versão On-line ISSN 1678-4464
Cad. Saúde Pública vol.33 no.5 Rio de Janeiro 2017 Epub 12-Jun-2017
http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00007916
This study analyzed the effects of gestational weight gain and breastfeeding on postpartum weight retention. The study followed 2,607 women from the BRISA cohort. The variables were age, socioeconomic status, parity, pre-gestational body mass index, gestational weight gain, duration of maternal breastfeeding, length of postpartum follow-up, and postpartum weight gain. Structural equation modeling was used to evaluate the total, direct, and indirect effects of the explanatory variables on postpartum weight retention. An increase of one standard deviation in gestational weight gain corresponded to a significant increase of 0.49 standard deviations in postpartum weight retention (p < 0.001). An increase of one standard deviation in duration of breastfeeding corresponded to mean decrease of 0.10 standard deviations in postpartum weight retention (p < 0.001). Independently of pre-gestational BMI, gestational weight gain is a risk factor and duration of breastfeeding is a protective factor against postpartum weight retention.
Key words: Pregnancy; Weight Gain; Breast Feeding; Postpartum Period
Este estudio analizó los efectos de la ganancia de peso gestacional y de la lactancia materna en la retención del peso posparto. Se siguió a 2.607 mujeres de la cohorte de nacimiento BRISA. Las variables utilizadas fueron edad, situación socioeconómica, paridad, índice de masa corporal pre-gestacional, ganancia de peso gestacional, duración de la lactancia materna, tiempo de seguimiento tras el parto y retención de peso posparto. Se utilizó un modelo de ecuaciones estructurales que permitió evaluar los efectos totales, directos e indirectos de las variables explicativas en la retención del peso posparto. El aumento del desvío patrón de la ganancia de peso gestacional correspondió a un aumento significativo de 0,49 del desvío patrón de la retención de peso posparto (p < 0,001). El aumento de un desvío patrón de la duración de la lactancia materna correspondió a la disminución media de 0,10 del desvío patrón de la retención de peso posparto (p < 0,001). Independientemente del índice de masa corporal pre-gestacional, la ganancia de peso gestacional es un factor de riesgo, y la duración de la lactancia materna es un factor protector para la retención del peso posparto.
Palabras-clave: Embarazo; Aumento de Peso; Lactancia Materna; Periodo Posparto
A gestação e o período pós-parto têm sido identificados como momentos de risco na vida da mulher, devido à exposição a fatores que podem levar ao desencadeamento da obesidade 1. As últimas pesquisas realizadas no Brasil demonstram crescentes prevalências de excesso de peso nas mulheres em idade fértil 2,3. A última Pesquisa de Orçamentos Familiares, realizada em 2008/2009 3, indicou altas prevalências de excesso de peso (48%) e obesidade (17%) entre mulheres. E quando a obesidade é estratificada por faixa etária, é possível observar aumento progressivo das prevalências em faixas de idade reprodutiva na proporção de 7,5% entre mulheres de 18 e 24 anos, 13,7% de 25 e 34 anos e 25,4% de 35 a 44 anos 4.
Além disso, o número de mulheres que iniciam a gestação com excesso de peso ou que ganham peso excessivo durante a gravidez também é expressivo. Estudo realizado em seis capitais brasileiras, com 5.564 gestantes, encontrou prevalência de 19,2% de sobrepeso e de 5,5% de obesidade entre as gestantes 5.
Nesse contexto, a retenção do peso ganho durante a gestação pode representar um fator determinante da obesidade em mulheres, e seu desenvolvimento é determinado por uma complexa rede de inter-relações 6. Estudos prévios demonstraram múltiplos fatores associados à retenção de peso pós-parto (RPPP). Dentre eles, destacam-se o elevado ganho de peso gestacional (GPG) 7,8,9, a menor idade 10,11, a primiparidade 12,13, o menor intervalo interpartal 14, a pouca prática de atividade física 15 e a menor duração de aleitamento materno 15,16. Entre os fatores citados, o GPG tem sido identificado como um dos principais determinantes. Metanálises mostraram que o elevado ganho de peso durante a gestação aumenta as chances de RPPP a curto e longo prazo 8,9,17.
O aleitamento materno também pode contribuir para as alterações no peso e distribuição de gordura das mães 18,19. As pesquisas apontam uma potencial contribuição do aleitamento materno na redução da RPPP, por meio do aumento do gasto energético 20 ou da regulação do metabolismo e do apetite durante a lactação 21. Entretanto, nos últimos anos, a literatura tem apresentado resultados inconsistentes em relação à associação entre aleitamento materno e RPPP. Enquanto alguns estudos mostraram que o aleitamento materno é inversamente associado com o peso materno a curto e longo prazo 16,19,22, outros estudos não identificaram essa associação 23,24. Barker et al. 16, ao investigarem a influência do aleitamento materno na redução da RPPP em mulheres dinamarquesas, observaram que o aleitamento materno não foi suficiente para contrabalançar os efeitos do excessivo GPG.
Além disso, alguns estudos apontam que existe uma relação entre inadequado GPG e duração do aleitamento materno 25,26,27. Bartok et al. 26, ao investigarem se elevado índice de massa corporal (IMC) pré-gestacional (peso pré-gestacional/altura2) e excessivo GPG estavam associados a menor duração do aleitamento materno, observaram que mulheres com sobrepeso e obesidade e GPG acima do recomendado 28 apresentaram menor duração de aleitamento materno do que mulheres com IMC pré-gestacional normal e GPG adequado.
Portanto, avaliar a magnitude dos efeitos do GPG e do aleitamento materno na RPPP poderá auxiliar o planejamento de ações de saúde da gestante e puérpera. Além disso, comparar os efeitos do GPG e do aleitamento materno na RPPP e verificar se a duração do aleitamento materno pode mediar o efeito do GPG na RPPP responde algumas lacunas ainda não esclarecidas na literatura.
Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi investigar os efeitos totais, diretos e indiretos do GPG e da duração do aleitamento materno na RPPP em mulheres acompanhadas por uma coorte de nascimento em São Luís, Maranhão, Brasil. Com esse objetivo, pretende-se testar as seguintes hipóteses: (1) o GPG está diretamente associado à RPPP; (2) a duração do aleitamento materno está inversamente associada à RPPP; e (3) a duração do aleitamento materno é mediador do efeito do GPG na RPPP.
Para isso, foi utilizada a modelagem de equações estruturais que permite estimar conjuntamente as associações entre as variáveis do modelo, com todos os pressupostos usuais de uma regressão. Também é possível estudar modelos causais entre exposições e desfechos e seus caminhos. Portanto, sua utilização permite verificar a mediação do efeito do GPG via duração do aleitamento materno, assim como comparar o efeito relativo do GPG e da duração do aleitamento materno, verificando qual apresenta o maior efeito na RPPP, pelo uso de estimativas padronizadas.
Este estudo é parte da coorte de nascimento brasileira BRISA, que foi desenhada para investigar os fatores etiológicos do nascimento pré-termo e as consequências dos fatores perinatais na saúde da criança, realizada nas cidades de São Luís e Ribeirão Preto (São Paulo). Neste estudo, foram incluídos apenas os dados de São Luís.
As crianças foram captadas entre janeiro e dezembro de 2010, em serviços públicos e privados. A amostra representou 98% de todos os nascimentos da cidade, totalizando 5.236 mulheres 29. O primeiro seguimento da coorte ocorreu de 13 a 35 meses após o parto. Das 5.166 mulheres que participaram da primeira entrevista e que tiveram filhos nascidos vivos, 3.308 mulheres responderam o questionário do seguimento. Foram utilizadas, nesta pesquisa, apenas mulheres que tiveram partos únicos, que não engravidaram após a entrevista do nascimento ou estavam gestantes no momento do seguimento e com informações completas de peso pré-gestacional e peso entre 13 e 35 meses após o parto, totalizando amostra final de 2.607 mulheres (Figura 1).
Foram utilizados três questionários da coorte de nascimento BRISA: (a) Questionário de Entrevista da Mãe no Nascimento, contendo dados socioeconômicos, demográficos, hábitos de vida, saúde sexual e reprodutiva e características da gestação, do pré-natal e do parto; (b) Questionário de Entrevista da Mãe no Seguimento, contendo dados da saúde e exame clínico da mãe; e (c) Questionário de Entrevista Geral no Seguimento, contendo dados sobre aleitamento materno. Os dados foram coletados por grupos de alunos e graduados da área de saúde devidamente treinados, identificados e uniformizados.
A entrevista do nascimento foi realizada nas primeiras 48 horas após o parto. Nos casos em que a mulher recebeu alta hospitalar antes da entrevista, essa foi entrevistada no domicílio. Na entrevista do nascimento, as medidas antropométricas das mães foram autorrelatadas. A entrevista do seguimento foi realizada no Centro de Pesquisa Clínica da Universidade Federal do Maranhão (CEPEC/UFMA). Nos casos em que a mulher não pôde se deslocar ao CEPEC, essa foi entrevistada no domicílio. Na entrevista do seguimento, as medidas antropométricas foram mensuradas por pesquisadores treinados. O peso foi medido utilizando-se uma balança digital, com precisão 0,1kg (Tanita, Arlington Heights, Estados Unidos), e a estatura foi medida com um estadiômetro portátil, com precisão de 0,1cm (Alturexata, Belo Horizonte, Brasil).
No modelo final, a variável resposta foi a RPPP, e as variáveis explicativas foram idade, situação socioeconômica, paridade, IMC pré-gestacional, GPG, duração do aleitamento materno e tempo de acompanhamento após o parto (Figura 2).
O IMC pré-gestacional e o GPG (peso na última consulta antes do parto - peso pré-gestacional) foram obtidos a partir dos pesos informados durante entrevista do nascimento. O peso 13-35 meses após parto foi obtido por entrevistadores treinados na entrevista do seguimento e utilizado para o cálculo da RPPP (peso 13-35 meses após parto - peso pré-gestacional). As outras variáveis como idade no momento do parto, escolaridade materna, renda familiar e paridade foram obtidas na entrevista do nascimento. A duração do aleitamento materno (meses) foi obtida na entrevista do seguimento. A duração do aleitamento materno foi obtida a partir da resposta a duas perguntas: (a) a criança ontem recebeu leite do peito? Em caso de resposta negativa, foi questionado (b) até que idade a criança mamou leite do peito? A duração do aleitamento materno baseou-se na data de cessação da prática de aleitamento e incluiu aleitamento materno exclusivo, predominante e complementado 30.
As variáveis GPG (kg), RPPP (kg) e tempo de acompanhamento após o parto (meses) foram declaradas como variáveis contínuas no modelo. As variáveis renda familiar, ocupação do chefe da família, classificação econômica, idade e escolaridade materna, paridade e duração do aleitamento materno foram declaradas como categóricas ordinais.
A variável latente contínua situação socioeconômica foi composta a partir de quatro variáveis indicadoras: (1) renda familiar: menor que 1 salário mínimo nacional (R$ 510,00 para o ano de 2010), 1 a menos que 3 salários mínimos, 3 a menos que 5 salários mínimos e 5 ou mais; (2) escolaridade materna: até 4 anos de estudo, 5 a 8 anos, 9 a 11 anos e 12 ou mais anos; (3) ocupação do chefe da família: manual não qualificado, manual semiespecializado, manual especializado, função de escritório, profissional de nível superior, administrador/gerente/diretor/proprietário; e (4) classe econômica: classe D/E, classe C e classe A/B, composta por posse de bens e grau de instrução do chefe de família, sendo as categorias A e B as com mais poder de consumo 31.
As variáveis idade, paridade e aleitamento materno foram classificadas da seguinte forma: (a) idade materna: menor que 20 anos, de 20 a 24 anos e 25 anos ou mais, (b) paridade: primíparas e dois ou mais partos; e (c) duração do aleitamento materno: menos que 6 meses, de 6 a 12 meses e mais que 12 meses.
Os cálculos de frequências, percentuais e valor de p do teste qui-quadrado e t de Student para análise das perdas de seguimento foram realizados no software Stata, versão 12.0 (StataCorp LP, College Station, Estados Unidos).
Dadas as perdas de seguimento do estudo, foi utilizada ponderação das perdas diferenciais pelo inverso da probabilidade de seleção, de modo a minimizar o viés de seleção.
Para o ajuste do modelo, foi empregada modelagem de equações estruturais que investigou a associação entre GPG, aleitamento materno e retenção de peso 13-35 meses após parto. Para testar a forma de associação entre o tempo de acompanhamento após o parto e a RPPP, utilizou-se o lowess smoother32. A modelagem de equações estruturais é uma extensão da análise de regressão que estima simultaneamente uma série de equações de regressão múltipla, avaliando efeitos diretos, indiretos e totais de variáveis sobre um desfecho com a inclusão de variáveis latentes não diretamente observadas 33,34.
Como o modelo foi composto por variáveis contínuas e categóricas, foi utilizado o estimador de mínimos quadrados ponderados robustos ajustados pela média e variância (WLSMV). A parametrização THETA foi utilizada para controlar as diferenças de variâncias residuais. Essas etapas foram realizadas com o software Mplus, versão 7.31 (Muthén & Muthén, Los Angeles, Estados Unidos).
Para determinar bom ajuste do modelo, foi considerado: (a) valor de p > 0,05 para o teste do qui-quadrado (χ2) 33; (b) valor de p < 0,05 e limite superior do intervalo de 90% de confiança (IC90%) inferior a 0,08 para a raiz do erro quadrático médio de aproximação (RMSEA) 34; (c) valores superiores a 0,95 para o índice de ajustamento comparativo (CFI) e índice Tucker-Lewis (CFI/TLI) 34; e (d) valores da raiz do resíduo quadrático médio ponderado (WRMR) menores que 1 34.
O comando modindices foi usado para sugestões de modificações da hipótese inicial. Quando as modificações propostas fossem consideradas plausíveis do ponto de vista teórico e o valor do índice de modificação fosse superior a 10.000, um novo modelo poderia ser elaborado e analisado 34.
Nas análises das estimativas padronizadas para construção das variáveis latentes, considerou-se carga fatorial superior a 0,50 com p < 0,05 como indicativa de alta correlação entre a variável indicadora e o construto 33. No modelo final, foram avaliados os efeitos totais, diretos e indiretos das variáveis observadas sobre a RPPP. Considerou-se haver efeito quando p < 0,05.
Este estudo seguiu os critérios da Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e as suas resoluções complementares. Os entrevistados que concordaram em participar do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário da UFMA (registro nº 223/2009).
As variáveis que apresentaram perdas diferenciais foram idade e escolaridade materna, renda familiar, classe econômica e paridade. As perdas de segmento foram significativamente maiores entre as mulheres com 20 anos ou menos, 8 anos de estudo ou menos, renda de 1 salário mínimo ou menos, pertencentes a famílias da classe econômica D/E, em que o chefe apresentava ocupação manual não qualificada, e que tiveram 2 partos ou mais (Tabela 1).
DP: desvio padrão; GPG: ganho de peso gestacional; IMC: índice de massa corporal.
* Teste qui-quadrado;
** Teste t de Student.
Na população de estudo, foram observados maiores percentuais de mulheres com mais de 25 anos de idade (49,9%), com 9-11 anos de estudo (58,4%), renda de 1 a menos que 3 salários mínimos (55,5%), famílias chefiadas por indivíduos com ocupação semiespecializada (40,8%), pertencentes à classe econômica C (54,3%), que tiveram dois ou mais partos (52,7%), IMC pré-gestacional adequado (64,1%) e amamentaram por período de 6 a 12 meses (83,3%). A média do GPG foi de 12,5 ± 5,9kg, e a da RPPP foi de 4,2 ± 6,6kg (Tabela 2).
DP: desvio padrão; GPG: ganho de peso gestacional; IMC: índice de massa corporal; RPPP: retenção de peso pós-parto.
A análise baseada no lowess smoother apresentou uma associação significativa e linear entre o tempo de acompanhamento após o parto e a RPPP (dados não demonstrados em tabela). Assim, os resultados foram ajustados pelo tempo de acompanhamento após o parto como variável contínua.
O modelo inicial não apresentou um bom ajuste. Dessa forma, a sugestão de modificação de incluir um caminho da variável tempo de acompanhamento após o parto em direção ao aleitamento materno foi plausível e melhorou o ajuste, originando o modelo 2. O modelo 2 apresentou índices de ajuste satisfatórios exemplificados pelo limite superior do IC90%, RMSEA de 0,032 (< 0,08 indica um bom ajuste), CFI de 0,992 e TLI de 0,984 (> 0,90 indica um bom ajuste) (Tabela 3).
CFI: índice de ajustamento comparativo; IC90%: intervalo de 90% de confiança; RMSE: raiz do erro quadrático médio de aproximação; TLI: índice Tucker-Lewis; WRMR: raiz do resíduo quadrático médio ponderado.
No modelo final, cada indicador da variável latente situação socioeconômica teve carga fatorial superior a 0,5 e p < 0,001 para todos os seus componentes (Tabela 4; Figura 3).
O GPG apresentou efeito total positivo de alta magnitude, após o ajuste do modelo para a situação socioeconômica, idade, paridade, IMC pré-gestacional, aleitamento materno e tempo de acompanhamento após o parto. Para cada variação de um desvio padrão (DP) de GPG, houve um aumento significativo de 0,49 DP da RPPP (p < 0,001) (Tabela 5). Isso significa que cada aumento de 5,88kg no GPG (DP) correspondeu a um aumento de 3,25kg de RPPP [as estimativas das Tabelas 2 e 5 foram utilizadas no cálculo (CP x DP = 0,49 x 6,64)].
CP: coeficiente padronizado; GPG: ganho de peso gestacional; IMC: índice de massa corporal; RPPP: retenção de peso pós-parto.
A duração do aleitamento materno apresentou efeito direto negativo de baixa magnitude, após o ajuste do modelo para a situação socioeconômica, idade, paridade, IMC pré-gestacional, GPG e tempo de acompanhamento após o parto. Para cada variação de um DP na duração do aleitamento, houve uma diminuição significativa de 0,10 DP da RPPP (p < 0,001) (Tabela 4; Figura 3).
O GPG não apresentou efeito indireto, mediado pela duração do aleitamento materno, na RPPP (coeficiente padronizado - CP = 0,003; p = 0,394) (Tabela 3).
A RPPP é um fator de risco potencial para o desenvolvimento da obesidade em mulheres em idade fértil 8,35. Nesta pesquisa, foi observado que o GPG apresenta efeito positivo de alta magnitude, e o efeito do aleitamento materno é negativo e de baixa magnitude na RPPP. O GPG não apresenta efeito indireto, mediado pela duração do aleitamento materno, na RPPP.
A literatura aponta que GPG acima das recomendações do Instituto de Medicina dos Estados Unidos 28 tem sido associado com a RPPP tanto a curto quanto a longo prazo 8,9,17,36,37. Mannan et. al. 17, ao realizarem metanálise com objetivo de verificar a associação entre GPG, RPPP e obesidade, concluíram que o elevado GPG esteve associado ao aumento da RPPP ou do IMC após o parto, e que esse resultado foi dependente do tempo de seguimento pós-parto, com uma tendência observada em forma de U, apresentando declínio da RPPP nos anos iniciais pós-parto, para aumentar novamente no final do período de seguimento (21 anos após o parto). A presente pesquisa e os estudos anteriores sugerem que mulheres que ganham peso em excesso durante a gravidez tendem a ter uma maior RPPP. E que, a longo prazo, essas mulheres estão em maior risco de terem um elevado IMC e desenvolverem sobrepeso e obesidade após o parto 9.
Um achado importante desta pesquisa foi o efeito total negativo da duração do aleitamento materno na RPPP, sugerindo que mães que amamentaram por mais tempo tiveram menor RPPP. Esses resultados ajudam a esclarecer os resultados inconsistentes encontrados na literatura 38,39 sobre o papel do aleitamento materno como preditor da RPPP, embora vários estudos já suportem a relação inversa entre o aleitamento materno exclusivo ou parcial e a RPPP 16,21,40,41. Stuebe et. al. 21, ao investigarem a relação entre a duração da lactação e os níveis de leptina, adiponectina, grelina e peptídeo YY maternos, apoiaram a plausibilidade biológica de menor ganho de peso entre as mulheres que amamentam. Os resultados da investigação mostraram que longos períodos de aleitamento materno foram associados com níveis mais elevados de grelina e peptídeos YY três anos após o parto. Essas adipocinas desempenham importante papel na regulação do metabolismo e do apetite. Dessa forma, o efeito negativo da duração do aleitamento materno na RPPP encontrado nesta pesquisa pode ser explicado pela mediação de alterações favoráveis nas vias de regulação do apetite.
A literatura tem demonstrado que o GPG está associado ao início e à duração da amamentação 25,26,27,42. Winkvist et al. 25, ao investigarem as inter-relações entre IMC pré-gestacional e GPG sobre o início e duração do aleitamento materno, mostraram que excesso de peso e obesidade materna pré-gestacional foram fatores de risco importantes para a incapacidade de iniciar ou manter o aleitamento materno. Além disso, GPG acima ou abaixo das recomendações aumentou ainda mais o risco. Os autores apontaram a importância de prevenir o excesso de peso em mulheres em idade reprodutiva e apoiá-las a ganhar peso dentro das recomendações durante a gravidez, para que elas possam alcançar padrões de amamentação recomendados. Possíveis justificativas para essa relação incluem dificuldades em colocar a criança ao peito, menor produção de prolactina em resposta à amamentação na primeira semana pós-parto, aumento dos níveis séricos de insulina e fatores psicossociais 42,43.
Embora o GPG apresente efeito no aleitamento materno, e consequente efeito na RPPP, nesta pesquisa, não foi possível observar efeito indireto do GPG na RPPP, via aleitamento materno.
Nas últimas décadas, o Brasil desenvolveu várias políticas para a promoção e apoio ao aleitamento materno, como a Iniciativa Hospital Amigo da Criança, Bancos de Leite Humano, Rede Amamenta Brasil, ações educativas na assistência pré-natal e utilização constante dos meios de comunicação de massa abordando o tema 44. Talvez esses investimentos nas políticas públicas de aleitamento materno tenham incentivado e apoiado até mesmo àquelas mulheres em maior risco de não amamentarem, diminuindo o risco de mulheres com inadequado GPG não manterem o aleitamento materno.
Além disso, Baker et al. 16, ao investigarem a influência do aleitamento materno na redução da RPPP em mulheres dinamarquesas, observaram que o aleitamento materno não foi suficiente para contrabalançar os efeitos do GPG. Os autores sugeriram que talvez o aumento do gasto calórico que ocorre normalmente durante o aleitamento materno não seja suficiente para reduzir o risco de RPPP em mulheres cujo metabolismo já tenha sido alterado pelo excesso de peso. Assim, um adequado GPG continua a ser um elemento essencial na redução da RPPP.
Um ponto forte do estudo foi a utilização de modelagem de equações estruturais. Esse método pode ser utilizado para estimar conjuntamente as associações entre as variáveis do modelo, com todos os pressupostos usuais de regressão. Ele permite estudar possíveis modelos causais entre exposições e desfechos e seus possíveis caminhos. A modelagem de equações estruturais produz resultados facilmente interpretáveis 45. Ela também permitiu a estimativa dos efeitos diretos, indiretos e totais do ganho de peso e aleitamento materno sobre a RPPP.
Dada a estrutura longitudinal do estudo, ocorreu perda de seguimento da amostra. A perda de seguimento pode levar à distorção das estimativas de associação, pois fatores relacionados à exposição podem influenciar a participação dos indivíduos no estudo. No entanto, foi utilizada ponderação das perdas diferenciais pelo inverso da probabilidade de seleção, de modo a minimizar o risco de viés de seleção 46.
Outra limitação do estudo foi a forma de obtenção das informações antropométricas, pois todas as medidas, exceto o peso do seguimento, basearam-se em dados autorrelatados. Em relação à confiabilidade das informações relatadas do peso pré-gestacional, estudos demonstraram alta correlação entre o peso pré-gestacional medido e o autorreferido ao compararem as duas medidas, aumentando, assim, a coerência das medidas reportadas 47,48.
Em resumo, os resultados mostraram que o GPG apresentou efeito positivo de alta magnitude na RPPP. O fato de o GPG ter efeito de alta magnitude na RPPP pode potencialmente aumentar o risco do desenvolvimento de sobrepeso e obesidade, a longo prazo, em mulheres em idade fértil. Além disso, esta pesquisa reforça a hipótese de que o aleitamento materno pode ser um possível fator protetor para a RPPP. Entretanto, o aleitamento não mediou o efeito do GPG na RPPP. Portanto, os achados desta pesquisa têm importância clínica, pois destacam a necessidade do monitoramento do GPG e do incentivo e apoio ao aleitamento materno após o parto.