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Fármacos Podem Influenciar na Prescrição de Exercícios na Cardiopatia Chagásica

Fármacos Podem Influenciar na Prescrição de Exercícios na Cardiopatia Chagásica

Autores:

Raphael Martins Cunha,
Rodrigo Pires Santos,
Alexandre Machado Lehnen,
Bruno Ramos Nascimento,
Marcia Maria Oliveira Lima,
Manoel Otávio da Costa Rocha,
Antonio Luiz Pinho Ribeiro

ARTIGO ORIGINAL

Arquivos Brasileiros de Cardiologia

versão impressa ISSN 0066-782Xversão On-line ISSN 1678-4170

Arq. Bras. Cardiol. vol.104 no.5 São Paulo maio 2015

https://doi.org/10.5935/abc.20150054

Prezado editor,

O estudo de Nascimento e cols.1 apresenta informações sobre os efeitos do treinamento físico e a Variabilidade da Frequência Cardíaca (VFC) em indivíduos com cardiopatia chagásica. As alterações na VFC não foram encontradas após intervenção com exercícios físicos, porém o grupo intervenção apresentou melhora da capacidade funcional ao final de 12 semanas do estudo.

Alterações no sistema nervoso autônomo são observadas na cardiopatia chagásica e, embora o treinamento físico possa melhorar a VFC em outras formas de insuficiência cardíaca, evidências sugerem que na cardiopatia chagásica não2, corroborando achados de Nascimento e cols.1. No entanto, além de serem relativamente escassos os estudos sobre o tema, o que limita maiores conclusões, questões relativas à prescrição do treinamento no presente estudo necessitam ser melhor esclarecidas. Apesar de o protocolo ter sido estabelecido por meio de publicação prévia de ensaio clínico randomizado sobre o tema3, a falta de descrição sobre o uso de fármacos pelos pacientes do estudo, como betabloqueadores, que impactam no cronotropismo, reduzindo a frequência cardíaca, poderia ter alterado os resultados do estudo. Assim, fórmulas que estimam a intensidade do treinamento, como a usada no citado estudo, passam a ser limitadas na presença de fármacos com interação cronotrópica.

Além disso, a não utilização de exame ergoespirométrico na prescrição do exercício pode ter comprometido o estabelecimento real da intensidade do treinamento. Nesse contexto, é sabido que intensidades diferentes geram adaptações diferentes no sistema, que, por sua vez, podem ter influenciado diferentes adaptações autonômicas após o periodo de intervenção.

Esses fatores poderiam ter influenciado a intervenção no ensaio clínico de Nascimento e cols.1 e impactado no desfecho aferido. Dessa forma, novos estudos são necessários para melhor investigar tais questões, com maior controle das variáveis, visando conhecer as adaptações autonômicas, em melhor padronização da prescrição/acompanhamento do treinamento físico em grupo de indivíduos com cardiopatia chagásica, a fim de ter, quem sabe, dados alvissareiros.

REFERÊNCIAS

Nascimento BR, Lima MM, Nunes M do C, de Alencar MC, Costa HS, Pinto Filho MM. Efeitos do treinamento físico sobre a variabilidade da frequência cardíaca na cardiopatia chagásica. Arq Bras Cardiol. 2014;103(3):201-8.
Sousa L, Rocha MO, Britto RR, Lombardi F, Ribeiro AL. Chagas disease alters the relationship between heart rate variability and daily physical activity. Int J Cardiol. 2009;135(2):257-9.
Lima MM, Rocha MO, Nunes MC, Sousa L, Costa HS, Alencar MC, et al. A randomized trial of the effects of exercise training in Chagas cardiomyopathy. Eur J Heart Fail. 2010;12(8):866-73.
Nascimento BR, Lima MM, Nunes M do C, de Alencar MC, Costa HS, Pinto Filho MM. Efeitos do treinamento físico sobre a variabilidade da frequência cardíaca na cardiopatia chagásica. Arq Bras Cardiol. 2014;103(3):201-8.
Sousa L, Rocha MO, Britto RR, Lombardi F, Ribeiro AL. Chagas disease alters the relationship between heart rate variability and daily physical activity. Int J Cardiol. 2009;135(2):257-9.
Lima MM, Rocha MO, Nunes MC, Sousa L, Costa HS, Alencar MC, et al. A randomized trial of the effects of exercise training in Chagas cardiomyopathy. Eur J Heart Fail. 2010;12(8):866-73.