versão impressa ISSN 1808-8694versão On-line ISSN 1808-8686
Braz. j. otorhinolaryngol. vol.83 no.4 São Paulo jul./ago. 2017
http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2016.10.009
Vimos por meio desta tecer algumas considerações sobre o artigo intitulado "Impacto do tamanho do enxerto de cartilagem no sucesso da timpanoplastia", de Abdul Hameed et al.1 Nesse estudo os autores avaliaram o impacto de diferentes tamanhos de perfuração nos resultados da timpanoplastia de tipo 1. O trabalho descrito é interessante. No entanto, os critérios de inclusão e os resultados não são muito claros. Nos métodos, os autores não relatam se os pacientes com timpanosclerose foram incluídos no estudo. A timpanosclerose compromete o suprimento sanguíneo e a nutrição do tímpano, causa falência do enxerto após a timpanoplastia tipo 1. Migirov et al.2 acreditavam que o preparo adequado das bordas da perfuração, com a remoção de placas escleróticas, melhorava a taxa de sucesso da timpanoplastia em pacientes com timpanosclerose.
O estudo dividiu 50 pacientes em três grupos. O Grupo I apresentava perfurações de mais de 50% da membrana timpânica (MT); o Grupo II tinha perfurações entre 25-50% da MT; e o Grupo III apresentava perfurações ≤ 25% da MT. Os três grupos continham 16, 20 e 14 pacientes, respectivamente.1 Nos resultados, os autores relatam: "Cinquenta pacientes foram submetidos a timpanoplastia com enxerto de cartilagem; 37 tinham perfuração unilateral, enquanto 13 tinham perfurações bilaterais. A taxa de sucesso anatômico definida como a pega de enxerto após 12 meses de seguimento entre todos os pacientes foi de 92% e quatro pacientes foram submetidos a cirurgia de revisão entre 10 a 12 meses de pós-operatório. Dois deles estavam no primeiro grupo, com um paciente em cada grupo restante, sem diferença estatística entre os três grupos quanto ao percentual de falha".1 Os autores afirmam apenas que 50 pacientes foram submetidos a timpanoplastia com enxerto de cartilagem, mas não explicam detalhadamente quantas perfurações foram tratadas. Se a taxa de sucesso é baseada no número de pacientes, elas foram de 87,5% (14/16) no Grupo I, 95% (19/20) no Grupo II e 92,9% (13/14) no Grupo III. Apesar de não haver diferenças significativas entre os três grupos em termos de porcentagem de falha, a taxa de sucesso no Grupo II foi 10% superior à do Grupo I.
O tamanho da amostra dos três grupos foi muito pequeno; acreditamos que as diferenças entre o Grupo II e os outros grupos teriam sido significativas se os números da amostra fossem maiores. Estudos anteriores sugeriram que o tamanho da perfuração pudesse afetar a taxa de sucesso da timpanoplastia de tipo 1 com o uso de enxerto de cartilagem.3,4 Wu et al.5 compararam os resultados auditivos em curto e longo prazos de pacientes que apresentavam pequenas e grandes perfurações do tímpano e que se submeteram, com sucesso, a timpanoplastia com enxerto de cartilagem. Não foram observadas diferenças entre o fechamento do gap aéreo-ósseo de pequenas perfurações em curto e longo prazos (p = 0,689); entretanto, uma diferença significativa entre o fechamento do gap no curto e longo prazos (p = 0,029) foi evidenciada em pacientes com grandes perfurações. Assim, um número maior de amostras de pacientes com perfurações de diferentes tamanhos e acompanhamento de longo prazo é necessário em estudos futuros.