versão impressa ISSN 0066-782Xversão On-line ISSN 1678-4170
Arq. Bras. Cardiol. vol.113 no.2 São Paulo ago. 2019 Epub 02-Set-2019
https://doi.org/10.5935/abc.20190168
Com grande interesse no assunto lemos o artigo “O Perfil do Cardiologista Brasileiro - Uma Amostra de Sócios da Sociedade Brasileira de Cardiologia”, de Faganello et al.,1 em que são apresentadas as características profissionais e pessoais dos cardiologistas brasileiros. As diferenças significativas entre os gêneros foram ressaltadas no minieditorial “Perfil dos Cardiologistas Brasileiros: Um Olhar sobre Liderança Feminina na Cardiologia e sobre o Estresse - Desafios para a Próxima Década”, de Mesquita et al.,2 em que peculiaridades como a remuneração e o pequeno número de mulheres na Cardiologia são analisadas sob um ponto de vista inquietante.
Essas matérias fazem coro com a “Carta das Mulheres”, de Oliveira et al.,3 documento alicerçado em objetivos atuais, mas que necessitam de trabalho incansável a longo prazo, com mudanças estruturais na cultura médica, especialmente no que se refere à participação da mulher em cargos executivos dentro das sociedades de especialidades médicas e entidades governamentais relacionadas à saúde da população.
O importante estudo “Demografia médica no Brasil 2018”, de Scheffer et al.,4 apresentou a todos uma realidade já conhecida pelos médicos cardiologistas: apesar de as mulheres, atualmente, serem a maioria dos estudantes nas escolas de Medicina, o que já se reflete nos médicos até 34 anos, faixa em que as médicas estão em maior número, na Cardiologia, 70% dos médicos são do sexo masculino. Essa realidade contribui ainda mais para o pequeno número de mulheres que escolhem a Cardiologia Intervencionista como área de atuação.
Reconhecendo a necessidade de uma maior e mais efetiva participação das mulheres na Medicina e na Ciência como um todo, a Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista criou o grupo Mulheres INTervencionistas (MINT), cujo objetivo é buscar a igualdade de gênero tanto no âmbito profissional como do paciente, incentivando as médicas a escolher a Cardiologia Intervencionista, ajudando a alcançar chances de carreira iguais às dos homens, mas também aumentando a conscientização da comunidade intervencionista e de pesquisa sobre as disparidades relacionadas ao gênero no diagnóstico e tratamento de pacientes com doenças cardiovasculares, apoiando a inscrição rotineira de mulheres em ensaios clínicos e assegurando a deferência das mulheres em todos os aspectos da literatura científica, sejam ensaios clínicos, diretrizes ou processos regulatórios.
Por fim, voltando à observação feita no minieditorial, o sexismo não pode deixar de ser analisado como um dos fatores de desincentivo às mulheres nas carreiras médicas. Trabalhar por igualdade de condições e de remuneração deve ser mais que um objetivo, pois, como relatado no importante editorial do Lancet, de fevereiro de 2019, “Feminism is for everybody” (“O feminismo é para todos”)5, a equidade de gênero não é apenas uma questão de justiça e direitos, mas crucial para produzir a melhor pesquisa e oferecer o melhor atendimento aos pacientes. Cabe às sociedades médicas encabeçarem essa mudança de paradigma para que as oportunidades sejam semelhantes para todos, agregando forças para que a conhecida capacidade de cuidar do outro, característica feminina, possa beneficiar nossos pacientes.