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Efeitos do Stiper® no tratamento de cervicalgia em acadêmicos de odontologia: ensaio piloto

Efeitos do Stiper® no tratamento de cervicalgia em acadêmicos de odontologia: ensaio piloto

Autores:

Mara Cristina Ferreira Moreira Brum,
Livia Crespo Drago,
Aline Daiane Schlindwein,
Graciela Mendonça da Silva de Medeiros

ARTIGO ORIGINAL

BrJP

versão impressa ISSN 2595-0118versão On-line ISSN 2595-3192

BrJP, ahead of print Epub 18-Maio-2020

http://dx.doi.org/10.5935/2595-0118.20200023

INTRODUÇÃO

O problema de saúde que provocou maior número de afastamentos no trabalho em 2017 foi a dorsalgia, dentro da qual, conforme a Classificação Internacional de Doenças (CID10), encontra-se a cervicalgia, que tem como característica a dor ou desconforto na região do pescoço, podendo irradiar-se para os membros superiores, tendo etiologia variada1,2.

Embora, em sua maioria, os casos de cervicalgia não apresentem malignidade, provocam forte impacto na vida dos indivíduos e da sociedade, com maior risco em algumas categorias profissionais, dentre elas a dos cirurgiões-dentistas (CD) que chegam a desenvolver incapacidade temporária ou até permanente que pode determinar seu afastamento da atividade laboral3. O problema pode surgir ainda durante a formação acadêmica4, pois, apesar do avanço tecnológico dos equipamentos e estruturas ambientais, há constantes provocações posturais e movimentos repetitivos que requerem alta precisão e sincronicidade, sendo alto o número de acadêmicos que acabam por descuidar da postura quando iniciam os atendimentos clínicos e, consequentemente, não adquirindo o hábito ergonômico correto durante a formação, não o farão quando da prática profissional5. Além disso, a vulnerabilidade ao estresse, quadros de ansiedade e depressão, uso de fármacos, álcool e substâncias psicoativas podem deflagrar tensão, contrações e dores musculares, como também dar início precoce à síndrome de Burnout6 (SB).

Para tratamento da cervicalgia, além dos tratamentos convencionais, vários recursos terapêuticos integrativos e complementares podem ser utilizados, dentre eles a acupuntura. A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) está inserida no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2006, através da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC)7, sendo a acupuntura a prática mais conhecida de forma isolada ou com adjuvantes, tais como moxabustão, ventosaterapia e eletroacupuntura8. Entretanto, muitas pessoas têm aversão aos agulhamentos, deixando assim de obter os benefícios que a prática oferece. Para esses casos, as pastilhas de óxido de silício/Stiper® são uma alternativa. Além de serem indolores e não invasivas, elas podem ser mantidas aderidas à pele por até cinco dias promovendo os efeitos a que se propõem: melhora do metabolismo basal; aceleração das reações enzimáticas; reforço na imunidade; eliminação de radicais livres; relaxamento das musculaturas lisa e estriada; aumento da produção de oxigênio e ativação da circulação sanguínea e linfática. Elas também potencializam qualquer outra terapia que possa ter sido usada antes da sua colocação e promovem a modulação energética9. Assim, por se tratar de terapia rápida, indolor, não farmacológica e não invasiva são necessários mais estudos sobre sua eficácia no alívio da cervicalgia.

A pesquisa teve como objetivo verificar os efeitos do Stiper® em cervicalgia inespecífica de acadêmicos de um curso de Odontologia.

MÉTODOS

Trata-se de um ensaio clínico piloto de natureza quantitativa, do tipo antes e depois, quase experimental, que incluiu acadêmicos do curso de Odontologia em Unidades de Aprendizagem de prática clínica do 5º ao 10º semestre. A divulgação foi feita por contato direto com os acadêmicos, colocação de cartazes na universidade e folder explicativo sobre as pastilhas Stiper®. A amostra foi do tipo não probabilística por conveniência. O cálculo amostral foi realizado no programa Open Source Epidemiologic Statistics for Public Health (OpenEpi) 3.03a da Emory University, Escola Rollins de Saúde Pública, Atlanta, EUA com base nos dados obtidos em estudo9 que comparou os tratamentos para lombalgia com acupuntura e pastilhas de óxido de silício e observou média de dor de 6,93±2,40 antes do tratamento com as pastilhas de óxido de silício e de 2,93±2,96 ao término do tratamento. Considerando o intervalo de confiança de 95%, poder de 80%, seriam necessários 8 estudantes. Acrescido de 20% de perdas e recusas, o total da amostra seria de 10 participantes. O diagrama de fluxo de participantes e os procedimentos durante cada estágio da pesquisa encontra-se descrito na figura 1. As aplicações ocorreram em uma sala reservada na Clínica Escola Odontológica.

TCLE = Termo de consentimento Livre e Esclarecido; EAV = escala analógica visual.

Figura 1 Diagrama de fluxo de participantes e dos procedimentos durante cada estágio da pesquisa 

Os critérios de inclusão foram: ser acadêmico matriculado no curso de Odontologia da Unisul, cursando da 5ª à 10ª fase, apresentar queixa de cervicalgia; ter idade igual ou superior a 19 anos. Os critérios de exclusão foram a presença de lesão por trauma ou hérnia discal na região cervical; histórico de alergia ou intolerância à fita adesiva; apresentar lesão na pele da região cervical/escapular; fazer uso continuado ou frequente de fármacos analgésicos ou miorrelaxantes e/ou estar em tratamento fisioterápico.

A aplicação do Stiper® foi feita nos pontos de acupuntura IG15 (Jianyu), TA15 (Tianliao), VB21 (Jianjing) bilateralmente, e VG14 (Dazhui). Para sua aplicação foi utilizado algodão e álcool a 70% para a remoção de cremes e oleosidade da pele e garantir melhor fixação das pastilhas de óxido de silício Stiper®, que foram fixadas com esparadrapo hipoalergênico. Todos os participantes foram orientados a manter as pastilhas por cinco dias, secando bem o local após o banho ou atividades aquáticas, e foram alertados para remover as pastilhas em caso de incômodo ou irritação. As pastilhas de óxido de silício/Stiper® permaneceram fixadas ao corpo dos participantes por cinco dias, mas houve algumas exceções em que foram removidas antes.

O estudo foi feito em 4 sessões com intervalo de 1 semana entre elas. A avaliação da dor foi feita pela escala analógica visual (EAV) antes e depois das aplicações. A primeira sessão teve duração de 30 minutos, sendo preenchido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o questionário sociodemográfico e o questionário sobre postura e ergonomia. A seguir, a intensidade da dor foi avaliada pela EAV, feita a aplicação do Stiper®, e após 10 minutos foi feita nova avaliação da intensidade da dor. Na segunda e na terceira sessões foi feita a avaliação da intensidade da dor, e foi preenchido o formulário de acompanhamento da aplicação, e após 10 minutos foi feita nova avaliação da intensidade da dor. Na última sessão foi feita a avaliação da intensidade da dor e feito o preenchimento do formulário de acompanhamento da aplicação. Nas 3 últimas sessões, a duração foi de 15 minutos, com intervalo de 7 dias entre as sessões.

O questionário de postura tinha 5 categorias, a saber: discordo plenamente, discordo, nunca pensei sobre isso, concordo, concordo plenamente, tendo sido agrupados posteriormente em 3 categorias: discordo, nunca pensei sobre isso e concordo.

Este estudo cumpriu a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde10 e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) sob o número CAAE 04847118.4.0000.5369. Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos RBR-89489x.

Análise estatística

O banco de dados foi elaborado em planilha Microsoft Excel e posteriormente exportado para o software IBM SPSS Statistics 18.0. Os resultados foram sumarizados como frequências absolutas (n) e relativas (%) para variáveis nominais, média e desvio padrão e valor mínimo e máximo para variáveis numéricas. Para testar a normalidade da amostra foi utilizado o teste de Shapiro Wilk. Como os dados mostraram-se paramétricos, para comparar a EAV antes e após as aplicações, foi utilizado o teste t de Student. Foi adotado um nível de significância de 5%.

RESULTADOS

O estudo teve a participação efetiva de 9 acadêmicos sendo 88,9% do sexo feminino, todos solteiros, sem filhos e não fumantes, com média de idade de 21,22±1,56 anos variando entre 19 e 24 anos. A maioria não desempenhava atividade laborativa, e o uso moderado de bebida alcoólica foi relatado por 88,9%, principalmente nos fins de semana.

Em relação à vida acadêmica, 77,8% encontrava-se na 5ª fase quando começam as atividades de atendimento na clínica escola. Nas demais fases, a participação foi de um acadêmico da 7ª e um da 10ª fase. A dedicação de mais de duas horas do dia aos estágios de dentística, cirurgia, endodontia, periodontia e estética foi reportada por 44,4% dos participantes. O tempo médio dedicado para estudar fora de sala de aula foi de uma a duas horas ininterruptas para 44,4%, com 55,6% realizando atendimentos clínicos duas vezes por semana.

Todos eram destros e 88,9% habitualmente carregavam bolsas e objetos no lado direito do corpo, incluindo 55,6% que usavam bolsa a tiracolo, 66,7% usava o telefone celular ao longo do dia por mais uma hora ininterrupta e 22,2% lateralizava ou anteriorizava o pescoço ao usar o celular. Apenas um dormia de 3 a 5h por noite, quatro dormiam de 5 a 7h e os demais dormiam de 7 a 9h por noite. Houve predominância de sono regular (55,6%) e um participante (11,1%) relatou uso de fármaco para tratamento de outra doença não relacionada à dor cervical.

Nenhuma atividade física era praticada por 55,6% dos participantes e 77,8% tinha momentos de lazer. Em relação aos estados de humor, alegria, ansiedade, depressão, preocupação, e irritabilidade, 66,7% referiram apresentar dois ou mais estados associados, e no momento da avaliação, 44,4% disseram que sentiam dois ou mais dos seguintes estados: animado, cansado, desmotivado, desanimado, disposto ou com pensamentos excessivos (Tabela 1).

Tabela 1 Caracterização sociodemográfica e hábitos de vida 

Variáveis n %
Fases do curso
7 77,8
1 11,1
10ª 1 11,1
Atendimentos por dia na clínica escola
Um 6 66,7
Três 1 11,1
Não respondeu 2 22,2
Frequência de atendimentos na semana
Duas vezes 5 55,6
Três vezes 1 11,1
Quatro vezes 1 11,1
Não respondeu 2 22,2
Uso do celular
Constante ao longo do dia por mais de 1 hora ininterrupta 6 66,7
Lateraliza ou anterioriza o pescoço ao usar o aparelho 1 11,1
Têm os dois comportamentos associados 2 22,2
Horas de sono por noite
3 a 5 1 11,1
5 a 7 4 44,4
7 a 9 4 44,4

Fonte: Elaborada pelas autoras, 2019.

A incidência de dor no pescoço, ombros e acima das escápulas foi referida por 55,6% dos participantes, 11,1% referiram dor somente no pescoço, sendo que 77,8% relataram dor diária. A maioria (55,6%) referiu início da dor há um ano e todos afirmaram que ela piorava ao longo do dia e com a realização de atividades. Apenas 33,3% referiram que a dor interfere na flexão do pescoço, porém 66,7% precisaram usar algum tipo de relaxante muscular. Dentre as práticas integrativas e complementares conhecidas e utilizadas por 55,5% dos participantes da pesquisa estão a terapia floral, auriculoterapia, massagem com pedras quentes, ventosaterapia, fitoterapia, meditação, acupuntura e reiki (Tabela 2).

Tabela 2 Caracterização da dor e recursos terapêuticos utilizados 

n %
Localização da dor
Pescoço 1 11,1
Pescoço e ombros bilaterais 1 11,1
Ombros e acima de escápulas 1 11,1
Pescoço, ombros e acima de escápulas 5 55,6
Pescoço e ombros lados alternados 1 11,1
Frequência da dor
Esporadicamente 2 22,2
Diariamente 7 77,8
A dor começou
Há 1 ano 5 55,6
Não recorda 4 44,4
A dor interfere
Na flexão do pescoço 3 33,3
Não interfere 6 66,7
Já usou PIC para alívio da dor
Sim 5 55,6
Não 4 44,4
Quais PIC
Nenhuma 4 44,4
Auriculoterapia 1 11,1
Duas ou mais PIC 4 44,4
Já precisou usar relaxante muscular
Sim 6 66,7
Não 3 33,3

Fonte: Elaborada pelas autoras, 2019

PIC = Práticas Integrativas e Complementares.

Os dados sobre ergonomia e postura estão na tabela 3. Todos os participantes afirmaram ter elevado nível de autoexigência. Destes, 66,7% afirmaram que a cervicalgia surgiu depois de iniciarem o curso de Odontologia, sendo que 88,9% sentia que o material usado nas aulas era muito pesado. Embora 55,6% tenha declarado estar atento aos sintomas, e 88,9% tenha considerado importante cuidar da dor assim que ela se manifestasse, a totalidade reconheceu que adotava postura errada ao utilizar aparelhos eletrônicos e 77,8% reconheceu que não mantinha postura correta quando se sentava ou caminhava. Apesar de 55,5% ter considerado boas as condições ergonômicas ofertadas pela clínica escola, 77,8% reconheceram que a postura que adotavam para a execução das práticas não era adequada e 66,7% admitiram agir assim porque facilitava a atividade.

Tabela 3 Escala Likert para ergonomia e postura 

Discordam Nunca pensaram
sobre isso
Concordam
n (%) n (%) n (%)
As condições ergonômicas da clínica são adequadas 4 (44,4) - 5 (55,5)
Minha postura nas atividades clínicas é adequada 7 (77,8) - 2 (22,2)
Alongamentos são importantes antes/depois das atividades - 3 (33,3) 6 (66,7)
É importante dar atenção à dor logo que ela aparece - 1 (11,1) 8 (88,9)
Mantenho a postura errada porque facilita a atividade 3 (33,3) - 6 (66,7)
Estou sempre atento aos sinais de alerta no meu corpo 2 (22,2) 22,2 5 (55,6)
A minha postura é correta quando sento e caminho 7 (77,8) - 2 (22,2)
A minha postura é correta no uso de celular, notebook etc. 9 (100,0) - -
Os materiais que carrego são pesados demais 1 (11,1) - 8 (88,9)
Meu nível de autoexigência pessoal/acadêmico é alto - - 9 (100,0)
A dor na região cervical começou após iniciar faculdade 3 (33,3) - 6 (66,7)

Fonte: Elaborada pelas autoras, 2019.

O formulário aplicado nas últimas três semanas evidenciou que a maioria (77,8%) manteve os Stiper® pelo período de 5 dias e a melhora da dor na coluna cervical foi referida por 66,7% dos participantes. Os que removeram os Stiper® antes do tempo indicado o fizeram por questão estética, prurido e irritação da pele, e um removeu pela dor em região subescapular.

Ao término do estudo, dois mantiveram o nível de dor apontado no primeiro dia e um referiu aumento da dor, ao passo que os demais apresentaram redução no nível de dor, inclusive dois referiram ausência de dor. Houve redução significativa da intensidade da dor (p<0,05) quando se comparou a intensidade da dor antes e ao término do tratamento (Figura 2).

* p= 0,0175.

Fonte: Elaborada pelas autoras, 2019.

Figura 2 Média da intensidade da dor antes e após as aplicações do Stiper ® 

DISCUSSÃO

A presença de dor em regiões do pescoço, ombros e acima das escápulas, onde passam os meridianos selecionados para as aplicações do Stiper®, é compatível com alguns estudos11-13 que apontam esses mesmos segmentos anatômicos como suscetíveis à dor musculoesquelética em CD ainda no período de graduação. Do mesmo modo, apontam a prevalência dos sintomas em mulheres, com faixa etária na mesma média, identificando a presença de dor na coluna cervical e ombros nos últimos 12 meses.

O conhecimento dos acadêmicos acerca da ergonomia, e a consciência de que adotam posturas erradas durante as práticas, não é suficiente para a prevenção das dores, demonstrando que, além disso, há necessidade de pausas ou micropausas regulares entre os atendimentos, bem como a prática de alongamento e atividade física para reforço muscular14. Uma pesquisa que incluiu 155 acadêmicos que foram fotografados durante a realização das atividades clínicas, mostrou alto índice de dor no pescoço, ombros e parte superior das costas e 77,8% de posturas inadequadas. 89,4% dos acadêmicos responderam que precisavam ser mais bem instruídos acerca de postura que respeite os princípios da ergonomia12. Outra pesquisa na qual 6 acadêmicos do último período do curso foram filmados durante a execução das práticas identificou posturas inadequadas de flexão, inclinação e rotação da cabeça e tronco, passíveis de desencadear desordens musculoesqueléticas na coluna cervical15.

A maneira como os materiais exigidos para a prática acadêmica são carregados e o seu peso podem sobrecarregar as estruturas musculoesqueléticas, por isso a importância da existência de armários onde os acadêmicos possam guardar seus materiais, o que foi observado na clínica escola onde a pesquisa foi realizada, pois essa alternativa pode reduzir a incidência da dor16. Além das questões intrínsecas às práticas clínicas, a influência do uso excessivo de dispositivos eletrônicos em geral, seja como forma de lazer ou de pesquisa, acarreta dores cervicais e em membros superiores em virtude dos movimentos repetitivos e postura incorreta16,17.

A presente pesquisa evidenciou a existência de alterações de humor com ansiedade, preocupação, irritabilidade, pensamentos excessivos e um elevado grau de autoexigência, tanto em nível pessoal como acadêmico. A incidência de ansiedade nos acadêmicos da área da saúde é alta18, e a causa não se restringe exclusivamente às exigências dos cursos e pode ter origem em problemas familiares ou sociais. Os estudantes de Odontologia são submetidos a muitas condições de estresse que podem deflagrar a SB precoce, que se manifesta quando iniciam as práticas clínicas6. Embora a SB tenha como característica o esgotamento psicológico e exaustão, que no caso dos estudantes pode levar à desistência do curso19, somam-se sintomas físicos tais como as dores osteomusculares. Enfim, os acadêmicos de Odontologia possuem limitações nas habilidades cognitivas, motoras e sociais que precisam desenvolver para uma prática clínica segura e a acumulação de condições psicológicas desfavoráveis é um fator predisponente ao surgimento de dores osteomusculares, dentre elas a cervicalgia13,16.

A abordagem da Naturologia parte de um olhar multidimensional considerando todos os aspectos da vida da pessoa, ou seja, amplia esse olhar para além do que se apresenta objetivamente e para as práticas integrativas e complementares que se fundamentam em medicinas tradicionais20. Dentre elas a MTC, segundo a qual8,21,22 fatores como o excesso de trabalho físico e mental, o sedentarismo, a má alimentação, o sono inadequado e o estresse emocional afetam diretamente o Qi (energia) e o Xue (sangue), os quais, impedidos de fluir livremente e estagnados na musculatura, causam a dor. Havendo um estímulo que desative os pontos-gatilho, ocorre a liberação desse fluxo, podendo-se evitar que a dor se cronifique21. Esse estímulo deve ser feito em acupontos, mais comumente pela acupuntura, mas além dela, podem ser utilizados outros recursos que promovem a mobilização do Qi e do Xue e liberam os meridianos, proporcionando o alívio da dor22.

Estudos com o Stiper® são incipientes, mas demonstram bons resultados. Uma pesquisa de auriculoterapia com pastilhas de óxido de silício para tratamento de cervicalgia tensional aplicado durante 4 semanas em 18 voluntários de ambos os sexos, com idade média de 27,3 anos, que avaliou a intensidade da dor antes de cada aplicação, mostrou que 85% dos participantes tiveram redução da dor em média de 28,3%23. Uma pesquisa que incluiu 43 pessoas com dor lombar, com idade média de 38,6 anos, nas quais o Stiper® foi aplicado durante 6 semanas em pontos de reflexologia podal, evidenciou 55% de melhora da incapacidade causada pela dor lombar24. Um ensaio clínico que incluiu 30 voluntários com idade média de 44,6 anos divididos em dois grupos, comparou agulhas de acupuntura e Stiper® para o tratamento de lombalgia crônica mecânica durante 8 sessões, evidenciou melhora significativa semelhante em ambos os grupos10.

Existem vários estudos que abordam os distúrbios osteomusculares desde o período de formação acadêmica dos CD, portanto a aplicação do Stiper® é uma alternativa não farmacológica e não invasiva para amenizar esse problema que pode prejudicar a qualidade de vida e mesmo encurtar a carreira do CD. Importante destacar que neste estudo, o Stiper® foi usado isoladamente, sem outra prática terapêutica associada, e como se trata de pesquisa inédita, não existem parâmetros para comparação de resultados. Embora o alívio da cervicalgia inespecífica tenha sido significativo e o número de sujeitos incluídos tenha sido pequeno, atingiu-se o estipulado pelo cálculo amostral. Esse é um fator limitante, motivo pelo qual devem ser realizados novos estudos com maior número de participantes.

CONCLUSÃO

O uso das pastilhas de óxido de silício/Stiper ®, nos pontos de acupuntura Jianjing, Tianliao, Jianyu e Dazhui, durante três semanas consecutivas, com intervalo de sete dias entre as sessões, foi eficaz na redução da cervicalgia referida pelos acadêmicos de Odontologia.

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