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Einstein São Paulo: suas métricas e algumas questões relacionadas

Einstein São Paulo: suas métricas e algumas questões relacionadas

Autores:

Jacyr Pasternak,
Sidney Glina

ARTIGO ORIGINAL

Einstein (São Paulo)

versão impressa ISSN 1679-4508versão On-line ISSN 2317-6385

Einstein (São Paulo) vol.14 no.4 São Paulo out./dez. 2016

http://dx.doi.org/10.1590/s1679-45082016ed3922

O fator de impacto (FI) é a principal ferramenta para avaliar uma revista hoje em dia. Quando se sugere uma publicação para submissão de um manuscrito, a primeira pergunta é: “Qual é o fator de impacto”?. Em todo o mundo, os pesquisadores são estimulados a publicar artigos em periódicos com FI alto. Trata-se de uma situação perversa, pois revistas como Science ou Nature têm uma taxa de rejeição de mais de 95% e, portanto, só aceitam os manuscritos muito importantes, que serão bastante citados, contribuindo para aumentar seu FI. As revistas sem FI, ou com FI baixo, têm muito mais dificuldade para obtê-lo ou aumentá-lo.

O FI foi concebido por Garfield em 1955, quando publicou um artigo na Science sugerindo como ele deveria ser calculado. Sua ideia foi discutida e, em 1964, foi desenvolvido e publicado o Science Citation Index.(1) Este índice foi comprado pela Thomson Reuters, que o publica atualmente como o Journal Citation Report. O modo de calcular a métrica é simples: todas as citações de todos os artigos publicados nos últimos 2 anos, e as que serão publicadas no ano seguinte, em periódicos que fazem parte da Web of Science, são contadas e divididas por todos os artigos publicados naquela revista científica durante os 2 anos. Esse é o FI da revista. Entretanto, não é fácil obter um FI; não importa se o periódico está indexado no PubMed, ou se tem publicado textos revisados por pares, dentro do cronograma, durante anos. O periódico precisa ser avaliado pelos revisores da Thomson Reuters, que precisam concordar que a revista merece fazer parte da sua coleção. No entanto, os critérios usados nem sempre são claros.

Alguns pontos devem ficar claros antes de analisar o FI. Ele não pode ser usado para comparar disciplinas ou especialidades, já que algumas publicam mais do que outras. O FI é uma medida da qualidade da revista científica, não da de seus artigos. Efetivamente, um manuscrito muito ruim pode dar origem a muitas citações, dizendo quão ruim ele é.(2) Os artigos de revisão, que geralmente não contêm pesquisa original, são muito mais citados do que outros tipos de manuscritos. O número de citações pode ser manipulado: já em 1977, um editor da Leukemia sugeriu aos autores que gostaria de ter citações dos artigos de sua revista…(3) Um truque mais sutil ocorreu no Brasil, quando quatro revistas decidiram melhorar seus números de citações, citando umas às outras…(4)

O FI não deve ser usado para analisar produtividade científica, nem remuneração de cientistas, como ocorre em alguns países. Tampouco deve ser usado para tomar decisões sobre bolsas, contratos, ou para classificar programas de pós-graduação. Os FI avaliados pela Thomson Reuters se espelham somente em artigos publicados em inglês e em algumas áreas de pesquisa. As investigações sobre doenças tropicais negligenciadas, por exemplo, só aparecem quando as enfermidades atingem locais mais civilizados, como o Zika vírus chegando na Flórida.(5) Mais uma vez, o FI é uma medida do periódico, e não do mérito científico do artigo ou de seus autores.

Existem outros índices que medem citações, além deste da Thomson Reuters, como o índice Scimago. As agências brasileiras, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) usam o FI para classificar programas de pós-graduação. O resultado perverso é que os autores e pós-graduandos brasileiros tentam publicar em periódicos com FI maior do que 1. E poucas revistas científicas brasileiras satisfazem este critério. A comunidade científica brasileira tentou desenvolver boas revistas, com regras claras para revisão por pares, para melhorar a qualidade da pesquisa no país. Isso tem sido mais evidente em periódicos das áreas biológica e médica. O problema é que, com as regras da CAPES e do CNPq, artigos excelentes são submetidos a periódicos internacionais, em vez dos nacionais.

Concordamos que publicar em inglês é essencial: os artigos publicados em português são condenados ao desconhecimento pela comunidade científica internacional. A revista einstein (São Paulo) é um dos poucos periódicos brasileiros que traduz gratuitamente todos os artigos aceitos para publicação submetidos em português. Fazemos revisão por pares, de forma justa e em um tempo razoável; e este poderia ser um tópico para outro editorial. Fazemos o possível para ter os melhores artigos, mas, evidentemente, só conseguem ser tão bons quanto o universo de que fazem parte. Temos certeza de que artigos excelentes são enviados a revistas internacionais e, quando rejeitados, submetidos a nós. Na verdade, alguns não são bons o suficiente e também os rejeitamos. Nossos padrões não diferem daqueles de outros periódicos − brasileiros ou internacionais.

Atualmente a einstein (São Paulo) usa o Scimago e está entre os periódicos emergentes registrados na Web of Science: se formos citados o suficiente nos próximos 2 anos, obteremos um FI oficial da Thomson Reuters. Gostaríamos de assinalar que o FI é só um dos elementos que fazem a reputação de uma revista científica; certamente não é o único e não deve ser considerado o melhor.

REFERÊNCIAS

1. Garfield E. The history and meaning of the impact factor. JAMA. 2006; 295(1):90-3.
2. Warraich HJ. Impact factor and future of medical journals. The Atlantic [Internet]. 2014 [cited 2016 Nov 8]. Available from:
3. Sevinca A. Manipulation impact factor: an unethical issue or an Editors choice? Swiss Med Wkly. 2004;134(27-28):410.
4. Shema H. Understanding the journal impact factor part one. Scientific American [Internet]. 2012 [cited 2016 Nov 8]. Available from:
5. Coura JR, Willcox Lde C. Impact factor, scientific production and quality of Brazilian medical journals. Mem Inst Oswaldo Cruz. 2003;98(3):293-7.