urgentemente.

A clusterina (CLU), ou apolipoproteína (Apo) J, é uma glicoproteína heterodimérica composta por subunidades α e β, ligadas por uma ponte dissulfeto.3,4 O gene que codifica a Apo J está localizado no cromossomo 8p21-p12, e codifica duas principais isoformas - CLU secretória (CLUs) e CLU nuclear (CLUn).5 Estudos prévios relataram que a Apo J é induzida durante a progressão da reestenose pós-angioplastia e da aterosclerose.6-9 No entanto, o papel da Apo J na hiperplasia neointimal é ainda controverso. Há estudos relatando que a Apo J pode estimular a proliferação e a migração de células do músculo liso vascular (CMLV) em ratos knockouts para CLU inibindo a expressão de p53 e p21, e promover reestenose.10,11 Por outro lado, Kim et al.12 revelaram que a superexpressão de CLUs pode inibir a migração e a proliferação de CMLV e inibir a apoptose celular. Em vista dos resultados controversos, nosso objetivo foi elucidar o papel da Apo J na hiperplasia neointimal, usando a artéria carótida de ratos in vivo, com ou sem administração de rosuvastatina.

Métodos

Animais

Ratos Wistar machos pesando 350-400g foram divididos aleatoriamente em três grupos - grupo controle (n = 20), grupo modelo (n = 20) e grupo intervenção (estatina) (n = 32). Os ratos de todos os grupos foram então divididos aleatoriamente em 4 grupos conforme momento de avaliação após lesão induzida com balão -1, 2 3 ou 4 semanas. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética do hospital de tórax Tianjin.

Lesão com balão

Os ratos foram pesados no dia da cirurgia e divididos aleatoriamente em três grupos. No grupo intervenção, os ratos receberam 10mg/kg de rosuvastatina. Um cateter de Fogarty 2F foi introduzido para induzir lesão vascular como descrito anteriormente.13 Em resumo, os ratos foram anestesiados após injeção intraperitoneal de hidrato de cloral 10% na dose 0,3 mL/100 g de peso corporal. Um cateter balão 2F foi inserido na artéria carótida, saída para a aorta. O balão foi então inflado, desinflado, e puxado para trás três vezes para expor o endotélio.

Após 1, 2, 3 ou 4 semanas, os ratos foram anestesiados por injeção intraperitoneal de hidrato de cloral 10% na dose 0,3 mL/100 g de peso corporal e sacrificados administrando-se 2-3mL de solução de cloreto de potássio via veia subclávia. A artéria carótida direita foi removida; 0,3 cm foi fixada em formalina neutra a 10% para análise patológica, e a outra parte imediatamente congelada em nitrogênio líquido e armazenado a -80ºC para análise futura.

Coloração com hematoxilina e eosina (HE)

As amostras do vaso foram fixadas em solução de formaldeído por 3-4 horas. Foram realizadas hidratação e inclusão em parafina de rotina. As seções foram cortadas uniformemente em uma espessura de 4 µm. A lesão dos vasos sanguíneos foi analisada em microscópio.

Teste de imuno-histoquímica (IHQ)

Os níveis de Apo J foram avaliadas por IHQ na artéria carótida do rato. O anticorpo primário (IgG de coelho anti-Apo J humano) foi comprado da empresa Santa Cruz, Inc. (número no catálogo sc-8354). O anticorpo secundário (anticorpo produzido em cabra anti IgG de rato/coelho) foi adquirido da empresa Maixin BioTech (Fuzhou, China). Todas as fotos foram capturadas e salvas usando o sistema ISCapture, e a coleta e análise de dados realizadas pelo programa de processamento de imagens Image Pro Plus 6.

Ensaio de imunoabsorção enzimática (ELISA)

Amostras de sangue venoso foram coletadas e centrifugadas a 3000r/min. O sobrenadante foi coletado usando uma micropipeta e armazenado em geladeira a -20ºC. As amostras foram então descongeladas à temperatura ambiente para serem submetidas ao ELISA, o qual foi realizado usando um kit comercial (Rat Competitive ELISA for Apolipoprotein J A 252 SC) seguindo instruções do fabricante.

Reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real (Real-time PCR)

Os níveis de mRNA da Apo J foram detectadas por PCR em tempo real na artéria carótida do rato. O RNA foi extraído pelo método de extração em fase única com reagente Trizol, e realizada transcrição reversa. Os primers usados para amplificação da Apo J foram: forward, TAA GGA GAT TCA GAA CGC CG; reverse, ATC CCT GGT GTC ATC TAG AG. Os primers para o controle GAPDH foram: forward, GTG ATG CTG GTG CCG AGT AG; reverse, GGT GGC AGT GAT GGC GTG C. As reações de PCR em tempo real foram preparadas seguindo as instruções do sistema SYBR® Premix Ex Taq™ (Perfect Real Time). Os níveis de mRNA em cada amostra foram calculados como 2-ΔΔCt.

Western blotting

As proteínas foram extraídas de 30mg da artéria carótida de ratos. Em resumo, as proteínas foram separadas por SDS-PAGE com gel de separação a 10% e gel concentrado a 5%. Em seguida, as proteínas separadas foram transferidas para membranas PVDF (fluoreto de polivinilideno). As membranas foram bloqueadas e incubadas com anticorpos. Níveis relativos de Apo J foram analisados pelo programa de análise Image Lab. Beta-actina foi usada como controle. As bandas foram quantificadas pelo programa QUANTITY ONE (Bio-Rad, Hercules, CA, EUA).

Análise estatística

A análise estatística foi realizada usando o programa SPSS 20.0. Dados quantitativos foram expressados por média ± desvio padrão (DP). Diferenças entre os dois grupos foram comparadas pelo teste t para amostras independentes. Comparações entre três grupos foram analisadas pela análise de variância simples (one-way ANOVA). Um p < 0,05 foi considerado estatisticamente significativo.

Resultados

Taxas de sobrevida e de sucesso do modelo

Entre os 52 ratos do grupo modelo e do grupo intervenção, 2 ratos morreram durante a operação por asfixia, e 2 morreram por hemorragia arterial 12 horas após operação. Portanto, 47 ratos sobreviveram, com uma taxa de sobrevida aproximada de 90%. O exame patológico mostrou hiperplasia e espessamento da camada íntima no grupo experimental, sugerindo que o modelo foi construído com sucesso. O tempo médio de operação foi de 34,19 ± 6,09 min. A taxa de viabilidade e de sucesso do modelo deste modelo pode ter alta reprodutibilidade se os procedimentos cirúrgicos forem realizados adequadamente.

Níveis de Apo J sérico

Não houve diferença significativa nos níveis séricos de Apo J antes e após a operação no grupo intervenção (Tabela 1). Não houve diferença significativa nos níveis séricos de Apo J na 1ª, 2ª, 3ª ou 4ª semana antes (F= 1,002, p = 0,408) ou após (F= 0,189, p = 0,903) o procedimento.

Tabela 1 Níveis séricos de apolipoproteína J (Apo J) antes e após a operação no grupo intervenção 

Time points Pré-operação Pós-operação t* p#
n Apo J n Apo J
1 7 13,498±3,015 7 10,317±3,567 1,802 0,097
2 7 14,062±4,538 7 11,516±1,762 1,383 0,192
3 8 11,234±2,740 8 11,117±3,104 0,08 0,937
4 8 14,143±4,609 8 11,205±3,579 1,424 0,176
F$ 1,002 0,189
P# 0,408 0,903

*teste t para comparar diferença entre os dois grupos.

$valor F calculado usando análise de variância simples (one-way ANOVA) para comparar a diferença entre os quatro grupos.

#p < 0.05 considerado estatisticamente significativo.

Intervenção com estatina inibiu hiperplasia intimal

Os resultados da avaliação patológica mostraram que não foi houve hiperplasia intimal no grupo controle (Figura 1). No grupo modelo e no grupo intervenção, a camada íntima estava ligeiramente espessada 1 semana após a operação, e ainda mais espessada 2 semanas após a operação. Durante 3 semanas após o procedimento, o grau de hiperplasia intimal aumentou no grupo modelo; no entanto, essa mudança não foi tão marcante como a observada na semana 2 após a operação, e as células tornaram-se paralelas gradualmente. Durante 4 semanas após a operação, o grau de hiperplasia intimal agravou-se no grupo modelo, mas não foram observadas mudanças significativas quanto ao grau de hiperplasia intimal em comparação à semana 3 (Figura 2 e 3).

Figura 1 Coloração de hematoxilina-eosina (HE) no grupo controle. Aumento de 40x (acima) e de 400x (abaixo). 

Figura 2 Coloração de hematoxilina-eosina (HE) no grupo modelo e no grupo intervenção controle em 1 semana (sem), 2 semanas, 3 semanas e 4 semanas após lesão com balão de artérias carótidas de ratos; aumento de 40x. 

Figura 3 Coloração de hematoxilina-eosina (HE) no grupo modelo e no grupo intervenção controle em 1 semana (sem), 2 semanas, 3 semanas e 4 semanas após lesão com balão de artérias carótidas de ratos; aumento de 400 x. 

As áreas da membrana íntima e média foram medidas usando o Image Pro Plus 6, e a razão área íntima/média (íntima/média, I/M) foi usada para indicar o grau de hiperplasia intimal. Como mostrado na Tabela 2, a I/M foi próxima a 0 no grupo controle e foi significativamente diferente da I/M no grupo modelo e no grupo intervenção em todos os tempos (1, 2, 3 e 4 semanas). Não houve diferenças significativas da I/M entre os diferentes tempos no grupo modelo, e a I/M alcançou o valor máximo na quarta semana. Não foi observada diferença de I/M no grupo intervenção entre as semanas 2, 3 e 4 pós-cirurgia no grupo intervenção, e I/M no grupo intervenção foi significativamente mais baixa que aquela no grupo modelo (Tabela 2). Nossos resultados, como um todo, sugerem que a intervenção com rosuvastatina poderia inibir de maneira significativa a hiperplasia intimal em ratos.

Tabela 2 Razão área íntima/média (I/M) nos grupos do estudo 

Tempos Grupo controle Grupo modelo Grupo intervenção t* p#
n I/M n I/M n I/M
1 5 0,04 ± 0,07 5 0,63 ± 0,40γ 5 0,42 ± 0,04γ 10,066 < 0,001
2 5 0,01 ± 0,02 4 1,08 ± 0,29 4 1,29 ± 0,31∆▲ 39,639 < 0,001
3 5 0,03 ± 0,03 4 1,81 ± 0,11 4 1,47 ± 0,54∆β 37,142 < 0,001
4 5 0,05 ± 0,04 4 2,61 ± 1,12abθ 4 1,50 ± 0,26∆θc 20,287 < 0,001
F$ 0,741 9,432 21,393
P# 0,543 < 0,001 < 0,001

*teste t para comparar diferença entre os dois grupos.

$valor F calculado usando análise de variância simples (one-way ANOVA) para comparar a diferença entre os quatro grupos.

#p < 0.05 considerado estatisticamente significativo.

Níveis de Apo J nas artérias carótidas

Os níveis de mRNA de Apo J foram medidos por PCR em tempo real. Os resultados mostraram que o nível de mRNA de Apo J sofreu um grande aumentou 2 semanas após a cirurgia, atingiu o pico na terceira semana, e diminuiu na quarta semana pós-cirurgia no grupo modelo. No grupo intervenção, o nível de mRNA de Apo J sofreu um grande aumentou e atingiu o pico na semana 2, diminuindo nas semanas 3 e 4 pós-cirurgia no grupo intervenção. Além disso, o nível de mRNA de Apo J foi maior no grupo intervenção que no grupo modelo na primeira semana pós-operação. Na segunda semana pós-cirurgia, o nível de mRNA de Apo J aumentou consideravelmente em ambos os grupos, e foi significativamente mais alto no grupo intervenção que no grupo modelo (Tabela 3). Resultados similares foram observados nos níveis de proteína de Apo J como mostrado na Figura 4. Nossos resultados mostraram que a rosuvastatina pode aumentar de maneira significativa a expressão de Apo J nas artérias carótidas de ratos lesionadas com balão.

Tabela 3 Níveis relativos (2-ΔΔCt) de mRNA da apolipoproteína J 

Tempos Grupo controle Grupo modelo Grupo intervenção t* p#
n 2-ΔΔCt n 2-ΔΔCt n 2-ΔΔCt
1 5 0,958 ± 0,251 5 0,641 ± 0,296 6 1,275 ± 0,468a 4,212 0,039
2 5 0,948 ± 0,090 4 7,804 ± 1,328a▲ 6 10,040 ± 2,086∆b 52,279 < 0,001
3 5 1,004 ± 0,196 4 8,011 ± 2,306 6 7,327 ± 2,869*β 15,31 < 0,001
4 5 1,048 ± 0,349 4 3,429 ± 1,119abcθ 6 2,413 ± 0,492* #θ 14,212 0,001
F$ 0,182 29,266 31,336
P# 0,907 < 0,001 < 0,001

*teste t para comparar diferença entre os dois grupos.

$valor F calculado usando análise de variância simples (one-way ANOVA) para comparar a diferença entre os quatro grupos.

#p < 0.05 considerado estatisticamente significativo.

Figura 4 Western blotting dos níveis de proteína da apolipoproteína J (Apo J) 1 semana (sem), 2 semanas, 3 semanas e 4 semanas após lesão com balão de artérias carótidas de ratos. 

Discussão

No presente estudo, encontramos que a I/M aumentou após a lesão com balão e atingiu o valor máximo na quarta semana no grupo modelo; além disso, I/M estava aumentada na semana 2 e tal aumento cessou após administração de rosuvastatina. Nossos resultados sugerem que a rosuvastatina pode reduzir significativamente o grau de hiperplasia intimal nas artérias carótida lesionadas com balão em ratos. Os níveis de mRNA e de proteína de Apo J nas artérias carótidas foram aumentados pela rosuvastatina quando comparados ao grupo modelo, atingindo o máximo na segunda semana, mais cedo que no grupo modelo. Nossos resultados sugerem que a rosuvastatina pode inibir a hiperplasia intimal pelo aumento de Apo J após lesão com balão em ratos.

Estudos relataram que a Apo J está intimamente relacionada a doenças cardiovasculares, tais como aterosclerose e reestenose após angioplastia.14,15 Ishikawa et al.7 apresentaram a distribuição de Apo J na matriz extracelular da camada íntima da aorta aterosclerótica de humanos, e seu potencial papel protetor na aterosclerose por meio do transporte de colesterol da parede aórtica para o fígado. A Apo J está aumentada na lesão tissular e estresse celular e tem uma função vital na proteção contra estresse oxidativo, lise celular e morte celular apoptótica.16-21 Além disso, observou-se Apo J na remodelagem ativa do tecido. Esses achados indicam que a Apo J pode atuar como um reagente de fase aguda. No presente estudo, observamos um espessamento marcante da camada neoíntima duas semanas após a cirurgia, com proliferação e migração de CMLV identificadas por coloração de HE no grupo modelo. A proliferação e a migração de CMLV foram mais ativas na terceira semana após cirurgia, e diminuíram na quarta semana. Ao mesmo tempo, os níveis de mRNA e de proteína da Apo J aumentaram significativamente na semana 2, alcançou um pico na terceira semana após operação, e diminuiu na quarta semana. Os resultados mostraram alta expressão de Apo J na fase de proliferação ativa e migração de CMLV. Consistente com outros estudos, nossos resultados sugerem que a Apo J pode ser um reagente de fase aguda após lesão com balão nas artérias carótidas de ratos.

Reestenose de stent após procedimentos intervencionistas tornou-se um dos problemas mais urgentes a serem resolvidos em todo o mundo. A rosuvastatina, um potente inibidor da enzima HMG-CoA (hidroximetilglutaril-CoA) redutase, parece reduzir o espessamento neointimal após lesão endotelial vascular em ratos. No presente estudo, os ratos do grupo intervenção receberam administração intragástrica de rosuvastatina (10 mg/kg/d). De acordo com outros estudos,22-24 encontramos que a rosuvastatina reduziu significativamente a formação de neoíntima.

Estudos prévios relataram que a isoforma secretada da Apo J (CLUs) pode inibir a proliferação e a migração de CMLV.12,25 Kim et al.12 também relataram que a Apo J poderia inibir significativamente a hiperplasia neointimal por meio da superexpressão de Apo J mediada por adenovírus em ratos. Em nosso estudo, observamos que níveis de mRNA e proteína da Apo J nas artérias carótidas aumentaram após a administração de rosuvastatina em comparação ao grupo controle. Ainda, a Apo J atingiu o máximo na segunda semana após a administração de rosuvastatina, e tal fato ocorreu mais cedo em comparação ao grupo modelo (terceira semana). Esses resultados sugerem que a rosuvastatina pode aumentar os níveis de Apo J nas artérias carótidas com lesões induzidas por balão, o que indiretamente indica que a Apo J exerce função protetora contra reestenose após lesão por balão em ratos.

Conclusão

Nossos resultados mostraram que a Apo J serviu como um reagente de fase aguda após lesão nas artérias carótidas de ratos induzida por balão. A rosuvastatina pode reduzir a formação de neoíntima pelo aumento nos níveis de Apo J. Nossos resultados sugerem que a Apo J exerce papel protetor contra reestenose após lesão por balão em ratos.

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