Compartilhar

Eficacia del soporte ventilatorio no invasivo en el incremento de la tolerancia al ejercicio en pacientes con insuficiencia cardíaca: una revisión sistemática

Eficacia del soporte ventilatorio no invasivo en el incremento de la tolerancia al ejercicio en pacientes con insuficiencia cardíaca: una revisión sistemática

Autores:

Larissa de Andrade Carvalho,
Catarina Rattes,
Daniella Cunha Brandão,
Armèle Dornelas de Andrade

ARTIGO ORIGINAL

Fisioterapia e Pesquisa

versão impressa ISSN 1809-2950

Fisioter. Pesqui. vol.21 no.4 São Paulo out./dez. 2014

http://dx.doi.org/10.590/1809-2950/13058821042014

INTRODUÇÃO

A Insuficiência Cardíaca (IC) é um grande problema mundial e afeta mais de 20 milhões de pessoas¹. No Brasil, esta prevalência é de aproximadamente dois milhões de indivíduos e há uma incidência de 240.000 novos casos diagnosticados anualmente2. Essa complexa síndrome traz diversas implicações tanto para a sociedade, como os altos custos socioeconômicos para o sistema de saúde e as aposentadorias precoces devido à perda de produtividade; quanto para o portador da doença, como os problemas físicos e psicológicos que causam seu isolamento social3.

As alterações provenientes da IC não se restringem ao âmbito cardíaco. Os principais sintomas são a dispneia e a fadiga4, o que pode limitar a tolerância ao exercício. Porém, essa população apresenta um comprometimento associado de musculatura esquelética, devido ao baixo débito cardíaco5. A progressão desses sintomas gera uma diminuição do nível de atividade física, o que contribui para agravar ainda mais os sintomas e a intolerância ao exercício. Desse modo, se reduz progressivamente a capacidade funcional e a qualidade de vida dessa população, o que acarreta uma condição clínica frequente, de alto custo e geralmente incapacitante6. Além do mais, essa enfermidade cardíaca está associada à frequente hospitalização e re-hospitalização, comprometimento funcional evoluindo com morbidades significante devido à baixa capacidade física e alta mortalidade7 , 8.

A ventilação não invasiva (VNI) surge como terapêutica coadjuvante na tentativa de melhorar a capacidade funcional dos pacientes. A utilização da VNI tem sido uma alternativa para reduzir o trabalho respiratório, aumentar a oxigenação arterial e complacência pulmonar a fim de proporcionar uma melhora da tolerância durante o exercício físico devido a sua sensível atuação na interação cardiorrespiratória, proporcionando uma melhor resposta cardíaca e respiratória durante o exercício8 - 11.

Desta forma, a presente revisão tem por objetivo avaliar a eficácia da VNI, com pressão contínua ou com dois níveis de pressão na tolerância ao exercício em pacientes adultos de ambos os sexos com IC.

METODOLOGIA

Foi realizada uma revisão sistemática, constituída por estudos previamente selecionados seguindo os critérios de inclusão: ensaios clínicos controlados randomizados e quasi-randomizados que utilizassem a VNI, com pressão contínua ou com dois níveis de pressão na avaliação da capacidade funcional, comparando-os a um grupo controle sem intervenção, a outras modalidades fisioterapêuticas ou a um grupo sham, em pacientes adultos de ambos os sexos com insuficiência cardíaca. Foi considerado critério de exclusão estudos realizados em períodos de agudização da doença.

Considerou-se como desfecho primário a capacidade de exercício (Consumo de oxigênio; distância) avaliada através de teste de esforço máximo ou sub-máximo e nível de dispneia - avaliada através de escalas subjetivas. Como desfechos secundários. foram consideradas a saturação periférica de oxigênio (SpO2), pressão arterial (PA) e frequência cardíaca (FC).

Realizou-se uma busca sistemática por artigos publicados em revistas indexadas nas bases de dados PubMed/MEDLINE, LILACS, Cochrane, SciELO, CINAHL, Scopus e Web of science. A estratégia de busca utilizada baseou-se nas normas do Cochrane Handbook for Sistematic Reviews of Interventions 12 . Os descritores utilizados para a busca seguiram a descrição dos termos MeSH/DeCS, sendo eles: 'heart failure', 'noninvasive ventilation', 'positive- pressure respiration', 'interactive ventilatory support', 'exercise test'. Além desses, foram utilizados as seguintes palavras-chave: 'BIPAP', 'CPAP', 'IPAP', 'EPAP, 'NIV'. Também realizou-se uma busca com as mesmas palavras em língua portuguesa. Os termos foram combinados utilizando-se os operadores booleanos 'OR', 'AND' e 'NOT AND'. Não houve restrição linguística e de ano de publicação. A busca foi realizada entre abril e maio de 2013.

Na fase inicial, os títulos e os resumos foram identificados e avaliados independentemente por dois revisores (LAC e CRL) na tela do computador, para selecionar aqueles que atendessem aos critérios de elegibilidade. Os estudos potencialmente relevantes, que geraram dú vidas, foram retidos para uma análise posterior do texto na íntegra. Em casos de discordância no processo de seleção e na análise dos artigos, um terceiro avaliador (DCB) participou da avaliação.

A extração de dados dos estudos selecionados foi realizada por dois avaliadores independentes. Os dados extraídos foram: critérios de elegibilidade, a população do estudo, o fluxo dos participantes, detalhes da intervenção, medidas dos desfechos, resultados e o risco de viés.

Os estudos que cumpriram os critérios e inclusão foram avaliados, por dois avaliadores independentes, quanto à qualidade metodológica com a escala PEDro, baseada na lista Delphi. A escala PEDro foi desenvolvida para ser empregada em ensaios clínicos e, atualmente, é considerada uma das mais utilizadas na área da fisioterapia13 , 14. A escala PEDro permite uma pontuação total de dez pontos. Para cada critério apresentado na escala, poderá ser atribuída uma pontuação de um ou zero ponto.

Ao final da coleta de dados, foi verificada a possibilidade da elaboração de uma metanálise. Todavia, esta não foi possível devido à heterogeneidade dos estudos incluídos e a falta de dados.

RESULTADOS

A estratégia de busca utilizada foi ampla e resultou em 1.359 títulos. Destes, 1.300 foram excluídos pelo título por não apresentarem os critérios de inclusão. Dos 59 estudos restantes, 12 foram descartados por duplicidade, 19 foram afastados por fuga ao tema ou desenho de estudo inadequado. Foram selecionados 28 estudos, os quais foram avaliados através da análise do resumo, sendo 18 excluídos por não apresentarem os critérios de inclusão. Os dez artigos retidos tiveram seus textos lidos na íntegra, dos quais seis não apresentaram os critérios de elegibilidade, conforme descrito na Figura 1.

Figura 1. Busca e seleção dos estudos para a revisão sistemática de acordo com o Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses 

Assim, quatro estudos foram incluídos para síntese qualitativa8 - 11. Os estudos incluíram 58 adultos com diagnóstico de insuficiência cardíaca, sendo 18 mulheres e 40 homens, cuja média de idade variou de 33 a 68 anos. Esses estudos foram provenientes do Brasil8 , 9 , 11 e do Canadá10 e a população foi composta por indivíduos com IC de diversas etiologias. No entanto, dois dos estudos analisados10 , 11 incluíram apenas a forma congestiva da doença. O estadiamento divergiu entre os estudos, três deles8 , 9 , 11 incluíram pacientes classe funcional II e III e apenas um trabalho10 incluiu indivíduos classe funcional de II-IV; no entanto, sempre utilizando a classificação de acordo com a New York Heart Association (Tabela 1).

Tabela 1. Características dos estudos incluídos 

Autor, País População Idade (média) Diagnóstico Critérios utilizados para estadiamento Protocolo de intervenção
Chermont et al.8
Brasil
G:
4 mulheres e
8 homens.
G: 56±12 IC (isquêmica 6 e idiopática 6)
FEVE<45%
NYHA
II/III: 4/8
Tipo de terapia: VNI – CPAP 4-6 cmH2O (pressão individualizada), através de máscara nasal em posição deitada 45°, antes do TC6´.
Placebo – realização de suporte ventilatório 0-1 cmH2O em posição deitada 45°, antes do TC6´.
Frequência: uma vez em cada situação experimental, em dias distintos (não relata o período de intervalo).
Duração: VNI e Placebo 30 minutos.
Teste de capacidade funcional: TC6´.
Instrumento: CPAP (Traquility, Healthdyne Technologies, Marietta, GA).
Lima et al.9
Brasil
VNI:
2 mulheres e
4 homens;
Controle:
1 mulher e
5 homens;
VNI:
47,5±9,1
Controle: 45,1±12,1
IC (Hipertensiva 5, isquêmica 5, outras 2)
FEVE<45%
NYHA
II/III: 2/10
Tipo de terapia: VNI – realização de CPAP (10 cmH2O) antes do TC6´ Controle – sem realização de suporte ventilatório.
Frequência: uma vez.
Duração: VNI 30 minutos.
Teste de capacidade funcional: TC6´.
Instrumento: CPAP (sem especificação)
O´Donnell et al.10
Canadá
G: 1 mulher e
11 homens.
G: 61±4 ICC (isquêmica
e idiopática)
NYHA II-IV Tipo de terapia: VNI 1 – CPAP (4,8±0,2 cmH2O) durante o teste de carga constante em Cicloergômetro; 
VNI 2 – PS (4,8±0,2 cmH2O) durante o teste de carga constante em Cicloergômetro;
Placebo (CPAP 1 cmH2O) durante  o teste de carga constante em Cicloergômetro (75% do trabalho máximo).
Frequência: uma vez em cada situação experimental, com intervalo de 1 hora entre elas.
Duração: CPAP/PS/Placebo durante o teste de Exercício em Cicloergômetro.
Teste de capacidade funcional: o teste de carga constante em Cicloergômetro.
Instrumento: Ventilador Respironics (Respironics, Murrysville, PA)
Wittmer et al.11
Brasil
VNI:
6 mulheres
e 6 homens;
Controle:
4 mulheres e
6 homens.
VNI:
59,8±3,7
Controle: 52,7±11,4
ICC (idiopática 13, alcólica 1, após febre reumática 8) NYHA II e III Tipo de terapia: VNI – realização de CPAP (8 cmH2O, caminhada de 100 metros por dia, exercícios respiratórios;
Controle – caminhada de 100 metros por dia, exercícios respiratórios.
Frequência: VNI e Controle – 14 sessões.
Duração: VNI 30 minutos de CPAP.
Teste de capacidade funcional: TC6´
Intrumento: CPAP (sem especificações)

IC: insuficiência cardíaca; FEVE: fração de ejeção de ventrículo esquerdo; NYHA: new york heart association; TC6´: teste de caminhada de seis minutos; VNI: ventilação não invasivo; CPAP: pressão positiva contínua; G: grupo; ICC: insuficiência cardíaca congestiva; PS: pressão de suporte

Três estudos8 , 9 , 11 avaliaram o efeito da VNI com pressão contínua na tolerância ao exercício através do teste de caminhada de seis minutos, que é um teste submáximo de esforço. Apenas um dos estudos10avaliou e comparou o efeito da VNI com dois níveis de pressão e com pressão contínua na tolerância ao exercício, tendo este utilizado o teste submáximo de carga constante em cicloergômetro para avaliar a capacidade funcional. Houve variação também em relação ao grupo controle: em dois estudos8 , 9 os indivíduos não realizavam qualquer forma de VNI. No entanto, nos outros dois estudos10 , 11, os sujeitos realizaram a VNI na forma de placebo, com baixos níveis pressóricos.

Quanto ao controle da seleção dos pacientes, todos os estudos referiram realizar a randomização8 - 11. No entanto, apenas um dos trabalhos incluídos9 especificou o método utilizado: sorteio em envelope opaco e lacrado. Já em relação ao sigilo de alocação, um estudo9 informou que o envelope utilizado para manter o sigilo era opaco. Contudo, nenhum dos estudos analisados8 - 11 especificou se a alocação foi realizada por uma pessoa independente.

Em um artigo11 houve descrição seletiva do desfecho, além do mesmo expressar seus resultados apenas em percentagem de ganho (valor após o tratamento - valor antes do tratamento/valor antes do tratamento x 100), analisou seus resultados comparando o mesmo grupo antes e após a intervenção. Apenas um artigo11 fez referência a perda amostral e nenhum deles realizou análise por intenção de tratar. Todos os artigos8 - 11 realizaram o mascaramento dos participantes. No entanto, apenas dois realizaram o mascaramento do avaliador8 , 11. A pontuação dos estudos, de acordo com a escala PEDro está apresentada na Tabela 2.

Tabela 2. Avaliação dos desfechos 

Autor, País Forma de avaliação dos desfechos Capacidade Funcional (instrumento) Dispneia (instrumento)
Chermont et al.8
Brasil
Após a fase intervenção e a fase placebo (análise intergrupo) Distância (TC6´)
VNI: 507±33 metros
Placebo: 446±36 metros
p≤0,001
Não avaliado
Lima et al.9
Brasil
Antes e após para o grupo intervenção e para o grupo controle (análise intra e intergrupo) Distância (TC6´)
VNI: 534±89,91 metros
Controle: 420,6±73,8 metros
p≤0,03
Borg
VNI: 11±0,8
Controle: 13,1±1,16
p≤0,009
O´Donnell et al.10
Canadá
Após as fases de intervenção e a fase placebo (análise intergrupo) VO2 (Teste de carga constante em Cicloergômetro; Ergometrics 800S; SensorMedics)
PS: 1,47±0,14 min N/S
CPAP: 1,46±0,14 L/min NS
Controle: 1,5±0,14 L/min
Borg
PS: 5,5±0,5 NS
CPAP: 5,1±0,5 NS
Controle: 5,2±0,5
Wittmer et al.11
Brasil
Nos dias 0, 4°, 9° e 14° para o grupo intervenção e para o grupo controle (análise intragrupo) Distância (TC6´)
VNI pré: 344±25 metros
VNI pós: aumento de 28% p≤0,05
Controle pré: 341±16 metros
Contole pós: não informado p≤NS
Não avaliado
Autor, País Forma de avaliação dos desfechos Frequência cardíaca (instrumento) Pressão Arterial Sistólica
Pressão Arterial Diastólica
(instrumento)
Saturação Periférica de Oxigênio (instrumento)
Chermont et al.8
Brasil
Após a fase intervenção e a fase placebo. (análise intergrupo) VNI: 99±4 bpm
Placebo: 91±4 bpm
p≤0,03
Instrumento não especificado
VNI: 129±6 mmHg
Placebo: 136±8 mmHg
p≤0,220
VNI: 60±5 mmHg
Placebo: 58±5 mmHg
p≤0,312
Instrumento não especificado
Não avaliado
Lima et al.9
Brasil
Antes e após  para o grupo intervenção e para o grupo controle (análise intra e intergrupo) VNI: 99,6±13 bpm
Controle: 117,8±19,3 bpm
p≤0,086
Instrumento não especificado
VNI: 140±12,6 mmHg
Controle: 150±8,9 mmHg
p≤0,145
VNI: 101,6±13,2 mmHg
Controle: 105±5,4 mmHg
p≤0,583
Instrumento não especificado
VNI: 96,1±1,8%
Controle: 93,6±1,5%
p≤0,02
Instrumento não especificado
O´Donnell et al.10
Canad
Após as fases de intervenção e a fase placebo. (análise intergrupo) PS: 119±7 bpm NS
CPAP: 122±8 bpm NS
Controle: 121±7 bpm
Monitor eletrocardiográfico (Cardiovit CS-6/12Z; Schiller, Baar, Switzerland).
Não avaliado PS: 97,6±0,3% NS
CPAP: 97,5±0,2% NS
Controle: 97,6±0,3%
Oxímetro de pulso (503 pulse oximeter; Criticare Systems, Wakesha, WI)
Wittmer et al.11
Brasil
No dia 0°, 4°, 9° e 14° para o grupo intervenção e para o grupo controle. (análise intragrupo) Não avaliado Não avaliado Não avaliado

VNI: ventilação não invasiva; ; TC6´: teste de caminhada de seis minutos; PS: pressão de suporte; CPAP: pressão positiva contínua; VNI pré: valor basal do grupo ventilação não invasiva; VNI pós: valor pós-teste do grupo ventilação não invasiva; Controle pré: valor basal do grupo controle; Controle pós: valor pós-teste do grupo controle; VO2: consumo de oxigênio. VNI: ventilação não invasiva; PS: pressão de suporte; CPAP: pressão positiva contínua

Com relação à avaliação dos desfechos, excetuando-se um trabalho11, no qual os resultados não estão claramente expostos, a capacidade funcional foi avaliada de forma reprodutível em três estudos8 - 10. Referente ao desfecho dispneia, apenas dois estudos se propuseram a analisar o dado9 , 10, e ambos utilizaram a escala de Borg Dispneia. Em um dos artigos8, houve a coleta do dado, através da escala de Borg dispneia, a cada dois minutos durante o TC6´, porém este dado não foi apresentado. Com relação aos desfechos secundários, dois estudos9 , 10 avaliaram o desfecho saturação de oxigênio; e três estudos8 - 10 avaliaram a pressão arterial (PA) e frequência cardíaca (FC) (Tabela 2).

Ao se observar os protocolos de intervenção em cada estudo, nota-se grande heterogeneidade. Em três estudos8 - 10 foram realizadas uma única sessão de VNI, dois estudos8 , 9 realizaram imediatamente antes do teste de capacidade funcional (TCF), tendo o estudo restante10 realizado a VNI durante o TCF. O outro artigo incluído11 realizou 14 sessões de VNI, sendo realizada a avaliação da capacidade funcional nos dias zero, 4°, 9° e 14°.

Os estudos divergiram não somente em relação ao número de sessões, mas também em relação à pressão utilizada. Enquanto dois estudos9 , 11 fixaram a pressão contínua (CPAP) em 10 e 8 cmH2O, respectivamente, os outros dois8 , 10 realizaram uma titulação da pressão. Um estudo8 titulou baseado na satisfação do indivíduo a partir de uma avaliação prévia, adotando um CPAP de 3 a 6 cmH2O. E o outro estudo incluído10 titulou a pressão baseado nos benefícios encontrados também a partir de uma avaliação prévia, tendo adotado o valor semelhante para a fase de pressão contínua e para a fase com dois níveis de pressão, a média das pressões adotadas foi de 4,8 cmH2O. Em três artigos8 , 10 , 11, os grupos de intervenção foram descritos detalhadamente, incluindo informações importantes como posicionamento durante a administração da VNI e interface utilizada. Os grupos de intervenção e seus respectivos protocolos, os desfechos e os métodos aplicados pelos autores para mensuração e os resultados da intervenção estão expostos na Tabela 1. Dois estudos tiveram seu desenho do tipo crossover, um deles8não faz referência em relação ao período de washout entre a fase experimental e placebo. Já o outro10 optou em realizar os três testes submáximos de esforço - dois experimentais e um placebo - no mesmo dia, com período de repouso de uma hora entre eles.

O cálculo amostral foi feito em apenas um estudo8, o qual utilizou dados da literatura para realizá-lo. Nenhum dos artigos define a diferença clinicamente importante na avaliação da capacidade funcional ou dispneia. Ademais, entre os artigos analisados, nenhum apresentou conflito de interesse.

DISCUSSÃO

Devido à heterogeneidade metodológica dos ensaios clínicos8 - 11 quanto aos protocolos empregados, assim como a não exposição clara dos resultados, não ficou evidente a eficácia da VNI no incremento da tolerância ao exercício em indivíduos com IC. Além disso, todos os estudos analisaram seus desfechos baseados apenas na significância estatística, não sendo possível calcular a magnitude do efeito do tratamento. Os aspectos metodológicos dos artigos incluídos merecem considerações.

Alguns artifícios metodológicos são utilizados a fim de reduzir o risco de viés. A melhor maneira de minimizar o viés de seleção, certificando o efeito do tratamento, é a realização adequada do processo de randomização e sigilo de alocação. Foi observado que um tratamento pode ser superestimado em até 40% quando estes itens não são realizados de forma adequada15 , 16. Além disso, a alocação aleatória dos participantes de um estudo serve para equilibrar as características dos grupos, evitando fatores de confusão16. Quanto ao controle de seleção dos participantes, observou-se que todos os estudos incluídos8 - 11 referiram realizar o processo de randomização. No entanto, apenas um dos artigos9 descreveu o processo adotado, apesar do mesmo não ser um método adequado. Já em relação ao sigilo de alocação, um estudo9 informou que o envelope utilizado para manter o sigilo era opaco; contudo, nenhum dos estudos analisados especificou se a alocação foi realizada por uma pessoa independente. Ao saber da importância desses aspectos metodológicos, uma vez que estes evitam a superestimação do efeito do tratamento, é possível que resultados diferentes possam ser evidenciados em estudos que realizem a randomização e o sigilo de alocação de forma correta, apontando uma menor eficácia da técnica.

Ainda para tentar minimizar o viés de seleção pelos estudos, foram estabelecidos critérios de inclusão bem delimitados a fim de homogeneizar a amostra estudada. No entanto, um dos estudos11 evidenciou diferença entre os valores basais de fração de ejeção (FE) para os grupos estudados, sendo a FE mais alta para o grupo intervenção quando comparado ao grupo controle. A FE é uma importante variável capaz de interferir no aporte sanguíneo e consequentemente na capacidade funcional dos indivíduos avaliados17.

O mascaramento dos participantes, apesar de não ser possível de realizar em todas as situações, é tão necessário quanto a randomização ou o sigilo de alocação, uma vez que diminui a probabilidade de que as expectativas dos próprios investigados interfiram no real benefício do tratamento18. Todos os estudos incluídos nesta revisão realizaram o mascaramento dos participantes8 - 11. O mascaramento dos examinadores e dos avaliadores dos desfechos, possíveis de serem realizados em todos os estudos analisados, apenas foi realizado em dois trabalhos.8 , 11. Esse item é necessário, uma vez que previne o viés de execução e mensuração.

Apenas um ensaio clínico8 realizou o cálculo amostral, sendo este baseado em dados da literatura. A realização do cálculo amostral é importante para inferências e extrapolações dos resultados encontrados para a população em geral. Apenas um dos artigos incluídos9 foi classificado como estudo piloto no título. Sugere-se, portanto, a necessidade de mais ensaios clínicos controlados e randomizados com a realização do cálculo amostral para garantir um poder suficiente, assim como uma maior validade externa dos resultados encontrados.

Outro item importante para minimizar a superestimação dos resultados é a análise por intenção de tratar, a qual compara os pacientes no grupo onde foram primariamente alocados, independente de perda amostral19. A aplicação desta análise só é possível quando existem dados completos em relação a todos os indivíduos aleatorizados. Apenas um estudo11 relata a perda de paciente. No entanto, o fluxograma de captação e perda de pacientes não foi exposto em nenhum dos trabalhos analisados. A ausência de claridade na exposição da captação e perda de indivíduos e nos resultados referentes a cada desfecho leva a um risco de viés. A ausência de dados é um viés relevante na estimativa do efeito20, o que configura a descrição seletiva do desfecho. A qual ocorre devido ao fato de estudos com resultados positivos serem mais facilmente publicados. Por isso, é necessário claridade e objetividade na exposição dos resultados sobre os desfechos, na condução do voluntário durante a pesquisa, assim como o tratamento adequado dos dados, realizando o mesmo entre os grupos após a intervenção e não antes e após no mesmo grupo.

Ao avaliar qualitativamente os resultados apresentados, observamos uma fragilidade na validade interna dos estudos, uma vez que muitas estratégias empregadas, as quais poderiam ser utilizadas para minimizar os riscos de viés, não o foram de forma correta. A tomada de decisão é fundamentada no atual conceito da prática baseada em evidência, o qual requer a escolha de melhores níveis de evidência junto à experiência clínica do profissional e a escolha do paciente20. Nesse sentido, estudos com maior rigor metodológico precisam ser realizados a fim de melhor fundamentar a utilização da VNI como terapia coadjuvante junto ao exercício físico em indivíduos com IC.

CONCLUSÃO

A presente revisão sistemática foi inconclusiva quanto a eficácia da VNI no incremento da tolerância ao exercício em indivíduos com IC. A partir dos estudos avaliados, concluiu-se que há uma baixa qualidade metodológica devido ao alto risco de viés nos estudos disponíveis sobre o presente tema, não sendo possível fazer recomendação da VNI nesse contexto. Recomenda-se, portanto, a realização de ensaios clínicos randomizados e controlados seguindo um maior rigor metodológico, com poder amostral adequado, que controlem sigilo de alocação e mascaramento do avaliador. É preciso também mais claridade em relação à exposição dos dados a fim de viabilizar a realização da análise do tamanho do efeito do tratamento para os desfechos críticos e importantes.

REFERÊNCIAS

1. Hunt SA, Abraham WT, Chin MH, Feldman AM, Francis GS, Ganiats TG, et al. 2009 focused update incorporated into the ACC/AHA 2005 guidelines for the diagnosis and management of heart failure in adults: a report of the American College of Cardiology Foundation/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines developed in collaboration with the International Society for Heart and Lung Transplantation. J Am Coll Cardiol. 2009;53(15):e1-e90. [Erratum, J Am Coll Cardiol. 2009;54:2464.]
2. Bocchi EA, Marcondes-Braga FG, Bacal F, Ferraz AS, Albuquerque D, Rodrigues D, et al. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Atualização da diretriz brasileira de insuficiência cardíaca crônica - 2012. Arq Bras Cardiol. 2012;98(1 Suppl 1):1-33.
3. Barretto ACP, Del Carlo CH, Cardoso JN, Morgado PC, Munhoz RT, Eid MO, et al. Re-hospitalizações e morte por insuficiência cardíaca. Arq Bras Cardiol. 2008;91(5):335-41.
4. Brandão DC, Lage LM, Britto RR, Parreira VF, De Oliveira WAJR, Martins SM, et al. Chest wall regional volume in heart failure patients during inspiratory loaded breathing. Respir Physiol Neurobiol. 2012;180(2-3):269-74.
5. Barreto ACP, Ramires JAF. Insuficiência cardíaca. Arq Bras Cardiol. 1998;71(4):635-42.
6. Howlett JG. Current treatment options for early management in acute decompensated heart failure. Can J Cardiol. 2008;24:9B-14B.
7. Kawaguchi T, Hayashi H, Miyamoto A, Yoshino T, Taniguchi A, Naiki N, et al. Prognostic implications of progressive cardiac conduction disease. Circ J. 2013;77(1):60-7.
8. Chermont S, Quintão MM, Mesquita ET, Rocha NN, Nóbrega AC. Noninvasive ventilation with continuous positive airway pressure acutely improves 6-minute walk distance in chronic heart failure. J Cardiopulm Rehabil Prev. 2009;29(1):44-8.
9. Lima ES, Cruz CG, Santos FC, Gomes-Neto M, Bittencourt HS, Reis FJ, et al. Effect of ventilatory support on functional capacity in patients with heart failure: a pilot study. Arq Bras Cardiol. 2011;96(3):227-32.
10. O'Donnell DE, D'Arsigny C, Raj S, Abdollah H, Webb KA. Ventilatory assistance improves exercise endurance in stable congestive heart failure. Am J Respir Crit Care Med. 1999;160(6):1804-11.
11. Wittmer VL, Simoes GM, Sogame LC, Vasquez EC. Effects of continuous positive airway pressure on pulmonary function and exercise tolerance in patients with congestive heart failure. Chest. 2006;130(1):157-63.
12. Higgins J, Green S. Cochrane handbook for systematic reviews of interventions version 5.1.0 [updated March 2011]. The Cochrane Collaboration (2011). [citado 20 out. 2014] Disponível em: .
13. Sampaio RF, Mancini MC. Estudos de revisão sistemática: um guia para a síntese criteriosa da evidência científica. Rev Bras Fisioter. 2007;11(1):83-9.
14. The Centre of evidence-based physiotherapy. PEDro: physiotherapy evidence database [homepage na Internet]. [citado 20 out. 2014]. Disponível em:
15. Altman DG, Schulz KF. Statistics notes: concealing treatment allocation in randomised trials. BMJ. 2001;323(7310):446-7.
16. Altman DG, Bland JM. Statistics notes. Treatment allocation in controlled trials: why randomise? Br Med J. 1999;318:1209.
17. Mady C, Salemi VM, Ianni BM, Ramires FJ, Arteaga E. [Maximal functional capacity, ejection fraction, and functional class in chagas cardiomyopathy. are these indices related? ] [Article in Portuguese] Arq Bras Cardiol. 2005;84(2):152-5.
18. Schulz KF. Unbiased research and the human spirit: the challenges of randomized controlled trials. CMAJ. 1995;153(6):783-6.
19. Soares I, Carneiro AV. A análise de intenção de tratar em ensaios clínicos: princípios e importância prática. Rev Port Cardiol. 2002;21:1191-8.
20. Borry P, Schotsmans P, Dierickx K. Evidence-based medicine and its role in ethical decision-making. J Eval Clin Pract. 2006;12(3):306-11.