versão On-line ISSN 2317-1782
CoDAS vol.32 no.3 São Paulo 2020 Epub 15-Maio-2020
http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/20192020124
Durante os primeiros meses de 2020, um novo vírus se espalhou rapidamente para países do mundo todo, o SARS-CoV 2. A Organização Mundial da Saúde (OMS) denominou a doença causada por este vírus de Coronavirus Disease 19 (COVID-19)1. As manifestações mais comuns do COVID-19 consistem em febre, tosse e fadiga ou mialgia, produção de escarro e dor de cabeça2-4.
Dados de coronavírus anteriores (SARS-CoV e MERS-CoV) mostraram que as grávidas poderiam estar em grupos de risco com chance de ter morbimortalidade maior que a população em geral5. Porém, pouco se sabe sobre o COVID-19 nessa população5. Em um estudo realizado em Wuhan6 – primeira cidade epicentro da doença, pesquisadores relataram nove nascidos vivos de mães positivas para COVID-19, e todas as amostras foram negativas para o vírus nos neonatos. Suas descobertas apoiaram que atualmente não há evidências de transmissão vertical em mães infectadas no final da gravidez6.
Embora o COVID-19 possa afetar indivíduos de todas as faixas etárias, a doença geralmente é mais leve em crianças do que em adultos, especialmente em neonatos7. Os sintomas clínicos mais comuns na população pediátrica incluem febre, fadiga e tosse seca. Alguns pacientes apresentam manifestações respiratórias superiores, como obstrução nasal, secreção nasal e dor de garganta, e outros apresentam sintomas gastrointestinais, como desconforto abdominal, vômito, dor abdominal e diarreia6.
Atualmente, não há evidências de que o Corona Vírus possa ser transmitido através do leite materno, mas é sabido que uma mãe infectada pode transmitir o vírus através de gotículas respiratórias durante a amamentação8. Em estudo realizado com seis recém-nascidos de mães infectadas, que amamentavam seus bebês, todas as amostras foram negativas para o vírus6.
O fonoaudiólogo que necessitar avaliar bebês de puérperas confirmadas e/ou suspeitas de COVID-19 devem seguir as recomendações de uso de utensílios de proteção como os demais profissionais de saúde: gorros, óculos de proteção, roupas de proteção, luvas, máscaras N95. Neonatologistas orientam que nenhuma visita deve ser permitida para neonatos com diagnóstico, ou com mães com suspeita ou diagnóstico de COVID ‐ 197. As orientações para a amamentação da Sociedade Italiana de Neonatologia (SIN), endossadas pela União Europeia de Neonatologia e Sociedades Perinatais (UENPS) são: se uma mãe previamente identificada como COVID ‐ 19 positiva ou sob suspeita para COVID ‐ 19 for assintomática no momento do parto, a amamentação direta é aconselhável, sob rigorosas medidas de controle de infecção; e quando uma mãe com COVID-19 está doente demais para cuidar do recém-nascido, o recém-nascido será tratado separadamente e alimentado com leite materno expresso fresco, sem a necessidade de pasteurizá-lo, pois não há evidências de que o leite humano seja possível transmissor do COVID-199.
Segundo o Centro de Controle de Prevenção de Doenças (2020) medidas devem ser tomadas para diminuir a chance de transmissão viral durante a amamentação, como: evitar beijar o recém-nascido, protegê-lo da tosse adulta, utilizar máscara durante a amamentação, higienizar as mãos antes da mamada e suspender as visitas. Ainda, quando o bebê estiver em alojamento conjunto com a mãe doente, o bebê deve permanecer a uma distância de no mínimo 2 metros da mãe, com a presença de uma barreira física entre eles, como por exemplo, uma cortina9,10. A OMS orienta também que sejam limpas e desinfetadas regularmente as superfícies que a mãe contaminada tenha contato1.
Quanto ao armazenamento de leite humano, a OMS recomenda que mães com suspeita ou confirmação de COVID -19 utilizem os mesmos cuidados indicados na hora da amamentação: higienização das mãos, uso de máscara, desinfetar superfícies de contato. Indicam que o recipiente que recebeu o leite humano deve ter a parte externa desinfetada após a extração do mesmo, com soluções sanitárias adequadas, antes do armazenamento em bancos de leite, enfermarias ou na residência da própria puérpera11. Com a propagação da doença, e o crescente número de gestantes e puérperas que poderão apresentar os sintomas – mas em testagem do vírus – a recomendação da OMS é de que todas as puérperas que doam e que recebem leite dos bancos de leite humanos sigam essas recomendações de higiene pré, peri e durante o recebimento do frasco. Ainda, para mães infectadas com o COVID- 19 que precisarem extrair o leite em ambiente hospitalar com uso de bombas, esses aparelhos deverão ser de uso individual dessa puérpera11,12.
São poucas e frágeis as evidências a respeito do COVID-19 e a amamentação até o momento, assim como frente à outras áreas. A ciência vai tomando forma e as instituições elaborando suas recomendações de acordo com o curso de evolução da doença. Identificou-se que a amamentação é, até o momento, indicada nos casos de suspeita e confirmação da COVID-19, com controle de infecção9-11 e higienização. Além disso, todas as mães que doam e que recebem leite de bancos de leite humanos devem realizar desinfecção dos frascos antes de manusear, mesmo que essa não apresente sintomas do vírus.
A Sociedade Brasileira de Pediatria referiu em nota, ser favorável à manutenção da amamentação em mães portadoras do COVID-19, diante das atuais evidências13. O fonoaudiólogo como membro atuante na Educação em Saúde, apresenta atuação e intervenção positiva na orientação da amamentação14, deve estar atualizado e acompanhando as novas recomendações das grandes organizações internacionais, assim como o odontólogo e demais profissionais da saúde, pois a amamentação adequada estimula o crescimento e desenvolvimento craniofacial harmonioso15.