versão impressa ISSN 1679-4974versão On-line ISSN 2237-9622
Epidemiol. Serv. Saúde vol.25 no.3 Brasília jul./set. 2016
http://dx.doi.org/10.5123/s1679-49742016000300022
analizar los factores asociados con el conocimiento sobre toxoplasmosis en mujeres embarazadas en el sistema de salud pública en la ciudad de Niterói, Rio de Janeiro, Brasil.
estudio transversal con mujeres embarazadas de ocho centros de salud; los datos se recogieron mediante un cuestionario estandarizado, entre abril de 2013 y febrero de 2015.
entre las 405 mujeres entrevistadas, 173 (42,7%) conocían la toxoplasmosis y, de estas, 24,3% recibieron esta información de amigos; la proporción de mujeres embarazadas con conocimientos sobre toxoplasmosis aumentó con la edad (p<0,001), la educación (p<0,001) y el número de embarazos (p=0,031); historia de aborto también se asoció con un mayor conocimiento sobre toxoplasmosis (p=0,019).
las variables 'edad', 'educación', 'número de embarazos' y 'historia de aborto' fueran importantes para el conocimiento sobre toxoplasmosis en mujeres embarazadas en el sector público en Niterói.
Palabras-clave: Toxoplasmosis Congénita; Mujeres Embarazadas; Prevención Primaria; Estudios Transversales
A infecção congênita pelo Toxoplasma gondii é um problema de Saúde Pública e, se as gestantes não forem tratadas, pode acarretar sequelas fetais.1-4 A infecção fetal acontece quando a mulher suscetível é infectada durante a gestação,5 e ocorrem reagudizações de infecções crônicas3 ou reinfecções pelo protozoário.6
Ainda não existe uma vacina comercial contra toxoplasmose para gestantes, de modo que é importante a adoção de medidas preventivas.7 A prevenção primária caracteriza-se por programas de educação em saúde, principalmente para as soronegativas, no sentido de evitar a soroconversão.8,9 A secundária consiste no rastreamento sorológico para detecção da soroconversão, para que o tratamento seja o mais precoce possível e não haja infecção fetal.8 A prevenção terciária atua no recém-nascido já infectado, buscando tratar e prevenir complicações.10
No Brasil, não há notificação da toxoplasmose congênita em muitas localidades, dificultando a vigilância do agravo.11,12 Muitas mulheres não realizam o pré-natal ou procuram o serviço tardiamente,13 o que também pode dificultar o controle da toxoplasmose.
A ocorrência da infecção pelo T. gondii durante a gestação tem sido relatada em diferentes regiões do país, tendo-se encontrado soroprevalência de 2% para anticorpos IgM anti-T. gondii em gestantes de São José do Rio Preto-SP,14 3,6% na Região do Alto Uruguai-RS,2 2,4% em Porto Alegre-RS,15 0,25% em Niterói-RJ,16 5,33% em Gurupi-TO4 e 0,9% em Caxias-MA.17 Há mais de uma década, estudos mostraram taxas de incidência da toxoplasmose congênita no Brasil de 0,2 a 5,0/1.000 nascimentos.2,18,19 Entretanto, esses mesmos estudos são difíceis de comparar devido às grandes variações regionais e metodológicas.20
Tendo em vista que a prevenção primária é a única forma disponível de se evitar a infecção materna pelo Toxoplasma gondii e que muitas gestantes não têm informação sobre a doença, este estudo teve por objetivo analisar os fatores associados ao conhecimento sobre a toxoplasmose entre gestantes atendidas na rede pública de saúde do município de Niterói, Rio de Janeiro, Brasil.
Foi realizado estudo transversal com dados coletados por meio de entrevistas, utilizando-se de questionários padronizados e validados em estudos anteriores.16,21
A coleta de dados foi realizada no período de abril de 2013 a fevereiro de 2015, com a participação de gestantes atendidas na Policlínica Regional do Largo da Batalha e em sete módulos do Programa Médico de Família (PMF) da Fundação Municipal de Saúde de Niterói-RJ, localizados nos seguintes bairros: Ititioca, Atalaia, Vila Ipiranga, Lagoinha, Maceió, Grota I e Preventório II.
As participantes foram selecionadas por conveniência. Todas as gestantes presentes nos locais de pesquisa durante o período do estudo foram convidadas a participar respondendo ao questionário; as gestantes que se recusaram, as portadoras de demências e aquelas com déficit auditivo ou de compreensão não foram incluídas na amostra. Após a aplicação do questionário, todas receberam um folheto e informações sobre a toxoplasmose.
Para a análise dos dados, utilizou-se estatística descritiva, expressa por frequências absolutas e relativas. As associações foram analisadas pelo teste do qui-quadrado de Pearson, com nível de significância de 5%. O coeficiente V de Cramér foi usado para quantificar o grau de associação entre as variáveis: 0=V<0,1 para associação fraca ou nenhuma associação; 0,1£V<0,3 para associação baixa; 0,3£V<0,5 para associação moderada; e V≥0,5 para associação forte. Os resultados da regressão logística múltipla foram expressos por odds ratio (OR) e intervalo de confiança de 95% (IC95%).
Os dados foram digitados em planilhas do programa Microsoft Excel 2010 e analisados com auxílio do programa IBM(r) Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)(r) versão 17.0.
As entrevistas foram realizadas individualmente, após prestação de esclarecimentos pelos pesquisadores sobre os objetivos da pesquisa, leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelas gestantes. O projeto do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Instituto Oswaldo Cruz - Parecer nº 110.045, em 28 de setembro de 2012 - e realizado em conformidade com as recomendações da Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) nº 466, de 12 de dezembro de 2012.
Foram entrevistadas 405 gestantes com idade de 13 a 43 anos e nível de escolaridade do analfabetismo ao Ensino Superior - 28,9% tinham Ensino Médio completo -; 25,9% foram entrevistadas no primeiro trimestre da gestação, 45,2% na primeira gestação, 34,3% realizavam a primeira consulta do pré-natal e 19,5% relataram história de aborto (Tabela 1).
Tabela 1 - Distribuição de gestantes atendidas na rede pública de saúde segundo a faixa etária, escolaridade, idade gestacional, número de gestações, número de consultas no pré-natal, história de aborto e conhecimento sobre a toxoplasmose no município de Niterói, Rio de Janeiro, 2013-2015
a) Teste do qui-quadrado de Pearson
A maioria das entrevistadas (57,3%) desconhecia a protozoose (Tabela 1). O conhecimento sobre toxoplasmose cresceu com a idade (p<0,001). A chance de conhecer a toxoplasmose aumentou nas faixas etárias elevadas: 4,38 vezes (IC95% 2,39;8,01) entre gestantes de 31 a 43 anos, na comparação com a mesma chance entre as gestantes de 13 a 20 anos (Tabela 1).
Gestantes com maior nível de escolaridade tiveram mais chance de conhecer a toxoplasmose (p<0,001), principalmente as mães com Ensino Médio completo (OR=6,26; IC95% 3,51;11,19), Ensino Superior incompleto (OR=27,3; IC95% 5,85;127,40) e Ensino Superior completo (OR=8,49; IC95% 2,05;35,24), em comparação àquelas com Ensino Fundamental incompleto (Tabela 1).
O número de gestações mostrou-se associado ao conhecimento sobre toxoplasmose. Mães com três gestações ou mais tiveram 1,87 vezes (IC95% 1,16;3,02) a chance de conhecer toxoplasmose de mães primíparas (Tabela 1).
O conhecimento sobre toxoplasmose foi maior entre as gestantes com história de aborto (p=0,019; OR=1,80; IC95% 1,10;2,96).
O grau de associação entre as variáveis analisadas e o conhecimento sobre toxoplasmose variou de baixo a moderado (V de Cramér de 0,1 a 0,5).
A idade gestacional e o número de consultas no pré-natal não estavam associados ao conhecimento sobre toxoplasmose (p>0,05).
Entre as gestantes que conheciam a toxoplasmose, as informações foram recebidas, principalmente, em conversas com amigos(as) (24,3%) e de médicos (19,6%) (Tabela 2).
Tabela 2 - Fontes de informação sobre toxoplasmose relatadas pelas gestantes atendidas na rede pública de saúde do município de Niterói, Rio de Janeiro, 2013-2015
Na Tabela 3, é apresentada a distribuição de gestantes de acordo com o número de consultas no pré-natal por período gestacional. Cabe destacar que entre as gestantes entrevistadas na primeira consulta do pré-natal (n=139), 40,3% (n=56) tinham 13 semanas ou mais de gestação, ou seja, estavam iniciando o pré-natal tardiamente.
O estudo revelou que fatores como aumento da idade e escolaridade, maior número de gestações e aborto podem influenciar na aquisição do conhecimento sobre a toxoplasmose, o que, possivelmente, terá um papel importante na adoção da prevenção primária entre a população estudada.
Estudos anteriores com gestantes e puérperas de Niterói-RJ, realizados entre 2010 e 2011,16,21 demonstraram que o risco da infecção pelo T. gondii aumenta com a idade e que maior nível de escolaridade pode atuar como fator protetor contra a infecção.
Não houve associação entre o conhecimento sobre a toxoplasmose e a idade gestacional das participantes; porém, seria esperado que gestantes com maior idade gestacional tivessem mais conhecimento sobre a doença. Este fato pode ser explicado pelo início tardio do pré-natal e, consequentemente, pelo número reduzido de consultas no pré-natal observado na pesquisa. Estudo realizado nos Estados Unidos da América em 200322 não encontrou diferenças no nível de conhecimento sobre a toxoplasmose por trimestre gestacional ou número de gestações.
Os resultados mostraram que o número maior de gestações foi associado ao conhecimento sobre a toxoplasmose, assim como a história de aborto. Esses achados já eram esperados. Observou-se, durante as entrevistas, que as gestantes nessas condições procuram mais informações sobre doenças capazes de causar problemas graves no feto. O fato de as gestantes serem sororreagentes também é uma variável associada ao conhecimento sobre a toxoplasmose.21
Não foi observada associação entre o número de consultas no pré-natal e o conhecimento sobre toxoplasmose, sugerindo que esse tema não está sendo abordado durante o pré-natal, fato possivelmente relacionado com a demora na entrega dos exames, ou uma grande demanda de pacientes e reduzido número de profissionais.12
Um estudo publicado em 2012,23 com gestantes adolescentes do estado do Ceará, mostrou associação positiva entre adoção de medidas preventivas e duas ou mais consultas no pré-natal. Durante a pesquisa, foram observados diversos fatores capazes de explicar o número reduzido de consultas no pré-natal na população estudada, como o atraso na suspeita e confirmação da gravidez, a demora em agendar a consulta do pré-natal e o fato de muitas gestantes estarem realizando o pré-natal na rede privada mas, sem condições financeiras de arcar com os custos do parto, procurarem o serviço público de saúde quando já no terceiro trimestre de gestação - de acordo com os relatos das gestantes durante as entrevistas. Estudos realizados na Europa, em 200124 e 2008,25 comprovaram o efeito positivo da prevenção primária da toxoplasmose sobre o conhecimento e exposição aos fatores de risco para a doença. Porém, em Niterói como em outros municípios brasileiros, essa prática ainda não era valorizada, segundo estudos prévios.9,12,17,21,23,26,27
Evidenciou-se a falta de conhecimento sobre a toxoplasmose, configurando um desafio para os profissionais de saúde realizarem a prevenção primária da toxoplasmose congênita, ação para a qual são requeridas mudanças comportamentais e de hábitos alimentares por parte das gestantes. É muito importante que os profissionais sejam capacitados, e as medidas de educação das gestantes realizadas de forma contínua, para que a prevenção primária da toxoplasmose congênita seja efetiva.