versão impressa ISSN 0066-782Xversão On-line ISSN 1678-4170
Arq. Bras. Cardiol. vol.112 no.1 São Paulo jan. 2019
https://doi.org/10.5935/abc.20180246
A preocupação dos pesquisadores em encontrar as causas dos distúrbios cardiovasculares é evidente. Recentemente, cientistas estão se concentrando em investigações no ambiente intrauterino para buscar causas precoces dessas doenças.1 Estudos indicam que o estresse pré-natal aumenta o risco das doenças cardiovasculares na idade adulta.2,3 Dentre os riscos, a suscetibilidade à hipertensão no adulto é preocupante, e o sistema nervoso simpático é um dos alvos de interesse, especificamente a atividade dos receptores beta-adrenérgicos, que tem o subtipo β1 de predomínio cardíaco.4,5 Esses receptores modulam as alterações cardíacas e podem levar à disfunção ventricular, bem como a condições graves de insuficiência cardíaca,6 o que aumenta o risco de mortalidade, como demonstrado em estudos com ratos hipertensos.7,8
Outro fator associado à ocorrência de insuficiência cardíaca é a monoamina oxidase A (MAO-A). Essa enzima tem sua atividade aumentada na hipertensão e é responsável pela degradação da catecolamina, o que aumenta a geração de espécies reativas de oxigênio, levando à cardiotoxicidade.9 Portanto, é extremamente importante direcionar as causas para prevenir ou atenuar as alterações decorrentes das doenças cardiovasculares.
Jevjdovic et al.,10 desenvolveram um estudo com o objetivo de investigar a expressão gênica específica da região dos subtipos de receptores adrenérgicos (ADRB1, ADRB2 e ADRB3) e da MAO-A no miocárdio de descendentes do sexo feminino e masculino. O referido estudo é um dos poucos estudos que avaliaram a diferença entre sexo e regiões do ventrículo esquerdo (ápex e base).
Os autores destacaram que a ocorrência de uma situação estressora aumentou o nível plasmático do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), que caracteriza o estresse materno. No entanto, o estresse pré-natal não causou alterações no período gestacional nos parâmetros avaliados, como ganho de peso materno, consumo de água e alimentos, glicemia, tamanho da ninhada, peso neonatal e ganho de peso dos filhotes, sendo este último um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares em adultos.10
A avaliação dos receptores adrenérgicos esclareceu a diminuição da expressão de ADRB1 na região apical do ventrículo esquerdo em filhotes. A redução da expressão apical de ADRB1 é característica das doenças cardíacas. A expressão de ADRB3 foi indetectável no ventrículo esquerdo de ratos. Além disso, os autores não encontraram modificações significativas no nível de mRNA da MAO-A no coração pré-natal fêmeo ou macho. Este foi o primeiro estudo que relatou o nível de expressão gênica do receptor β adrenérgico em diferentes regiões do ventrículo esquerdo de ratos.10
Jevjdovic et al.,10 mostraram dados muito relevantes sobre os efeitos do estresse pré-natal relacionados ao sexo na expressão específica de região em ratos cardíacos. Os resultados da expressão gênica sugerem que o estresse pré-natal pode levar a doenças cardiovasculares. Entretanto, a avaliação da expressão proteica seria importante para corroborar e consolidar as afirmações do artigo citado.