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Fatores sociodemográficos e diagnósticos de enfermagem em pacientes submetidos às cirurgias ortopédicas

Fatores sociodemográficos e diagnósticos de enfermagem em pacientes submetidos às cirurgias ortopédicas

Autores:

Lágila Cristina Nogueira Martins,
Aldenora Laísa Paiva de Carvalho Cordeiro,
Thaís Santos Guerra Stacciarini,
Rosana Huppes Engel,
Vanderlei José Haas,
Marina Pereira Rezende,
Lúcia Aparecida Ferreira

ARTIGO ORIGINAL

Escola Anna Nery

versão impressa ISSN 1414-8145versão On-line ISSN 2177-9465

Esc. Anna Nery vol.24 no.3 Rio de Janeiro 2020 Epub 29-Maio-2020

http://dx.doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2019-0292

RESUMEN

Objetivo

identificar los diagnósticos de enfermería más frecuentes y verificar sus asociaciones con factores sociodemográficos en pacientes sometidos a cirugías ortopédicas.

Método

Estudio observacional, analítico y transversal, desarrollado en la unidad de ortopedia de un hospital docente. Para la recolección de datos utilizamos instrumentos estructurados, anamnesis y examen físico. Los datos se analizaron mediante el programa Paquete estadístico para ciencias sociales.

Resultados

De los 201 pacientes evaluados, el 68,2% eran hombres. Los diagnósticos de enfermería más frecuentes fueron: riesgo de infección (100%), integridad de la piel deteriorada (100%), integridad del tejido deteriorada (97.5%), déficit de autocuidado en el baño (90.5%), dolor agudo (80,6%), riesgo de caídas (76,6%) y ansiedad (70%). Se encontraron asociaciones entre el dolor agudo y la participación en el ingreso familiar y entre el déficit de autocuidado para bañarse y el estado civil.

Conclusión e implicaciones para la práctica

El análisis del perfil sociodemográfico de una población favorece la planificación de la atención segura y la toma de decisiones basadas en evidencia científica. Minimice las posibles complicaciones, promueva la apropiación de los diagnósticos de enfermería, mejore la calidad de la atención, reduzca los costos operativos para las instalaciones de atención médica y promueva la seguridad del paciente.

Palabras Clave:  Diagnóstico de Enfermería; Proceso de Enfermería; Enfermería; Ortopedia

INTRODUÇÃO

O trauma ortopédico é um problema de saúde pública e atinge parcela considerável da população mundial anualmente, tanto por causas externas quanto pelo aumento da expectativa de vida, que pode, inclusive, associar-se a eventos incapacitantes e ocasionar fraturas fisiológicas.1-3

O trauma ortopédico acarreta aumento das internações hospitalares e dos custos com o tratamento, extensos períodos de reabilitação e forte impacto socioeconômico.2,3

A enfermagem ortopédica constitui especialidade importante na prestação de cuidados às vítimas de traumas, malformação congênita, doenças degenerativas e outros comprometimentos do sistema musculoesquelético, tanto nas fases cirúrgicas quanto nas de reabilitação e prevenção.3-6 Entretanto, ainda é pouco explorada na literatura, sendo necessário trabalhar a complexidade do tema.

O enfermeiro deve prestar assistência sistematizada e científica; propor intervenções fundamentadas na Prática Baseada em Evidências, de forma proativa e eficaz; e ser capaz de avaliar os resultados de sua prática clínica.4,7,8

O Processo de Enfermagem (PE) visa organizar o conhecimento e as condições necessárias para uma assistência integral e humanizada ao indivíduo, à família e à comunidade.7 Organiza-se em cinco etapas inter-relacionadas e interdependentes: coleta de dados; Diagnóstico de Enfermagem (DE); planejamento; implementação e avaliação.4,7,8 A implementação efetiva do PE ainda pressupõe desafios, como limitação no conhecimento para realizar o exame clínico, ausência de registro adequado, inclusive prescrições de enfermagem incoerentes e não confiáveis, e resistência da própria equipe.4,7

Os Diagnósticos de Enfermagem (DE), segundo a NANDA International, Inc. (NANDA-I) (2015-2017)9 constituem um julgamento clínico sobre as respostas humanas a uma determinada situação e subsidiam a elaboração dos cuidados para a individualização e excelência da assistência ao paciente.4,7 Entretanto, a enfermagem ainda apresenta dificuldade na identificação de diagnósticos acurados, visto que respostas humanas são complexas, subjetivas e não passíveis de mensuração por meio de dispositivos tecnológicos, dificultando a tomada de decisão diagnóstica.10

Os estudos sobre a frequência de DE, seus indicadores e as associações com fatores sociodemográficos e clínicos são fundamentais. Tais estudos contribuem para o planejamento e a implementação de intervenções que favorecem a assistência de qualidade, individualizada e integral, além de resultados positivos em enfermagem.11

Neste contexto, os objetivos deste estudo foram identificar os diagnósticos de enfermagem mais frequentes e verificar suas associações com fatores sociodemográficos em pacientes submetidos às cirurgias ortopédicas.

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa observacional, analítica e transversal, desenvolvida na unidade de ortopedia de um hospital público de ensino, de grande porte, 100% Sistema Único de Saúde (SUS), localizado no interior de Minas Gerais e constitui-se referência regional para cirurgias ortopédicas. A unidade possui 19 leitos ativos.

A população deste estudo foi constituída por pacientes em pós-operatório imediato (POI) de cirurgia ortopédica, internados na referida instituição hospitalar.

O critério de inclusão adotado foi: pacientes maiores de 18 anos. Critérios de exclusão: pacientes impossibilitados de responder aos instrumentos de pesquisa.

Foram elaborados instrumentos estruturados para identificar o perfil sociodemográfico, clínico e os DE mais frequentes nesses pacientes. Os fatores sociodemográficos e clínicos pesquisados foram sexo, idade, estado civil, profissão/ocupação, renda mensal, participação na renda familiar, comorbidades, causa/fator etiológico, diagnósticos médicos, tipo de intervenção cirúrgica e dispositivo ortopédico utilizado. Os DE e fatores relacionados identificados basearam-se na NANDA International, Inc. (NANDA-I) (2015-2017).9 O instrumento em questão passou pela apreciação de três enfermeiras experientes com pesquisa de DE antes de ser aplicado pelas pesquisadoras.

A amostra foi do tipo probabilística e sequencial. Para o cálculo amostral, utilizou-se a prevalência de 80% do DE: “Mobilidade Física Prejudicada”. Valor identificado a partir de um estudo piloto realizado com dez pacientes, que não foram incluídos no estudo, sendo possível identificar o DE supracitado em 78% dos pacientes avaliados, e também artigos já publicados que traziam porcentagem equivalente a 80% do mesmo DE.3,4 Considerou-se precisão de 4% e intervalo de confiança de 95%, para uma população finita de 420 cirurgias, valor encontrado a partir da média semestral de cirurgias ortopédicas realizadas no hospital em questão, chegando-se a uma amostra de 201 sujeitos.

Para a coleta de dados, realizada de janeiro a julho de 2018, os pacientes incluídos na pesquisa foram submetidos à anamnese e ao exame físico realizados pelas pesquisadoras e pelas enfermeiras do setor. Para favorecer a identificação de DE acurados, essas profissionais passaram por treinamento prévio, considerando o Raciocínio Diagnóstico de RISNER12 e as Necessidades Humanas Básicas de Wanda de Aguiar Horta,13 realizado pelo Serviço de Educação em Enfermagem do hospital campo de estudo. O setor em questão também ficou responsável por orientar sobre a adequada aplicação do instrumento de pesquisa elaborado para a coleta de dados. Em seguida, realizou-se um estudo piloto com dez pacientes para verificar a concordância entre as diagnosticadoras.

A identificação dos DE foi realizada pelas enfermeiras do setor, com a aplicação da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) e pelas pesquisadoras, também enfermeiras, que realizavam nova anamnese e exame físico e reconhecia os DE dos pacientes em POI. Em seguida, comparavam os DE identificados, complementando o instrumento de pesquisa.

Os dados coletados foram codificados, categorizados e digitados em planilha do programa Microsoft Excel® para a validação por dupla digitação, e exportados em seguida para o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20. As variáveis qualitativas foram analisadas por meio de estatística descritiva, com frequência absoluta e percentual, e para as variáveis quantitativas foram utilizadas as medidas descritivas de centralidade (média) e de dispersão (desvio-padrão, valores mínimo e máximo). Utilizou-se o qui-quadrado de Pearson ou teste Exato de Fisher (quando a porcentagem de cruzamento com frequência esperada inferior a cinco foi superior a 25%) e regressão logística binomial múltipla para verificar as associações entre os fatores sociodemográficos e DE mais frequentes. Para análise, consideraram-se frequentes os DE que foram identificados em, pelo menos, 70% dos pacientes.

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa de uma universidade pública e conduzida conforme a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, sob número de parecer 46331115.9.0000.5154. A participação dos pacientes foi condicionada à assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

RESULTADOS

Dos 201 pacientes que passaram pela investigação, eram do sexo masculino 137 (68,2%) e do sexo feminino 64 (31,8%). A idade variou de 18 a 91 anos, com média de 43,41 anos, desvio padrão ± 17,96 e mediana de 42,00. Quanto ao estado civil, 101 (50,3%) referiram ser casados ou estar em união estável, enquanto que 100 (49,7%) eram solteiros, viúvos ou divorciados.

Houve o predomínio de trabalhadores ativos, 117 (58,2%); seguidos de aposentados ou pensionistas, 48 (23,9%); e desempregados, 36 (17,9%).

Em relação à renda mensal, 161 (80,1%) recebiam até três salários, 30 (14,9%) não tinham renda, e 10 (5%) recebiam mais que três salários mínimos. Participavam da renda familiar, 171 (85,1%).

Quanto às comorbidades, 138 (68,6%) referiram não possuir nenhuma, 30 (14,9%) possuíam hipertensão arterial sistêmica (HAS), 12 (6%) HAS e diabetes mellitus (DM), 12 (6%) concomitante, 9 (4,5%) com problemas respiratórios crônicos, 6 com DM (3%), e 6 (3%) com distúrbios da tireoide.

Dentre as principais causas de cirurgias ortopédicas, o acidente motociclístico apresentou 62 (30,8%) vítimas; acidente de trabalho, 34 (16,9%); queda da própria altura, 32 (15,9%); acidente automobilístico, 16 (7,9%); atropelamento, 9 (4,5%); câncer, 9 (4,5%); evolução da doença, 7 (3,5%); prática de futebol, 6 (3%); ferimento com arma branca, 4 (2%); agressão, 3 (1,5%); queda do telhado, 3 (1,5%); desgaste, 3 (1,5%); e outras causas, 13 (6,4%).

Quanto aos diagnósticos médicos, 147 (73,2%) foram diagnosticados com fratura, 14 (6,9%) com transtornos de ligamentos, 9 (4,5%) com biópsia, 5 (2,5%) com amputação e 26 (12,9%) com outros diagnósticos menos frequentes.

A cirurgia mais frequente foi osteossíntese em 125 (62,1%) pacientes, seguida de retirada de material de síntese em 16 (8%), ressecções de tumor em 8 (4%), tenorrafias em 7 (3,5%), artroplastias em 5 (2,5%), amputações em 5 (2,5%), neurorrafias em 5 (2,5%), colocações de tração em 4 (2%), desbridamentos em 4 (2%), e outras cirurgias em 22 (10,9%) pacientes.

As intervenções cirúrgicas ocorreram predominantemente nos membros inferiores em 112 (55,7%) pacientes. O dispositivo mais utilizado foi a atadura em 67 (33,3%) pacientes, tala gessada em 63 (31,3%), fixador externo em 35(17,4%), curativo oclusivo em 28 (13,9%) e tração transesquelética em 8 (4%).

Dos pacientes avaliados, 89 (44,3%) receberam alta em até 48 horas de pós-operatório, 111 (55,2%) permaneceram na enfermaria por mais de dois dias e 1 (0,5%) foi a óbito no POI.

A partir da investigação, foi possível identificar 54 DE, com média de 12,3 diagnósticos por paciente. Os DE mais frequentes, que apareceram em, pelo menos, 70% dos pacientes, encontram-se na Tabela 1.

Tabela 1 Diagnósticos de Enfermagem mais frequentes e fatores relacionados, segundo a NANDA International, Inc. (NANDA-I) (2015-2017) em pacientes submetidos às cirurgias ortopédicas em um hospital público de ensino. Uberaba, MG, Brasil, 2018 

Título diagnóstico / Fator relacionado n (%)
Risco de infecção 201 (100,0)
Procedimento invasivo 199 (99,0)
Alteração na integridade da pele 2 (1,0)
Integridade da pele prejudicada 201 (100,0)
Fator mecânico (forças de cisalhamento, pressão, imobilidade física) 201(100,0)
Integridade tissular prejudicada 196 (97,5)
Procedimento cirúrgico 195 (99,5)
Fator mecânico 1 (0,5)
Déficit no autocuidado para banho 182 (90,5)
Prejuízo musculoesquelético 180 (99,0)
Dor 1 (0,5)
Prejuízo neuromuscular 1 (0,5)
Dor aguda 162 (80,6)
Agente lesivo físico (amputação, corte, procedimento cirúrgico, trauma) 128 (79,0)
Agente lesivo biológico (infecção, isquemia, neoplasma) 34 (21,0)
Risco de quedas 154 (76,6)
Mobilidade prejudicada 125 (81,1)
Agentes farmacológicos 12 (7,8)
Idade maior ou igual a 65 anos 8 (5,2)
Uso de dispositivos auxiliares (andador, cadeira de rodas) 3 (2,0)
Uso de imobilizadores 4 (2,6)
Incontinência 2 (1,3)
Ansiedade 140 (70,0)
Mudança importante (condição econômica e/ou de saúde, ambiente, condição do papel, estresse) 136 (97,2)
Ameaça de morte 2 (1,4)
Abuso de substâncias 2 (1,4)

Na Tabela 2, visualiza-se a associação entre fatores sociodemográficos e os DE mais frequentes. Os diagnósticos risco de infecção e integridade da pele prejudicada estiveram presentes em 100% dos pacientes, inviabilizando a realização dos testes estatísticos de associação.

Tabela 2 Associação entre fatores sociodemográficos e Diagnósticos de Enfermagem mais frequentes em pacientes submetidos às cirurgias ortopédicas em um hospital público de ensino. Uberaba, MG, Brasil, 2018 

Fatores sociodemográficos Diagnóstico de Enfermagem
Sim Não p*
n (%) n (%)
Integridade tissular prejudicada
Faixa etária
18-59 anos 162 (97,0) 5 (3,0) 0,39a
≥ 60 anos 34 (100,0) 0 (0,0)
Sexo
Masculino 133 (97,1) 4 (2,9) 0,48a
Feminino 63 (98,4) 1 (1,6)
Estado civil
Casado / união estável 99 (98,0) 2 (2,0) 0,49a
Solteiro / viúvo / divorciado 97 (97,0) 3 (3,0)
Participação na renda familiar
Sim 166 (97,1) 5 (2,9) 0,44a
Não 30 (100,0) 0 (0,0)
Déficit no autocuidado para banho
Faixa etária
18-59 anos 151 (90,4) 16 (9,6) 0,89b
≥ 60 anos 31 (91,2) 3 (8,8)
Sexo
Masculino 125 (91,2) 12 (8,8) 0,62b
Feminino 57 (89,1) 7 (10,9)
Estado civil
Casado / união estável 96 (95,0) 5 (5,0) 0,02b
Solteiro / viúvo / divorciado 86 (86,0) 14 (14,0)
Participação na renda familiar
Sim 156 (91,2) 15 (8,8) 0,43b
Não 26 (86,7) 4 (13,3)
Dor aguda
Faixa etária
18-59 anos 134 (80,2) 33 (19,8) 0,77b
≥ 60 anos 28 (82,4) 6 (17,6)
Sexo
Masculino 111 (81,0) 26 (19,0) 0,82b
Feminino 51 (79,7) 13 (20,3)
Estado civil
Casado / união estável 81 (80,2) 20 (19,8) 0,88b
Solteiro / viúvo / divorciado 81 (81,0) 19 (19,0)
Participação na renda familiar
Sim 142 (83,0) 29 (17,0) 0,04b
Não 20 (66,7) 10 (33,3)
Risco de quedas
Faixa etária
18-59 anos 124 (74,3) 43 (25,7) 0,07b
≥ 60 anos 30 (88,2) 4 (11,8)
Sexo
Masculino 101 (73,7) 36 (26,3) 0,15b
Feminino 53 (82,8) 11 (17,2)
Estado civil
Casado / união estável 79 (78,2) 22 (21,8) 0,59b
Solteiro / viúvo / divorciado 75 (75,0) 25 (25,0)
Participação na renda familiar
Sim 133 (77,8) 38 (22,2) 0,35b
Não 21 (70,0) 9 (30,0)
Ansiedade
Faixa etária
18-59 anos 121 (72,5) 46 (27,5) 0,05b
≥ 60 anos 19 (55,9) 15 (44,1)
Sexo
Masculino 101 (73,7) 36 (26,3) 0,06b
Feminino 39 (60,9) 25 (39,1)
Estado civil
Casado / união estável 65 (64,4) 36 (35,6) 0,10b
Solteiro / viúvo / divorciado 75 (75,0) 25 (25,0)
Participação na renda familiar
Sim 119 (69,6) 52 (30,4) 0,96b
Não 21 (70,0) 9 (30,0)

*Indica significância quando p é menor ou igual a 0,05; a) Teste exato de Fisher; b) Teste do qui-quadrado de Pearson.

Nos DE em que foram encontradas associações com os fatores sociodemográficos no qui-quadrado de Pearson ou teste exato de Fisher, aplicou-se regressão logística binomial múltipla, para verificar a Razão de Chances de Prevalência (RCP) ajustada, conforme observado na Tabela 3.

Tabela 3 Regressão logística binomial múltipla entre fatores sociodemográficos e Diagnósticos de Enfermagem em pacientes submetidos às cirurgias ortopédicas em um hospital público de ensino. Uberaba, MG, Brasil, 2018 

Fatores sociodemográficos Diagnóstico de Enfermagem
RCP Bruto (IC) RCP Ajustado (IC) p*
Déficit no autocuidado para banho
Faixa etária
18-59 anos 1,09 (0,30 – 3,98) 1,10 (0,26 – 4,56) 0,88
≥ 60 anos
Sexo
Masculino 1,27 (0,47 – 3,42) 1,39 (0,48 – 4,05) 0,53
Feminino
Estado civil
Casado / união estável 3,12 (1,08 – 9,03) 3,13 (1,07 – 9,13) 0,03
Solteiro / viúvo / divorciado
Participação na renda familiar
Sim 0,62 (0,19 – 2,03) 0,76 (0,22 – 2,61) 0,66
Não
Dor aguda
Faixa etária
18-59 anos 1,14 (0,44 – 3,00) 0,97 (0,35 – 2,69) 0,96
≥ 60 anos
Sexo
Masculino 1,08 (0,51 – 2,28) 1,04 (0,47 – 2,31) 0,91
Feminino
Estado civil
Casado / união estável 0,95 (0,47 – 1,91) 0,86 (0,42 – 1,77) 0,69
Solteiro / viúvo / divorciado
Participação na renda familiar
Sim 2,44 (1,03 – 5,77) 2,53 (1,03 – 6,26) 0,04
Não
Ansiedade
Faixa etária
18-59 anos 2,07 (0,97 – 4,42) 1,79 (0,80 - 4,02) 0,15
≥ 60 anos
Sexo
Masculino 0,55 (0,29 – 1,04) 0,64 (0,33 - 1,26) 0,20
Feminino
Estado civil
Casado / união estável 1,66 (0,90 – 3,05) 1,61 (0,86 - 3,00) 0,12
Solteiro / viúvo / divorciado
Participação na renda familiar
Sim 0,98 (0,42 – 2,28) 1,07 (0,44 - 2,64) 0,87
Não

Intervalo de confiança

*Indica significância quando p é menor ou igual a 0,05.

Identificou-se que quem participa da renda familiar possui duas vezes e meia mais chance de ter o DE dor aguda, assim como os indivíduos casados ou em união estável tem aproximadamente três vezes mais chance de apresentarem o DE déficit no autocuidado para banho.

DISCUSSÃO

O perfil predominante foi sexo masculino, em idade economicamente ativa, vítimas de acidente motociclístico, com fraturas em membros inferiores. Essas informações podem ser justificadas por questões socioculturais, em que os homens são os que mais se expõem a situações de risco, somada à vulnerabilidade dos motociclistas, que aumenta a morbimortalidade por causas externas, além dos elevados custos aos cofres públicos e para a sociedade.2,14,15

O aumento de motocicletas como meio de transporte, associado à presença de um sistema viário sem planejamento, à falta de fiscalização e ao desrespeito à legislação, fazem com que os acidentes de trânsito estejam entre as principais causas de morte no Brasil.14,15

As fraturas foram o principal motivo de indicação cirúrgica, dado que corrobora a literatura.1,3,5,16 Relacionado a isso, estudo australiano mostrou que a fratura causada por fragilidade óssea provavelmente irá gerar novas fraturas.5 Fato evidenciado em idosos, associado ao aumento da expectativa de vida e surgimento de eventos incapacitantes, que aumentam as chances de imobilidade e dependência funcional.1,6

A enfermagem possui papel relevante na assistência prestada aos pacientes ortopédicos no pós-operatório, a fim de promover melhoria contínua, reabilitação e redução da morbimortalidade.3,4,6

Dentre os DE identificados, em pelo menos 70% dos pacientes, os mais frequentes foram risco de infecção, integridade da pele prejudicada e integridade tissular prejudicada, o que corrobora outros estudos.3,4,9 Tratam-se, porém, de diagnósticos esperados para a população em pós-operatório de forma geral.

Relacionado a isso, destaca-se na literatura técnicas especiais para incisões cirúrgicas e lesões traumáticas, como a terapia por pressão negativa (TPN), que propõe acelerar o processo de reparação e preparar o leito da lesão para uma cobertura definitiva.17 Estudo mostra que essa terapia apresenta menores índices de infecção e menor tempo médio de fechamento das lesões, em comparação com coberturas convencionais; além disso, a presença de fixadores externos, não contraindica a TPN.17

Os DE déficit no autocuidado para banho, dor aguda, risco de quedas e ansiedade são os que mais impactam a qualidade de vida dos indivíduos submetidos à cirurgia ortopédica, mesmo que não sejam identificados em todos os pacientes avaliados.9

O déficit no autocuidado para banho relaciona-se com a conservação da independência do indivíduo.4,9 A dependência para a realização das atividades cotidianas desperta sentimentos de impotência, medo e ansiedade.3,4

Neste estudo, encontrou-se associação entre o déficit no autocuidado para banho e o estado civil. Indivíduos casados ou em união estável apresentaram maior déficit quando comparado com os solteiros, viúvos ou divorciados. Essa relação pode ser justificada pela confiança e responsabilidade depositada em seus companheiros para exercer ou auxiliá-los nesta atividade. Pode-se considerar também que muitos companheiros, diante de uma situação de hospitalização, organizam-se para exercerem a responsabilidade do cuidado e permanecerem o maior tempo possível com seus entes.18

Outro estudo,19 realizado com idosos, demonstrou relação oposta. O mesmo identificou que idosos que vivem com um companheiro têm menor declínio na capacidade funcional, quando comparado com idosos solteiros ou viúvos.19 É compreensível que essa relação se deva aos cuidados promovidos pelo cônjuge, que contribuem para o cuidado e a manutenção das atividades diárias.19 Apesar da divergência entre os resultados e de tratar-se de uma população específica, no caso, idosos, identifica-se, portanto, estudos que já verificaram relação entre estado civil e capacidade funcional e/ou autocuidado. No entanto, mais pesquisas são necessárias para ampliar a compreensão e relevância dessa associação.

A alta frequência do DE déficit no autocuidado para banho remete à alta dependência dos pacientes em pós-operatório de cirurgia ortopédica, o que reflete em sobrecarga de trabalho da enfermagem nestas unidades.20-22 Enfatiza-se que viabilizar a qualidade assistencial e segurança do paciente inclui garantir o adequado dimensionamento de pessoal.20-22

A cirurgia ortopédica é uma das principais causas de dor intensa.23,24 A dor aguda é uma experiência subjetiva, trata-se de um DE comum em pós-operatório e, quando não tratada, pode causar alterações fisiológicas e psicológicas que interferem negativamente na recuperação.9,23

Percebeu-se associação entre dor aguda e participação na renda familiar. Sabe-se que fatores individuais como ansiedade, mudanças importantes, fatores genéticos, culturais, situacionais e ambientais podem influenciar na incidência e intensidade da dor.25,26

O enfermeiro da ortopedia deve avaliar a dor de forma multidimensional, considerar fatores fisiológicos, emocionais e comportamentais do paciente, inclusive explorar intervenções de enfermagem e técnicas não farmacológicas capazes de sanar o desconforto e evitar prejuízos na recuperação.4,23,24

A musicoterapia possibilita abordagem de aspectos físicos e psicológicos, mostrando-se eficaz tanto para o tratamento da dor quanto para a redução da ansiedade.27

A amostra de pacientes adultos apresentou-se mais apreensiva com a recuperação cirúrgica e a mudança no estado de saúde, sendo identificados sinais de ansiedade mais frequentemente nessa faixa etária quando comparado com os idosos. A literatura28 já descreveu relação entre ansiedade e faixa etária. Assim, mesmo não havendo uma associação com significância estatística, o DE ansiedade merece estudos mais detalhados. O principal fator relacionado identificado entre os pacientes diagnosticados com ansiedade foi “mudanças importantes”.9

Durante a internação, o risco de quedas também é esperado nos pacientes submetidos às cirurgias ortopédicas, principalmente em relação ao comprometimento musculoesquelético de membros inferiores.9,24 Trata-se, porém, de um problema de saúde que merece estudos específicos.9,24

Destaca-se a importância da atuação interdisciplinar em POI de cirurgias ortopédicas, com intervenções colaborativas entre enfermagem, serviço social e psicologia, tendo em vista que a situação de saúde de seus pacientes pode ser temporária ou permanente e afeta sua qualidade de vida, assim como de seus familiares. O trabalho multiprofissional promove assistência segura, de qualidade e integral para os pacientes.6,29

O enfermeiro tem papel indispensável nas práticas assistenciais, educativas e preventivas, desenvolvidas em todos os níveis de atenção, devendo estimular a corresponsabilização do indivíduo em seu processo saúde-doença.5,6 Enfatiza-se a atuação em rede do enfermeiro e a importância do sistema de referência e contrarreferência, a fim de promover a integralidade da assistência.30

Diante dos resultados, evidencia-se a relevância do estudo para auxiliar o enfermeiro da ortopedia em sua prática clínica, desenvolvendo habilidades cognitivas, técnicas, atitudinais e éticas para a prestação de assistência de qualidade. Assim, conhecer o perfil sociodemográfico e clínico, identificar DE acurados para uma população específica e atuar de forma interdisciplinar, torna-se fundamental para proporcionar uma assistência integral, de acordo com as reais necessidades dos indivíduos. Destaca-se, ainda, a importância de estudos que testem e validem as intervenções para a enfermagem ortopédica.

CONCLUSÃO E IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA

Os DE mais frequentes identificados neste estudo foram risco de infecção, integridade da pele prejudicada, integridade tissular prejudicada, déficit no autocuidado para banho, dor aguda, risco de quedas e ansiedade. Houve associações entre o estado civil e déficit no autocuidado para banho e entre participação na renda familiar e dor aguda.

O estudo apresentou como limitação a análise simultânea de vários DE. Sugere-se que estudos longitudinais sejam realizados para acompanhar apenas um DE, a fim de detalhar e ampliar a compreensão de possíveis correlações.

A análise do perfil sociodemográfico de uma população específica favorece a apropriação de DE e, consequentemente, o planejamento de uma assistência de qualidade, com tomada de decisão pautada em evidências científicas.

REFERÊNCIAS

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