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Fatores associados à utilização dos serviços de saúde por homens idosos: uma revisão sistemática da literatura

Fatores associados à utilização dos serviços de saúde por homens idosos: uma revisão sistemática da literatura

Autores:

Alana Maiara Brito Bibiano,
Rafael da Silveira Moreira,
Marília Martina Guanaany de Oliveira Tenório,
Vanessa de Lima Silva

ARTIGO ORIGINAL

Ciência & Saúde Coletiva

versão impressa ISSN 1413-8123versão On-line ISSN 1678-4561

Ciênc. saúde coletiva vol.24 no.6 Rio de Janeiro jun. 2019 Epub 27-Jun-2019

http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232018246.19552017

Abstract

A systematic review of the literature on analytical epidemiologic studies about factors associated with the use of health services by elderly men was conducted. Four databases were researched, namely PubMed, Scopus, Web of Science and Lilacs and the following key words “health services,” “health services for the aged,” “aged,” “aged 80 and over,” “men” and “men’s health” and their corresponding expressions in Portuguese were used. After independent reading and selection of the abstracts and full texts of the 1782 articles located, only eight were included in this review. The Health Services Utilization model assisted in the presentation of the results. Predisposing factors associated with regard to the use of the healthcare services were identified: place of residence; lifestyle habits; age bracket; family history; education and marital status; training factors: private health services use and affiliation to a health insurance plan; effective factors of need; perception of health status; perceived susceptibility to stress; medical history; comorbidities; and functional status. The issue of aging among the male population is still poorly studied and deserves special attention to establish how elderly men express their needs and how they are being assisted by healthcare systems.

Keywords Health services for the elderly; Men’s health; Review

Introdução

A mudança do perfil demográfico no cenário mundial tem, entre suas manifestações, o aumento no número de idosos1. Na perspectiva do envelhecimento, é comprovado que os idosos são grandes usuários dos serviços de saúde2,3 e que vem ocorrendo um aumento no consumo dos serviços por parte desse grupo populacional nos últimos tempos4.

A utilização dos serviços de saúde representa o centro do funcionamento dos sistemas de saúde. O conceito de uso compreende todo contato direto ou indireto com os serviços, desde as consultas médicas e hospitalizações, até a realização de exames preventivos e diagnósticos5.

Alguns fatores podem determinar a utilização dos serviços de saúde. Um modelo teórico de Utilização de Serviços de Saúde6 aborda que o uso é dependente de determinantes individuais agrupados aos fatores de predisposição, capacitação e de necessidade, em que os fatores predisponentes influenciam os capacitantes, e as necessidades representam o determinante mais proximal da utilização dos serviços de saúde.

Os fatores de necessidade estão ligados às percepções subjetivas das pessoas e ao estado de saúde. Os fatores de capacitação se referem à capacidade de um indivíduo procurar e receber serviços de saúde, diretamente ligados às condições econômicas e à oferta de serviços. Já os fatores de predisposição referem-se às características individuais que podem aumentar a chance de uso de serviços de saúde como, por exemplo, as variáveis sociodemográficas e familiares: idade, sexo, nível de escolaridade, raça, atitudes e crenças6.

Alguns estudos revelam que os homens utilizam menos os serviços de saúde do que as mulheres, em geral, devido às variações de necessidades de saúde entre os sexos7,8 e gêneros9. Com isso, a saúde do homem é menos explorada nas pesquisas científicas e no que concerne à saúde do homem idoso os estudos são ainda mais escassos, merecendo atenção especial para a obtenção de informações de saúde necessárias à organização de futuras políticas públicas para este público.

Dessa forma, o objetivo deste estudo foi realizar uma revisão sistemática da literatura de pesquisas epidemiológicas analíticas sobre os fatores associados à utilização dos serviços de saúde por homens idosos.

Métodos

A revisão sistemática foi realizada de acordo com as diretrizes dos Principais Itens para Relatar Revisões Sistemáticas e Meta-análises (PRISMA)10 e da Meta-análise de estudos observacionais em epidemiologia (MOOSE)11. Foi orientada pela seguinte pergunta de pesquisa: “Quais são os fatores associados ao uso dos serviços de saúde por homens idosos em estudos epidemiológicos analíticos publicados?”.

Como critérios de inclusão estão: estudos epidemiológicos observacionais do tipo coorte, caso-controle ou seccional cujo desfecho (variável dependente) fosse o uso dos serviços de saúde por homens idosos (60 anos ou mais). Como exposição (fatores associados ao uso dos serviços de saúde) foram consideradas as variáveis associadas ao desfecho encontradas em cada estudo. Como critérios de exclusão: estudos sem análise específica para homem idoso; estudos que só comparam o uso dos serviços de saúde entre homens e mulheres idosas; estudos sem análise multivariada; estudos que só falam sobre o acesso aos serviços de saúde; e estudos com população especial (idosos institucionalizados ou que vivem em presídios).

A busca bibliográfica foi guiada pelos descritores “serviços de saúde”, “serviços de saúde para idosos”, “idoso”, “idoso de 80 anos ou mais”, “homem” e “saúde do homem” e seus correspondentes na língua inglesa “health services”, “health services for the aged”, “aged”, “aged, 80 and over”, “men” e “men’s health”, localizados na lista dos Descritores em Ciências da Saúde, disponível no Portal da Biblioteca Virtual em Saúde (http://decs.bvs.br) e no Medical Subject Headings – Mesh, disponível na U.S. National Library of Medicine (http://www. nlm.nih.gov/mesh/).

Para a pesquisa bibliográfica foram utilizadas quatro bases de dados: PubMed, Scopus, Web of Science e Lilacs. Na base Pubmed, foi utilizada a seguinte chave de busca: (((health services[MeSH Terms]) OR health services for the aged[MeSH Terms])) AND ((aged[MeSH Terms]) OR (aged, 80 and over[MeSH Terms]))) AND ((“men”[MeSH Terms]) OR men’s health[MeSH Terms]). No Scopus a chave de busca foi: KEY (“health services” OR “health services for the aged”) AND KEY (“aged” OR “aged, 80 and over”) AND KEY (“men” OR “men’s health”).

No Web of science a busca foi orientada pela seguinte chave: Tópico: (health services OR health services for the aged) AND Tópico: (aged OR aged, 80 and over) AND Tópico: (men OR men’s health). Já no Lilacs a chave de busca foi: “serviços de saúde” OR “serviços de saúde para idosos” [Descritor de assunto] AND “idoso” OR “idoso de 80 anos ou mais” [Descritor de assunto] AND (“HOMEM (taxonomia)”) OR “saúde do HOMEM” [Descritor de assunto]. Todas as buscas foram realizadas no dia 20 de setembro de 2016, e não houve limites de período nem idiomas, com intuito de identificar a maior quantidade possível de artigos sobre a temática da revisão.

A partir dos descritores, a busca nas bases de dados selecionadas levou à identificação de 1.782 artigos potenciais para inclusão na revisão sistemática. A seleção desses artigos foi realizada em duas etapas: leitura de resumos e leitura de artigo completo. Inicialmente foi realizado um estudo piloto com a leitura dos 100 primeiros resumos encontrados para adequar os critérios de inclusão e exclusão da pesquisa e, posteriormente, com a leitura dos demais resumos. A leitura dos resumos foi realizada por dois pesquisadores, autores deste estudo (AMBB e MMGOT), de forma independente, com base nos critérios de inclusão e exclusão pré-definidos no protocolo da pesquisa.

Após a leitura dos resumos, foi aplicado o Índice de Kappa para análise da concordância entre os dois pesquisadores e validação dos critérios de seleção do protocolo. Para o piloto dos 100 primeiros resumos foi encontrado um Kappa = 0,42, e para todos os 1.782 resumos o Kappa foi de 0,45, ambos representando uma concordância moderada.

Dos 1.782 resumos lidos, houve concordância de 67 para inclusão na leitura completa do artigo e 1.579 para exclusão. Houve divergência em 136 resumos que foram lidos por um terceiro pesquisador, também autor do presente estudo (VLS), e foi realizada uma reunião de consenso com os três leitores para aprimorar a compreensão dos critérios pré-definidos. Após a reunião, houve consenso para inclusão de 53 resumos e exclusão de 83. Ao final, 120 resumos foram incluídos para a segunda etapa da seleção, etapa esta da leitura completa dos artigos. Foram identificadas quatro duplicações de artigos que foram excluídas, restando 116 artigos.

A leitura completa dos artigos também foi realizada de forma independente pelos mesmos dois leitores da etapa anterior. Houve concordância de oito artigos para inclusão na revisão e 95 para exclusão. Houve divergência em 13 artigos que foram lidos por terceiro pesquisador (VLS), e em reunião de consenso com os três leitores não houve inclusão de nenhum artigo das divergências (Figura 1). O índice de Kappa dessa etapa foi de 0,52 representando uma concordância moderada.

Legenda: n = número.

Fonte: Elaboração dos autores desta revisão sistemática, 2017.

Figura 1 Fluxograma da seleção dos artigos da revisão sistemática. 

Foram selecionados oito artigos para compor a presente revisão sistemática, todos da base de dados Web of Science. A extração de dados dos artigos foi realizada de forma independente por dois leitores (AMBB e MMGOT), por meio de um protocolo elaborado pelos pesquisadores. Os dados extraídos foram: autor (es), ano, país e idioma da publicação, desenho do estudo, tamanho amostral (homens idosos), objetivo do estudo, tipo de serviço de saúde utilizado, fator associado ao uso dos serviços de saúde e resultados estatísticos. Os dados estatísticos foram expressos em: risco relativo (RR), odds ratio (OR) ou razão de prevalência ajustada (RPA).

Com os dados extraídos foi realizada a análise do risco de viés dos artigos, por meio da The Newcastle-Ottawa Scale (NOS)12. A escala NOS mede a qualidade metodológica de um estudo pelo número de estrelas recebidas quanto à seleção dos grupos do estudo, comparabilidade dos grupos e verificação da exposição/desfecho. Para estudos de coorte a escala original foi utilizada. Para os estudos seccionais, utilizou-se uma versão adaptada da escala do estudo caso-controle. Nesta revisão só foram incluídos artigos de desenho seccional ou coorte, não sendo necessária a utilização da escala original para estudo de caso-controle.

O risco de viés foi avaliado para cada questão da escala conforme o seguinte julgamento: “Sim, para baixo risco de viés” e uma estrela foi alocada (*) e “Não, para alto risco de viés” e uma estrela não foi alocada. Todos os itens valem uma estrela (*), exceto a comparabilidade que pode receber até duas estrelas. Estudos seccionais podem receber até oito estrelas e os de coorte, nove estrelas (Quadro 1).

Quadro 1 Análise do risco de viés dos artigos de acordo com a The Newcastle-Ottawa Scale (NOS). 

Desenho do estudo Definição do desfecho Cálculo da amostra representativo Amostragem aleatória Definição da exposição Comparabilidade Avaliação da exposição Taxa de não resposta -
Kim et al., 2015 Seccional * * * * ** * *
Santiago et al., 2013 * * ** * *
Burns et al., 2012 * * * * ** *
Desenho do estudo Representatividade da coorte exposta Seleção da coorte não exposta Determinação da exposição Resultado não estava presente no início Comparabilidade Avaliação do resultado Acompanhamento longo o suficiente para os resultados Adequação do acompanhamento das coortes
Yong et al., 2014 Coorte * * * * ** * * *
Korda et al., 2013 * * * ** * * *
León-Muñoz et al., 2007 * * * ** * *
Huang et al., 2000 * * * * ** *
Anttila, 1992 * * ** * * *

Fonte: Elaboração dos autores desta revisão sistemática, 2017.

Os resultados dos oito artigos selecionados nesta revisão foram expressos em quadros de acordo com o Modelo de Utilização dos Serviços de Saúde proposto por Andersen e Newman6.

Resultados

Oito estudos foram incluídos nesta revisão sistemática: três seccionais13-15 e cinco coortes16-20. Um estudo foi realizado na República da Coreia13, dois nos Estados Unidos17,19, um no Brasil15, um na Austrália16, um na República da Irlanda14, um na Espanha18 e um na Finlândia20 (Quadro 2). Esses países fazem parte de quatro continentes do mundo: América, Ásia, Europa e Oceania. Não foram encontrados estudos realizados no continente africano.

Quadro 2 Artigos incluídos na revisão sistemática segundo autor, ano da publicação, país e idioma, desenho do estudo, tamanho amostral e objetivo do estudo. 

Autor e ano da publicação País (idioma) Desenho do estudo Tamanho amostral (homens idosos) Objetivo do estudo
Kim et al., 201513 República da Coreia (inglês) Seccional 1827 Investigar fatores demográficos, socioeconômicos e relacionados à saúde, associados à subutilização de serviços profissionais de saúde mental com base em uma amostra representativa da comunidade.
Yong et al., 201417 Estados Unidos (inglês) Coorte retrospectiva 3379 Avaliar a utilização de serviços de saúde entre homens idosos com PCA estágio IV com (M1) e sem metástase à distância (M0) no ano seguinte ao diagnóstico.
Santiago et al., 201315 Brasil (português) Seccional 2825 Estimar a prevalência de realização de exames de rastreamento para câncer de próstata em homens de 60 anos ou mais residentes em um município de médio porte no estado de Minas Gerais e analisar os fatores associados a essa prática.
Korda et al., 201316 Austrália (inglês) Coorte retrospectiva 49217* Quantificar os riscos relativos de hospitalização de acordo com o IMC.
Burns et al., 201214 República da Irlanda (inglês) Seccional 529 Analisar os determinantes da captação do rastreamento do câncer de próstata na República da Irlanda e comparar o papel dos fatores de não necessidade na absorção de rastreio entre aqueles dentro e fora da faixa etária recomendada.
León-Muῆoz et al., 200718 Espanha (inglês) Coorte prospectiva 1215 Examinar prospectivamente a relação entre o estado funcional e a utilização de uma grande variedade de serviços de saúde entre a população adulta mais velha da Espanha.
Huang et al., 200019 Estados Unidos (inglês) Coorte prospectiva 1174 Examinar se a presença de sintomas significativos de depressão em idosos é associada independentemente com um risco aumentado de hospitalização, em uma coorte prospectiva de adultos de 65 anos ou mais de idade no centro da Carolina do Norte.
Anttila, 199220 Finlândia (inglês) Coorte prospectiva 430 Descobrir quais as doenças e os sintomas que predizem o uso prospectivo de cama-dia hospitalar, com base nas informações registradas durante um período de oito anos.

Legenda: PCA = Câncer de próstata; M1 = Com metástase; M0 = Sem metástase; * = Disponibilizado por meio de contato com autor do artigo original; IMC = Índice de Massa Corporal.

Fonte: Elaboração dos autores desta revisão sistemática, 2017.

Apenas o artigo realizado no Brasil15 estava escrito no idioma português. Todos os outros foram escritos na língua inglesa. O tamanho da amostra dos estudos variou de 430 a 49.217 homens idosos e o ano de publicação dos artigos variou de 1992 a 2015 (Quadro 2), sendo os mais recentes de 201513 e 201417 com maior rigor metodológico, representando os únicos artigos selecionados para a revisão que não apresentaram risco de viés.

Com relação aos objetivos dos estudos, foram investigados fatores associados à subutilização de serviços de saúde mental13; avaliação do uso dos serviços de saúde por homens idosos com diagnóstico de câncer de próstata com e sem metástase17; estimativa da prevalência de realização de exames de rastreamento para câncer de próstata e fatores associados15; quantificação dos riscos relativos de hospitalização de acordo com o Índice de Massa Corporal (IMC)16; análise dos determinantes da captação do rastreio de câncer de próstata14; avaliação da relação entre o estado funcional e o uso dos serviços de saúde18; avaliação dos sintomas de depressão e risco de hospitalização19; e por fim, investigação de doenças e sintomas com associação ao uso de cama-dia hospitalar20.

Os tipos de serviços de saúde utilizados pelos homens idosos variaram desde os serviços preventivos como realizar testagem do Antígeno Prostático Específico (PSA)15,17, exame do toque retal15 e vacinação contra gripe18; realização de consultas com profissional de saúde13,17,18,, serviços domiciliares18 ou de emergência18; e serviços de internação em hospício17 e hospitalização16-20.

A avaliação da qualidade metodológica dos artigos demonstrou que o estudo15 que analisou o uso dos serviços de testagem de PSA e toque retal teve a amostra por conveniência selecionada a partir de indivíduos dentro de uma campanha de vacinação, ou seja, avaliou o uso dos serviços em indivíduos que já estavam em uso de outro serviço de saúde, o que pode gerar viés de seleção e inviabilizar as conclusões do artigo.

Três estudos14,18,19 apresentaram altas taxas de não resposta ou baixo acompanhamento dos sujeitos, o que também pode limitar a conclusão dos artigos e dificultar a análise do uso dos serviços de saúde. Dois estudos de coorte não definiram a exposição por meio de registro seguro, no qual o IMC16 e as doenças e sintomas20dos homens idosos foram autorrelatadas, o que pode gerar viés de memória e de informação.

Quanto aos fatores associados ao uso dos serviços de saúde, os achados dos estudos primários foram apresentados a partir do modelo esquemático dos fatores de predisposição, capacitação e de necessidade de saúde dos homens idosos6.

Foram encontrados como fatores de predisposição ao uso dos serviços de saúde: local de residência (urbano ou rural13, urbana17, morar em “Midlands”14), hábitos de vida (dormir menos de seis horas ou nove horas ou mais por dia)13, faixa etária (75-79, 80-84 e 85 anos ou mais)17, educação (ter mais de quatro anos de estudo)15, estado civil (casado/com companheiro/viúvo)15, história familiar de câncer de próstata15; e como fatores de capacitação: utilizar o serviço privado de saúde15 e possuir seguro de saúde14 (Quadro 3).

Quadro 3 Distribuição de artigos de acordo com os fatores de predisposição e capacitação associados ao uso dos serviços de saúde pelos homens idosos. 

Fator associado ao uso Autor e ano Tipo de uso dos serviços de saúde Variável associada ao uso dos serviços Categoria Resultados (OR/RR/RPA com IC/EP/valor de p)
Predisposição Kim et al., 201513 Consulta de profissional de saúde mental Educação Primário ou menos OR 0.70 (0.54 - 0.90)*
Fundamental OR 0.86 (0.62 - 1.18)
Médio OR 1.22 (0.96 - 1.54)
Faculdade ou mais OR 1.00
Estado Civil Casado OR 0.62 (0.41 - 0.93)*
Separado/ divorciado OR 0.57 (0.37 - 0.89)*
Solteiro OR 1.00
Local de residência Região metropolitana OR 1.00
Urbana OR 1.56 (1.29 - 1.89)*
Rural OR 1.75 (1.44 - 2.11)*
Condição de fumante Fumante atual OR 0.54 (0.41 - 0.70)*
Ex-fumante OR 1.09 (0.86 - 1.38)
Não fumante OR 1.00
Status de bebida Bebe OR 0.65 (0.52 - 0.80)*
Não bebe OR 1.00
Atividade Física Sim OR 1.00
Não OR 0.65 (0.52 - 0.77)*
Horas de sono/dia <6 horas OR 1.43 (1.18 - 1.72)*
≤6-9 horas OR 1.00
≥9 horas OR 1.83 (1.42 - 2.35)*
Predisposição Yong et al., 201417 Admissão no centro de enfermagem especializada Faixa etária 66 – 69 anos OR 1.00
70 – 74 anos OR 1.28 (0.86 – 1.90)
75 – 79 anos OR 2.50 (1.73 – 3.61)*
80 – 84 anos OR 2.60 (1.81 – 3.75)*
85 anos ou mais OR 4.08 (2.84 – 5.85)*
Estado civil Casado OR 0.51 (0.42 – 0.61)*
Local do registro dos dados Oeste OR 1.00
Nordeste OR 1.87 (1.48 – 2.36)*
Centro-oeste OR 1.40 (1.04 – 1.87)*
Sul OR 0.91 (0.66 – 1.25)
Admissão no hospício Faixa etária 66 – 69 anos OR 1.00
70 – 74 anos OR 1.27 (0.84 – 1.92)
75 – 79 anos OR 1.90 (1.29 – 2.80)*
80 – 84 anos OR 2.09 (1.43 – 3.05)*
85 anos ou mais OR 3.58 (2.46 – 5.20)*
Local de residência Urbana OR 1.85 (1.30 – 2.64)*
Local do registro dos dados Oeste OR 1.00
Nordeste OR 0.89 (0.68 – 1.15)
Centro-oeste OR 1.75 (1.31 – 2.34)*
Sul OR 1.38 (1.02 – 1.87)*
Predisposição Yong et al., 201417 Hospitalização Faixa etária 66 – 69 anos OR 1.00
70 – 74 anos OR 1.11 (0.88 – 1.39)
75 – 79 anos OR 1.43 (1.14 – 1.81)*
80 – 84 anos OR 1.51 (1.20 – 1.92)*
85 anos ou mais OR 1.97 (1.54 – 2.52)*
Local do registro dos dados Oeste OR 1.00
Nordeste OR 1.41 (1.16 – 1.72)*
Centro-oeste OR 1.44 (1.14 – 1.82)*
Sul OR 1.35 (1.07 – 1.71)*
Santiago et al., 201315 Realização de PSA História familiar de câncer de próstata Sim RPA 1.13 (1.07 - 1.19)*
Educação Maior que quatro anos de estudo RPA 1.14 (1.09 - 1.19)*
Realização do toque retal História familiar de câncer de próstata Sim RPA 1.20 (1.11 - 1.30)*
Estado civil Casado/ com companheiro/ viúvo RPA 1.17 (1.06 - 1.22)*
Educação Maior que quatro anos de estudo RPA 1.14 (1.07 - 1.22)*
Burns et al., 201214 Realização de PSA Localização geográfica da residência “Midlands” OR 2.30 (EP 0.920)*
Capacitação Kim et al., 201513 Consulta de profissional de saúde mental Renda Quartil 1 OR 0.36 (0.29 - 0.45)*
Quartil 2 OR 0.43 (0.34 - 0.54)*
Quartil 3 OR 0.80 (0.62 - 1.03)
Quartil 4 OR 1.00
Santiago et al., 201315 Realização de PSA Tipo de serviço de saúde que utiliza Privado RPA 1.15 (1.11 - 1.20)*
Realização do toque retal Tipo de serviço de saúde que utiliza Privado RPA 1.17 (1.08 - 1.26)*
Burns et al., 201214 Realização de PSA Possuir seguro de saúde Sim OR 1.74 (EP 0.444)*
Não OR 1.00

Legenda: OR = odds ratio; RR = risco relativo; RPA = razão de prevalência ajustada; IC = intervalo de confiança; EP = erro padrão; * = estatisticamente associado; PSA = Antígeno Prostático Específico.

Fonte: Elaboração dos autores desta revisão sistemática, 2017.

Os fatores de necessidade associados ao uso foram: percepção pobre do estado de saúde13,19, susceptibilidade percebida ao stress alta e muito alta13, histórico médico e comorbidades - artrite e asma13, ter metástase e duas ou mais comorbidades17, uso regular de medicação15,19, IMC com valores entre 15 e 18,5 e maiores de 27,5kg/m2 16, score maior que nove no CES-D - Centro de Estudos Epidemiológicos – Escala para sintomas depressivos19, ter infecção urinária crônica, distúrbios de memória, dor lombar, dor nas articulações dos membros inferiores, dispneia e tremor20, e status funcional - pobre status funcional antes do diagnóstico do câncer de próstata17, limitação para realizar Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVDs)18 e score maior ou igual a quatro na escala de desempenho físico de Nagi19 (Quadro 4).

Quadro 4 Distribuição de artigos de acordo com os fatores de necessidade associados ao uso dos serviços de saúde pelos homens idosos. 

Fator associado ao uso Autor e ano Tipo de uso dos serviços de saúde Variável associada ao uso dos serviços Categoria Resultados (OR/RR/RPA com IC/EP/valor de p)
Necessidade Kim et al., 201513 Consulta de profissional de saúde mental Estado de saúde subjetivo Bom OR 1.00
Moderado OR 1.58 (0.85 - 2.96)
Pobre OR 3.41 (1.79 - 6.49)*
Susceptibilidade percebida ao stress Muito Alta OR 3.05 (2.00 - 4.64)*
Alta OR 2.27 (1.50 - 3.45)*
Baixa OR 1.17 (0.74 - 1.85)
Muito baixa OR 1.00
Histórico médico Hipertensão OR 1.06 (0.89 - 1.25)
Diabetes OR 0.88 (0.74 - 1.06)
Hiperlipide- mia OR 1.21 (0.99 - 1.48)
DCV OR 0.84 (0.69 - 1.03)
Artrite OR 1.46 (1.23 - 1.72)*
Asma OR 2.94 (2.46 - 3.53)*
Yong et al., 201417 Admissão no centro de enfermagem especializada Presença de metástase Sim OR 1.89 (1.38 - 2.59)*
Não OR 1.00
Pobre Diferenciação do tumor Sim OR 0.63 (0.52 – 0.77)*
ICC Zero OR 1.00
Um OR 1.07 (0.84 – 1.38)
Dois ou mais OR 1.49 (1.14 – 1.96)*
Pobre status funcional antes do diagnóstico Sim OR 1.79 (1.43–2.25)*
Admissão no hospício Presença de metástase Sim OR 3.22 (2.19–4.72)*
Não OR 1.00
Pobre Diferenciação do tumor Sim OR 0.57 (0.47 – 0.69)*
ICC Zero OR 1.00
Um OR 1.12 (0.87–1.45)
Dois ou mais OR 1.44 (1.09 – 1.91)*
Pobre status funcional antes do diagnóstico Sim OR 1.69 (1.34 – 2.15)*
Necessidade Yong et al., 201417 Hospitalização Presença de metástase Sim OR 1.45 (1.20 – 1.75)*
Não OR 1.00
Pobre Diferenciação do tumor Sim OR 0.59 (0.50 – 0.69)*
ICC Zero OR 1.00
Um OR 1.09 (0.90 – 1.32)
Dois ou mais OR 1.59 (1.25 – 2.02)*
Pobre status funcional antes do diagnóstico Sim OR 1.84 (1.51 – 2.25)*
Santiago et al., 201315 Realização de PSA Uso de medicação regular Sim RPA 1.15 (1.09 -1.21)*
Realização do toque retal Uso de medicação regular Sim RPA 1.16 (1.08 -1.24)*
Korda et al., 201316 Hospitalização IMC de homens entre 65 e 79 anos ≥15 – 18,5 RR 1.36 (1.10 –1.69)*
≥18,5 - 20 RR 1.14 (0.96 –1.35)
≥20 – 22,5 RR 1.00
≥22,5 - 25 RR 0.99 (0.92 –1.06)
≥25 – 27,5 RR 1.05 (0.98 –1.13)
≥27,5 – 30 RR 1.10 (1.02 –1.19)*
≥30 – 32,5 RR 1.26 (1.17 –1.37)*
≥32,5 – 35 RR 1.28 (1.16 –1.41)*
≥35 - 50 RR 1.48 (1.34 –1.64)*
IMC de homens de 80 anos ou mais ≥15 – 18,5 RR 1.34 (1.10 –1.64)*
≥18,5 – 20 RR 1.10 (0.94 –1.29)
≥20 – 22,5 RR 1.00
≥22,5 – 25 RR 0.97 (0.90 –1.06)
≥25 – 27,5 RR 1.01 (0.93 –1.10)
≥27,5 – 30 RR 1.05 (0.96 –1.16)
≥30 – 32,5 RR 1.13 (1.00 –1.27)*
≥32,5 – 35 RR 1.29 (1.08 –1.53)*
≥35 - 50 RR 1.17 (0.94 –1.46)
Necessidade León-Muñoz et al., 200718 Vacinação contra gripe Tipo de limitação para AIVD Viajar de forma independente OR 0.42 (0.25 – 0.70)*
Serviços domiciliares Número de limitação para AIVD Nenhuma OR 1.00
Uma OR 2.64 (1.73 – 4.03)*
Mais de uma OR 3.12 (1.85 – 5.29)*
Tipo de limitação para AIVD Fazer compras OR 3.60 (1.99 – 6.52)*
Viajar de forma independente OR 2.57 (1.35 – 4.89)*
Serviços não domiciliares Número de limitação para AIVD Nenhuma OR 1.00
Uma OR 2.02 (1.04 – 3.93)*
Mais de uma OR 1.07 (0.48 – 2.40)
Consulta médica na atenção primária Número de limitação para AIVD Nenhuma OR 1.00
Uma OR 1.54 (1.10 – 2.14)*
Mais de uma OR 0.64 (0.41 – 1.00)
Tipo de limitação para AIVD Fazer compras OR 2.31 (1.40 – 3.79)*
Viajar de forma independente OR 1.45 (0.87 – 2.43)
Serviço de emergência Número de limitação para AIVD Nenhuma OR 1.00
Uma OR 1.88 (1.34 – 2.65)*
Mais de uma OR 1.50 (0.95 – 2.37)
Tipo de limitação para AIVD Fazer compras OR 1.70 (1.04 – 2.79)*
Viajar de forma independente OR 1.92 (1.14 – 3.25)*
Hospitalização Número de limitação para AIVD Nenhuma OR 1.00
Uma OR 1.81 (1.27 – 2.57)*
Mais de uma OR 1.37 (0.86 – 2.18)
Tipo de limitação para AIVD Fazer compras OR 1.76 (1.06 – 2.94)*
Viajar de forma independente OR 1.90 (1.12 – 3.25)*
Necessidade Huang et al., 200019 Hospitalização Sintomas depressivos em homens de 75 anos ou mais Score ≥9 no CES-D RR 3.43 (1.33 - 8.86)*
Escala de desempenho físico de Nagi em homens de 75 anos ou mais Score ≥4 RR 1.57 (1.14 – 2.16)*
Auto-percepção de saúde em homens de 65 a 74 anos Percepção pobre de saúde RR 1.75 (1.17 - 2.63)*
Número de prescrição de medicamentos em homens de 65 a 74 anos Não relatado RR 1.32 (1.13 - 1.54)*
Anttila, 199220 Hospitalização Doença Infecção crônica urinária RR 1.9 (p<0,001)*
Sintoma Distúrbio de memória RR 1.4 (p<0,05)*
Dor lombar RR 1.4 (p<0,05)*
Dor nas articulações do membro inferior RR 1.4 (p<0,05)*
Dispneia RR 1.4 (p<0,05)*
Tremor RR 1.6 (p<0,05)*

Legenda: OR = odds ratio; RR = risco relativo; RPA = razão de prevalência ajustada; IC = intervalo de confiança; EP = erro padrão; * = estatisticamente associado; DCV = doença cardiovascular; ICC = Índice de Comorbidade de Charlson; PSA = Antígeno Prostático Específico; IMC = Índice de Massa Corporal; AIVD = Atividade Instrumental de Vida Diária; CES-D = Centro de Estudos Epidemiológicos – Escala de depressão.

Fonte: Elaboração dos autores desta revisão sistemática, 2017.

Nos artigos analisados também foram encontrados fatores associados ao não uso ou a subutilização dos serviços de saúde pelos homens idosos, a depender do tipo de serviço estudado. A escolaridade primária ou inferior, estado civil casado/divorciado ou separado, perfil de renda nos quartis um e dois, condição de fumante atual, status de bebida presente e não realizar atividade física estavam associados a não realização de consulta de profissional de saúde mental13.

Já no estudo que analisou os pacientes que tinham diagnóstico de câncer de próstata17, o estado civil casado estava associado a não realizar admissão no serviço de enfermagem especializada, e o fato de ter uma pobre diferenciação do tumor estava associado a não ser admitido em serviço de enfermagem especializada, em hospício e ser hospitalizado17. Por fim, o tipo de limitação de AIVD – viajar de forma independente estava associado a não vacinação contra a gripe18.

Discussão

A Organização Mundial de Saúde (OMS) demonstrou no Relatório Mundial de Envelhecimento e Saúde, em 2015, que o envelhecimento da população demanda uma resposta abrangente da saúde pública, entretanto, o debate sobre o tema tem sido insuficiente e as evidências limitadas com necessidade de ação urgente para explorar a temática21. Com relação ao envelhecimento da população masculina essa situação se torna mais preocupante, pois os estudos são ainda mais escassos.

De acordo com o Relatório do Desenvolvimento Humano, disponibilizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), 2015, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos países analisados nessa revisão classificam a Austrália, Irlanda, Estados Unidos, República da Coreia, Finlândia e Espanha com IDH muito elevado, e o Brasil com um IDH elevado22. Não foram encontradas pesquisas em países com IDH médio ou baixo, o que pode se inferir que os estudos sobre o uso dos serviços de saúde pela população idosa masculina estão concentrados em países com maior nível de desenvolvimento humano.

Vale destacar que mesmo em alguns países desenvolvidos que oferecem uma cobertura universal de serviços de saúde, diferenças sociais no uso desses serviços ainda persistem23, sendo importante conhecer o padrão de utilização de serviços de saúde dos indivíduos em relação ao perfil de necessidade dos diversos grupos sociais24.

Com relação à avaliação da qualidade metodológica dos artigos selecionados, observa-se que apenas dois estudos não apresentaram risco de viés, todavia, mesmo diante das limitações metodológicas de alguns estudos incluídos nesta revisão, é imprescindível a avaliação crítica dos resultados para a análise dos tipos de serviços de saúde utilizados pelos homens idosos e seus fatores associados.

Apenas três14,15,18 dos oito estudos analisaram o uso dos serviços preventivos de saúde como testagem do PSA14,15, exame do toque retal15 e vacinação contra gripe18. Dessa forma, esses estudos tiveram enfoque apenas na prevenção de doença (câncer de próstata e gripe). Não foram encontrados estudos que abordaram o uso de serviços de promoção de saúde, como, por exemplo, a participação em grupos de educação em saúde, que também devem ser utilizadas e estudadas pelo público idoso masculino.

Vale ressaltar que o direcionamento da atenção primária para o atendimento às mulheres e às crianças tornam esses ambientes de saúde feminilizados, reprimindo ainda mais a procura dos homens pelos cuidados em saúde ao provocar neles uma sensação de não pertencimento25, e essa não procura do público masculino reflete na pequena quantidade de estudos sobre a temática. Dessa forma, as instituições reproduzem e reforçam as divisões de gênero socialmente construídas26, e essas condutas, embora comuns, levam a uma desigualdade na assistência à saúde e inviabilizam o alcance dos princípios da integralidade e da universalidade do cuidado27.

Essas particularidades refletem uma noção de invulnerabilidade, levando os homens a buscar serviços de emergência e de atenção especializada em maior proporção28-30. Isso explica o maior número de estudos incluídos que analisaram o uso de serviços de média e alta complexidade como consultas ambulatoriais clínicas13,17,18, domiciliares18, de emergência18, e serviços de internação em hospício17 e hospitalização16-20.

Os fatores de predisposição associados ao uso dos serviços de saúde revelaram que estava associado à realização de consulta de profissional de saúde mental13 o local da residência do homem idoso, tanto em área urbana quanto rural, e o hábito de dormir menos que seis ou mais de nove horas por dia. Em contrapartida, neste artigo diversos fatores foram associados a não realização de consulta de profissional de saúde mental como: ter educação primária ou sem escolaridade, ser casado, divorciado/separado, ser fumante atual, apresentar status de bebedor presente e não realizar atividade física.

Esses dados são preocupantes para o cuidado em saúde mental do homem idoso, principalmente em relação aos maus hábitos de vida que influenciaram na subutilização dos serviços de saúde. Os fatores comportamentais como tabagismo, exercício físico, atividade na vida cotidiana, consumo de álcool e contatos sociais são determinantes importantes no envelhecimento saudável31.

O estudo de Yong et al.17 analisou o uso de três tipos de serviços de saúde em homens com câncer de próstata: admissão em serviço de enfermagem especializada, admissão em hospício e hospitalização, e concluiu que quanto mais velho (85 anos ou mais) o homem for, maior a chance de usar os serviços de saúde, principalmente a admissão em enfermagem especializada. A população de 80 anos ou mais ainda é a de menor proporção quando comparada as outras faixas etárias, no entanto, é a população que mais cresce com o passar dos anos, e necessita de uma abordagem em saúde diferencial31.

As desigualdades socioeconômicas indicam diferentes tempos e formas de adoecer e distintas necessidades e capacidades de procurar e usar serviços de saúde32. Com relação aos fatores de capacitação, a renda baixa (quartis 1 e 2) foi um fator estatisticamente associado ao não uso da consulta de profissional de saúde mental13, e o fato ter seguro de saúde foi um fator positivo para realizar a testagem de PSA14. Isso demonstra que quanto pior a condição socioeconômica do idoso, menor o uso dos serviços de saúde.

Com relação aos fatores de necessidade de saúde, observa-se que foram os que mais estavam associados à utilização dos serviços. A percepção pobre do estado de saúde13,19, a susceptibilidade percebida ao stress alta e muito alta13, o histórico médico de diversas doenças e comorbidades13,16,17,19,20 e o pobre status funcional17-19 determinaram sobremaneira o uso dos serviços de saúde em homens idosos, principalmente na hospitalização.

Entre os homens, de forma geral, há maior ocorrência de fumo, ingestão de álcool, desvantagens em situações relacionadas ao trabalho e condições severas e crônicas de saúde, o que pode acarretar aumento de riscos de problemas em longo prazo33-36, e maior utilização dos serviços de saúde de média e alta complexidade.

De acordo com a OMS, no documento que aborda sobre Homens, envelhecimento e saúde31, para melhorar a saúde dos homens em envelhecimento deve-se considerar o mesmo conceito ampliado de saúde aplicado para todas as populações, por meio de parcerias governamentais e não governamentais nacionais e internacionais e da sociedade civil, no intuito de garantir um planejamento em longo prazo para melhoria da saúde dos homens idosos.

Nos artigos estudados, observa-se maior ênfase na saúde do homem idoso centrada em um único órgão, a próstata, e também o foco na atenção especializada em detrimento da atenção básica. A pluralidade dos homens idosos, assim como suas necessidades de saúde, merece atenção especial, por isso é importante reconhecer como eles expressam tais necessidades e como estão sendo absorvidos pelos sistemas de cuidado em saúde37.

Como limitação dessa revisão, observa-se um número pequeno de artigos incluídos e, em sua maioria, com alguns pontos indicativos de viés, não permitindo uma maior análise do uso dos serviços de saúde e seus fatores associados. Todavia, vale ressaltar que se trata de mais uma contribuição essencial para o estudo do envelhecimento da população masculina.

Conclusão

Com bases nos resultados dos artigos analisados, pode-se inferir que fatores individuais que predispõem os indivíduos a usar os serviços de saúde, fatores de capacidade para procurar e receber os serviços e, principalmente, fatores de necessidade de saúde como percepção subjetiva e estado de saúde estão associados ao uso dos serviços de saúde pelos homens idosos. Com efeito, caminhos para o fortalecimento de pesquisas científicas, assim como a atenção das políticas de saúde nesse campo, devem ser traçados nas agendas das ações prioritárias de saúde pública.

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