versão impressa ISSN 1414-462Xversão On-line ISSN 2358-291X
Cad. saúde colet. vol.23 no.2 Rio de Janeiro abr./jun. 2015
http://dx.doi.org/10.1590/1414-462X201400050103
This article reviews and discusses some aspects of the epidemiological research situation on human health outcomes related to air pollution in Brazil. It is a systematic review of studies on the effects of polluted air exposure on human health. The context and methodological quality of the full texts were analyzed. The review identified 432 studies on the theme, 56 of which met the inclusion criteria. Besides demonstrating a scenario of epidemiological research guided by the cause-effect relationship, the results point to the need for revision of environmental parameters and expose challenges and contributions to epidemiological research in environmental health.
Keywords: environmental indicators; epidemiologic studies; systematic review; adverse effects; public policies
Diversas abordagens metodológicas e conceituais têm sido empregadas em estudos epidemiológicos brasileiros, as quais visam analisar a associação entre poluição atmosférica e desfechos na saúde humana. Os estudos realizados com esse fim têm sido delineados a partir de enfoques observacionais e experimentais1.
Como os estudos experimentais são geralmente limitados por questões éticas, por dificuldades de financiamento e por metodologias que não conseguem isolar os efeitos específicos dos poluentes, estudos epidemiológicos observacionais, mais frequentemente os ecológicos, têm sido utilizados2.
Os estudos epidemiológicos realizados com a finalidade de esclarecer a associação de concordância entre variáveis de desfecho e índices de concentração de poluentes, na sua grande maioria, utilizam dados secundários, provenientes de bases de dados oficiais públicas ou coletadas para um fim específico. Adicionalmente, além de apresentar baixo custo e relativa facilidade de execução, estudos ecológicos podem também ser definidos pela observação de grupos populacionais em séries temporais definidas, como anos, meses e dias2.
Contudo, a maior parte dos estudos epidemiológicos dessa natureza tendem a concentrar seu foco de investigação no eixo exposição-efeito, desconsiderando fatores determinantes e condicionantes da situação de saúde da população avaliada, como condição socioeconômica, acesso aos serviços de saúde e outras situações que poderiam aumentar o impacto das contribuições desses estudos para gestores dos setores ambiental e da saúde, para a tomada de decisões e para a implementação de políticas públicas racionalizadas1,2.
É nessa direção que, a fim de subsidiar reflexões e ações que visem ao desenvolvimento das investigações epidemiológicas no campo da vigilância da qualidade do ar sobre populações expostas, o presente estudo tem por objetivo investigar, por meio de revisão sistemática, os artigos publicados no país até agosto de 2013 que trataram de desfechos na saúde humana relacionados à poluição atmosférica no Brasil.
Foi realizada uma revisão sistemática dos trabalhos publicados que abordaram, por meio de pesquisa epidemiológica, a associação entre desfechos na saúde humana e poluição atmosférica.
Foram incluídos nessa revisão sistemática somente artigos originais de pesquisa publicados até agosto de 2013, em português ou inglês, resultantes de investigações realizadas no Brasil e que apresentaram clareza quanto aos seguintes critérios de inclusão: (i) informações sobre os grupos de pessoas estudadas; (ii) dados sobre as concentrações de poluentes atmosféricos; (iii) metodologia de levantamento de dados e tipo de estudo epidemiológico aplicado; (iv) caracterização dos desfechos em saúde avaliados; (v) definição dos poluentes associados às variáveis de desfecho. Não houve restrição com relação ao sexo e à idade das populações estudadas nem ao tempo de exposição. Foram excluídos artigos de revisão, metanálises, editoriais, relatos de casos e artigos que tratavam de abordagens experimentais em que foram utilizadas amostras biológicas de humanos ou cobaias.
Para o levantamento dos estudos que atendessem aos critérios de inclusão estabelecidos, foi realizada uma busca, por dois pesquisadores independentes, nos bancos de dados Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE/PUBMED), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Web of Science, ScienceDirect e Scopus. Os descritores utilizados, combinados entre si, em busca integrada nos campos título, resumo e assunto foram: “POLUIÇÃO DO AR” ou “AIR POLLUTION”, “EFEITOS” ou “EFFECTS”, “BRASIL” ou “BRAZIL”, “DESFECHOS EM SAÚDE” ou “HEALTH OUTCOMES”. Na fase de busca, não houve restrição em relação ao idioma dos artigos e à data de publicação. Contudo, após essa etapa, foram incluídos na revisão sistemática apenas trabalhos em inglês ou português, publicados até 15 de agosto de 2013.
Todos os estudos selecionados com base no atendimento aos critérios estabelecidos foram analisados, na íntegra, pelos dois revisores, coletando-se os dados de interesse em formulários predefinidos, com a inclusão de campos para anotação das variáveis de desfecho em saúde, fontes de dados dos desfechos, poluentes avaliados e associados positivamente aos desfechos, ano de publicação dos estudos, período de ocorrência dos desfechos avaliados, grupos populacionais estudados, municípios investigados e origem da poluição. A leitura dos artigos e a extração dos dados e das informações foram realizadas de maneira independente entre os revisores. Divergências foram identificadas, discutidas e resolvidas entre os revisores, sem a necessidade de consulta a um terceiro revisor.
A ferramenta PRISMA (preferred reporting items for systematic reviews and meta-analyses)3 foi utilizada para orientar a redação da revisão sistemática.
O processo de busca e de seleção dos artigos que compõem a presente revisão está representado na Figura 1. Após avaliação dos títulos e dos resumos, foram elegíveis 432 estudos, dos quais foram incluídos na revisão 564-59. Informações sobre as variáveis de desfecho utilizadas em cada estudo, fontes de dados, poluentes avaliados e associados positivamente são apresentados na Tabela 1.
Tabela 1 Caracterização dos desfechos, fontes de dados e poluentes avaliados e associados às variáveis avaliadas, segundo cada referência
Referências | Variáveis de desfecho | Fontes de dados | Poluentes avaliados | Poluentes associados positivamente |
---|---|---|---|---|
Penna e Duchiade4 | Mortalidade infantil por pneumonia | Secretaria Estadual de Saúde | MP10 | MP10 |
Rumel et al.5 | Casos novos de acidente vascular cerebral e de infarto do miocárdio | Secretaria Estadual de Saúde | CO | CO |
Saldiva et al.6 | Mortalidade em menores de 5 anos por doença respiratória | PRO-AIM | SO2, CO, NOX, MP10, O3 | NOX |
Saldiva et al.7 | Mortalidade em idosos | Serviço de registro obituário | SO2, CO, NOX, MP10, O3 | SO2, CO, NOX, MP10 |
Daumas et al.8 | Mortalidade por doenças respiratórias ou cardiovasculares em idosos | DATASUS | PTS | - |
Lin et al.9 | Atendimentos de emergência por causas respiratórias | Instituto da Criança-USP | SO2, CO, NOX, MP10, O3 | SO2, CO, MP10 |
Pereira et al.10 | Mortalidade intrauterina | PRO-AIM | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | SO2, CO, NO2 |
Gouveia e Fletcher11 | Mortalidade por doenças respiratórias ou cardiovasculares | PRO-AIM | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | SO2, CO, MP10, O3 |
Botter et al.12 | Mortalidade em idosos | Serviço de registro obituário | SO2, CO, NO2, PTS, O3 | SO2 |
Gouveia e Fletcher13 | Internações por doenças respiratórias e pneumonia | DATASUS | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | NO2, MP10, O3 |
Gonçalves et al.14 | Internações por doenças respiratórias | Secretaria Estadual de Saúde | SO2, MP10, O3 | O3 |
Kishi e Saldiva15 | Internações por doenças respiratórias | Secretaria Estadual de Saúde | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | CO, MP10, O3 |
Freitas et al.16 | Mortalidade em idosos e internações por doenças respiratórias | PRO-AIM e SIH | CO, MP10, O3 | CO, MP10, O3 |
Braga et al.17 | Internações hospitalares | DATASUS | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | CO, MP10 |
Conceição et al.18 | Mortalidade em crianças por doenças respiratórias | PRO-AIM | SO2, CO, MP10, O3 | SO2, CO, MP10, |
Lin et al.19 | Internações por doenças cardíacas isquêmicas | ICOR-SP | SO2, CO, MP10, O3 | SO2, CO, MP10, O3 |
Arbex et al.20 | Inalações | Hospitais da rede privada de Araraquara-SP | Massa de material sedimentado | Massa de material sedimentado |
Martins et al.21 | Atendimentos por pneumonia e gripe | Hospital | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | SO2, O3 |
Sharovsky et al.22 | Mortalidade por infarto do miocárdio | PRO-AIM | SO2, CO, MP10 | SO2 |
Gouveia et al.23 | Internações por doenças respiratórias e cardiovasculares | SIH | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | SO2, CO, NO2, MP10 |
Martins et al.24 | Atendimentos de emergência por doenças respiratórias das vias inferiores | DATASUS | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | SO2, O3 |
Farhat et al.25 | Atendimentos de emergência por doenças respiratórias | Instituto da Criança-USP | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | NO2 |
Martins et al.26 | Atendimentos por doenças cardiovasculares | DATASUS | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | SO2, CO, NO2, MP10, O3 |
Jasinski et al.27 | Internações por doenças respiratórias | DATASUS | SO2, NO2, MP10, O3 | MP10, O3 |
Gouveia et al.28 | Baixo peso ao nascer | SINASC | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | CO |
Martins et al.29 | Mortalidade por doenças respiratórias | PRO-AIM | MP10 | MP10 |
Yanagi et al.30 | Mortalidade por câncer | Registro Hospitalar de Câncer-SP | MP10 | MP10 |
Lin et al.31 | Mortalidade de recém-nascidos | PRO-AIM | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | SO2, MP10 |
Medeiros e Gouveia32 | Baixo peso ao nascer | SINASC | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | CO, NO2, MP10 |
Cendon et al.33 | Internações por infarto | DATASUS | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | SO2, CO, NO2, MP10, O3 |
Santos et al.34 | Atendimentos por arritmia | InCOR-SP | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | CO, NO2, MP10 |
Nishioka et al.35 | Mortalidade de recém-nascidos | PRO-AIM | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | SO2, NO2, MP10, O3 |
Bakonyi et al.36 | Atendimentos de emergência por doenças respiratórias | Secretaria Municipal da Saúde | NO2, MP10, O3 | NO2, MP10, O3 |
Nascimento et al.37 | Internações por pneumonia | DATASUS | SO2, MP10, O3 | SO2, MP10, O3 |
Romão et al.38 | Baixo peso ao nascer | SINASC | MP10 | MP10 |
Vidotto et al.39 | Atendimentos por doenças reumáticas | DATASUS | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | SO2, CO, NO2, MP10 |
Sousa et al.40 | Atendimentos de emergência por doenças respiratórias | DATASUS | SO2, MP10, CO | SO2, MP10, CO |
Negrete et al.41 | Internações por insuficiência cardíaca congestiva | DATASUS | MP10 | MP10 |
Pereira et al.42 | Atendimentos de emergência por doenças cardiovasculares | HC-USP | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | SO2, CO, NO2 |
Castro de et al.43 | Atendimentos por asma | Secretaria Municipal de Saúde | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | MP10, O3 |
Nascimento e Moreira44 | Baixo peso ao nascer | Hospitais | SO2, MP10, O3 | SO2, O3 |
Arbex et al.45 | Atendimentos de emergência por doença pulmonar obstrutiva crônica | HC-USP | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | SO2, MP10 |
Moura et al.46 | Atendimentos de emergência por doenças respiratórias | Hospitais | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | O3 |
Oliveira et al.47 | Mortalidade por doença respiratória | SIM | SO2, MP10, O3 | SO2, MP10, O3 |
Junger e Leon48 | Baixo peso ao nascer | SINASC | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | SO2, O3 |
Moura et al.49 | Atendimentos de emergência ocasionados por sintomas de obstrução brônquica | DATASUS | SO2, CO, NO2, MP10, O3 | MP10, O3 |
Andrade et al.50 | Internações por doenças respiratórias | DATASUS | MP2,5 | - |
Braga et al.51 | Atendimentos de emergência por doenças respiratórias e cardiovasculares | Prontuários do Hospital Municipal | MP10 | MP10 |
Arbex et al.52 | Admissões por asma | Hospitais | PTS | PTS |
Arbex et al.53 | Admissões por hipertensão | Hospitais | PTS | PTS |
Amancio e Nascimento54 | Internações por asma | DATASUS | SO2, MP10, O3 | SO2, MP10 |
Mascarenhas et al.55 | Atendimentos de emergência por doenças respiratórias | Hospitais | MP2,5 | MP2,5 |
Ignotti et al.56 | Internações por doenças respiratórias | SIH | MP2,5 | MP2,5 |
Nascimento57 | Admissões por doenças cardiovasculares | DATASUS | SO2, MP10, O3 | MP10 |
Nascimento e Francisco58 | Internações por hipertensão | DATASUS | SO2, MP10, O3 | MP10 |
Nascimento et al.59 | Internações por acidente vascular cerebral | DATASUS | SO2, MP10, O3 | MP10 |
PRO-AIM: Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no Município de São Paulo; SIM: Sistema de Informação sobre Mortalidade; PTS: partículas totais em suspensão; InCOR-SP: Instituto do Coração de São Paulo; SIH: Sistema de Informações Hospitalares; SINASC: Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos; DATASUS: Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde; HC-USP: Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo
Informações quanto ao ano da publicação dos estudos, período de ocorrência dos desfechos avaliados, grupos populacionais estudados e municípios investigados são mostradas na Tabela 2.
Tabela 2 Caracterização dos estudos avaliados quanto ao ano de publicação, período avaliado, população estudada e local de estudo, segundo cada referência
Referências | Ano da publicação | Período avaliado | População estudada | Local do estudo |
---|---|---|---|---|
Penna e Duchiade4 | 1991 | 1980 | Menores de 1 ano | Rio de Janeiro-RJ |
Rumel et al.5 | 1993 | 1989-1991 | Todos os casos | São Paulo-SP |
Saldiva et al.6 | 1994 | 1990-1991 | Menores de 5 anos | São Paulo-SP |
Saldiva et al.7 | 1995 | 1990-1991 | Maiores de 65 anos | São Paulo-SP |
Daumas et al.8 | 2004 | 1990-1993 | Maiores de 65 anos | Rio de Janeiro-RJ |
Lin et al.9 | 1999 | 1991-1993 | Menores de 13 anos | São Paulo-SP |
Pereira et al.10 | 1998 | 1991-1992 | Fetos com até 28 semanas | São Paulo-SP |
Gouveia e Fletcher11 | 2000 | 1991-1993 | Menores de 5 anos e maiores de 65 anos | São Paulo-SP |
Botter et al.12 | 2002 | 1991-1993 | Maiores de 65 anos | São Paulo-SP |
Gouveia e Fletcher13 | 2000 | 1992-1994 | Menores de 5 anos | São Paulo-SP |
Gonçalves et al.14 | 2005 | 1992-1994 | Menores de 13 anos | São Paulo-SP |
Kishi e Saldiva15 | 1998 | 1992-1993 | Menores de 5 anos | São Paulo-SP |
Freitas et al.16 | 2004 | 1993-1997 | Internações em menores de 15 anos e mortalidade em maiores de 65 anos | São Paulo-SP |
Braga et al.17 | 2001 | 1993-1997 | Menores de 19 anos | São Paulo-SP |
Conceição et al.18 | 2001 | 1994-1997 | Menores de 5 anos | São Paulo-SP |
Lin et al.19 | 2003 | 1994-1995 | Pessoas entre 45 e 80 anos | São Paulo-SP |
Arbex et al.20 | 2000 | 1995 | Todos os casos | Araraquara-SP |
Martins et al.21 | 2002 | 1996-1998 | Maiores de 65 anos | São Paulo-SP |
Sharovsky et al.22 | 2004 | 1996-1998 | Pessoas entre 35 e 109 anos | São Paulo-SP |
Gouveia et al.23 | 2006 | 1996-2000 | Menores de 5 anos e maiores de 65 anos | São Paulo-SP |
Martins et al.24 | 2002 | 1996-1998 | Maiores de 64 anos | São Paulo-SP |
Farhat et al.25 | 2005 | 1996-1997 | Menores de 13 anos | São Paulo-SP |
Martins et al.26 | 2006 | 1996-2001 | Maiores de 64 anos | São Paulo-SP |
Jasinski et al.27 | 2011 | 1997-2004 | Menores de 19 anos | Cubatão-P |
Gouveia et al.28 | 2004 | 1997 | Nascidos em 1997 | São Paulo-SP |
Martins et al.29 | 2004 | 1997-1999 | Maiores de 65 anos | São Paulo-SP |
Yanagi et al.30 | 2012 | 1997-2005 | Todos os casos | São Paulo-SP |
Lin et al3.1 | 2004 | 1998-2000 | Menores de 28 dias | São PauloSP |
Medeiros e Gouveia32 | 2005 | 1998-2000 | Todos os partos | São Paulo-SP |
Cendon et al.33 | 2006 | 1998-1999 | Maiores de 64 anos | São Paulo-SP |
Santos et al.34 | 2008 | 1998-1999 | Maiores de 17 anos | São Paulo-SP |
Nishioka et al.35 | 2000 | 1998 | Nascidos em 1998 | São Paulo-SP |
Bakonyi et al.36 | 2004 | 1999-2000 | Menores de 14 anos | Curitiba-PR |
Nascimento et al.37 | 2006 | 2000-2001 | Menores de 10 anos | São José dos Campos-SP |
Romão et al.38 | 2013 | 2000-2006 | Nascidos entre 2000-2006 | São Bernardo do CampoSP |
Vidotto et al.39 | 2012 | 2000-2007 | Menores de 19 anos | São Paulo-SP |
Sousa et al.40 | 2012 | 2000-2005 | Crianças entre 1 e 5 anos e maiores de 65 anos | Rio de Janeiro-RJ |
Negrete et al.41 | 2010 | 2000-2007 | Maiores de 35 anos | Santo André-SP |
Pereira et al.42 | 2008 | 2001-2003 | Maiores de 18 anos | São Paulo-SP |
Castro et al.43 | 2007 | 2001-2003 | Menores de 6 anos | Vitória-ES |
Nascimento e Moreira44 | 2009 | 2001 | Mães entre 20 e 34 anos | São José dos Campos-SP |
Arbex et al.5 | 2009 | 2001-2003 | Maiores de 40 anos | São Paulo-SP |
Moura et al.46 | 2008 | 2002-2003 | Crianças com idades entre 1 mês e 12 anos | Rio de Janeiro-RJ |
Oliveira et al.47 | 2011 | 2002-2006 | Todos os casos | Volta Redonda-RJ |
Junger e Leon48 | 2007 | 2002 | Nascidos em 2002 | Rio de Janeiro-RJ |
Moura et al.49 | 2009 | 2002-2003 | Crianças com idades entre 1 mês e 12 anos | Rio de Janeiro-RJ |
Andrade et al.50 | 2013 | 2002-2009 | Crianças com idades entre 1 mês e 9 anos | ManausAM |
Braga et al.51 | 2007 | 2003-2004 | Menores de 19 e maiores de 44 anos | Itabira-MG |
Arbex et al.52 | 2007 | 2003-2004 | Todos os casos | Araraquara-SP |
Arbex et al.53 | 2009 | 2003-2004 | Todos os casos | Araraquara-SP |
Amancio e Nascimento54 | 2012 | 2004-2005 | Menores de 10 anos | São José dos Campos-SP |
Mascarenhas et al.55 | 2005 | 2005 | Todos os casos | Rio Branco-AC |
Ignotti et al.56 | 2010 | 2005 | Menores de 5 e maiores de 65 anos | Alta Floresta e Tangará da Serra-MT |
Nascimento57 | 2001 | 2006 | Maiores de 60 anos | São José dos Campos-SP |
Nascimento e Francisco58 | 2013 | 2007-2010 | Todos os casos | São José dos Campos-SP |
Nascimento et al.59 | 2012 | 2007-2008 | Todos os casos | São José dos Campos-SP |
De acordo com os dados coletados e as informações analisadas, podemos observar que a atmosfera urbana, marcadamente caracterizada pela presença de poluentes oriundos das emissões veiculares e industriais, foi alvo de investigação da maior parte dos estudos revisados (91,1%). Em menor proporção, a associação de efeitos na saúde, provocados por eventos de emissão de poluentes gerados pela queima de biomassa florestal55 e de cana-de-açúcar52,53, foi abordada em 8,9% dos trabalhos.
Apenas dois estudos8,50 não apresentaram associação significativa entre as concentrações dos poluentes monitorados e os desfechos em saúde avaliados.
Em relação aos métodos e aos instrumentos utilizados para mensurar os níveis de poluentes atmosféricos, dois estudos50,56 utilizaram informações de satélite tratadas com algoritmos matemáticos fornecidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e pela Agência Espacial Americana (NASA), respectivamente. Nos demais trabalhos, dados sobre a concentração de poluentes presentes no ar foram obtidos por meio de amostradores de partículas totais em suspensão52,53, de instrumento para análise de massa de material sedimentado20 e de estações automáticas de monitoramento da qualidade do ar, instaladas e gerenciadas por diferentes órgãos ambientais e pela Universidade Federal do Acre55.
A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), ligada à Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, foi o órgão ambiental que apresentou maior participação (71,4%) no fornecimento de dados sobre qualidade do ar aos trabalhos investigados5-7,9-19,21-35,37-39,41,42,44,45,54,57-59. Também contribuíram para o fornecimento de informações provenientes de estações automáticas de monitoramento de poluição atmosférica a Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEMA)4,8,40,46,48,49 e o Instituto Estadual do Ambiente (INEA)47 do Estado do Rio de Janeiro, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP)36, a Companhia Vale do Rio Doce51 e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEAMA) do Estado do Espírito Santo43.
Conforme pode ser verificado na Tabela 1, o monitoramento de material particulado (principalmente em sua fração inalável, com diâmetro aerodinâmico menor que 10µm – MP10) foi realizado em quase todos os trabalhos (94,6%).
Outro resultado relevante consiste no fato de que, na maioria dos estudos (89,2%), os poluentes monitorados apresentaram concentrações que ultrapassaram os níveis aceitáveis, segundo a Resolução nº 003/199060 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), em alguns dias ao longo do período avaliado.
Sobre os grupos avaliados, verificou-se que os segmentos acima dos 65 e abaixo dos 5 anos de idade foram frequentemente investigados e confirmados como os mais susceptíveis aos efeitos da poluição atmosférica.
Dentre as morbidades associadas, foram citadas asma, diabetes, miocardiopatias e arritmias, que atuam, conhecidamente, como fatores que contribuem para o aumento da susceptibilidade das populações pertencentes aos extremos da pirâmide etária aos efeitos danosos dos poluentes atmosféricos.
Quanto à natureza dos desfechos, foi possível verificar que a maior parte dos estudos associou efeitos agudos da poluição a desfechos graves, como internações e mortes por problemas respiratórios. Paralelamente, estudos de longa duração apresentaram associação positiva entre poluição atmosférica e desfechos de natureza crônica, como baixo peso ao nascer32,38, aborto35 e câncer30.
Em relação aos aspectos metodológicos dos estudos avaliados, constatou-se que, na maioria dos trabalhos realizados (91,1%), os pesquisadores delinearam estudos ecológicos de séries temporais, nos quais os desfechos em saúde foram associados aos poluentes atmosféricos por meio de análises de regressão de Poisson4-13,16-27,29,31,33,34,36,37,39,40,42,45-47,49,51-54,57-59, regressão linear múltipla15, regressão logística32,44,48, regressão de Pearson30,35,41,42 e regressão multivariada32,38,56.
Nos demais trabalhos, foram encontrados estudos que utilizaram dados seccionados em corte transversal48, modelo de análises de componente principais14 e estudo descritivo43.
A análise dos estudos avaliados no presente trabalho ressaltou um panorama epidemiológico cada vez mais comum na literatura científica, caracterizado pela significativa associação entre desfechos em saúde e elevados níveis de poluição atmosférica, especialmente no ambiente urbano.
De acordo com os resultados apresentados, a fração inalável de MP10 esteve positivamente associada aos desfechos em saúde em 62,5% dos trabalhos avaliados, mesmo quando esteve abaixo dos limites diários e anuais recomendados pelo CONAMA60. Esse resultado aponta para duas evidências. A primeira está relacionada ao fato de que o material particulado consiste no indicador de poluição atmosférica mais empregado no monitoramento da qualidade do ar. A outra evidência revela a necessidade de revisão dos parâmetros nacionais para limites de concentração de material particulado e inclusão da fração MP2,5-10 na legislação ambiental nacional50,55,56.
Contudo, vale enfatizar que, mesmo em trabalhos em que a concentração dos poluentes sempre esteve abaixo dos limites preconizados pela legislação ambiental brasileira, houve associação positiva entre poluição e desfechos em saúde. Além disso, todos os estudos avaliados neste trabalho fazem menção à necessidade de (re) definição dos padrões de aceitabilidade nos níveis de concentração dos contaminantes atmosféricos.
Ainda que os resultados obtidos tenham mostrado que os grupos de indivíduos maiores que 65 e menores que 5 anos de idade foram frequentemente confirmados como os mais susceptíveis aos efeitos da poluição atmosférica, permanece o problema da limitação dos sistemas de informação quanto ao conhecimento de subgrupos específicos, seja pela ineficiência das notificações ou pela baixa complexidade dos documentos-base de cada um desses sistemas6.
Do ponto de vista metodológico, o fato de que, nas análises de séries temporais diárias, fatores como condição socioeconômica, ocupação ou tabagismo, por exemplo, não são capazes de atuar como variável de confundimento, não sendo necessários ajustes na análise, pode ser visto como outra vantagem desse modelo de estudo epidemiológico2.
Contudo, essa abordagem implica na desconsideração dos determinantes sociais em saúde, uma vez que a população avaliada nos estudos ecológicos corresponde a grupos generalizados de indivíduos, desconsiderando, portanto, indicadores relacionados à localização e às condições de moradia, de acesso aos serviços de saúde ou de renda dos sujeitos. Ressalta-se, nesse contexto, que apenas um trabalho abordou condições socioeconômicas na escolha das variáveis que compuseram a investigação dos efeitos de poluentes na saúde dos grupos estudados11.
Nessa direção, o conhecimento das condições que favorecem a maior exposição aos poluentes deve ser objetivo primordial dos estudos epidemiológicos, os quais visam produzir conhecimento acerca da natureza das fontes poluidoras, das forças que contribuem para sua manutenção ou incremento e, sobretudo, das ações que possam mitigar ou sanar os problemas tanto do ambiente quanto da saúde das populações expostas.
Em suma, ainda que a presente revisão tenha se limitado à análise da produção científica nacional e não tenha considerado ensaios que incluíssem estudos experimentais, que utilizam amostras biológicas, a análise dos estudos epidemiológicos observacionais, mais frequentemente os ecológicos, permitiu evidenciar as necessidades de revisão de parâmetros, de limites de contaminantes atmosféricos e de ampliação da tradicional abordagem especializada na relação causa-efeito para a atenção em saúde, considerando e incluindo determinantes e condicionantes de saúde aos modelos de investigação utilizados.