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Façamos nós mesmos

Façamos nós mesmos

Autores:

Paulo Schor

ARTIGO ORIGINAL

Brazilian Journal of Otorhinolaryngology

versão impressa ISSN 1808-8694

Braz. j. otorhinolaryngol. vol.81 no.1 São Paulo jan./fev. 2015

http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2014.11.002

Tradicionalmente, grandes empresas da área médica apresentam "objetos do desejo" que nem sempre são aplicações realmente esperadas. Reiteradamente, essas "propostas" vêm acompanhadas de uma enorme campanha de marketing (ou convencimento). Locais seletos recrutam engenheiros e, ocasionalmente, profissionais da saúde para desenvolver (geralmente a portas fechadas) novas "gerações" de antigos equipamentos.

De altíssimo valor agregado, esse meio de inovação encarece e restringe o alcance da população à chamada "tecnologia de ponta". Surge então o jargão do "prego procurando o martelo", ou seja, uma solução à procura de uma aplicação.

Sabemos do potencial natural de nosso paísa e do subdesenvolvimento crônico quando tratamos de inovações radicais. Raras empresas, como a Embrapa e Embraer, mudam o modo como nos relacionamos com o meio ambiente e o mundo. Agências como a Fapesp1 e confederações como o Senai2 buscam aproximar os pesquisadores das empresas. Com isso, acredita-se acelerar a aplicação da ciência na sociedade, sem deixar de investir na produção de conhecimento. O governo prioriza áreas que considera estratégicas e recentemente lançou as plataformas do conhecimento3 também com o intuito de oferecer soluções a gargalos tecnológicos. Mesmo com todo esse movimento, a velocidade de transformação ainda é lenta.

A estratégia "do it yourself" (DIY) tem sido usada na área da saúde. De maratonas tecnológicas chamadas de hackatones 4 a kits internacionais,5 grupos buscam dar poder a comunidades locais na produção de soluções que melhorem a qualidade de vida da população.

Com a disseminação e simplificação de ferramentas, como as impressoras 3D, arduínos e linguagem de programação, até crianças são convocadas a desenhar produtos.6 Essa realidade contrasta agudamente com o que a área médica está acostumada a chamar de inovação.

Em nosso meio, seguimos esse caminho, dando início ao movimento MedHacker.7 Trata-se de um grupo universitário ligado ao Departamento de Oftalmologia da Escola Paulista de Medicina, formado por pessoas com expertise em diversas áreas (médica ou não). Nele são incentivadaa a criatividade e a ousadia pouco conservadoras e convencionais, "para o bem de todos".

Com uma equipe plural, que vai de médicos a historiadores e designers, o "MedHacker" propõe levar o conceito de inovação a fundo, entendendo o ser humano como fonte tanto do conhecimento do problema como de soluções práticas na área da saúde.8 São desenhadas soluções conjuntas a partir de vivências, levando em conta a usabilidade e utilidade das produções. Modelam-se materiais e propõem-se críticas científicas e humanísticas, tendo como foco os pacientes e sustentadas no profundo conhecimento das bases teóricas pertinentes.

Este modelo alternativo e moderno tem produzido protótipos e motivado jovens, que formam empresas e se agrupam em incubadoras. Uma geração incentivada a criar, e não somente consumir. Um possível caminho para a sustentabilidade e crescimento de que tanto precisamos, diminuindo a dependência tecnológica e apontando para um futuro a ser construído por nós mesmos.

REFERÊNCIAS

1.
2.
3. http://www.brasil.gov.br/ciência-e-tecnologia/2014/07/ministro-apresenta-bases-teoricas-de-plataformas-do- conhecimento
4.
5.
6. http://static.squarespace.com/static/5274eedce4b0298e6ac5effd/t/53833733e4b08f61e7a5ffa6/1401108275111/Designathon 2305.pdf
7. http://www.unifesp.br/ligas/medhacker/medhacker-voce-e- um-deles/
8.