Print version ISSN 0103-2100On-line version ISSN 1982-0194
Acta paul. enferm. vol.32 no.2 São Paulo Mar./Apr. 2019 Epub June 10, 2019
http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201900019
Describir el perfil de los doctores egresados del Programa de Posgrado de Enfermería de la Escola Paulista de Enfermagem de la Universidad Federal de São Paulo, su actuación profesional y opinión sobre el impacto del curso.
Estudio descriptivo, realizado con 135 egresados de los 224 doctores titulados en el período de 1986 a julio de 2016, que fueron agrupados en tres cortes temporales.
Hubo un aumento significativo en la titulación de los doctores a lo largo de las tres décadas, cuyos egresados provienen de todas las regiones del país, especialmente del Sudeste; solo tres de ellos son de otros países. El promedio de edad al ingresar fue de 39,8 años y la permanencia en el programa de 46,2 meses. La mayoría se encuentra insertada en el mercado laboral, con actuación en enseñanza (92%), investigación (82,9%) y gestión (52,6%). Hubo una diferencia estadísticamente significativa entre las tres décadas en las siguientes variables: condición de trabajo actual (p=0,01); actuación en enseñanza en institución privada (p=0,02); actuación en asistencia (p=0,03); actuación en gestión de enseñanza como coordinador de programa de posgrado (p=0,04) y como director de escuela (p<0,01); gestión en investigación como líder de grupo (p=0,03); gestión en asistencia como director de hospital (p=0,01) y publicación de libros (p=0,01) y capítulos (p<0,01). La mayoría afirmó que el doctorado produjo un impacto en la formación académica (94%), en el crecimiento profesional (94%), personal (91%) y aumento de oportunidades de trabajo (73%).
La mayor parte de los egresados se encuentra trabajando en instituciones federales, mayormente con actuación en enseñanza en nivel de grado y posgrado lato sensu. La mayoría se encuentra realizado investigaciones con alumnos de grado y posgrado lato sensu y stricto sensu. Una parte de los egresados realiza actividades asistenciales, de gestión de enseñanza, investigación y asistencia. Los atributos: “crecimiento profesional” y “formación académica”, seguidos de “crecimiento personal” fueron los mayores impactos citados por los egresados.
Descriptors Educación de posgrado en enfermería; Programas de posgrado en salud; Investigación en enfermería
O curso de Doutorado da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (EPE/UNIFESP) foi criado em 1986, com o nome de Doutorado em Enfermagem Materna e Infantil, por iniciativa de docentes das Disciplinas Enfermagem Pediátrica e Obstétrica do então denominado Departamento de Enfermagem desta instituição de ensino.(1)
Frente às necessidades sentidas pelo corpo docente, oito anos após o seu início (1994), este curso foi reorganizado transformando-se em Curso de Doutorado em Enfermagem, possibilitando, dessa forma, atender a demanda de enfermeiros das várias áreas da Enfermagem e adequando-se, também, aos critérios de desempenho estabelecidos pela área de Enfermagem da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), para os programas de Pós-graduação.
Em 1995, dando continuidade ao processo de avaliação continua dos cursos de pós-graduação, no âmbito da Escola Paulista de Enfermagem, bem como em atendimento as recomendações da Comissão de Avaliação da área de Enfermagem na CAPES, para melhor aproveitamento dos recursos disponíveis em termos de estrutura física, organização administrativa e pedagógica, os cursos então existentes unificaram-se em um único programa. A reformulação abrangeu os níveis de Mestrado e Doutorado, sendo que o primeiro contemplava três áreas de concentração: Enfermagem Pediátrica, Enfermagem Obstétrica e Enfermagem na Saúde do Adulto.
Face às transformações havidas no programa, especificamente no curso de Doutorado, e cientes da importância da realização de avaliações periódicas dos egressos, como forma de verificar a eficiência e viabilidade da oferta do próprio programa, a coordenação e o corpo docente do mesmo decidiram realizar o primeiro levantamento formal dos seus egressos a fim de obter informações sobre suas posições profissionais após a titulação, bem como sua opinião sobre em que medida o curso os havia preparado para atuação profissional.(2) Esta iniciativa também ia ao encontro de uma das recomendações feitas pela Comissão Internacional de Avaliação durante a avaliação dos Programas de Pós-Graduação desenvolvido pela CAPES no biênio 1996-1997. A referida Comissão apontou a necessidade de obter informações sobre os egressos, de modo a que se pudesse “fazer um julgamento da relação do programa com o emprego e com as oportunidades do mercado, bem como para identificar casos de escassez ou excesso de doutores”.(3)
Desde então, a inclusão do seguimento de egressos na avaliação dos programas de pós-graduação vem sendo enfatizada nos Planos Nacionais de Pós- graduação, como uma das formas de aprimorar os modelos de formação e as políticas da pós-graduação.(4)
No que se refere à enfermagem, a importância de acompanhar o destino dos egressos já era mencionada nas considerações finais do documento de área da avaliação do triênio 1998-2000.(5) No entanto, a ênfase a esse aspecto como forma de propiciar “uma inserção social mais rica” dos egressos, vem sendo apontada nas últimas décadas e pode ser identificada em um dos itens da avaliação da proposta do programa.(6)
Tendo em vista que em 2008 procedeu-se a uma nova reestruturação do Programa de Pós Graduação em Enfermagem (PPGE) da EPE/UNIFESP, resultando na sua configuração atual com uma única área de concentração e quatro linhas de pesquisa, considerou-se necessário realizar um novo levantamento do destino dos egressos do programa, de modo a analisar a sintonia da formação destes com as atuais diretrizes do sistema de avaliação dos programas de pós-graduação concernentes à área de enfermagem e com as recomendações propostas no Plano Nacional de Pós-graduação - PNPD 2011-2020,(7) bem como com a Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde.(8) Busca-se também por subsídios para análise da proposta estabelecida para o perfil do egresso e para o planejamento de ações estratégicas e metas do Programa.
A pergunta básica que se busca responder é: onde e em que área estão atuando os egressos do curso de doutorado em enfermagem do PPGE/ EPE-UNIFESP? Desta forma, o objetivo do estudo foi descrever o perfil dos doutores egressos do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo, sua atuação profissional e a opinião sobre o impacto produzido pelo curso.
O projeto do presente estudo cumpriu os requisitos éticos exigidos pela Resolução CNS 466/12(9) tendo sido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UNIFESP, CAAE n° 61.106516.9.0000.5505.
Trata-se de um estudo de coorte retrospectivo realizado na EPE-UNIFESP no período de julho a novembro de 2016.
A população foi constituída pelos 224 egressos do Curso de Doutorado do PPGE/EPE-UNIFESP titulados desde seu início em 1986, até julho de 2016, os quais foram agrupados em três coortes temporais, correspondentes às três décadas de funcionamento do programa, e a amostra composta pelos 135 doutores que responderam ao questionário. Ambos os requisitos representaram os critérios de inclusão.
Para coleta dos dados foram utilizadas fontes primárias e secundárias de informação. As fontes primárias foram obtidas por meio de um questionário em formato digital e Word, composto por 20 questões que abrangeram aspectos relativos a atuação profissional, nas áreas de ensino, pesquisa, assistência e gestão acadêmica e de serviços de saúde e de enfermagem, bem como a produção técnico científica após a titulação. Dados secundários, tais como: nome, endereço dos titulados, titulações, idade, tempo de permanência no doutorado e procedência foram obtidos na secretaria do PPGE/ EPE-UNIFESP, após anuência do Coordenador do Programa. Os alunos cujos contatos estavam desatualizados, foram obtidos por meio de colegas, orientador ou por contato telefônico.
Após aprovação do projeto pelo CEP da UNIFESP foi enviada a cada um dos egressos, por via eletrónica, carta convite para participar da pesquisa com informações sobre seus objetivos, o questionário e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A escolha deste procedimento deveu- se a sua acessibilidade, otimização do tempo dos respondentes, baixo custo e rapidez na resposta. O questionário ficou disponível para preenchimento online e em formato word durante 25 dias, entre 27 de outubro a 20 de novembro de 2016.
Os dados foram lançados em planilhas informatizadas e submetidos à análise descritiva, utilizando os softwares MS Office Excel® versão 2016 para o gerenciamento do Banco de Dados e Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0 para o seu processamento. Para caracterizar a amostra total e a descrição dos egressos pelas décadas de existência do programa foram utilizadas frequências relativas e absolutas para as variáveis categóricas e, média e desvio padrão para as variáveis quantitativas. Na análise comparativa entre as décadas de formação do doutorado foram utilizados os testes de razão de verossimilhança que se baseia na teoria de máxima verossimilhança para análise das variáveis categórica.(10) O nível de significância adotado foi de 5%, ou seja, diferenças significativas serão consideradas quando o nível descritivo dos testes (valor de p) foi menor que 0,05 com Intervalo de Confiança (IC) 95%.
Do total de 224 egressos das três décadas, na primeira (1986 a 1995) titularam-se 14 doutores, na segunda (1996 a 2005) 66 e na terceira (2006 a 2016) 144. A média de idade desses egressos ao ingressarem ao programa foi de 39,8 anos, variando de 39,2 na coorte da segunda década a 40,4 anos na da primeira década. Já a média de tempo de permanência no programa foi de 46,2 meses, variando de 42,8 na coorte da terceira década a 57,2 meses na da primeira década.
Quanto à procedência, foram titulados doutores de todas as regiões do país, sendo que a maioria (140/62,5%) era da região Sudeste, seguidos pelos da região Sul (46/20,5%), Centro oeste (22/9,8%) e Nordeste (12/5,3%). Houve também a titulação de 3 (1,3%) doutores estrangeiros vindos do Peru, Colômbia e África.
Dos 135 egressos que responderam ao questionário, cinco se titularam na primeira década, todos com procedência da região Sudeste, com média de tempo de permanência no programa de 62,2 meses e média de idade ao se titularem de 45 anos. Já na segunda década 50 egressos responderam a pesquisa, 80,0% eram da região Sudeste, 10,0% da Sul, 6,0% da Nordeste, 2,0% da Centro-oeste e um do exterior (Peru) (2,0%), permaneceram no programa em média por 47,7 meses, e a média de idade ao se titularem foi de 42,2 anos. Para a terceira década contamos com 80 respondentes 62,5% procedentes da região Sudeste, 25,0% da região Sul e menores frequência para as regiões Centro-oeste (8,75%), Nordeste e Norte (1,25 % cada) e uma do exterior (África). A média de permanência destes no programa foi de 42,2 meses e idade média ao se titularem de 42,7 anos.
Destes 135 egressos, 13 (9,6%) informaram ter recebido bolsa para cursar o doutorado, 10 (7,4%) financiamento para o desenvolvimento de suas pesquisas e 12 (8,9%) realizaram doutorado sanduiche, sendo sete no país e cinco no exterior, três nos Estados Unidos, um na Itália e um no Canadá.
Dados referentes à condição de trabalho atual, atuação profissional após a titulação, nas áreas de ensino, assistência, pesquisa e gestão desses egressos, estão apresentados na tabela 1, de acordo com as três décadas consideradas. Desta forma, pode-se verificar que a maioria (91,9%) encontrava-se inserido no mercado de trabalho, independente da década de titulação e incluindo os aposentados que continuaram suas atividades laborais. Houve diferença estatisticamente significante entre as três décadas (p=0,01) com proporção maior de egressos ativos nas três décadas em comparação a condição de aposentado ativo ou não.
Tabela 1 Condição de trabalho atual e área de atuação de 135 egressos do curso de doutorado do PPGE/EPE-UNIFESP, titulados de 1986 a 2016
Variáveis | Coorte | Total (n=135) | p-value** | |||
---|---|---|---|---|---|---|
1986 – 1995 (n=5) | 1996 – 2005 (n-=50) | 2006 – 2016 (n=80) | ||||
n(%) | n(%) | n(%) | n (%) | |||
Condição de trabalho atual | ||||||
Ativa | 3 (60,0) | 36(72,0) | 76(95,0) | 115(85,2) | 0,01 | |
Aposentada e ativa | 0(0,0) | 6(12,0) | 3(3,8) | 9(6,7) | ||
Aposentada | 2(40,0) | 8(16,0) | 1(1,2) | 11(8,1) | ||
Área de atuação Profissional* | ||||||
Ensino no cargo Docente* | 5(100,0) | 49(98,0) | 71(88,8) | 125 (92,0) | 0,09 | |
Nível | ||||||
Graduação | 2(40,0) | 33(66,0) | 60(75,0) | 95(70,4) | 0,35 | |
Pós-Graduação lato sensu | 2(40,0) | 21(42,0) | 54(67,5) | 77(57,0) | 0,03 | |
Pós-Graduação stricto sensu | 3(60,0) | 22(44,0) | 29(36,3) | 54(40,0) | 0,69 | |
Local | ||||||
Instituição Publica | 3(60,0) | 28(56,0) | 48(60,0) | 79(58,5) | 0,95 | |
Instituição Privada | 0(0,0) | 7(14,0) | 21(26,3) | 28(20,7) | 0,02 | |
Pesquisa* | 5(100,0) | 43(86,0) | 65(81,3) | 113 (83,7) | 0,31 | |
Local | ||||||
Universidade/Faculdade | 3(60,0) | 32(64,0) | 63(78,8) | 98(72,6) | 0,15 | |
Hospital | 0(0,0) | 3(6,0) | 5(6,3) | 8(5,9) | 0,84 | |
Participação em grupo de pesquisa | 3(60,0) | 16(32,0) | 29(36,3) | 48(35,6) | 0,22 | |
Orientação* | 3(60,0) | 41(82,0) | 70(87,5) | 114(84,4) | 0,28 | |
Graduação | 2(40,0) | 36(72,0) | 61(76,3) | 99(73,3) | 0,23 | |
Especialização | 2(40,0) | 29(58,0) | 53(66,3) | 84(62,2) | 0,48 | |
Mestrado | 3(60,0) | 25(50,0) | 32(40,0) | 60(44,4) | 0,65 | |
Doutorado | 3(60,0) | 21(42,0) | 18(22,5) | 42(31,1) | 0,08 | |
Assistência* | 3(60,0) | 21(42,0) | 22(27,5) | 46(34,1) | 0,03 | |
Área | ||||||
Hospitalar | 0(0,0) | 12(24,0) | 16(20,0) | 28(20,7) | 0,09 | |
Ambulatorial | 1(20,0) | 7(14,0) | 10(12,5) | 18(13,3) | 0,27 | |
Atenção Básica | 0(0,0) | 9(18,0) | 13(16,3) | 22(16,3) | 0,06 | |
Domiciliar | 0(0,0) | 3(6,0) | 8(10,0) | 11(8,1) | 0,12 | |
Local | ||||||
Instituição Publica | 0(0,0) | 6(12,0) | 16(20,0) | 22(16,3) | 0,07 | |
Instituição Privada | 0(0,0) | 7(14,0) | 10(12,5) | 17(12,6) | 0,11 | |
Gestão* | 4(80,0) | 28(56,0) | 39(48,8) | 71(52,6) | 0,29 | |
Ensino | ||||||
Coordenador de Curso de Graduação | 1(20,0) | 8(16,0) | 7(8,8) | 16(11,9) | 0,18 | |
Coordenador de Curso de Especialização | 1(20,0) | 11(22,0) | 13(16,3) | 25(18,5) | 0,22 | |
Coordenador de Programa de Pós-graduação | 0(0,0) | 5(10,0) | 4(5,0) | 9(6,7) | 0,04 | |
Diretor de Escola de Enfermagem | 2(40,0) | 2(4,0) | 0(0,0) | 4(3,0) | <0,01 | |
Pesquisa* | ||||||
Líder de grupo de pesquisa | 1(20,0) | 13(26,0) | 17(21,3) | 31(23,0) | 0,03 | |
Coordenador de projetos de pesquisa | 3(60,0) | 15(30,0) | 19(23,8) | 37(27,4) | 0,07 | |
Assistência* | ||||||
Gerente de serviço/unidade | 2(40,0 | 14(28,0) | 26(32,5) | 42(31,1) | 0,68 | |
Diretor de hospital | 0(0,0) | 1(2,0) | 10(12,5) | 11(8,1) | 0,01 |
*Permite mais de uma resposta;
**Razão de verossimilhança
Ao serem indagados sobre a área de atuação profissional atual obteve-se uma diversidade de respostas e de áreas, subdivididas em ordem decrescente em: ensino (125/92,0%), pesquisa (113/83,7%), gestão (71/52,6%) e assistência (46/34,1%), prevalecendo a sobreposição de mais de uma área de atuação. Entre os que se encontravam na área do ensino, nota-se o exercício como docentes nos níveis de graduação e pós-graduação lato e stricto sensu, principalmente em instituições públicas. Ao comparar as coortes obteve-se diferença estatística significativa entre a proporção de egressos da terceira década envolvidos no ensino de pós-graduação lato sensu (p=0,03), em relação aos demais e também, na atuação destes em instituições privadas (p=0,02), inexistindo essa atuação entre egressos da primeira década.
Entre os egressos que referiram ter atividade de pesquisa, dentre elas participação em grupos de pesquisa, o maior percentual situou-se na coorte da primeira década (60%), porém sem diferença estatística com as demais. Já na atividade de orientação os egressos da terceira década foram os que a mencionaram em maior proporção (87,5%), mas também sem diferença estatística. O local de desenvolvimento desta atividade mencionado com maior frequência foi em cursos de graduação, permeando também para os cursos de pós-graduação sensu lato e sensu stricto em menor proporção.
No que diz respeito à atuação na área assistencial, houve predomínio dos egressos da primeira década, decrescendo ao longo das duas décadas seguintes, com diferença estatisticamente significante (p=0,03). Os egressos referiram atuar nos diversos contextos de prática destacando-se as áreas hospitalar e atenção básica, especialmente na segunda e terceira coorte, sem diferença estatística entre as décadas.
Na área de gestão, constata-se que a maioria dos egressos referiu atuar como gerente de serviço ou unidade (31,1%), enquanto que entre os que atuam na área do ensino prevaleceu a coordenação de curso de especialização (18,5%) e de graduação (11,9%), porém, sem diferença estatística entre as décadas.
Embora a coordenação de curso de pós-graduação stricto sensu tenha sido mencionada por 6,7% dos egressos e a direção de escola por 3,0% deles, a análise comparativa entre as três décadas mostrou diferenças significativas, respectivamente (p=0,04) e (p<0,01), nesses cargos/funções de gestão na área de ensino, inexistindo a atuação como coordenador na primeira década e sendo mais prevalente entre egressos da segunda década, enquanto que a maior proporção de diretores ocorreu entre os egressos da primeira década, inexistindo essa atuação entre egressos da segunda década.
Já a gestão em pesquisa, 27,4% dos egressos responderam que atuam como coordenador de projetos e 23,0% como líder de grupos de pesquisa, diferindo significativamente (p=0,03) somente nessa última atuação, com maior proporção de líderes de grupos de pesquisa entre os egressos da década de 1996 – 2005.
Na área de gestão da assistência, houve diferença estatística significativa (p=0,01) entre as três décadas, com maior proporção de egressos da terceira década que informaram exercer o cargo de Diretor de Hospital, inexistindo essa atuação entre os egressos da primeira década.
Na tabela 2 são apresentados dados da produção científica dos egressos, parcerias em atividades de pesquisa e atividades associativas. No que se refere à produção científica nota-se que é representada, principalmente, por artigos científicos (88,1%), sem, no entanto, apresentar diferença estatística entre as coortes investigadas. Já a produção de livros e capítulos de livro, embora em menor percentual, apresentou diferença estatística significativa (0,01 e <0,01, respectivamente) na comparação entre as coortes, sendo maior na primeira delas. Na interação científica, predominou o estabelecimento de parcerias entre docentes/pesquisadores da própria instituição (79,3%), aumentando significativamente (p=0,01) a proporção de egressos ao longo das três décadas. A referência ao cargo de direção, presidente e vice-presidente, em atividade associativa foi reduzida, estando presente em apenas 5,9% e 2,2% das respostas, respectivamente.
Tabela 2 Produção Técnico-Científica e interação científica e associativa de egressos do curso de doutorado do PPGE/EPEUNIFESP titulados de 1986 a 2016
Variáveis | 1986 – 1995 n = 5 | Coorte 1996 – 2005 n= 50 | 2006 – 2016 n= 80 | Total n = 135 | p-value** | |
---|---|---|---|---|---|---|
n(%) | n(%) | n(%) | n (%) | |||
Produção Técnico-Cientifica após o Doutorado* | ||||||
Artigo | 4(80,0) | 44(88,0) | 71(88,8) | 119(88,1) | 0,86 | |
Livro | 4(80,0) | 21(42,0) | 18(22,5) | 43(31,9) | 0,01 | |
Capítulo de Livro | 5(100,0) | 33(66,0) | 35(43,8) | 73(54,1) | <0,01 | |
Material Técnico | 2(40,0) | 23(46,0) | 32(40,0) | 57(42,2) | 0,15 | |
Parcerias em Atividades de Pesquisa* | ||||||
Docentes/Pesquisadores na Própria Instituição | 2(40,0) | 36(72,0) | 69(86,3) | 107(79,3) | 0,01 | |
Docentes/Pesquisadores em outras Instituições Nacionais | 2(40,0) | 18(36,0) | 37(46,3) | 57(42,2) | 0,67 | |
Docentes/Pesquisadores em Instituições Internacionais | 1(20,0) | 8(16,0) | 14(17,5) | 23(17,0) | 0,45 | |
Membro de Diretoria de Associação de Classe* | ||||||
Presidente | 0(0,0) | 6(12,0) | 2(2,5) | 8(5,9) | 0,20 | |
Vice-presidente | 0(0,0) | 1(12,0) | 2(2,5) | 3(2,2) | 0,93 |
*Permite mais de uma resposta;
**Razão de verossimilhança
Os maiores impactos referidos pelos doutores egressos foram para os atributos “crescimento profissional” e “formação acadêmica”, seguido de “crescimento pessoal” e em menor proporção para o “aumento na oportunidade de trabalho” (Figura 1).
O seguimento dos egressos constitui um importante componente do processo de avaliação dos programas de pós-graduação stricto sensu, uma vez que seus resultados podem fornecer subsídios para aprimorar os processos de formação acadêmica, no sentido de fazer os ajustes necessários para atender aos objetivos desse nível de ensino, do desenvolvimento da carreira do doutor, bem como dar resposta aos desafios advindos das necessidades de desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação do país e da área específica dos programas.
No presente estudo, obteve-se a resposta de 60,2% (135) do total de titulados, percentual significativo tendo em vista que essa taxa de retorno está acima da mencionada em estudos similares.(11,12)
Constata-se quanto ao número de titulados que houve um crescimento continuo e acentuado ao longo das três décadas, situação que reflete o comportamento da pós-graduação em Enfermagem do Brasil. No entanto, segundo pesquisadores da área, há necessidade de expandir, ainda mais, a formação de doutores, de modo a atender a meta estabelecida no PNPG 2011-2020, de duplicar o número de pesquisadores qualificados em 10 anos.(13)
Ao analisar a idade dos egressos ao ingressar ao programa (média de 39,8 anos) pode-se notar que é semelhante à de doutores de outros programas da área de enfermagem e saúde, como identificado em dois estudos, no qual a idade foi respectivamente < 40 anos e entre 31 a 40 anos.(11,14) No entanto, há autores que consideram essa média de idade dos estudantes egressos alta.(15)
Já a média de tempo de permanência no programa foi de 46,2 meses, variando de 42,8 a 57,2 meses, sendo que o preconizado é o término em 48 meses, o programa, portanto, atende à esta exigência, apesar do maior tempo de permanência encontrado na primeira década.
O programa de pós-graduação titulou profissionais provenientes de todas as regiões do país, majoritariamente da região Sudeste e em menor quantidade do Nordeste. Esse fato pode ter ocorrido devido ao maior contingente de enfermeiros no Estado de São Paulo(16) e o deslocamento dos enfermeiros de outros Estados foi vinculado a programas de cooperação acadêmica, ficando evidente a necessidade de cooperação nacional. Houve também a titulação de três (1,3%) doutores estrangeiros vindos do Peru, Colômbia e África. O baixo número de titulados para outros países merece reflexão necessita-se do incremento de ações estratégicas para expansão dessa ação de solidariedade junto a países com menor grau de desenvolvimento na Pós-graduação em enfermagem. A formação de doutores nos programas de Pós-graduação do país foi incentivada e o reflexo do mesmo ocorreu no final do século XX, devido a expansão de novos cursos, principalmente, em diferentes regiões do país, fruto dos novos doutores formados nos programas das regiões Sul e Sudeste.
As universidades brasileiras também expandiram suas colaborações na formação de doutores da área da Enfermagem em diferentes países, como Argentina, Chile, Colômbia, Peru, Venezuela, México, Costa Rica, Panamá, Bolívia, Angola, Moçambique, dentre outros. Esses novos doutores foram responsáveis pela implementação de programas de pós-graduação em Enfermagem em seus países de origem.(17)
O último processo de avaliação da Capes 20132016 revelou haver 38 cursos de doutorado no país localizados especialmente nas regiões Sudeste, Nordeste e Sul e nenhum na região norte. Neste sentido, os investimentos a fim de diminuir esta assimetria acadêmica concentraram-se na oferta de turmas especiais fora da sede, na modalidade Doutorado Interinstitucional (Dinter), evidenciada especialmente com as Universidades Federal e Estadual do Amazonas, Universidade Federal do Acre e Universidade de Rondônia.(13) O programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UNIFESP (PPGE/EPE-UNIFESP), com este espirito colaborativo, está sendo responsável por titular 16 docentes da Universidade Federal do Acre.
No que diz respeito à formação dos 135 egressos, 13 (9,6%) informaram ter recebido bolsa para cursar o doutorado, 10 (7,4%) financiamento para o desenvolvimento de suas pesquisas e 12 (8,9%) realizaram doutorado sanduiche, sendo sete no país e cinco no exterior. O número de pesquisadores do programa impacta no financiamento de bolsas para os estudantes bem como na possibilidade dos mesmos realizarem doutorado sanduiche. Atualmente o programa conta com 39 orientadores, sete são pesquisadores do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e oito possuem projetos financiados por agências de fomento, como Fundação de Apoio à pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS), CNPq, entre outras. O papel estratégico dos pesquisadores é multiplicar as possibilidades de acesso aos problemas de saúde aproximando-se de pesquisadores com temáticas afins bem como trazendo recursos para o desenvolvimento de novas pesquisas. Essa condição favorece o ingresso do estudante em modalidades de bolsas sanduíches no país e no exterior multiplicando dessa forma a atuação do pesquisador.
Quanto a produção acadêmica constatamos aumento na publicação de artigos dos nossos egressos entre as décadas, bem como decréscimo significante na produção de livros. De acordo com autores nacionais,(13) o crescimento quanti-qualitativo dos Programas de doutorado impactou na produção científica dos mesmos em 77% nesse último triênio em relação ao anterior podendo ser visto na projeção internacional da Enfermagem brasileira que saltou do 11° no ranking da base Scopus/SCImago em 2006 para o 7° lugar em 2016.(13) O aumento de publicação de artigos e a diminuição de livros e capítulos na área deve-se aos critérios de avaliação dos programas acadêmicos que consideram a produção de artigos como balizadores da produção intelectual enquanto que os livros e capítulos somam majoritariamente a produção técnica. Neste sentido, os programas incentivam a difusão por meio de artigos em periódicos bem qualificados, de alto impacto, o que pode explicar os dados encontrados. Acreditamos que o PPGE/EPE-UNIFESP contribuiu com esse incremento devido à exigência de submissão ou publicação de artigo na vigência da defesa como estratégia para a formação do pesquisador bem como para o incremento dos indicadores de produtividade do programa.
Vindo ao encontro a estes dados, pesquisa realizada com egressos de Curso de Doutorado da área da saúde e Biociências da Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro revelou entre aqueles que declararam ter produtos gerados com a tese, mais de um produto foi relatado por cada respondente. Foi visível a elevação do número de artigos publicados como produtos das teses e de capítulos de livros nas duas últimas coortes (décadas), assim como a diminuição relativa do número de livros.(11)
Nossos resultados apontam que a parceria em pesquisa cresceu significantemente entre pesquisadores da mesma instituição, não ocorrendo o mesmo com demais instituições nacionais e internacionais. Notamos que apenas 23 egressos evidenciam parcerias internacionais nas três décadas.
A inserção internacional dos pesquisadores e Programas da Área se expressa por meio de diversas atividades que ocorrem no âmbito de convênios, cooperações técnicas e outros tipos de parcerias interinstitucionais, como também por programas de fomento à pesquisa e a eventos, que incrementam as ações de mobilidade acadêmica de pesquisadores e estudantes. Tais inserções resultam no reconhecimento acadêmico institucional, objetivado na expertise dos docentes que, como visto na avaliação dos Programas, atuaram em muitas e diversificadas frentes de trabalho em instituições, associações, sociedades, periódicos científicos e eventos internacionais.(13)
Neste sentido, a internacionalização vem sendo foco na qualificação da formação da Área de Enfermagem, com ampliação de redes colaborativas internacionais, intercâmbios de docentes e discentes, e atração de profissionais estrangeiros para qualificação no Brasil, tanto nos cursos de mestrado quanto nos de doutorado, reafirmando a excelência dos Programas da Área.(13) Desta forma, a necessidade de internacionalização dos programas é mundial, e o PPGE/EPE-UNIFESP ao ser avaliado no último quadriênio e nos dois últimos triênios pela área de Enfermagem da CAPES tem recebido observação sobre a necessidade deste incremento, além do que quando a produção científica se faz em parceria com pesquisadores estrangeiros, distingue-se e discrimina-se a excelência internacional dos Programas.
Assim, a avaliação dos egressos nos leva a refletir sobre a necessidade premente da aproximação dos nossos estudantes com pesquisadores de demais programas no exterior por meio do doutorado sanduíche, o que permitirá aos mesmos a continuidade de parcerias com os pesquisadores que os receberam. O CNPq, a CAPES e as FAPS oferecem bolsa, incentivando tais parcerias. Por meio dos estudantes podemos incrementar várias atividades de internacionalização do programa impactando na formação dos mesmos bem como no incremento de publicações científicas.
Ressaltamos que grande parte dos egressos do programa possui vínculo em instituições públicas de ensino ou assistência. Resultados semelhantes foram obtidos em pesquisa realizada com egressos africanos que fizeram seu curso de pós-graduação no Brasil após retornarem ao seu país de origem,(12) como também outro estudo realizado com egressos de curso de doutorado nas áreas da saúde e biociências da Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro.(11)
Numa reflexão dos autores deste estudo, parece haver um decréscimo de estudantes em busca do doutorado acadêmico ao redor do mundo, os programas necessitam estar abertos à tendência atual do mercado de trabalho que busca por profissionais qualificados para ocupar cargos de relevância em suas empresas. A tendência mundial é a oferta de mestrados e doutorados profissionais que atendam mais a essa necessidade. Sendo a enfermagem uma ciência aplicada é normal que esse fato venha ocorrendo no país o que explica os resultados encontrados quanto a alguns cargos de gestão hospitalar ocupados pelos nossos egressos bem como na atuação em programas de pós-graduação stricto sensu.
Estudos com egressos de cursos de pós-graduação stricto sensu da área da Enfermagem, com a abrangência apresentada nesse artigo são escassos no país. Estudo realizado com egressos do Curso de Mestrado de Angola e Moçambique, evidenciou que os mesmos passaram a ocupar cargos elevados tais como cargos de chefia, direção e secretaria de Estado, além de exercerem função de gestores de programas de saúde e docência. Os mesmos apontaram os atributos “formação acadêmico-profissional”, “crescimento pessoal” e “ampliação da rede de relações” como “alto impacto”.(12)
Foi realizado um estudo no qual se demonstrou elevado o percentual de egressos que avaliou como “alto” o grau de impacto do doutorado na vida profissional além de estarem satisfeitos com a relevância social do seu trabalho e com oportunidades de novas aprendizagens e exercício de criatividade.(11) Os maiores impactos referidos pelos nossos egressos foram para os atributos “crescimento profissional” e “formação acadêmica”, seguido de “crescimento pessoal”.
Uma das limitações do presente estudo foi a não localização de parte dos egressos, ou por mudança de endereço eletrônico ou mudança de endereço para atualização de seu cadastro na secretaria de Pós-Graduação do Programa. Outra limitação foi também o tamanho amostral na primeira coorte (1986-1995) com apenas cinco participantes dentre os 14 titulados.
A maior parte dos egressos encontra-se trabalhando em instituições federais, sua atuação no ensino majoritariamente em nível de graduação e pósgraduação latu sensu. A maioria encontra-se desenvolvendo pesquisas com alunos de graduação e pós-graduação sensu latu e stricto sensu. Parcela dos egressos desenvolve atividades assistenciais, de gestão no ensino, na pesquisa e na assistência. Os atributos: “crescimento profissional” e “formação acadêmica” seguida de: “crescimento pessoal” foram os maiores impactos referidos pelos egressos.