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Family-centered care: from discourse to practice

Family-centered care: from discourse to practice

Autores:

Maria do Céu Aguiar Barbieri-Figueiredo

ARTIGO ORIGINAL

Acta Paulista de Enfermagem

Print version ISSN 0103-2100On-line version ISSN 1982-0194

Acta paul. enferm. vol.28 no.6 São Paulo Nov./Dec. 2015

http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201500083

Os cuidados centrados na família são uma filosofia de cuidados com mais de meio século de existência. Esta filosofia teve origem nos cuidados pediátricos, sendo expandida a todos os tipos de cuidados e abrindo uma perspectiva de mudança paradigmática nos cuidados de saúde.

Esta mudança exige que o modelo patriarcal e paternalista (que está centrado no saber e poder dos profissionais de saúde) seja abandonado, e um outro modelo (que é caracterizado por parceria, dignidade e respeito) seja adotado, no qual há partilha de informação e colaboração com pacientes e famílias.(1, 2)

Na maioria dos países desenvolvidos, esses valores fazem parte das políticas de saúde e missão dos sistemas de saúde. No entanto, constatamos frequentemente que os cuidados centrados na família são um mero discurso em que apenas se fala sobre saúde da família. De fato, apenas se avalia o número de consultas disponibilizados na atenção primária a pacientes com uma determinada patologia crônica, ou a capacitação do prestador de cuidados assegurando a continuidade desses cuidados a familiares dependentes.

Estamos vivendo em tempos de austeridade econômica, em que os sistemas de saúde estão ameaçados tanto pela escassez de recursos como pelo aumento das necessidades em cuidados. Tal ameaça decorre em parte do envelhecimento populacional e do aumento no número de doenças crônicas. Nessas condições, transferir a prestação de cuidados às famílias, sem o devido suporte profissional, é indesejável e perigoso.

O cuidado centrado na família requer uma avaliação sistemática da complexidade de cada família. Por sua vez, isto exige o recurso a instrumentos que permitam conhecer e documentar a história daquela família, inclusive suas crenças e valores, seu estilo de comunicação e sua capacidade de tomar decisões.

Considerando a proximidade dos enfermeiros nos serviços de saúde e a natureza dos seus cuidados, eles estão particularmente bem posicionados para intervir e apoiar as famílias ao longo do ciclo de suas vidas. Além disso, eles podem ajudar as famílias a mobilizar seus próprios recursos e se fortalecer nos momentos de crise, os quais também podem ser momentos de crescimento e recompensa familiar.

Atualmente, há um considerável corpo de conhecimentos sobre enfermagem da família, os quais foram gerados pela investigação. Entretanto, é necessário que esse conhecimento seja ensinado nos cursos de graduação e pós-graduação e depois transferido à prática clínica, tanto nos contextos hospitalares como ambulatoriais.

Para implementar cuidados centrados na família, é também necessário transformar os profissionais da equipes multidisciplinares de saúde, fortalecendo suas crenças facilitadoras sobre as famílias e suas competências relacionais.(1)

Em um dos textos pioneiros sobre enfermagem da família (1997), Dorothy Whyte, uma enfermeira e pesquisadora escocesa, afirmou o seguinte: “Mais que um desenvolvimento dos cuidados de enfermagem na comunidade, na pediatria ou na psiquiatria, os cuidados de enfermagem à família são o desenvolvimento lógico de uma abordagem holística dos cuidados aos pacientes e um compromisso na promoção da saúde”.(3)

Quase duas décadas depois, suas palavras continuam atuais e são um desafio para passar do discurso à prática e tornar habituais os cuidados centrados na família.(1)

Maria do Céu Aguiar Barbieri-Figueiredo
Orcid: 0000-0003-0329-0325
RN, MSc, PhD
Coordenadora do
Núcleo de Investigação em Enfermagem de Família,
Unidade de Investigação,
Escola Superior de Enfermagem do Porto
(Portugal)

REFERÊNCIAS

1. Bell JM. Family Nursing is More than Family Centered Care (Editorial). J Fam Nurs. 2013 Nov; 19 (4):411-417.
2. Shields l, Pratt J, Hunter J. Family centred care: a review of qualitative studies. J Clin Nurs. 2006 Oct;15(10):1317-23.
3. Whyte D. Explorations in family nursing. London: Routledge; 1997, p. 6