versão impressa ISSN 0047-2085versão On-line ISSN 1982-0208
J. bras. psiquiatr. vol.65 no.2 Rio de Janeiro abr./jun. 2016
http://dx.doi.org/10.1590/0047-2085000000118
To investigate body image dissatisfaction in physical education college students and verify which factors are specifically associated to dissatisfaction with thinness and with overweight.
Participated 299 college students (173 men and 126 women) with mean age of 23.14 (4.93) years, of the baccalaureate and degree courses in Physical Education, from a public university of Florianopolis-SC. Through self-applied questionnaire, the academics answered sociodemographic questions, about body image (figure rating scale) and referred their body mass and stature measurements to compute body mass index.
The prevalence of body image dissatisfaction was 76.6% (27.4% were dissatisfied with thinness and 49.0% with overweight), being higher in females (82.5%). Binary logistic regression analysis revealed association between dissatisfaction with thinness and the variables gender (male) and weight status (normal weight) and between dissatisfaction with overweight and the variables: gender (female), weight status (overweight) and course (degree).
It is necessary that undergraduate courses have contents aimed to the student health, addressing aspects related to eating behavior, obesity, body image and the implications that it can provide in a future teaching practice.
Key words: Body image; Physical Education; students
Nos últimos anos, tem crescido o número de investigações sobre a imagem corporal em universitários de diferentes áreas do conhecimento. Dentre elas, destacam-se os estudos conduzidos em acadêmicos dos cursos de Medicina, Enfermagem, Fisioterapia, Farmácia e, principalmente, Nutrição e Educação Física1-6. Esses se sobressaem por serem cursos considerados da área da saúde e estarem diretamente envolvidos com a saúde e a estética, e a Educação Física integra esses dois aspectos7.
Objetivando verificar a satisfação com a imagem corporal em ingressantes no ensino superior, nos cursos de bacharelado e licenciatura em Educação Física, Claumann et al.2 constataram alta prevalência de insatisfação (79,2%), sugerindo que essa se constitui em uma população em risco. Os autores acreditam que essa elevada prevalência se deve às exigências físicas e estéticas intrínsecas à profissão e ao curso, assim como às possibilidades oferecidas pela área para modificação de seus corpos em busca de satisfação.
Laus et al.8 investigaram as diferenças na percepção da imagem corporal e no comportamento alimentar de universitárias dos cursos de saúde (Educação Física e Nutrição) e de humanas (Publicidade e Propaganda e Administração de Empresas) em Rio Preto-SP. As autoras verificaram que, embora não tenham sido encontradas diferenças significativas na imagem corporal entre as áreas e os cursos, os indivíduos dos cursos de saúde apresentaram probabilidade maior de ter sintomas de transtornos alimentares.
Corroborando tais informações, estudos que abordaram a relação entre imagem corporal e transtornos alimentares em estudantes de Educação Física e Nutrição verificaram que acadêmicos dessas áreas têm maior risco de apresentar sintomas de transtornos alimentares, como bulimia nervosa5,7,9. Além dessa condição, a imagem corporal negativa pode gerar outros comportamentos não saudáveis para a modificação do peso corporal e da forma física, tais como dietas restritivas e prática extenuante de exercício físico, podendo ocasionar transtornos alimentares10,11.
Compreende-se, assim, a necessidade de conhecer aspectos relacionados à imagem corporal de acadêmicos de Educação Física, pois eles serão profissionais que atuarão diretamente com crianças que estão em processo de descobrimento e conhecimento do próprio corpo, bem como com pessoas que buscam modificar a aparência física por estarem insatisfeitas com o próprio corpo. Rech et al.12 salientam a importância de tal investigação nessa população, visto que esses profissionais serão responsáveis por transmitir conhecimentos acerca dos conceitos e reflexões sobre os aspectos que envolvem a saúde e os vícios culturais sobre o corpo em âmbito escolar e não escolar12.
Ademais, Yager e O’Dea13, em estudo conduzido com estagiários de Educação Física, verificaram que a maioria deles apresentava condição prévia ou atual de problemas com a imagem corporal, transtornos alimentares e dependência ao exercício físico. Os autores consideraram surpreendente o fato de poucos desses indivíduos terem buscado algum tipo de assistência para tais problemas, apesar de já terem ao menos ouvido a respeito da importância disso nas aulas na universidade ou visto em leituras. Assim, futuramente em sua atuação profissional, esses professores de Educação Física podem ser menos eficazes em promover a saúde na escola e fora dela, podendo criar preocupações alimentares e de imagem corporal entre pessoas mais vulneráveis13. Diante do exposto, o presente estudo tem como objetivo investigar a insatisfação com a imagem corporal e verificar os fatores que se associam especificamente à insatisfação pela magreza e pelo excesso, em acadêmicos de Educação Física.
Trata-se de uma pesquisa quantitativa, descritiva, com delineamento transversal14, desenvolvida a partir do projeto “Estudo longitudinal da saúde e cognição de acadêmicos de Educação Física da Udesc”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina (Parecer nº 83.192/2012).
O estudo foi conduzido em uma universidade pública de Florianópolis-SC, no primeiro semestre do ano de 2013. Nesse período, havia na instituição 500 acadêmicos matriculados nas oito fases dos cursos de bacharelado e licenciatura em Educação Física (253 do bacharelado), e todos foram considerados elegíveis para participar do estudo. Optou-se por não realizar o cálculo amostral e convidar os estudantes de todas as turmas para responder aos questionários. Aqueles que estavam presentes em sala de aula no momento da coleta de dados e aceitaram participar voluntariamente, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram incluídos no estudo. Os pesquisadores retornaram às turmas ao menos uma vez, em dias distintos, para tentar aplicar o questionário aos acadêmicos que não estavam em sala de aula no primeiro momento da coleta. Aqueles que não foram encontrados em nenhum dos dias de coleta não fizeram parte do estudo.
O questionário entregue aos acadêmicos foi constituído por uma seção de questões sociodemográficas, elaboradas pelos pesquisadores: sexo (masculino e feminino), idade (em anos completos), a qual foi categorizada em < 20 anos e ≥ 20 anos, curso (bacharelado e licenciatura), estado civil (com companheiro e sem companheiro) e jornada de trabalho (< 20 horas/semana e ≥ 20 horas/semana). O nível econômico foi investigado por meio do questionário Critério de Classificação Econômica Brasil – 2010, da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep)15. As classes econômicas foram agrupadas em alta (A1+A2+B1) e média/baixa (B2, C1, C2, D e E).
Os acadêmicos referiram suas medidas de massa corporal e estatura, as quais foram utilizadas para o cálculo do índice de massa corporal (IMC). O IMC foi utilizado para classificar os acadêmicos, quanto ao status do peso, em baixo peso (< 18,5 kg/m2), peso normal (18,5 a 24,99 kg/m2), sobrepeso (25,0 a 29,99 kg/m2) e obesidade (≥ 30,0 kg/2), conforme os pontos de corte estabelecidos para adultos pela Organização Mundial de Saúde (OMS)16. Para fins de análise, no presente estudo, em virtude da reduzida prevalência de acadêmicos com baixo peso (n = 6), estes foram agrupados com os de peso normal (n = 216), formando uma única categoria. Ainda, os acadêmicos com sobrepeso (n = 63) e obesidade (n = 11) foram agrupados e constituíram a categoria “excesso de peso”.
A satisfação com a imagem corporal foi avaliada por meio da escala de silhuetas de Stunkard et al.17. A escala consiste em nove silhuetas do sexo masculino e feminino, dispostas lado a lado. O tamanho das silhuetas aumenta gradativamente, conforme aumenta o número dela; a silhueta 1 representa magreza extrema, enquanto a silhueta 9 representa obesidade severa. Os acadêmicos foram instruídos a observar as silhuetas e indicar, entre as nove apresentadas, correspondentes ao seu sexo, qual delas melhor representava seu corpo naquele momento (silhueta real) e com qual gostariam que seu corpo se parecesse (silhueta ideal). Foram considerados satisfeitos aqueles que indicaram a mesma silhueta real e ideal, insatisfeitos pela magreza os que indicaram uma silhueta ideal maior do que a real e insatisfeitos pelo excesso os que gostariam de uma silhueta ideal menor do que a real.
Os dados foram analisados pela estatística descritiva (média, desvio-padrão e distribuição de frequências). As possíveis associações entre as variáveis foram analisadas por meio do teste qui-quadrado e/ou exato de Fischer. Utilizou-se a regressão logística binária, considerando-se como variáveis dependentes as insatisfações pela magreza e pelo excesso. Foram realizadas análises brutas e ajustadas, permanecendo nos modelos ajustados apenas as variáveis que apresentaram, no modelo bruto, p < 0,2018. Todas as análises foram conduzidas no programa estatístico SPSS, versão 20.0, adotando-se nível de significância de 5%.
Participaram do estudo 299 acadêmicos (173 homens e 126 mulheres) dos cursos de bacharelado (n = 140) e licenciatura (n = 159) em Educação Física, os quais representam 59,8% da população de acadêmicos matriculados na instituição, no semestre em que foram realizadas as coletas de dados. Os participantes apresentaram idades de 18 a 45 anos (média = 23,14 anos; dp = 4,93). Na tabela 1 são apresentadas as características gerais da amostra, estratificada por sexo. As diferentes taxas de resposta apresentadas, de acordo com cada variável, ocorreram pelo fato de alguns acadêmicos terem deixado questões em branco no questionário.
Variáveis | Sexo | |||
---|---|---|---|---|
| ||||
Feminino (n = 126) | % resposta | Masculino (n = 173) | % resposta | |
Idade (anos), x̄ (dp) | 22,77 (4,78) | 98,4 | 23,41 (5,03) | 98,3 |
Faixa etária, n (%) | 98,4 | 98,3 | ||
< 20 anos | 24 (19,4) | 38 (22,4) | ||
≥ 20 anos | 100 (80,6) | 132 (77,6) | ||
Curso, n (%) | 100 | 100 | ||
Bacharelado | 56 (44,4) | 84 (48,6) | ||
Licenciatura | 70 (55,6) | 89 (51,4) | ||
Estado civil, n (%) | 100 | 96,5 | ||
Com companheiro | 47 (37,3) | 58 (34,7) | ||
Sem companheiro | 79 (62,7) | 109 (65,3) | ||
Nível econômico, n (%) | 95,2 | 94,8 | ||
Alto | 57 (47,5) | 74 (45,1) | ||
Médio/Baixo | 63 (52,5) | 90 (54,9) | ||
Status do peso, n (%) | 99,2 | 98,8 | ||
Peso normal | 113 (90,4) | 109 (63,7) | ||
Excesso de peso | 12 (9,6) | 62 (36,3) | ||
Jornada de trabalho, n (%) | 100 | 99,4 | ||
< 20 horas/semana | 59 (46,8) | 74 (43,0) | ||
≥ 20 horas/semana | 67 (53,2) | 98 (57,0) |
x̄(dp): média (desvio-padrão); n: frequência absoluta; %: frequência relativa.
A prevalência de insatisfação com a imagem corporal foi de 76,6%, sendo superior nas mulheres (82,5%) em relação aos homens (72,3%). Ao classificar os acadêmicos em insatisfeitos pela magreza e pelo excesso foram encontradas prevalências de 27,4% e 49,0%, respectivamente. Tanto o sexo feminino (65,3%) quanto o masculino (37,2%) apresentaram maior insatisfação pelo excesso (Figura 1).
Na tabela 2 são apresentados os resultados da análise de associação, considerando-se como variável dependente a insatisfação pela magreza. Os acadêmicos do sexo masculino (OR = 4,15; IC 95% = 2,25-7,68) e aqueles com peso normal (OR = 10,83; IC 95% = 4,04-29,04) apresentaram chance maior de estar insatisfeitos pela magreza.
Variáveis | Análise bruta | Análise ajustada* | ||
---|---|---|---|---|
|
|
|||
OR (IC 95%) | p-valor | OR (IC 95%) | p-valor | |
Sexo | ||||
Feminino | 1 | 0,001 | 1 | < 0,001 |
Masculino | 2,66 (1,51-4,66) | 4,15 (2,25-7,68) | ||
Faixa etária | ||||
< 20 anos | 1 | 0,087 | 1 | 0,365 |
≥ 20 anos | 0,59 (0,26-1,08) | 0,72 (0,36-1,46) | ||
Curso | ||||
Licenciatura | 1 | 0,009 | 1 | 0,116 |
Bacharelado | 1,99 (1,19-3,35) | 1,59 (0,89-2,85) | ||
Estado civil | ||||
Com companheiro | 1 | 0,648 | - | - |
Sem companheiro | 1,13 (0,66-1,95) | - | ||
Status do peso | ||||
Excesso de peso | 1 | < 0,001 | 1 | < 0,001 |
Peso normal | 7,04 (2,73-18-19) | 10,83 (4,04-29,04) | ||
Jornada de trabalho | ||||
≥ 20 horas/semana | 1 | 0,041 | 1 | 0,225 |
< 20 horas/semana | 1,71 (1,02-2,86) | 1,48 (0,82-2,69) |
OR: odds ratio; IC: intervalo de confiança.
* Ajuste pelas variáveis que apresentaram p < 0,20 na análise bruta.
Ao considerar a insatisfação pelo excesso como variável dependente, os fatores que permaneceram associados ao desfecho após o ajuste foram sexo, curso e status do peso (Tabela 3). As mulheres (OR = 8,04; IC 95% = 4,24-15,25), os acadêmicos de licenciatura (OR = 1,99; IC 95% = 1,14-3,48) e aqueles com excesso de peso (OR = 15,71; IC 95% = 7,26-34,01) apresentaram chance maior de insatisfação pelo excesso.
Variáveis | Análise bruta | Análise ajustada* | ||
---|---|---|---|---|
|
|
|||
OR (IC 95%) | p-valor | OR (IC 95%) | p-valor | |
Sexo | ||||
Masculino | 1 | < 0,001 | 1 | < 0,001 |
Feminino | 3,07 (1,90-4,94) | 8,04 (4,24-15,25) | ||
Faixa etária | ||||
< 20 anos | 1 | 0,499 | - | - |
≥ 20 anos | 1,21 (0,69-2,13) | - | - | |
Curso | ||||
Bacharelado | 1 | 0,001 | 1 | 0,016 |
Licenciatura | 2,13 (1,34-3,39) | 1,99 (1,14-3,48) | ||
Estado civil | ||||
Com companheiro | 1 | 0,161 | 1 | 0,400 |
Sem companheiro | 0,71 (0,44-1,15) | 0,78 (0,44-1,39) | ||
Status do peso | ||||
Peso normal | 1 | < 0,001 | 1 | < 0,001 |
Excesso de peso | 5,84 (3,16-10,82) | 15,71 (7,26-34,01) | ||
Jornada de trabalho | ||||
< 20 horas/semana | 1 | 0,183 | 1 | 0,519 |
≥ 20 horas/semana | 1,37 (0,86-2,16) | 1,20 (0,69-2,12) |
OR: odds ratio; IC: intervalo de confiança.
* Ajuste pelas variáveis que apresentaram p < 0,20 na análise bruta.
Os resultados do presente estudo revelaram alta prevalência de insatisfação com a imagem corporal (76,6%) nos acadêmicos dos cursos de Educação Física, sendo superior nas mulheres (82,5%). Houve maior proporção de insatisfeitos pelo excesso (49,0%). Os homens desejaram, em sua maioria, uma silhueta maior do que a sua atual, e as mulheres, por sua vez, desejaram uma silhueta menor. Enquanto os acadêmicos com peso normal tiveram maior chance de estarem insatisfeitos pela magreza, aqueles com excesso de peso tiveram maior chance de insatisfação pelo excesso. Ainda, a chance de estar insatisfeito pelo excesso foi maior nos acadêmicos do curso de licenciatura.
A prevalência de insatisfação com a imagem corporal encontrada nesta investigação (76,6%) é semelhante aos achados de outros estudos realizados com universitários do município de Florianópolis-SC, nos quais a prevalência de insatisfação variou de 69,5 a 79,2%2,3,19-21. Em estudo de nível nacional, em que acadêmicos da área da saúde de 37 instituições de ensino superior das cinco regiões do Brasil foram avaliados, a prevalência de insatisfação observada (78,3%) também foi próxima à do presente estudo1. Entretanto, prevalências inferiores foram observadas em estudantes de outras universidades da região Sul do país, como em Ponta Grossa-PR (61,2%)6.
Claumann et al.2 supõem que a elevada quantidade de acadêmicos insatisfeitos pode estar relacionada às exigências intrínsecas à profissão e ao curso, fazendo com que eles se constituam em uma população em risco. A pressão inerente em certos cursos e profissões aliada às perspectivas de corpo saudável e belo pode favorecer comportamentos inadequados de alimentação e atividade física7,10,11.
A respeito das associações entre a insatisfação com a imagem corporal e o sexo, os resultados encontrados no presente estudo corroboram informações prévias, parecendo haver consenso na literatura de que o sexo feminino deseja ter silhuetas menores do que a atual, enquanto o sexo masculino tem preferência por silhuetas maiores2,3,12,19,20,22.
Para auxiliar na compreensão desse cenário, cabe destacar os estudos de Gonçalves e Martínez23 e de Silva et al.24, os quais questionaram aos adolescentes alguns aspectos referentes à imagem corporal. Os resultados apontaram que os jovens reconhecem a existência de um modelo ideal de corpo e aparência física para cada sexo. Os relatos indicaram que o corpo masculino perfeito é considerado como musculoso, alto, bronzeado, com ombros largos, bíceps definidos e abdômen “tanquinho”, enquanto o corpo feminino idealizado é aquele considerado esbelto, com curvas e de estatura mediana. Os jovens também relataram que a cobrança para se obter esse padrão de corpo é maior para as moças em relação aos rapazes e, além disso, reconheceram a inevitável comparação do próprio corpo com aquele que é divulgado como ideal.
Em relação à associação verificada entre status do peso e insatisfação com a imagem corporal, corroborando os dados do presente estudo, diversas pesquisas com a população universitária têm sido consistentes em apontar que indivíduos com excesso de peso costumam desejar um corpo de tamanho menor do que o seu atual, enquanto aqueles que apresentam baixo peso gostariam de ter uma silhueta maior2,3,5,6,12,20,25.
Por sua vez, Coqueiro et al.19, em pesquisa realizada com acadêmicos de uma universidade pública federal de Florianópolis-SC, tiveram como objetivo verificar as associações do status do peso (por meio do IMC) e a gordura corporal inadequada (por meio de somatório de cinco dobras cutâneas) com a insatisfação com a imagem corporal. Os autores identificaram que, independentemente do status do peso dos acadêmicos, a insatisfação esteve presente, e o IMC não se associou ao desfecho. Já a gordura corporal foi um forte preditor da insatisfação. Isso pode indicar que o fato de se sentir insatisfeito está mais relacionado à quantidade de gordura corporal (e ao aspecto e à firmeza do corpo decorrente disso) do que ao tamanho do corpo em si. Entretanto, a gordura corporal não foi estimada no presente estudo.
Por último, a habilitação do curso em licenciatura se associou à insatisfação com o excesso. Estudos que também investigaram esse fator não verificaram sua associação com a insatisfação2,3,6. Dentre os participantes dessa pesquisa, os que apresentaram excesso de peso, de fato, eram da licenciatura em sua maioria (60,8%, dados não apresentados). Apesar disso, não foi encontrada associação entre status do peso e habilitação do curso. Dessa forma, uma possível justificativa para tal resultado pode estar relacionada ao fato de que as aulas da licenciatura ocorrem no período noturno e 25,3% dos acadêmicos desse curso trabalhavam 40 horas ou mais por semana, contra apenas 6,4% do bacharelado (p = 0,003, dados não apresentados), que, por sua vez, têm aulas no período matutino. A elevada carga horária de trabalho pode resultar em maior estresse, atrelado ao menor tempo disponível para cuidar da saúde (incluindo praticar atividade física e se alimentar adequadamente), fazendo com que se percebam menos saudáveis e se sintam piores em relação ao seu corpo, de modo geral.
Ressalta-se que todos os resultados deste estudo devem ser interpretados levando-se em consideração que seu delineamento é transversal, não sendo possível, portanto, inferir relações de causa e efeito. Além disso, o uso de uma escala de silhuetas para avaliação da satisfação com a imagem corporal permite que seja identificada a insatisfação com o tamanho do corpo (principalmente em largura), limitando o entendimento de insatisfações com partes ou aspectos específicos do corpo. Ainda, as medidas de massa corporal e estatura, ao serem autorreferidas, podem ser sub ou superestimadas, contudo esse método de obtenção dos dados é considerado válido para a população adulta26. Apesar disso, destaca-se que as informações aqui apresentadas contribuem para o avanço da literatura na área, principalmente por serem provenientes de um número maior de acadêmicos de diferentes fases do curso em questão.
Cerca de 3/4 dos acadêmicos pesquisados apresentaram-se insatisfeitos com sua imagem corporal. A insatisfação com o excesso de peso foi maior nas moças. Os fatores associados à insatisfação pela magreza foram ser do sexo masculino e ter peso normal. Em relação à insatisfação pelo excesso, o sexo feminino, o excesso de peso e o curso de licenciatura foram os fatores que se associaram ao desfecho.