versão impressa ISSN 0021-7557versão On-line ISSN 1678-4782
J. Pediatr. (Rio J.) vol.90 no.2 Porto Alegre mar./abr. 2014
http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2013.07.003
A emergente epidemia global de obesidade é um grave problema de saúde individual e pública. Isso é principalmente preocupante com relação à faixa etária pediátrica. A obesidade está relacionada a um baixo grau de inflamação crônica, o que contribui para disfunção metabólica sistêmica associada a doenças ligadas à obesidade, como a síndrome metabólica.1
O aumento da expressão e produção de citocinas e reagentes de fase aguda como proteína C-reativa (PCR), interleucinas (ILs), fator de necrose tumoral (FNT) α ou lipopolissacarídeos (LPS) resulta no baixo grau de inflamação entre pessoas obesas.2 , 3
Alguns estudos propuseram que a microbiota intestinal pode participar no metabolismo do corpo todo, afetando o equilíbrio de energia, o metabolismo da glicose e o baixo grau de inflamação associado à obesidade e relacionado a doenças metabólicas.4
Está documentado que a microbiota intestinal é diferente entre pessoas obesas e magras.5 , 6 O LPS da microbiota intestinal é conhecido como um fator envolvido no aparecimento e progressão de doenças inflamatórias e metabólicas.7 O LPS é um componente das paredes celulares de bactérias gram-negativas, que estão entre os indutores de inflamação mais potentes e bem estudados.4 Ademais, qualquer alteração na microbiota intestinal pode levar a uma alteração na produção de endotoxinas e, por sua vez, alteração nos níveis de LPS.7 , 8
Apesar de o epitélio intestinal agir como uma barreira contínua para evitar a translocação de LPS, alguns eventos poderiam danificar essa barreira. Por exemplo, um estudo mostrou que a modulação das bactérias intestinais, ao seguir uma dieta rica em gordura, aumentou fortemente a permeabilidade intestinal, reduzindo a expressão da codificação de genes.9
Portanto, pode-se assumir que regular a microbiota intestinal pode ser uma estratégia adequada para controlar a obesidade e as doenças relacionadas a ela. Assim sendo, supomos que a suplementação com simbióticos, que modulam a microbiota intestinal e sua produção, pode ser eficaz na mudança de marcadores de inflamação em indivíduos com excesso de peso. Este estudo visa investigar o efeito da suplementação simbiótica sobre fatores inflamatórios em crianças e adolescentes com sobrepeso e obesa.
Publicamos anteriormente os métodos detalhados deste estudo,10 e apresentamos aqui os achados sobre marcadores de inflamação, que não foram relatados antes. Foi realizado, de setembro a novembro de 2011, na Isfahan University of Medical Sciences (IUMS), Isfahan, Irã, um ensaio clínico controlado randomizado triplo-cego, ou seja, os pesquisadores, os participantes e os estatísticos desconheciam que grupos em estudo recebiam o tratamento.
O protocolo do ensaio estava de acordo com a Declaração de Helsinque e foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da IUMS. O ensaio está registrado sob o código de registro como Ensaio: IRCT201103081434N4, no registro nacional de ensaios clínicos, que é membro da Organização Mundial de Saúde.
Após fornecer informações detalhadas, obtivemos consentimento informado por escrito de pais e consentimento verbal dos participantes.
Participaram do estudo 70 crianças e adolescentes com aparência saudável, com idade entre seis e 18 anos, com um índice de massa corporal (IMC) igual ou superior ao 85º percentil específico para a idade e o sexo, segundo os percentis revistos do Centro de Controle e Prevenção de Doenças,11 que estão de acordo com os percentis de crianças e adolescentes iranianos.12 Eles foram selecionados por amostragem aleatória entre crianças que foram encaminhadas à Clínica de Obesidade Pediátrica e Síndrome Metabólica, Centro de Crescimento Infantil e Pesquisa de Desenvolvimento, IUMS. Os participantes foram randomizados em grupos simbióticos (n = 35) ou placebo (n = 35) através de números aleatórios. Crianças com obesidade sindrômica, doenças endócrinas, qualquer incapacidade física, histórico de uso de medicação crônica, uso de suplementos minerais e/ou vitamínicos, histórico de quaisquer doenças crônicas e/ou uso de medicação crônica ou sob dietas especiais não foram incluídas no estudo. A duração do ensaio foi de oito semanas, e ambos os grupos receberam aconselhamento semelhante para alteração de estilo de vida em termos de hábitos alimentares e de atividade física.
A idade e data de nascimento dos participantes foram registradas. Todas as medições antropométricas foram feitas pela mesma pessoa treinada e sob supervisão do mesmo pediatra. O exame físico foi conduzido segundo protocolos-padrão, utilizando instrumentos calibrados no início e no fim do ensaio.
A massa corporal foi aferida (balança de chão digital; Seca, Hamburgo, Alemanha) com 100 gr de precisão, sem sapatos e com vestuário mínimo. A altura foi medida, com precisão de 1 mm, com fita não-elástica.
As circunferências da cintura e quadril foram medidas com uma fita não-elástica, em um ponto intermediário entre a borda inferior das costelas e a crista ilíaca, no final da expiração normal. A circunferência do quadril foi medida na circunferência máxima das nádegas. A razão cintura-quadril foi calculada pela divisão da circunferência da cintura pela do quadril.
Os participantes foram instruídos a jejuar por 12 horas antes da coleta de sangue. Com um dos pais acompanhando seu filho/filha, as amostras de foram coletadas da veia antecubital, entre 8h00 e 9h30. Após a coleta, foi servido aos participantes um lanche saudável, fornecido pela equipe do projeto. PCR, TNF-α, interleucina 6 (IL-6) e adiponectina foram medidos enzimaticamente com kitspadrão (Pars Azmoun, Iran) por autoanalisador.
Usamos uma cápsula de simbiótico (Protexin, Londres, Inglaterra), cada uma contendo 2,0 × 108 unidades formadoras de colônias (UFC)/diariamente. Elas continham uma combinação de viáveis congelados e secos (Lactobacillus Casei, Lactobacillus Rhamnosus, Streptococcus Thermophilus, Bifidobacterium Breve, Lactobacillus Acidophilus, Bifidobacterium Longum, Lactobacillus Bulgaricus), de origem humana com prebióticos (fruto-oligossacarídeos), vitaminas E, A e C. Essas crianças e adolescentes atribuídos ao grupo simbiótico foram instruídos a tomar uma cápsula por dia, antes de uma refeição principal, por oito semanas.
O placebo foi preparado pelo Departamento Farmacêutico, Faculdade de Farmácia, IUMS. Ele continha maltodextrina e consistia de cápsulas com formato, gosto e cheiro idênticos aos das cápsulas simbióticas.
Além de visitas regulares dos participantes, a adesão à medicação foi monitorada pela coleta de amostra de fezes e contagem da quantidade de bactérias nas mesmas, bem como por ligações telefônicas semanais aos participantes.
As amostras de fezes foram coletadas de ambos os grupos, simbiótico e placebo, no início do estudo e nos dias 15 e 60. As amostras foram mantidas refrigeradas em recipientes plásticos próprios para fezes, selados, por menos de seis horas, até serem transferidas ao laboratório, onde foram examinadas com a maior brevidade possível.
Agar para Lactobacillus segundo DE MAN, ROGOSA e SHARPE (Ágar MRS) (Merck - Alemanha, pH = 5,7) e ágar MRS (Merck - Alemanha, pH = 5,7) com 1% de mupirocina (Sigma, EUA) e 0,5% de cloridrato de cisteína (Sigma, EUA) foram usados para enumeração de colônias de Lactobacillus e Bifidobacterium, respectivamente.
Cada amostra fecal (0,5 g) foi colocada num tubo esterilizado, misturada com 5 mL de solução fisiológica estéril normal, misturada completamente e centrifugada por 5 minutos a 100 rpm. Um mL da fase superior foi diluído dez vezes em série, a uma diluição de 10- 7.
Cem microlitros da diluição adequada foram cultivados na superfície de ambos os tipos de placas. As placas foram incubadas anaerobicamente com 5% de CO2, utilizando uma incubadora de CO2 injetado. As placas com MRS foram mantidas a 37°-38° C, durante 48 horas, e as placas contendo MRS-mupirocina-cloridrato foram mantidas à mesma temperatura durante 72 horas.
A contagem de colônias foi feita por especialistas e expressa como um log de CFU por grama de fezes frescas.
A ingestão de nutrientes foi estimada utilizando o registro alimentar de três dias (dois dias da semana e um dia de fim de semana), no início e no final do estudo. Foi solicitado que os participantes escrevessem o tipo e a quantidade de alimento ingerido, utilizando balanças ou medidas caseiras para aferir o tamanho das porções, quando possível. As médias da ingestão de energia e macronutrientes de três dias foram analisadas pelo softwareNutricionista 4 (First Databank Inc., Hearst Corp San Bruno, CA). A entrada de dados foi realizada por um nutricionista treinado. Caso um participante tivesse ingerido um alimento não incluído na base de dados, um alimento de composição nutricional muito semelhante era selecionado. As informações sobre nutrientes também foram obtidas por meio de rótulos de alimentos ou receitas de participantes. Estes foram incentivados a manter sua dieta e padrões de exercício após o Questionário de Atividade Física para Crianças Mais Velhas (PAQ-C), inalterados durante o experimento.
Utilizamos o software SPSS para Windows (versão 16.00; SPSS, Chicago, IL) para a análise estatística. Os dados descritivos são expressos como média ± desvio-padrão (DP). Após a avaliação da distribuição normal pelo teste de Kolmogorov-Smirnov, as alterações dentro do grupo foram comparadas pelo teste t pareado e, para comparação de dados entre os dois, utilizamos o teste t independente. Também comparamos os dados entre participantes com sobrepeso e obesos. O teste t pareado foi usado para comparar o antes e o depois da intervenção em cada grupo. Os dados P tempo, P grupo e P tempo × grupo foram estabelecidos para cada variável, utilizando a análise de covariância (ANCOVA). A contagem total de bactérias fecais dos dois grupos estudados foi comparada no início e nos dias 15 e 60 do ensaio. Um valor de p inferior a 0,05 foi considerado estatisticamente significativo.
No geral, 56 dos 70 participantes (80%) concluíram o estudo; o restante não teve adesão completa. Os participantes que concluíram o ensaio demonstraram boa conformidade com o consumo de suplementos e nenhum efeito ou sintoma adverso foi relatado.
Os dados demográficos e as características físicas dos indivíduos no início do estudo não foram significativamente diferentes entre os dois grupos. A tabela 1 apresenta as comparações das medidas antropométricas entre os grupos simbiótico e placebo, bem como diferenças dentro dos grupos antes e depois do ensaio. Ela mostra que o escore z do IMC diminuiu significativamente no grupo simbiótico (1,79 × 0,09 em comparação a 1,69 × 0,09, respectivamente, p < 0,0001), ao passo que o número correspondente não foi significativo no grupo placebo (1,67 ± 0,07 em comparação a 1,65 ± 0,07, respectivamente, p = 0,38). Da mesma forma, a alteração na média da circunferência da cintura foi significativa no grupo simbiótico (84,22 ± 2,85 em comparação a 82,89 ± 2,82 cm, respectivamente, p < 0,0001), mas não significativa no grupo de placebo (76,53 ± 1,91 em comparação a 76,85 ± 1,92 cm, respectivamente, p = 0,73).
Tabela 1 Medidas antropométricas(a) dos participantes antes e depois do ensaio clínico
Variáveis | Fase | Grupo simbiótico | Grupo placebo | pb | ||
---|---|---|---|---|---|---|
n | 29 | 27 | ||||
Idade (anos) | 10,75 | ± 2,49 | 10,09 ± 1,93 | 0,61 | ||
Peso (Kg) | Antes | 53,29 | ± 3,52 | 46,84 ± 1,97 | 0,12 | |
Depois | 52,90 | ± 3,43 | 48,84 ± 2,34 | 0,34 | ||
Diferença | 0,39 ± 0,25 | –2,00 ± 1,23 | 0,06 | |||
pc | < 0 ,0001 | < 0,0001 | ||||
Escore z do índice de massa corporal | Antes | 1,79 ± 0,50 | 1,67 | ± 0,39 | 0,34 | |
Depois | 1,69 ± 0,51 | 1,65 | ± 0,36 | 0,74 | ||
Diferença | 0,09 ± 0,07 | 0,02 | ± 0,1 | 0,002 | ||
pc | < 0,0001 | 0,38 | ||||
Circunferência da cintura (cm) | Antes | 84,22 | ± 15,36 | 76,53 ± 9,92 | 0,32 | |
Depois | 82,89 | ± 15,18 | 76,85 ± 9,82 | 0,08 | ||
Diferença | –1,32 ± 0,66 | 0,31 | ± 0,88 | < 0,0001 | ||
pc | < 0,0001 | 0,73 | ||||
Relação cintura-quadril | Antes | 0,36 ± 0,09 | 0,41 ± 0,42 | 0,53 | ||
Depois | 0,35 ± 0,09 | 0,34 ± 0,06 | 0,49 | |||
Diferença | 0,008 ± 0,009 | 0,073 ± 0,44 | 0,43 | |||
pc | < 0,0001 | 0,40 |
a Os valores são apresentados em média ± desvio-padrão.
b p, O valor de p resultou do teste t independente para diferença entre os grupos probiótico e placebo após intervenção.
c p, O valor de p resultou do teste t pareado para diferença nos grupos durante todo o estudo.
O consumo de energia e de nutrientes, bem como os níveis de atividade física, não foram significativamente diferentes nos dois grupos e não apresentou alteração significativa durante o estudo (tabela 2).
Tabela 2 Consumo alimentar e nível de atividade física dos participantes durante todo o ensaio clínico
Fase | Grupo simbiótico (n = 29) | Grupo placebo (n = 27) | pa | |
---|---|---|---|---|
Atividade física | ||||
Antes | 2,31 | ± 0,47 | 2,44 ± 0,50 | 0,30 |
Depois | 2,41 | ± 0,51 | 2,44 ± 0,57 | 0,83 |
Diferença | –0,10 ± 0,61 | 0,00 ± 0,67 | 0,55 | |
pa | 0,37 | 1,00 | ||
Energia (kcal) | ||||
Antes | 1508 ± 44,69 | 1454 ± 44,69 | 0,35 | |
Depois | 1516 ± 33,83 | 1433 ± 35,06 | 0,09 | |
Diferença | –7,90 ± 34,36 | 20,90 ± 28,61 | 0,52 | |
pa | 0,82 | 0,41 | ||
Proteína (g) | ||||
Antes | 59,40 ± 2,48 | 64,20 ± 2,93 | 0,21 | |
Depois | 55,22 ± 1,88 | 58,14 ± 1,96 | 0,28 | |
Diferença | 8,87 | ± 4,72 | 6,05 ± 3,50 | 0,66 |
pa | 0,12 | 0,09 | ||
Carboidrato (g) | ||||
Antes | 187,05 ± 6,39 | 179,24 ± 6,91 | 0,41 | |
Depois | 189,68 ± 6,94 | 183,05 ± 7,31 | 0,51 | |
Diferença | –2,63 ± 6,07 | –3,80 ± 7,12 | 0,90 | |
pa | 0,66 | 0,59 | ||
Total de gordura (g) | ||||
Antes | 65,08 ± 4,54 | 58,05 ± 3,76 | 0,24 | |
Depois | 65,39 ± 8,83 | 61,62 ± 1,21 | 0,07 | |
Diferença | –0,31 ± 5,06 | –3,57 ± 3,55 | 0,60 | |
pa | 0,95 | 0,32 | ||
Gordura saturada (g) | ||||
Antes | 17,93 ± 0,80 | 17,14 ± 0,74 | 0,47 | |
Depois | 18,61 ± 0,90 | 17,54 ± 0,71 | 0,37 | |
Diferença | –0,66 ± 1,03 | –0,43 ± 0,81 | 0,85 | |
pa | 0,51 | 0,59 | ||
Gordura monoinsaturada (g) | ||||
Antes | 16,92 ± 0,78 | 17,02 ± 0,87 | 0,93 | |
Depois | 17,97 ± 0,47 | 16,79 ± 0,59 | 0,12 | |
Diferença | -1,05 ± 0,83 | 0,23 ± 0,84 | 0,28 | |
pa | 0,21 | 0,78 | ||
Gordura poliinsaturada (g) | ||||
Antes | 13,71 ± 0,69 | 13,15 ± 0,69 | 0,53 | |
Depois | 14,23 ± 0,45 | 13,49 ± 0,39 | 0,22 | |
Diferença | –0,52 ± 0,49 | –0,33 ± 0,33 | 0,79 | |
pa | 0,30 | 0,49 | ||
Colesterol (g) | ||||
Antes | 257,44 ± 13,58 | 233,11 ± 8,12 | 0,13 | |
Depois | 257,26 ± 9,08 | 241,72 ± 10,52 | 0,26 | |
Diferença | 0,17 | ± 14,45 | –8,60 ± 9,64 | 0,61 |
pa | 0,99 | 0,38 | ||
Fibra dietética (g) | ||||
Antes | 12,21 ± 0,84 | 14,00 ± 0,72 | 0,11 | |
Depois | 11,14 ± 0,70 | 12,37 ± 0,51 | 0,16 | |
Diferença | 1,07 | ± 0,79 | 1,62 ± 0,96 | 0,66 |
pa | 0,18 | 0,10 |
Os dados são apresentados em médias ± erro-padrão (EP) por nutriente. Os dados são apresentados em média ±d esvio-padrão por atividade física.
pa, O valor de p resultou do teste t pareado para diferença nos grupos durante todo o estudo.
Conforme apresentado na tabela 3, durante o período experimental, as contagens totais das fezes aumentaram significativamente no grupo simbiótico, em comparação ao grupo placebo.9
Tabela 3 Contagem de bactérias nas fezes três vezes durante o ensaio clínico
Tipo de Bactérias | Fase | Grupo simbiótico | Grupo placebo | ||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Média ± DP | Média ± DP | ||||||
Genus Lactobacillus | Início | 46990603 ± 68305170 | 35554312 ± 52377526 | ||||
Dia 15 | 9,8849404 ± 56632828 | 20521047 ± 14446100 | |||||
Dia 60 | 104007006 ± 95400927 | 28320225 ± 28512981 | |||||
valor de p | 0,029 | 0,69 | |||||
Bifidobacteria | Início | 483104,1 ± 1083977,2 | 1856453,3 ± 5486345,3 | ||||
Dia 15 | 92521,0 ± 117058,9 | 35964,9 ± 26621,0 | |||||
Dia 60 | 1965978,9 ± 2699014,4 | 337154,7 ± 610843,9 | |||||
valor de p | 0,06 | 0,39 | |||||
DP, desvio-padrão. |
DP, desvio-padrão.
As médias (erro-padrão (EP)) dos fatores de inflamação antes e após receberem suplemento simbiótico e placebo são apresentadas na tabela 4. Em comparação ao grupo placebo, o grupo suplemento teve redução significativa nos níveis de TNF-α e IL-6, e aumento significativo na adiponectina; essas alterações não eram mais significativas após o ajuste do IMC. Não houve alteração significativa no nível de proteína C-reativa de alta sensibilidade (hs-CRP).
Tabela 4 Efeitos do consumo de simbiótico e placebo sobre marcadores de inflamação
Variáveis | Fase | Grupo simbiótico | Grupo placebo | pa | Tempo | Tempod | Grupoe |
---|---|---|---|---|---|---|---|
n = 28 | n = 27 | × grupoc | |||||
média ± EP | média ± EP | ||||||
Hs-CRP | Antes | 2,05 ± 0,92 | 1,66 ± 0,96 | 0,42 | 0,61 | 0,141 | 0,92 |
Depois | 1,03 ± 0,14 | 1,75 ± 0,13 | 0,17 | ||||
Diferença | –0,7 ± 0,07 | 0,09 ± 0,05 | 0,06 | ||||
pb | 0,02 | 0,75 | |||||
TNFa | Antes | 123,14 ± 9,63 | 94,15 ± 9,44 | 0,06 | 0,008 | 0,92 | 0,152 |
Depois | 113,25 ± 3,30 | 103,40 ± 3,26 | 0,48 | ||||
Diferença | -9,89 ± 0,55 | 9,25 ± 0,68 | p < 0,0001 | ||||
pb | 0,02 | 0,10 | |||||
Ajustadof | 1,02 ± 0,08 | 1,14 ± 0,09 | 0,105 | ||||
IL-6 | Antes | 130,07 ± 4,73 | 121,30 ± 4,50 | 0,37 | 0,118 | 0,06 | 0,72 |
Depois | 119,25 ± 3,62 | 120,33 ± 4,66 | 0,92 | ||||
Diferença | –10,82 ± 0,64 | –0,96 ± 0,82 | p < 0,0001 | ||||
pb | 0,04 | 0,76 | |||||
Ajustadof | 1,13 ± 0,05 | 1,26 ± 0,06 | 0,06 | ||||
Adiponectina | Antes | 261,61± 3,96 | 283,67 ± 3,17 | 0,34 | 0,05 | 0,139 | 0,82 |
Depois | 289,64±11,59 | 279,07±11,83 | 0,70 | ||||
Diferença | 28,03 ± 1,39 | –3,69 ± 1,97 | p < 0,0001 | ||||
pb | p < 0,0001 | 0,79 | |||||
Ajustadof | 2,94 ± 0,90 | 2,74 ± 0,14 | 0,25 |
Todos os valores estão em média ± erropadrão (EP).
Hs-CRP, Proteína C-reativa altamente sensível
TNFα, Fator de necrose tumoral α
IL-6, Interleucina 6
a p, Os valores de p apresentam a comparação dos valores no início (calculados por amostras independentes do teste t) e no final entre dois grupos (calculados pela ANCOVA).
b p, Os valores de pP apresentam a comparação dos valores no início e no final em cada grupo (calculados por amostras pareadas do teste t).
c Os valores de p representam a interação tempo × grupo (calculados por análise da covariância).
d Os valores de p demonstram o efeito do tempo (calculados por análise da covariância).
e Os valores de p representam o efeito do agrupamento (calculados por análise da covariância).
f Ajustado pelo peso.
No melhor de nosso conhecimento, esse ensaio é o primeiro de seu tipo na faixa etária pediátrica, para investigar o efeito da suplementação com simbiótico sobre fatores inflamatórios em crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade. Observou-se que a ingestão de simbiótico teve resultados favoráveis na redução de peso de crianças e adolescentes obesos, assim como mudanças significativas de TNFα no soro, IL-6 e adiponectina, sem alteração no nível de hs-CRP. Entretanto, as alterações nos marcadores de inflamação dependiam da redução de peso.
Durante o período do estudo, a energia, os macronutrientes e também a ingestão de antioxidante e o nível de atividades físicas não sofreram alterações em cada grupo, a não ser o aumento nas concentrações de bactérias protetoras, conforme mostrado pelos dados microbiológicas, e suas atividades metabólicas sugerem que os resultados obtidos podem ser devidos à suplementação simbiótica.
Recentemente, Cani et al. demonstraram que ratos alimentados com uma dieta rica em gordura foram caracterizados por um aumento na permeabilidade intestinal e endotoxemia metabólica ou lipopolissacarídeo (LPS),10 que vaza para dentro do corpo da parte gram-negativa da microbiota intestinal e é um fator envolvido no aparecimento e progressão da inflamação e doenças metabólicas.4 Assim, probióticos podem ser efetivos para melhorar a barreira intestinal e suprimir gram-negativos no canal gastrointestinal.13 , 14 Foi demonstrado que cepas probióticas como Lactobacillus rhamnosus GG e Lactobacillus casei DN-114-001 protegem a função de barreira epitelial contra a redistribuição de proteínas com junção apertada induzida por Escherichia coli,15 , 16 e que algumas cepas probióticas, por exemplo, L. plantarum 299v, podem minimizar a translocação bacteriana.17 , 18
A dieta rica em gordura contribui para o rompimento de proteínas com junção apertada (Zonula occludens-1 e ocludina), envolvidas na função de barreira intestinal,10 , 19 e a modulação da microbiota intestinal de ratos com prebióticos levaria a um nível mais baixo de várias citocinas plasmáticas, como TNF α, IL6, devido à promoção no rompimento da junção apertada (ZO-1 e ocludina). Esses dados confirmam que ratos obesos exibem uma alteração da barreira intestinal, caracterizada por um rompimento das proteínas com junção apertada. Cani et al. concluíram que a modulação da microbiota intestinal utilizando prebióticos em ratos obesos poderia agir de forma favorável na barreira intestinal, reduzindo, assim, a endotoxemia e a inflamação sistêmica e do fígado, com consequências benéficas em distúrbios metabólicos associados.19 , 20
Adicionalmente, mostrou-se em seres humanos saudáveis que a L. plantarum WCFS1 aumentou a realocação de ocludina e ZO-1 na área de junção apertada entre as células epiteliais duodenais.21
Nossos resultados são compatíveis com os achados sobre a conexão entre a microbiota intestinal, inflamação e homeostase e seu papel na patogênese da obesidade e doenças relacionadas,19 , 22 bem como com os achados sobre a relação da dieta e microbiota intestinal com a homeostase, conforme investigado em modelos experimentais de obesidade induzida por dieta.23 , 24 Parece que, devido à associação entre a obesidade e inflamação,25 pode-se propor que os efeitos favoráveis dos probióticos no controle da inflamação poderão desempenhar um importante papel na prevenção e controle da obesidade.
Entre os prováveis mecanismos, foi demonstrado que a modulação da microbiota intestinal aumenta a altura das vilosidades e a profundidade das criptas, e leva a uma camada de mucosa mais espessa no jejuno e no cólon.26 Esses efeitos devem-se a produtos de fermentação por bactérias, principalmente ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs), como o butirato, que age como um substrato energético para os colonócitos e tem um efeito trófico na mucosa.27 , 28 Em nosso estudo, esse mecanismo é enfatizado, pois o aumento nas concentrações de bactérias protetoras devido à suplementação com simbiótico foi documentada.
Os níveis de adipocitocinas plasmáticas sobem com um aumento no tecido adiposo e no volume dos adipócitos, exceto a adiponectina plasmática, que é menor na obesidade.29 , 30 No presente estudo, o aumento da adiponectina plasmática ocorreu em virtude da redução de peso e supressão do tecido adiposo.
Concluindo, nossos achados sugerem a influência positiva da suplementação com simbiótico sobre fatores de inflamação, que depende de seu efeito na redução de peso em crianças com sobrepeso e obesas.