Print version ISSN 0103-2100On-line version ISSN 1982-0194
Acta paul. enferm. vol.31 no.5 São Paulo 2018
http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201800075
Examinar las relaciones entre calidad de vida, nutrición y fragilidad en individuos no institucionalizados con edad superior a 75 años.
Estudio observacional, transversal y analítico realizado durante el año 2015, a través de la aplicación de un cuestionario con una muestra de individuos con más de 75 años de edad residentes en la comunidad y seleccionados a través de muestreo por conveniencia.
Una proporción mayor de mujeres presentó baja calidad de vida en relación con los hombres: 20,9% contra 9% (p <0,01). El riesgo de desnutrición se asoció a una baja calidad de vida (35%) (23,4%) (p <0,000). Una proporción mayor de individuos fragilizados presentó baja calidad de vida: 55,7% contra 17,4% (p <0.000).
La calidad de vida de los ancianos es influenciada por la presencia de síntomas de depresión, estado nutricional, sexo, fragilidad e incapacidad básica e instrumental.
Descriptores Anciano; Calidad de vida; Anciano frágil
A OMS define qualidade de vida como “a percepção de um indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistemas de valores no qual vive e em relação às suas metas, expectativas, padrões e preocupações”.(1) A análise da qualidade de vida de idosos envolve compreender como eles vivem e ter informações que permitam avaliar seu nível de satisfação de acordo com suas necessidades e as melhorias que eles podem necessitar para manter um nível adequado de qualidade.(2) Estudos recentes analisaram a qualidade de vida de idosos em relação ao comportamento, prescrição de medicamentos, problemas de saúde e em termos sociais.(3–7) A qualidade de vida dos idosos tem aspectos em comum com a de outros grupos populacionais, como relações sociais, atividades recreativas e satisfação, fatores sociais e ambientais, suporte social, condições econômicas e uso de tecnologias da informação, os quais possuem um impacto importante nos idosos.(8,9)
As diferenças mais relevantes associadas a qualidade de vida entre os idosos e o restante da sociedade podem ser observadas em aspectos relacionados à incapacidade e dependência. Nesse contexto, a fragilidade é um estado anterior à incapacidade, e consequentemente à dependência.(10) Ao entender a existência da fragilidade, identificar os fatores de risco que podem desencadeá-la e investigá-la com escalas e instrumentos de pontuação, é possível detectar a população fragilizada e pré-fragilizada. Isso representa um passo à frente na melhoria da qualidade de vida dos idosos. Estudos apontam que o uso de instrumentos simples e uma promoção da saúde adequada possibilitam retardar a dependência, melhorar a qualidade de vida, e consequentemente reduzir os custos de longo prazo nos sistemas social e de saúde.(11)
A prevalência da fragilidade e de suas causas varia, e pode ser encontrada em 5% a 58% dos idosos.(12) Um fator que contribui para o aumento da fragilidade entre os idosos é um estado nutricional ruim(13,14) considerado um indicador de longevidade e qualidade de vida durante essa fase,(14) uma vez que está associado a mudanças fisiológicas como perda da função oral, refletida em atividades motoras da boca, como mastigação, deglutição, salivação e perda de partes dentárias.(15) Também se manifesta por alteração ou diminuição do discernimento do sabor dos alimentos e bebidas (geralmente relativo ao consumo de determinados medicamentos, neuropatias, transtornos gastrointestinais ou endócrinos, doenças inflamatórias, doenças crônicas, neoplasmas, imobilidade, isolamento social, limitações econômicas e baixa qualidade de vida).(15,16)
Como consequência, parece generalizar-se que os idosos, por vezes, ingerem menos alimentos que o necessário, uma situação que quando persiste desencadeia um estado catabólico que leva a uma redução progressiva de massa muscular, perda de peso e redução da força e funcionalidade.(16,17) Nesse sentido o estado nutricional tem um papel fundamental no processo de fragilização dos idosos.(14)
Dada a importância da nutrição e fragilidade como elementos críticos na qualidade de vida dos idosos, o objetivo deste estudo foi analisar as relações entre qualidade de vida, nutrição e fragilidade em indivíduos não institucionalizados com mais de 75 anos de idade.
Estudo observacional transversal com fatores analisados em relação à qualidade de vida. Os dados foram extraídos da “Pesquisa FRALLE”(18) consistindo em 172 perguntas feitas através de instrumentos de medição validados, que medem a fragilidade, o risco de desnutrição e a qualidade de vida relacionada à saúde (HRQoL). Os dados foram coletados ao longo do ano de 2015. A amostra foi formada por indivíduos não institucionalizados com idade superior a 75 anos. O estudo incluiu pessoas de ambos os sexos, residentes em domicílios familiares, que tinham cartões de saúde e concordaram em participar do estudo, além de pessoas com déficit cognitivo com acompanhante (nesse caso, perguntas relativas a dados subjetivos não foram feitas). Indivíduos em estágios terminais da vida, institucionalizados, com déficit cognitivo e sem acompanhante, bem como aqueles que não aceitaram participar, foram excluídos. A amostra foi obtida através de amostragem intencional em consultas de enfermagem em unidades de atenção primária à saúde no departamento de Castellón (Espanha). Uma amostra de 400 indivíduos foi obtida de acordo com o cálculo estabelecido. Qualidade de vida: medida através do questionário de saúde Short-Form 36(19,20) consistindo em 36 itens em uma escala de 0 (pior estado de saúde) a 100 (melhor estado de saúde). Os itens são organizados em 8 dimensões, divididos em duas escalas: um componente físico (funcionamento físico, funcionamento da função física e dor no corpo) e um componente mental (saúde mental, funcionamento da função emocional, funcionamento da função social e vitalidade). A qualidade de vida foi categorizada como boa (pontuação maior ou igual a 50) ou ruim (abaixo de 50). Sociodemografia: Estado civil (“Sozinho” para pessoas que viviam por conta própria em suas casas e “Com alguém” quando viviam com um familiar ou cuidador). Renda mensal (< 900 euros e > 900 euros) e sexo (feminino e masculino). Risco de desnutrição: medido através do formulário simplificado Mini Avaliação Nutricional (MNA-SF)(21) consistindo de 6 perguntas com uma pontuação máxima de 14. Uma pontuação entre 12 e 14 indica “estado nutricional normal”, entre 8 e 11 “em risco de desnutrição” e de 0 a 7 “subnutrido”. A fragilidade foi definida de acordo com os critérios de Fried et al.:(17) Os indivíduos foram considerados “fragilizados” quando apresentavam três ou mais critérios de fragilidade, “pré-fragilizados” quando apresentavam um ou dois critérios, e “não fragilizados” quando não apresentavam nenhum critério. A comorbidade foi medida com o índice de Charlson,(22) cuja pontuação total é 37, e considera-se comorbidade a pontuação ≥ 3. Atividades básicas da vida diária (ABVD) foram medidas com a escala Lawton-Brody.(23) Uma pontuação de 0 a 1 foi considerada “sem ou com leve incapacidade”, pontuações de 2 ou mais foram consideradas “incapacidade moderada-severa”. Atividades instrumentais da vida diária (AIVD) também foram medidas com a escala de Lawton-Brody,(24) categorizadas da seguinte forma: ausência e incapacidade instrumental (incapacidade de executar 1 ou mais das atividades). Sintomas de depressão: a Escala de Depressão do Centro de Estudos Epidemiológicos (CES-D)(25) foi utilizada para medir a presença de sintomas de depressão. Ela contém um questionário com 22 itens e uma pontuação ≥17 indica depressão.
Antes de iniciar o estudo o Comitê de Ética em Pesquisa Clínica do Departamento de Saúde de Castellón aprovou a solicitação do projeto de estudo. Os entrevistados assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, e a confidencialidade dos dados foi plenamente mantida. Uma análise descritiva foi realizada através de medidas de tendência central e percentuais de frequência. Na análise bivariada utilizou-se o teste qui-quadrado de Pearson para as variáveis qualitativas, com nível de significância de p<0.05. Posteriormente realizou-se uma análise multivariada de regressão logística binária, incluindo resultados anteriores estatisticamente significativos ao modelo. O nível de não-resposta foi avaliado (indivíduos que preferiram não responder certas perguntas da pesquisa ou pessoas com déficit cognitivo). Considerando-se que de acordo com Demaio(26) quando o nível de não-resposta fica abaixo de 10% uma inferência pode ser feita com os casos disponíveis, optou-se por não utilizar nenhum processo de imputação. O programa estatístico SPSS, versão 21.0, foi utilizado para análise dos dados.
Foram entrevistados 400 indivíduos, 52,8% eram mulheres, com idade média de 81,3 anos, variando de 75 a 96 anos. Observou-se uma prevalência de baixa qualidade de vida nos componentes mental (8,8%) e físico (15,3%).
Diferenças significativas na qualidade de vida foram observadas em relação ao sexo; a proporção de mulheres com baixas pontuações (20,9%) foi mais elevada do que nos homens (9%) (p<0,01).
A tabela 1 resume os resultados obtidos na análise bivariada para o componente físico da qualidade de vida. Uma associação entre risco de desnutrição e qualidade de vida foi observada. A proporção de indivíduos que obtiveram pontuação baixa no componente físico da qualidade de vida foi mais elevada entre pessoas em risco de desnutrição ou que se encontravam desnutridas (35% e 13,3%) que a proporção de indivíduos com boa qualidade de vida que apresentavam risco de desnutrição ou estavam desnutridos (23,4% e 1,2%) (p<0.000).
Tabela 1 Componente físico da qualidade de vida em relação às variáveis do estudo
Variáveis | Componente físico | ||||
---|---|---|---|---|---|
Total | Baixa | Boa | p-value | ||
n(%) | n(%) | n(%) | |||
Sexo | |||||
Feminino | 211 (52,8) | 44 (72,1) | 167 (49,3) | 0,001 | |
Masculino | 189 (46,4) | 17 (27,9) | 172(50,7) | ||
Estado civil | |||||
Com alguém | 258 (64,5) | 43 (70,5) | 215 (63,4) | 0,288 | |
Sozinho | 142 (35,5) | 18 (29,5) | 124 (36,6) | ||
Renda mensal | |||||
<900 | 135 (41,5) | 26 (52) | 109 (39,6) | 0,103 | |
≥ 900 | 190 (58,5) | 24 (48) | 166 (60,4) | ||
Estado nutricional | |||||
Normal | 283 (71,8) | 31 (51,7) | 252 (75,4) | 0,000 | |
Em risco | 99 (25,1) | 21 (35) | 78 (23,4) | ||
Desnutrido | 12 (3) | 8 (13,3) | 4 (1,2) | ||
Fragilidade | |||||
Não fragilizado | 89 (22,3) | 3 (4,9) | 86 (25,4) | 0,000 | |
Pré-fragilizado | 218 (54,5) | 24 (39,3) | 194 (57,2) | ||
Fragilizado | 93 (23,3) | 34 (55,7) | 59 (17,4) | ||
Comorbidade | |||||
Nenhuma | 229 (57,3) | 29 (47,5) | 200 (59) | 0,140 | |
Baixa | 83 (20,8) | 13 (21,3) | 70 (20,6) | ||
Alta | 88 (22) | 19 (31,1) | 69 (20,4) | ||
Depressão | |||||
Não | 186 (46,5) | 14 (23) | 172 (50,7) | 0,000 | |
Sim | 214 (53,5) | 47 (77) | 167 (49,3) | ||
Incapacidade básica | |||||
Nenhuma-Leve | 382 (95,7) | 55 (90,2) | 327 (96,7) | 0,019 | |
Moderada-Severa | 17 (4,3) | 6 (9,8) | 11 (3,3) | ||
Incapacidade instrumental | |||||
Nenhuma | 198 (50,5) | 22 (37,9) | 176 (52,7) | 0,038 | |
Moderada-Severa | 194 (49,5) | 36 (62,1) | 158 (47,3) |
Em relação à fragilidade, os resultados demonstraram que a proporção de indivíduos com baixa qualidade de vida aumentou de acordo com o nível de fragilidade. A proporção de indivíduos fragilizados com baixa qualidade de vida (55,7%) foi mais elevada do que a de indivíduos fragilizados com boa qualidade de vida (17,4%). No caso de não fragilidade ou condição pré-fragilidade a proporção de indivíduos com boa qualidade de vida (25,4 e 57,2%) foi maior do que a de indivíduos com baixa qualidade de vida (4,9 e 39,3%, respectivamente) (p<0,000).
A presença de sintomas de depressão foi associada a uma pontuação mais baixa no componente físico da qualidade de vida, em uma proporção mais elevada: 77% contra 49,3% que não apresentava sintomas de depressão (p<0,000). Além disso, os resultados mostraram uma diferença estatisticamente significativa para as variáveis incapacidade básica e instrumental, em que a proporção de indivíduos com incapacidade básica para atividades da vida diária (moderada-severa) obteve piores pontuações de qualidade de vida (9,8%) do que indivíduos sem ou com leve incapacidade (3,3%) (p=0,019). Uma boa pontuação em qualidade de vida física foi associada a nenhuma ou leve incapacidade básica (99%) (p=0,019). A proporção de indivíduos com incapacidade instrumental que apresentou baixa qualidade de vida nos componentes físicos foi maior: 62,1% contra 47,3% (p=0,46) para aqueles que não apresentaram.
Não foi encontrada associação para a comorbidade e variáveis sociodemográficas (estado civil e renda).
Para o componente de saúde mental da qualidade de vida (Tabela 2), os resultados mostraram diferenças estatisticamente significativas em relação ao sexo, em que as pontuações das mulheres foram mais baixas do que as dos homens: 22,9% contra 77,1% respectivamente (p=0,003). Houve também diferenças estatisticamente significativas em relação ao risco de desnutrição e fragilidade: a proporção de indivíduos que obtiveram uma pontuação baixa no componente mental de qualidade de vida foi mais elevada para indivíduos apresentando risco de desnutrição e que encontravam-se fragilizados: 62,9% e 60%, respectivamente (p=0,000).
Tabela 2 Componente mental da qualidade de vida com relação às variáveis do estudo
Variáveis | Componente mental | ||||
---|---|---|---|---|---|
Total | Baixa | Boa | p-valor | ||
n% | n(%) | n(%) | |||
Sexo | |||||
Feminino | 211 (52,8) | 27 (77,1) | 184 (50,4) | 0,002 | |
Masculino | 189 (47,3) | 8 (22,9) | 181 (49,6) | ||
Estado civil | |||||
Com alguém | 258 (64,5) | 24 (68,6) | 234 (64,1) | 0,598 | |
Sozinho | 142 (35,5) | 11 (31,4) | 131 (35,9) | ||
Renda mensal | |||||
<900 | 135 (41,5) | 14 (51,9) | 121 (40,6) | 0,256 | |
≥ 900 | 190 (58,8) | 13 (48,1) | 177 (59,4) | ||
Estado nutricional | |||||
Normal | 283 (71,8) | 13 (37,1) | 270 (75,2) | 0,000 | |
Em risco | 99 (25,1) | 15 (42,9) | 84 (23,4) | ||
Desnutrição | 12 (3) | 7 (20) | 5 (1,4) | ||
Fragilidade | |||||
Não fragilizado | 89 (22,3) | 1 (2,9) | 88 (24,1) | 0,000 | |
Pré-fragilizado | 218 (54,5) | 13 (37,1) | 205 (56,2) | ||
Fragilizado | 93 (23,3) | 21 (60) | 72 (19,7) | ||
Comorbidade | |||||
Nenhuma | 229 (57,3) | 16 (45,7) | 213 (58,4) | 0,026 | |
Baixa | 83 (20,8) | 5 (14,3) | 78 (21,4) | ||
Alta | 88 (22) | 14 (40) | 74 (20,3) | ||
Depressão | |||||
Não | 186 (46,5) | 3 (8,6) | 183 (50,1) | 0,000 | |
Sim | 214 (53,5) | 32 (91,4) | 182 (49,9) | ||
Incapacidade básica | |||||
Nenhuma-Leve | 382 (95,7) | 32 (91,4) | 350 (96,2) | 0,186 | |
Moderada-Severa | 17 (4,3) | 3 (8,6) | 14 (3,8) | ||
Incapacidade instrumental | |||||
Nenhuma | 198 (50,5) | 17 (51,5) | 181 (50,4) | 0,904 | |
Moderada-Severa | 194 (49,5) | 16 (48,5) | 178 (49,6) |
Os resultados indicaram uma associação significativa entre qualidade de vida e comorbidade. A proporção de indivíduos sem nenhuma comorbidade que apresentaram um bom componente mental de qualidade de vida foi maior (58,4%) que entre aqueles com baixa ou alta comorbidade (21,4% e 20,3%, respectivamente) (p= 0,026).
Observou-se que a depressão é um fator associado a uma baixa pontuação no componente mental da qualidade de vida em que houve uma maior proporção de indivíduos com sintomas de depressão (71,9%) com baixa qualidade de vida do que indivíduos sem nenhum sintoma (26,7%) (p=0,000). Com relação à incapacidade básica, os resultados indicaram que entre indivíduos com incapacidade moderada ou severa a proporção de baixa qualidade de vida (5,7 e 2,9%) foi maior que entre aqueles com boa qualidade de vida (1,5% e 0,3%) (p=0,028).
Ao analisar o efeito das variáveis associadas aos componentes da qualidade de vida no modelo estimado (Tabela 3) as variáveis que explicaram o componente físico da qualidade de vida foram fragilidade e incapacidade básica. O risco de apresentar baixa qualidade de vida física foi 1,5 vezes maior entre idosos fragilizados que em não-fragilizados (OR=1,566, CI=0,047-0,924) e o risco de apresentar uma pontuação baixa no componente físico da qualidade de vida foi 0,6 vezes maior entre idosos com incapacidade básica para atividades da vida diária. Para o componente mental da qualidade de vida (Tabela 3) as variáveis que o explicam são estado nutricional (OR=1,393, CI=0,107-0,579) e sintomas de depressão (OR=1,223, CI=0,130-0,664).
Tabela 3 Fatores associados a componentes físicos e mentais da qualidade de vida
Variáveis | Componente físico | ||
---|---|---|---|
OR | 95% CI | p-valor | |
Incapacidade básica | 0,643 | 1,173-3,085 | 0,009 |
Incapacidade instrumental | 0,069 | 0,853-1,345 | 0,555 |
Depressão | 0,596 | 0,282-1,074 | 0,080 |
Estado nutricional | 0,357 | 0,349-1,402 | 0,314 |
Fragilidade | 1,566 | 0,047-0,924 | 0,039 |
Sexo | 0,749 | 0,210-1,064 | 0,070 |
Variável | Componente mental | ||
OR | 95% CI | p-valor | |
Depressão | 1,393 | 0,107-0,579 | 0,001 |
Estado nutricional | 1,223 | 0,130-0,664 | 0,003 |
Comorbidade | 0,552 | 0,258-1,285 | 0,178 |
Fragilidade | 17,84 | 0,000- | 0,997 |
Sexo | 0,854 | 0,167 - 1,087 | 0,074 |
Índice de probabilidade (OR); Intervalo de confiança de 95% (95% CI)
Embora haja uma série de instrumentos para medir a HRQoL, o SF-36 foi escolhido para o presente estudo por ser amplamente utilizado por sua confiabilidade e consistência interna. Neste estudo a prevalência de baixa qualidade de vida para ambos os componentes foi baixa em comparação com os resultados do estudo realizado por Jürschik et al.(18) Esses resultados podem ser explicados pelo fato de que o estudo não incluiu indivíduos institucionalizados, entre os quais poderia ter havido uma maior prevalência de baixa qualidade de vida, além de o estudo ter sido realizado em uma cidade de porte médio em comparação aos resultados obtidos em cenários rurais.(27,28)
Existe uma vasta literatura demonstrando uma associação entre baixas pontuações para percepção da qualidade de vida nos dois componentes e no sexo feminino,(29–31) coincidindo com os achados do presente estudo. Esses dados poderiam explicar, como no caso dos autores citados, porque as mulheres veem o envelhecimento como um fator negativo da vida e os homens se adaptam melhor a esse processo.
Embora o presente estudo não tenha sido capaz de estabelecer uma associação entre qualidade de vida e renda mensal, Morcillo et al.,(32) Ploubidis et al. e Coronado et al.(31,33) observaram que a qualidade de vida era pior entre idosos com menor renda mensal. Isso pode se dever ao fato de que o nível de não-resposta nesse ponto foi maior na amostra do presente estudo.
Como no presente estudo, observou-se que a qualidade de vida em relação à saúde é afetada por diversas patologias,(34) embora esteja também relacionada a uma redução nos dois componentes da HRQoL em pacientes com apenas uma patologia,(35,36) geralmente associada a condições crônicas. É importante notar que uma associação foi encontrada na população idosa de Castellón entre o componente mental da qualidade de vida e comorbidade, como em um estudo realizado em Tarragona com uma população adulta.(37)
Outro fator associado à qualidade de vida é a depressão, que no presente estudo afetou os dois componentes, conforme observado também em estudos de Coronado et al. e Capote et al.(30,31)
Além disso, observou-se uma associação entre incapacidade básica e instrumental e o componente físico da HRQoL. Isso pode ocorrer porque surgem doenças em idades avançadas que podem resultar em deterioração mental e funcional dos idosos, criando dependências em atividades da vida diária e impondo restrições à autonomia, conforme também observado por Coronado et al.(31)
As relações encontradas entre fragilidade e qualidade de vida são semelhantes às que foram observadas em um estudo de Toledo.(38) Neste estudo uma relação causal positiva foi observada entre qualidade de vida, fragilidade e incapacidade básica no componente físico e entre estado nutricional e sintomas de depressão no componente mental, confirmando que a qualidade de vida da população idosa de Castellón foi influenciada por múltiplos fatores, incluindo sociodemográficos e relativos à saúde, assim como no caso do estudo realizado por Miranda et al.(39)
Os achados ressaltam o papel da fragilidade e incapacidade básica no componente físico da qualidade de vida, e o estado nutricional e depressão no componente mental da qualidade de vida, identificando assim essas variáveis como áreas importantes de intervenção para melhoria dos resultados em matéria de saúde.(40,41)
Embora existam diversos estudos sobre qualidade de vida, os resultados deste estudo enfatizam a importância de avaliar e abordar a percepção negativa que os idosos têm de si, e determinar quais fatores influenciam essa percepção. A promoção da saúde é um conceito interdisciplinar, e a função dos enfermeiros é essencial, pois são os profissionais que mais frequentemente prestam cuidados a idosos que vivem em suas residências. É importante que os enfermeiros avaliem a qualidade de vida de seus pacientes idosos e implementem intervenções para melhoria da qualidade de vida.
Uma limitação do estudo foi o baixo número de centros participantes. Embora não tenha representado todos os centros do departamento, a amostra obtida foi representativa das características sociodemográficas. Houve ainda perdas ocorridas nas respostas às perguntas subjetivas da pesquisa, pois os participantes com déficit cognitivo não puderam respondê-las.
A maioria dos idosos de Castellón residentes na comunidade apresentou boa qualidade de vida. A qualidade de vida dos idosos foi influenciada pela presença de sintomas de depressão, estado nutricional, sexo, fragilidade e incapacidade básica e instrumental. Fragilidade, incapacidade básica e instrumental e sexo aumentaram a probabilidade de baixa qualidade de vida no componente físico. Estado nutricional, comorbidade, sintomas de depressão e sexo aumentaram a probabilidade de baixa qualidade de vida no componente mental.