Compartilhar

Fontes alimentares de macronutrientes em amostra probabilística de adultos brasileiros

Fontes alimentares de macronutrientes em amostra probabilística de adultos brasileiros

Autores:

Danielle Ribeiro de  Souza,
Luiz Antonio dos  Anjos,
Vivian  Wahrlich,
Mauricio Teixeira Leite de  Vasconcellos

ARTIGO ORIGINAL

Ciência & Saúde Coletiva

versão impressa ISSN 1413-8123versão On-line ISSN 1678-4561

Ciênc. saúde coletiva vol.20 no.5 Rio de Janeiro maio 2015

http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232015205.01562014

ABSTRACT

Once it is available, the information on food intake (FI) may enable the development of strategies to intervene, monitor and explore dietary patterns with more sophisticated statistical methods. Thus, the purpose of this study was to document the quantitative dietary characteristics in a probabilistic sample of adults in Niterói in the State of Rio de Janeiro. A 24-hour dietary recall of a typical day was conducted. The food eaten by most adults (> 50%) was white rice, coffee, black beans, refined sugar and French bread. Whole milk was ingested by more adults than skimmed or semi-skimmed milk. Beef was ingested by more adults than chicken, fish or pork. More adults ingested sodas than fruit juices and fruits were eaten by a relatively high percentage of adults (63.3%). The combination of white rice, black beans, beef and French bread was responsible for at least 25% of energy, protein and carbohydrate and 17% of lipids. A total of 65 food items accounted for approximately 90% of energy and macronutrients. The list generated is somewhat similar to the one used in a similar survey conducted in São Paulo. The list can serve as the basis for a single food frequency questionnaire to be used for the southeastern Brazilian urban population.

Key words: Diet; Diet surveys; Epidemiological methods; Energy intake

Introdução

Condições favoráveis à ocorrência de desnutrição e doenças infecciosas foram substituídas por um cenário propício à epidemia de obesidade e outras doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) relacionadas à ingestão excessiva ou desequilibrada de alimentos no mundo como um todo1 e também no Brasil2, nas últimas décadas. Segundo os dados mais recentes sobre o estado nutricional na população brasileira, obtidos na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada entre 2008 e 2009, a prevalência de déficit de peso (índice de massa corporal, IMC ≤ 18,5 kg.m- 2) é muito baixa, sendo menor em homens (1,8%) do que em mulheres (3,6%) adultas (idade ≥ 20 anos)2. Por outro lado, a prevalência de obesidade (IMC ≥ 30 kg.m- 2) foi de 12,5 e 16,9% para a população masculina e feminina, respectivamente2. Esses valores se distinguem bastante dos encontrados na população brasileira em 1974/1975, no Estudo Nacional de Despesas Familiares (ENDEF): déficit de peso de 8 e 11,8% e obesidade de 2,8 e 8% para homens e mulheres, respectivamente.

Concomitante com essas alterações antropométricas, tendências na disponibilidade de alimentos para as famílias brasileiras, nas últimas três décadas revelam alterações no padrão alimentar, com diversos alimentos tradicionais sendo substituídos por alimentos industrializados. As principais alterações, observando-se a evolução dos dados das POFs, foram o aumento no consumo de alimentos com alto valor energético, baixo teor de nutrientes e altos teores de sódio e de gorduras saturadas, gordurastrans e carboidratos refinados, em contrapartida com diminuição do consumo de fibras3 , 4.

Com a estratégia global para Alimentação, Atividade Física e Saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) ressaltou a necessidade de adequação dos padrões mundiais de alimentação como um dos pilares para a prevenção de sobrepeso/obesidade e das DCNT5 , 6. A diversidade da alimentação tem sido usada para refletir a qualidade da dieta7 e ela tem sido associada com melhores resultados de saúde, especialmente em relação às questões de manutenção da massa corporal8. Além disso, aparentemente existe correlação entre uma alimentação variada e a adequação dos nutrientes entre adultos e adolescentes9. Portanto, orientações nutricionais têm enfatizado o valor de um padrão alimentar diversificado como uma forma de atingir uma alimentação saudável.

Para se fazer avaliação nutricional e identificação precoce do risco de adoecer por DCNT é necessária a verificação da ingestão alimentar (IA), informação básica, também, para o direcionamento de políticas públicas de diversos setores5. Os objetivos principais da avaliação da IA em populações são: o cálculo do balanço alimentar e nutricional (principalmente o balanço energético - BE); a identificação de padrões alimentares; a monitoração de tendências da ingestão de determinados (ou grupos de) alimentos; a identificação de segmentos da população com padrões alimentares associados a doenças; e o planejamento de programas de assistência alimentar10. No processo de avaliação da IA, existem, entretanto, desafios que devem ser enfrentados, que vão desde como obter informações confiáveis, passando pela identificação de sub/super-registros até o cálculo de balanço com vistas ao estabelecimento de recomendações e intervenções10.

Como as recomendações atuais preconizam uma vida ativa com controle da IA11, existe a necessidade de se conhecer as características da IA dos diversos segmentos da população. Uma vez disponíveis, estas informações poderiam permitir o desenvolvimento de estratégias para intervir com métodos mais apropriados, particularmente no conhecimento da contribuição de alimentos na ingestão de populações12. Assim, o objetivo do presente artigo é documentar a distribuição dos alimentos ingeridos e suas contribuições relativas ao total da dieta de uma amostra probabilística de adultos de um inquérito domiciliar em Niterói, estado do Rio de Janeiro.

Métodos

Os dados de IA são provenientes da Pesquisa de Nutrição Atividade Física e Saúde (PNAFS), uma pesquisa domiciliar baseada em uma amostra probabilística de adultos residentes em Niterói, RJ, realizada durante o ano de 2003, com procedimentos aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz.

As características amostrais principais da PNAFS já foram detalhadas em publicações anteriores13 - 15. Basicamente, a amostra foi desenhada em três estágios (setores censitários, domicílios e indivíduos) usando-se a técnica de amostragem inversa16 semelhante ao que foi usado na Pesquisa Mundial de Saúde no Brasil17. Em síntese, para o primeiro estágio, 110 setores censitários foram selecionados sistematicamente, com probabilidade proporcional ao seu número de Domicílios Particulares Permanentes (DPP), após ordenação dos setores por renda média do responsável pelo domicílio, o que implicou em uma estratificação implícita dos setores por renda. No segundo estágio, selecionaram-se, com equiprobabilidade, os endereços dos domicílios que iriam ser visitados até que fossem obtidas 16 entrevistas (domicílios) realizadas por setor. No terceiro estágio, um adulto (idade ≥ 20 anos) de cada domicílio foi selecionado com equiprobabilidade dentre os adultos que atendessem aos critérios operacionais da pesquisa. Desta forma, 1760 adultos foram selecionados para participar da pesquisa. Os relatos detalhados dos procedimentos realizados foram descritos em publicação anterior18. A coleta de dados foi realizada ao longo do ano de 2003 (janeiro-dezembro), para captar a possível sazonalidade da IA.

No adulto selecionado, realizou-se um recordatório alimentar de 24h (RA24h) de um dia típico (sem intercorrências que pudessem afetar a ingestão alimentar) no próprio domicílio. Ao final do RA24h perguntava-se se o dia havia sido atípico e, em caso afirmativo, perguntava-se o motivo, e, dependendo da resposta, agendava-se um novo dia para repetir o RA24h. O RA24h é útil em estudos populacionais, pois é um método que possui rapidez na execução, baixo custo, além do fato dele não alterar a ingestão alimentar de grupos de indivíduos e de poder ser utilizado em indivíduos analfabetos. O método serve para a avaliação alimentar de grupos de indivíduos desde que haja uma amostragem representativa da população em estudo e que os dias da semana sejam devidamente representados. Se esses requisitos forem contemplados e se o interesse for na avaliação da IA e de macronutrientes, a medição de um único período de 24 horas é suficiente19. Para a transformação dos alimentos relatados em gramatura ou mililitro, utilizou-se álbum fotográfico20 e, para aqueles relatados em medidas caseiras, a Tabela para Avaliação do Consumo Alimentar em Medidas Caseiras21.

Adicionalmente, foram obtidas informações sobre o nível de escolaridade, ocupação e renda mensal domiciliar, e medidas a massa corporal (kg), em balança eletrônica portátil (Soehnle ou Seca), e a estatura (cm), em estadiômetro portátil (Seca)13.

Dos 1760 indivíduos recrutados, não houve condições de avaliar os dados de 34 indivíduos, os quais estavam com os recordatórios incompletos e não foi possível repetir o RA24h. No total, dois indivíduos tiveram ingestão zero por motivos religiosos, e 31 indivíduos tiveram valores de IA muito discrepantes (dois homens e 16 mulheres com ingestão menor ou igual a 500 kcal e 10 homens e três mulheres com ingestão maior ou igual a 5000 kcal). Os dados destes indivíduos foram mantidos no banco de dados já que as análises representam a ingestão da população adulta de Niterói e essas condições ocorrem em alguns indivíduos num determinado momento. Assim, a amostra final foi de 1726 indivíduos (1202 mulheres e 524 homens).

Foram realizados RA24h sobre todos os dias da semana, com prioridade para segunda à sexta-feira mas, em alguns poucos casos, pelas características ocupacionais ou disponibilidade dos indivíduos, também nos finais de semana. A frequência de medições por dia da semana foi: 518 (30,0%), 357 (20,7%), 383 (22,2%), 338 (19,6%), 118 (6,8%), 10 (0,6%) e 2 (0,1%), para segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e domingo, respectivamente.

Os alimentos relatados foram agrupados em itens (alimentos/grupos) de características comuns. A contribuição relativa (CR) de cada item alimentar no total de energia e macronutrientes ingerido por indivíduo foi calculada utilizando-se o procedimento descrito em Block et al.12, que consiste na razão entre a estimativa do total de energia ou macronutriente do alimento ingerido e a estimativa do total correspondente, na população, ao somatório de todas as porções de todos os alimentos ingeridos, como mostra a expressão abaixo:

Onde,

CRi é a contribuição relativa, expressa em porcentagem, de energia ou nutriente do alimento i (i variando de 1 a 143) no total de energia ou nutriente;

Nutrijk é a quantidade de energia ou nutriente da porção k (k variando de 1 a Sij), do alimento i ingerido pela pessoa j (j variando de 1 a 1726), cujo valor é nulo se a pessoa não ingeriu o alimento;

Sij é o total de porções do alimento i que a pessoa j ingeriu;

Nutrijé o total de energia ou nutriente de todas as Sij porções do alimento i ingeridas pela pessoa j; e,

wj é o peso amostral calibrado da pessoa j.

O peso amostral foi calculado pelo produto do inverso das probabilidades de seleção em cada estágio e a calibração dos pesos amostrais foi feita pela técnica conhecida como Integrated household weighting system, que assegura a coerência das estimativas com totais populacionais disponíveis para pós-estratos constituídos, no caso, por gênero e grupos etários22. Detalhes sobre o significado do peso amostral e seu cálculo na PNAFS foram publicados anteriormente23. Com a expansão dos dados da amostra para a população, as estimativas representam os 324.671 habitantes adultos do Município de Niterói, sendo 178.785 mulheres e 145.886 homens15. Todos os resultados encontrados nesse estudo foram obtidos usando os procedimentos do Statistical Analysis System - SAS, versão 9.2 para microcomputador, com base nos pesos amostrais e nas informações estruturais do desenho da amostra.

As distribuições nas proporções (e intervalo de confiança de 95%) de homens e mulheres segundo as características físicas e sociais foram calculadas pelo procedimento surveyfreq. As médias, erro padrão da média e intervalos de confiança de 95% para a idade e medidas antropométricas foram calculadas pelo procedimento surveymeans. A diferença significativa nas proporções e nas médias da idade e das medidas antropométricas entre homens e mulheres foi estabelecida pela ausência de interseção nos respectivos intervalos de confiança de 95%.

Resultados

As características sócio-demográficas e antropométricas da população são apresentadas na Tabela 1. Aproximadamente, 50% da população adulta de Niterói apresenta sobrepeso (IMC ≥ 25 kg.m- 2) e cerca de 70% tem pelo menos o primeiro grau completo. A idade média (erro padrão) é de 45,3 (0,6) e 43,0 (0,7) anos, para mulheres e homens, respectivamente.

Tabela 1. Distribuição das variáveis sociodemográficas (intervalo de confiança de 95%) e características físicas da população adulta de Niterói, RJ. Pesquisa de Nutrição, Atividade Física e Saúde (PNAFS), 2003. 

Mulheres Homens
% %
Gênero* 55,1 (51,9-58,2) 44,9 (41,8-48,0)
Faixa Etária (anos)
20-29,9 22,1 (19,3-24,9) 25,1 (20,9-29,3)
30-39,9 21,2 (18,7-23,8) 22,8 (19,2-26,4)
40-49,9 20,4 (18,1-22,7) 20,8 (17,0-24,6)
50-59,9 14,7 (12,7-16,7) 14,4 (10,4-18,5)
≥ 60 21,6 (18,2-24,8) 16,9 (13,2-20,6)
Índice de massa corporal (kg.m-2)
< 18,5 2,9 (1,7-4,1) 2,2 (0,7-3,6)
18,5-25 50 (46,9-53,0) 49,7 (45,4-53,9)
25-30 32 (29,0-35,1) 34,4 (30,1-38,7)
≥ 30 15,1 (12,7-17,6) 13,8 (10,6-16,9)
Escolaridade (anos cursados)
Zero 2,5 (1,2-3,9) 0,8 (0,1-1,6)
até 4 9,5 (7,3-11,8) 10 (6,4-13,5)
5 a 8 19,5 (16,0-22,9) 16,6 (12,7-20,6)
9 a 11 37 (33,5-40,5) 33,7 (28,3-39,2)
≥ 12 31,5 (26,7-36,3) 38,8 (31,7-45,8)
Quinto de renda domiciliar per capita
18,4 (11,0-25,8) 20,1 (11,7-28,5)
19,9 (12,1-27,7) 20,8 (12,1-29,5)
20 (12,2-27,8) 19,7 (11,2-28,2)
20,5 (12,6-28,5) 19,7 (11,0-28,4)
21,1 (13,1-29,2) 19,7 (11,2-28,3)
Média EP Média EP
Idade (anos) 45,3 0,6 43 0,7
(44,0 - 46,6) (41,5 - 44,5)
Massa corporal (kg)* 64 0,4 75,1 0,6
(63,2 - 64,7) (73,9 - 76,4)
Estatura (cm)* 158,6 0,2 171,8 0,3
(158,2 - 159,0) (171,1 - 172,5)
IMC (kg.m-2) 25,5 0,1 25,4 0,2
(25,2 - 25,8) (25,1 - 25,8)

EP = Erro padrão.

* Valores significativamente diferente entre homens e mulheres.

Foi relatado um total de 1282 alimentos que foram agrupados em 143 itens (alimentos/grupos) de características comuns. Os alimentos mais ingeridos (Tabela 2) foram o arroz branco (80,9%) e o café (80,5%), seguidos por feijão preto (69,9%), açúcar refinado (63,8%) e pão francês (57,5%). Leite integral (28,5%) foi mais ingerido do que leite desnatado (13,2%) ou semidesnatado (9,4%). Chama atenção que apenas cinco alimentos foram referidos por mais de 50% da população. Todos os outros itens alimentares foram referidos por menos do que um terço da população.

Tabela 2. Frequência amostral (n) e populacional (N e %) da ingestão de energia e macronutrientes dos 143 itens alimentares e sua contribuição percentual por ordem descrescente de frequência na população adulta de Niterói, RJ. Pesquisa de Nutrição, Atividade Física e Saúde (PNAFS), 2003. 

População Contribuição percentual
Ordem Item alimentar n N % Energia Proteína Carboidrato Lipídeo
1 Arroz branco 1359 262557 80,9 10,5 4,0 16,3 3,4
2 Café 1393 261254 80,5 0,0 0,0 0,0 0,0
3 Feijão preto 1157 226894 69,9 5,7 8,4 7,2 1,3
4 Açúcar refinado 1067 207005 63,8 5,4 0,0 9,9 0,0
5 Pão francês 958 186577 57,5 7,5 5,6 10,7 2,4
6 Margarina 561 106865 32,9 2,0 0,0 0,0 7,1
7 Refrigerante 537 101710 31,3 2,6 0,0 4,7 0,0
8 Alface/agrião/rúcula 501 94335 29,1 0,1 0,1 0,1 0,0
9 Leite integral 471 92447 28,5 2,9 3,2 1,9 4,7
10 Frango ensopado/cozido/ 389 75515 23,3 3,0 11,0 0,0 4,0
assado
11 Tomate 371 71381 22,0 0,3 0,2 0,4 0,2
12 Suco refresco 339 66839 20,6 1,7 0,2 3,0 0,1
13 Queijo minas 337 64893 20,0 1,6 2,7 0,0 3,9
14 Macarrão 341 63448 19,6 1,4 0,9 1,9 0,7
15 Biscoito salgado (Club 364 63153 19,5 2,0 0,9 2,3 2,0
Social, salclic, cream cracker)
16 Banana 318 62509 19,3 1,7 0,5 3,0 0,2
17 Suco natural 292 56399 17,4 1,1 0,2 1,9 0,1
18 Manteiga 303 55775 17,2 0,8 0,0 0,0 2,8
19 Bife 289 55532 17,1 3,2 9,1 0,0 5,7
20 Batata cozida ou assada 259 49351 15,2 0,8 0,4 1,3 0,0
21 Cenoura 281 49173 15,2 0,1 0,1 0,2 0,0
22 Outros alimentos/ 262 49478 15,2 1,2 1,0 1,2 1,5
preparações
23 Suco industrializado (Pronto 241 45602 14,1 0,4 0,0 0,7 0,0
para beber ou diluir)
24 Chocolate/bombom 248 45467 14,0 0,7 0,2 0,9 0,6
25 Queijo prato/mozarela 231 44888 13,8 0,7 1,1 0,0 1,7
26 Pão de forma 226 43782 13,5 1,7 1,3 2,5 0,2
27 Leite desnatado 239 42755 13,2 0,8 1,6 0,8 0,2
28 Carne assada 198 40599 12,5 4,2 8,6 0,0 9,5
29 Carne moída 205 39681 12,2 0,8 2,1 0,1 1,6
30 Batata frita ou palha 173 32571 10,0 1,0 0,3 0,9 1,7
31 Presunto 176 32397 10,0 0,4 0,5 0,0 0,9
32 Temperos 172 32357 10,0 0,1 0,1 0,1 0,0
33 Requeijão 166 32119 9,9 0,6 0,7 0,1 1,5
34 Biscoito doce (Maria, 180 31853 9,8 1,1 0,5 1,3 0,8
Maizena)
35 Leite semidesnatado 149 30533 9,4 0,7 0,9 0,6 0,6
36 Bolo simples 174 29705 9,2 1,3 0,5 1,3 1,7
37 Carne ensopada 154 29660 9,1 1,0 2,4 0,1 1,8
38 Salgado assado (Empada, 142 28835 8,9 1,8 1,4 1,2 3,2
esfiha, italiano, pão de
queijo)
39 Mamão 150 26466 8,2 0,4 0,1 0,7 0,0
40 Chá 147 25947 8 0,1 0,0 0,3 0,0
41 Cerveja 120 24995 7,7 1,1 0,5 1,8 0,0
42 Ovo frito 134 24895 7,7 0,4 0,6 0,0 0,9
43 Linguiça 131 24831 7,7 1,0 1,1 0,0 2,7
44 Outras frutas 143 24446 7,5 0,5 0,1 0,6 0,4
População Contribuição percentual
Ordem Item alimentar n N % Energia Proteína Carboidrato Lipídeo
45 Farofa 120 23481 7,2 0,4 0,1 0,4 0,4
46 Maçã 122 23305 7,2 0,5 0,1 0,8 0,1
47 Outros legumes/verduras 137 23455 7,2 0,1 0,1 0,1 0,1
48 Outros doces 135 23072 7,1 0,6 0,2 0,5 0,9
49 Frango frito 111 22394 6,9 0,4 0,2 0,5 0,4
50 Salgado frito (Coxinha, 130 22335 6,9 0,5 0,5 0,3 0,9
pastel, quibe)
51 Ovo cozido 116 21441 6,6 0,2 0,4 0,0 0,4
52 Biscoito doce recheado 119 20828 6,4 0,9 0,2 0,9 1,2
53 Purê de batata 111 20727 6,4 1,0 3,4 0,0 1,4
54 Adoçante 102 20544 6,3 0,1 0,0 0,1 0,0
55 Pão de leite 102 19613 6,0 0,6 0,5 0,9 0,1
56 Pão integral 110 19244 5,9 0,6 0,5 0,8 0,2
57 Chuchu 102 19052 5,9 0,0 0,0 0,0 0,0
58 Pão doce 95 18384 5,7 0,6 0,4 0,9 0,3
59 Molhos 97 18470 5,7 0,2 0,1 0,1 0,4
60 Abóbora 98 18117 5,6 0,2 0,1 0,2 0,2
61 Peixe frito 103 18115 5,6 1,6 3,0 0,1 3,6
62 Beterraba 86 17930 5,5 0,1 0,0 0,1 0,0
63 Peixe ensopado ou cozido 95 17181 5,3 0,5 1,9 0,0 0,4
64 Laranja 83 17022 5,2 0,4 0,1 0,6 0,0
65 Refrigerante light 105 16792 5,2 0 0,0 0,0 0,0
66 Salsicha 85 16296 5,0 0,4 0,5 0,0 0,9
67 Goiabada/figada/marmelada 76 15684 4,8 0 0,0 0,0 0,1
68 Sopa de legumes 77 15443 4,8 0,4 0,4 0,4 0,5
69 Azeite de oliva 86 15203 4,7 0,1 0,0 0,0 0,2
70 Iogurte 84 15088 4,7 0,3 0,3 0,4 0,2
71 Maionese 80 14874 4,6 0,1 0,0 0,0 0,4
72 Margarina light 81 14529 4,5 0,1 0,0 0,0 0,3
73 Sopas e cremes 76 14524 4,5 0,4 0,0 0,8 0,0
74 Repolho 76 14111 4,3 0,9 1,6 0,3 1,5
75 Frango empanado 76 13845 4,3 0,3 0,3 0,3 0,3
76 Pizza 79 13801 4,3 1,5 1,6 1,4 1,7
77 Sorvete 77 13738 4,2 0,3 0,2 0,3 0,5
78 Presunto de peru 67 13057 4,0 0,1 0,2 0,0 0,1
79 Couve 72 12923 4,0 0,2 0,2 0,1 0,2
80 Doce de leite 70 12877 4,0 1,1 0,2 1,4 1,1
81 Farinhas 67 12800 3,9 0,2 0,2 0,3 0,1
82 Aipim/inhame 70 12450 3,8 0,3 0,2 0,4 0,2
83 Torrada industrializada 78 12418 3,8 0,3 0,2 0,4 0,1
84 Frango grelhado 74 12400 3,8 0,3 1,2 0,0 0,3
85 Suplementos 51 12139 3,7 0,1 0,0 0,1 0,0
86 Carne seca/carne de sol/ 60 11632 3,6 0 0,0 0,0 0,0
charque
87 Salada de maionese/salada 48 11237 3,5 0,2 0,1 0,2 0,4
de batata
88 Pepino 60 10854 3,3 0,1 0,1 0,1 0,0
89 Brócolis 59 10036 3,1 0 0,0 0,0 0,0
90 Manga 50 9875 3,0 0,2 0,0 0,4 0,0
91 Vagem 60 9653 3,0 0,5 0,7 0,0 1,2
92 Doce de fruta em calda 55 9523 2,9 0,2 0,0 0,3 0,0
93 Outras bebidas 51 9518 2,9 0,2 0,1 0,2 0,1
94 Aveia 42 9089 2,8 0,1 0,1 0,2 0,1
População Contribuição percentual
Ordem Item alimentar n N % Energia Proteína Carboidrato Lipídeo
95 Sanduíche tipo hamburguer, 50 8957 2,8 0,5 0,6 0,3 0,9
cheeseburguer, Baurú
96 Tangerina 47 8943 2,8 0,2 0,1 0,4 0,0
97 Fígado de boi 47 8615 2,7 0,3 1,0 0,1 0,5
98 Bala 51 8310 2,6 0,2 0,5 0,2 0,1
99 Espinafre 32 8300 2,6 0,1 0,0 0,2 0,0
100 Outros frutos do mar 49 8565 2,6 0,1 0,3 0,0 0,1
101 Cereal matinal 44 8530 2,6 0,0 0,0 0,0 0,0
102 Almôndega 36 8052 2,5 0,4 0,8 0,1 0,8
103 Outros queijos 43 8020 2,5 0,3 0,1 0,4 0,1
104 Bolo recheado 38 7646 2,4 0,3 0,1 0,3 0,3
105 Melancia 43 7490 2,3 0,1 0,1 0,0 0,2
106 Quiabo 37 7444 2,3 0,1 0,0 0,1 0,0
107 Farinha de mandioca 34 7386 2,3 0,1 0,0 0,1 0,1
108 Couve flor 44 7125 2,2 0,2 0,1 0,3 0,1
109 Ervilha/ervilha enlatada 37 7124 2,2 0,1 0,1 0,1 0,0
110 Batata corada 38 7042 2,2 0,0 0,1 0,1 0,0
111 Óleos e gorduras 42 7128 2,2 0,0 0,0 0,0 0,1
112 Carne de porco 33 6937 2,1 0,0 0,0 0,0 0,0
113 Bebida de soja 46 6860 2,1 0,1 0,1 0,1 0,1
114 Conservas 45 6883 2,1 0,0 0,0 0,0 0,0
115 Uva 32 6625 2,0 0,0 0,0 0,0 0,0
116 Pudim 39 6597 2,0 0,2 0,2 0,2 0,3
117 Iogurte light 38 6562 2,0 0,2 0,1 0,2 0,3
118 Melão 31 6552 2,0 0,1 0,1 0,2 0,0
119 Abacaxi 37 6385 2,0 0,1 0,1 0,1 0,1
120 Gelatina 32 6110 1,9 0,1 0,1 0,0 0,1
121 Jiló 33 6040 1,9 0,8 1,5 0,0 2,0
122 Vinho 33 6014 1,9 0,0 0,0 0,0 0,0
123 Amendoim e castanhas 32 6116 1,9 0,0 0,0 0,0 0,0
124 Angu ou polenta 30 6001 1,8 0,1 0,1 0,2 0,0
125 Milho 32 5962 1,8 0,1 0,0 0,1 0,0
126 Abobrinha 32 5891 1,8 0,1 0,1 0,1 0,2
127 Barra de cereal 26 5733 1,8 0,1 0,1 0,1 0,1
128 Omelete/ovo poché/ovo 31 5488 1,7 0,1 0,1 0,0 0,2
mexido
129 Massas 33 5488 1,7 0,2 0,3 0,1 0,3
130 Pastas e patês 31 5419 1,7 0,1 0,1 0,0 0,2
131 Geleia/chimíer 25 5310 1,6 0,1 0,0 0,1 0,0
132 Pipoca 34 5238 1,6 0,1 0,0 0,2 0,0
133 Requeijão light 35 5210 1,6 0,0 0,0 0,0 0,1
134 Biscoito tipo salgadinho 26 4908 1,5 0,1 0,1 0,2 0,1
135 Alimento a base de soja 25 4183 1,3 0,1 0,2 0,0 0,1
136 Vodka, cachaça, whisky 13 3693 1,1 0,0 0,0 0,0 0,0
137 Arroz integral 22 3533 1,1 0,1 0,1 0,2 0,1
138 Tortas salgadas 15 3130 1,0 0,1 0,1 0,1 0,2
139 Salada de frutas 14 3073 0,9 0,1 0,0 0,1 0,0
140 Frutas secas 21 2895 0,9 0,0 0,0 0,0 0,0
141 Cereais 12 1755 0,5 0,0 0,0 0,1 0,0
142 Miúdos 9 1732 0,5 0,0 0,1 0,0 0,0
143 Outras bebidas alcoólicas 4 809 0,2 0,0 0,0 0,0 0,0

Com os dados da Tabela 2 também se pode observar os itens alimentares com suas respectivas contribuições percentuais de energia, carboidrato, proteína e lipídeos. Ao analisar os dados segundo a contribuição energética e de macronutrientes, os cinco alimentos com maior contribuição de energia, proteínas, carboidratos e lipídeos, nessa ordem são: o arroz branco (10,5; 4,0; 16,3 e 3,4%), pão francês (7,5; 5,6%; 10,7 e 2,4%), feijão preto (5,7; 8,4%; 7,2 e 1,3%), carne assada (4,2; 8,6; 0 e 9,5%) e frango ensopado, cozido ou assado (3,0; 11,0; 0 e 4,0%). Observa-se que a combinação de arroz, feijão preto, carne assada e pão francês contribui com mais de 25% da dieta diária de energia, proteína, carboidrato e 17% de lipídeo da população adulta de Niterói. Pode-se observar, ainda, que 65 alimentos são capazes de abarcar o percentual de aproximadamente 90% no total de energia (90,2%), proteína (93,2%), carboidrato (89,4%) e lipídeos (90,5%) da ingestão da população adulta de Niterói. Usando o ponto de corte de 80% da contribuição para ingestão de energia, proteína, carboidrato e lipídeo, chega-se a um total de 49 alimentos com os percentuais de 84,4; 89,3; 82,7 e 84,6%, respectivamente. Ao usar o ponto de corte de 85%, os resultados foram de 58 alimentos com 88,1; 92,0; 87,0; e 88,5% de contribuição. Chama atenção o fato de alguns alimentos terem sido pouco relatados, porém apresentarem contribuição relativa alta na ingestão de macronutrientes, como foi o caso de peixe frito, pizza, doce de leite e repolho, devido ao fato de que, quem ingere esses alimentos o faz em grandes quantidades.

Quando os alimentos são agrupados (Tabela 3), o grupo de pães passa a ser o mais ingerido pela população (92,4%), seguido de arroz (82%), café (80,5%), feijão (69,9%) e óleos e derivados (66,1%). É interessante notar que há um percentual relativamente alto de adultos de Niterói que relataram ingerir frutas (63,3%) e que o refrigerante (36,5%) foi mais ingerido do que todos os tipos de sucos (34,4%). Entre as carnes, a de vaca é ingerida por um percentual maior da população (59,7%) do que a carne de frango (38,3%), o peixe (10,9%) e a carne de porco (2,1%).

Tabela 3. Frequência populacional (N e %) da ingestão de energia e macronutrientes e sua contribuição percentual por ordem descrescente de frequência dos 30 principais grupos de alimentos na população adulta de Niterói, RJ. Pesquisa de Nutrição, Atividade Física e Saúde (PNAFS), 2003. 

População Contribuição percentual
Grupo de alimento N % Energia Proteína Carboidrato Lipídeo
Pães 300018 92,4 11,2 8,5 16,1 3,4
Arroz 266090 82,0 10,6 4,0 16,5 3,5
Café 261254 80,5 0,0 0,0 0,0 0,0
Feijão 226894 69,9 5,7 8,4 7,2 1,3
Óleos e derivados 214374 66,1 3,1 0,0 0,0 10,9
Açúcar 207005 63,8 5,3 0,0 9,8 0,0
Frutas 205586 63,3 4,2 1,4 6,8 1,1
Raízes e tubérculos 200481 61,8 3,5 4,4 3,0 3,7
Carne de vaca 193771 59,7 10,0 24 0,4 19,8
Leite 187385 57,8 4,9 6,0 3,9 5,9
Verduras 170285 52,5 1,5 2,1 1,1 2,0
Legumes 161518 49,8 2,0 2,7 0,9 3,8
Queijo 155130 47,8 3,2 4,6 0,5 7,3
Carne de frango 124154 38,3 4,0 12,7 0,7 5,1
Biscoito 120742 37,2 4,0 1,7 4,7 4,1
Refrigerante 118502 36,5 2,5 0,0 4,7 0,0
Suco 111519 34,4 1,6 0,3 2,7 0,2
Massa 82737 25,6 3,1 2,8 3,4 2,6
Doces 79173 24,3 2,3 0,7 2,6 2,5
Refresco 66839 20,6 1,6 0,1 3,0 0,0
Ovos 51824 16,0 0,6 1,1 0,1 1,5
Salgadinho 51170 15,8 2,3 1,9 1,4 4,2
Chocolate/bombom 45467 14 0,7 0,2 0,9 0,6
Bolo 37351 11,6 1,6 0,6 1,6 2,0
Bebida alcoólica 35511 10,9 1,1 0,5 1,9 0,0
Peixe 35296 10,9 2,0 4,9 0,2 3,9
Cereais 31108 9,5 0,4 0,3 0,5 0,3
Sopa 29967 9,3 0,9 0,4 1,2 0,5
Chá 25947 8,0 0,1 0,0 0,2 0,0
Carne de porco 6937 2,1 0,0 0,0 0,0 0

Para os grupos de alimentos, pode-se observar que os cinco grupos com maior contribuição na ingestão energética são pães (11,2%), arroz (10,6%), carne de vaca (10,0%) feijão (5,7%) e açúcar (5,3%).

Discussão

O conhecimento e o monitoramento da alimentação da população são ações importantes no contexto das sociedades que enfrentam mudanças sociodemográficas como a população brasileira. O RA24h é um instrumento importante na obtenção desses dados de forma rápida e, além disso, mesmo quando realizado em um único dia, ele fornece as características quantitativas dos alimentos efetivamente ingeridos pela população desde que os dias da semana sejam representados de forma balanceada19. Estes dados podem, além de descrever as características da IA e de nutrientes, servir como base para a produção da lista de alimentos mais frequentemente ingeridos pela população e sua contribuição no total ingerido de energia, micro e macronutrientes.

Os resultados encontrados no presente estudo permitem observar a consistência entre os achados no único estudo realizado no país usando métodos semelhantes, no caso uma amostra probabilística de adultos de São Paulo24 usando um RA24h. Os itens alimentares com maior contribuição de energia foram o arroz, pão francês, feijão preto e açúcar refinado. Da mesma forma, observou-se que a maioria dos alimentos, incluídos na lista construída com itens que contribuíram com 90% de energia no estudo de São Paulo24, está na lista do presente estudo. Ressalta-se que em ambos os estudos o arroz foi o alimento que mais contribuiu para ingestão de energia, seguido de carne bovina e pão. Em estudo de menor dimensão (104 adultos em Cuiabá25), mas usando RA24h, os alimentos que mais contribuíram percentualmente no total ingerido foram carnes (22,2%), arroz (9,9%), pão (7,0%), massas (5,1%) e refrigerante (5,0%). Comparativamente à população adulta de Niterói, a contribuição de carne, massas e refrigerantes parece ser bem maior na amostra de Cuiabá.

Apesar de obtidos por outro método, a contribuição no total de energia disponível para ingestão na mais recente POF (2008-2009)26 foi semelhante a do presente estudo. Na POF, os alimentos básicos de origem vegetal (cereais, leguminosas, raízes e tubérculos) corresponderam a 45% da energia disponível para ingestão. Alimentos essencialmente energéticos (óleos e gorduras vegetais, gordura animal, açúcar, refrigerantes e bebidas alcoólicas) contribuíram, na POF, muito mais, chegando a 28%, e produtos de origem animal (carnes, leite e derivados e ovos) com 19%. Frutas, verduras e legumes contribuíram com 2,8% da energia e refeições prontas e misturas industrializadas corresponderam a 4,6%. A participação de condimentos (0,3%) e oleaginosas (0,2%) foi pouco expressiva.

Os dados da POF26 também mostram que o brasileiro diminuiu drasticamente a compra de itens básicos, como arroz, feijão e açúcar, em sua alimentação. De 1974/1975 (ENDEF) para a POF de 2008/2009, o arroz polido teve redução de 60% na quantidade anual per capita adquirida (de 31,6 quilos para 12,6 quilos) nas regiões metropolitanas brasileiras. A aquisição do feijão para preparo em casa teve redução de 49%. Já o açúcar caiu de 15,8 quilos para 3,3 quilos (redução de 79%). O refrigerante de guaraná subiu de 1,3 quilos anuais para 6 quilos. Comparações com POFs mais recentes mostram que essa queda se acentuou nos últimos anos. De 2002/2003 para 2008/2009, a aquisição anual de arroz polido caiu 40,5%, a de feijão, 26,4% e a aquisição do açúcar refinado, 48,3%. Para a população adulta de Niterói, a troca energética dos itens básicos, como arroz e feijão, foi feita, aparentemente, por pães, refrigerantes e biscoitos.

A POF documentou, desta forma, um quadro de modernidade alimentar27 aumento na disponibilidade relativa de alimentos processados (pão francês, biscoitos, refrigerantes, bebidas alcoólicas e refeições prontas e misturas industrializadas)28 e diminuição na disponibilidade de alimentos minimamente processados e de ingredientes utilizados na preparação desses alimentos, como o arroz, feijão, leite, farinhas de trigo e de mandioca, óleo de soja e açúcar, em comparação à POF anterior (2002-2003)29.

A novidade da mais recente POF foi a coleta das informações sobre ingestão alimentar individual de dois dias, através de registro alimentar, de todos os moradores com 10 anos ou mais de idade, para uma subamostra (24,3%) de domicílios30. A análise dos dados da POF indicou que, para o primeiro dia de registro, os alimentos com maiores frequências de ingestão foram o arroz (84,0%), seguido de feijão (72,8%) e café (79,0%)30, valores estes que são bem próximos aos encontrados para a população adulta de Niterói. Os dados da IA da população adulta de Niterói indicou frequência alta na ingestão de pães (94,7%), de refrigerantes (37,2%) e de biscoitos (36,7%). A análise dos dados de Niterói em grupos de alimentos permite a construção de lista de alimentos realmente ingeridos pela população, informação que é fundamental para o desenvolvimento de questionário de frequência alimentar (QFA) que, por definição, devem se adequar às características específicas da população10. Aparentemente, a lista gerada pelo presente estudo é bastante semelhante ao observado em São Paulo, capital, o que pode servir como base para a geração de um QFA único para a população urbana do sudeste brasileiro18 , 24 e, talvez, também, da região sul31.

Apesar de se ter documentado32 correlações maiores que 0,8 para alguns alimentos (carnes, leite e derivados, frutas, legumes e verduras) entre os indicadores de IA provenientes de POFs e estudos de ingestão individual, a estratégia e o esforço de se obter dados individuais de ingestão é importante na descrição das características alimentares da população. Este fato fica evidente ao se comparar a lista de alimentos que contribuem no total energético ingerido (na avaliação pessoal) ou disponível para ingestão (no caso da avaliação tradicional feita na POF pelo orçamento da alimentação). No primeiro caso29, a estimativa média de ingestão para o total da população brasileira acima de 10 anos de idade variou de 1795 a 2289 kcal/dia para os homens e 1490 a 1930 kcal/dia para as mulheres, mas a estimativa de disponibilidade energética para toda a população brasileira, na mesma pesquisa, foi de 1610 kcal/dia26.

No presente estudo foi aplicado um único RA24h na amostra probabilística de adultos de um inquérito domiciliar, o que, a primeira vista, pode ser considerada uma limitação do estudo. A IA de um indivíduo não é constante, variando de dia para dia32 e isto se deve ao fato de que cada indivíduo difere nos tipos e quantidades de alimentos ingeridos de um dia para o outro e também porque os indivíduos diferem entre si em sua IA (variabilidade intra ou entre sujeitos)33. Assim, o método de RA24h é representativo da ingestão usual de indivíduos quando o mesmo representa os dias da semana de forma adequada, dependendo do nutriente de interesse19. Neste caso o RA24h representa a ingestão média de grupos de indivíduos em inquéritos dietéticos. No presente estudo buscou-se avaliar um dia típico individual e todos os dias da semana fazendo com que os resultados representem a IA da população adulta de Niterói num dia de semana típico.

Não se tem muitos dados publicados de pesquisas sobre as características da IA de segmentos da população brasileira. O presente estudo documentou as características de ingestão de macronutrientes da população adulta de Niterói, o que permitiu gerar uma lista de alimentos ingeridos mais frequentemente e sua contribuição no total ingerido para construção de métodos mais adequados de avaliação da IA. A semelhança da lista gerada com outros estudos nacionais permite, com certo grau de confiança, a possibilidade de geração de um QFA em nível nacional para ser usado em estudos epidemiológicos no país. Localmente, esses dados podem ajudar na adequação de políticas públicas que contribuam para melhorar os hábitos alimentares, a qualidade de vida da população adulta de Niterói, RJ, e, consequentemente, a melhora do estado nutricional e a diminuição da prevalência de DCNT.

REFERÊNCIAS

World Health Organization (WHO). Diet, Nutrition and Prevention of Chronic Disease. Geneva: WHO; 2003. (WHO Technical Report Series, nº 916).
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009. Antropometria e Estado Nutricional de Crianças, Adolescentes e Adultos no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2010.
Levy-Costa RB, Sichieri R, Pontes NS, Monteiro CA. Disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil: distribuição e evolução (1974-2003). Rev Saude Publica 2005; 39(4):530-540.
Levy RB, Claro RM, Mondini L, Sichieri R, Monteiro CA. Distribuição regional e socioeconômica da disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil em 2008-2009. Rev Saude Publica 2012; 46(1):6-15.
World Health Organization (WHO). Global strategy on diet, physical activity and health. Geneve: WHO; 2004. [acessado 2014 mar 10]. Disponível em:
United Nations (UN). Prevention and control of non-communicable diseases. General Assembly, Sixty-sixth session, A/66/83. 2011. [acessado 2014 mar 10]. Disponível em
Cardoso MA. Desenvolvimento, Validação e Aplicações de Questionários de Frequência Alimentar em Estudos Epidemiológicos. In: Kac G, Sichieri R, Gigante D, organizadores. Epidemiologia Nutricional. Rio de Janeiro: Fiocruz, Atheneu; 2007. p. 201-212.
Savy M, Martin-Prevel Y, Sawadogo P, Kameli Y, Delpeuch F. Use of variety/diversity scores for diet quality measurement: relation with nutritional status of women in a rural area in Burkina Faso. Eur J Clin Nutr 2005; 59(5):703-716.
Foote JA, Murphy SP, Wilkens LR, Basiotis PP, Carlson A. Dietary variety increases the probability of nutrient adequacy among adults. J Nutr 2004; 134(7):1779-1785.
Anjos LA, Souza DR, Rossato S. Desafios na medição quantitativa da ingestão alimentar em estudos populacionais. Rev Nutr 2009; 22(1):151-161.
Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Vigilância em Saúde. Política nacional de promoção da saúde. Textos Básicos de Saúde. Brasília: MS; 2006. Série B.
Block G, Dresser CM, Hartman AM, Carroll MD. Nutrient sources in the American diet: quantitative data from the NHANES II Survey. II. Macronutrients and fats. Am J Epidemiol 1985; 122(1):27-40.
Bossan FM, Anjos LA, Vasconcellos MTL, Wahrlich V. Nutritional status of the adult population in Niterói, Rio de Janeiro, Brazil: the Nutrition, Physical Activity, and Health Survey. Cad Saude Publica 2007; 23(8):1867-1876.
Anjos LA, Ferreira BCM, Vasconcellos MTL, Wahrlich V. Gasto energético em adultos do Município de Niterói, Rio de Janeiro: resultados da Pesquisa de Nutrição, Atividade Física e Saúde - PNAFS. Cien Saude Colet 2008; 13(6):1775-1784.
Souza DR, Anjos LA, Wahrlich V, Vasconcellos MTL, Machado JM. Ingestão alimentar e balanço energético da população adulta de Niterói, Rio de Janeiro, Brasil: resultados da Pesquisa de Nutrição, Atividade Física e Saúde (PNAFS). Cad Saude Publica 2010; 26(5):879-890.
Haldane JBS. On the method of estimating frequencies. Biometrika 1945; 33:222-225.
Vasconcellos MTL, Silva PLN, Szwarcwald CL. Sampling design for the World Health Survey in Brazil. Cad Saude Publica 2005; 21(Supl. 1):S89-99.
Anjos LA, Wahrlich V, Vasconcellos MTL, Souza DR, Olinto MTA, Waissmann W, Henn RL, Rossato SL, Lourenço AEP, Bressan AW. Development of a food frequency questionnaire in a probabilistic sample of adults from Niterói, Rio de Janeiro, Brazil. Cad Saude Publica 2010; 26(11):2196-2204.
Gibson RS. Principles of Nutritional Assessment. 2nd Ed. New York: Oxford University Press; 2005.
Zabotto CB, Viana RPT, Gil MF. Registro fotográfico para Inquéritos Dietéticos: utensílios e porções. Campinas, Goiânia: UNICAMP, UFG; 1996.
Pinheiro ABV, Lacerda EMA, Benzecry EH, Gomes MCS, Costa VM. Tabela para avaliação de consumo alimentar em medidas caseiras. 3ª ed. Rio de Janeiro: Produção independente; 1996.
Silva PLN. Calibration estimation: when and why, how much and how. Rio de Janeiro: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; 2004. (Textos para Discussão da Diretoria de Pesquisas, nº 14).
Vasconcellos MTL, Silva PLN, Anjos LA. Sample design for the Nutrition, Physical Activity and Health Survey (PNAFS), Niterói, Rio de Janeiro, Brazil. Estadística 2013; 65(184):47-61.
Fisberg RM, Colucci ACA, Morimoto JM, Marchioni DML. Questionário de frequência alimentar para adultos com base em estudo populacional. Rev Saude Publica 2008; 42(3):550-554.
Ferreira MG, Silva NF, Schmidt FD, Silva RMVG, Sichieri R, Guimarães LV, Pereira RA. Desenvolvimento de questionário de frequência alimentar para adultos em amostra de base populacional de Cuiabá, Região Centro-Oeste do Brasil. Rev Bras Epidemiol 2010; 13(3):413-424.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009: Avaliação nutricional da disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2010.
Fonseca AB, Souza TSN, Frozi DS, Pereira RA. Modernidade alimentar e consumo de alimentos: contribuições sócio-antropológicas para a pesquisa em nutrição. Cien Saude Colet 2011; 16(9):3853-3862.
Monteiro CA, Levy RB, Claro RM, Castro IRR, Cannon G. A new classification of foods based on the extent and purpose of food processing. Cad Saude Publica 2010; 26(11):2039-2049.
Enes CC, Silva MV. Disponibilidade de energia e nutrientes nos domicílios: o contraste entre as regiões Norte e Sul do Brasil. Cien Saude Colet 2009; 14(4):1267-1276.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009: Análise do consumo alimentar pessoal no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2011.
Zanolla AF, Olinto MTA, Henn RL, Wahrlich V, Anjos LA. Avaliação de reprodutibilidade e validade de um questionário de freqüência alimentar em adultos residentes em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Cad Saude Publica 2009; 25(4):840-848.
Naska A, Paterakis S, Eeckman H, Remaut AM, Trygg K. Methodology for rendering household budget and individual nutrition surveys comparable, at the level of the dietary information collected. Public Health Nutr 2001; 4(5B):1153-1158.
Palaniappan U, Cue RI, Payette H, Gray-Donald K. Implications of day-to-day variability on measurements of usual food and nutrient intakes. J Nutr 2003; 133(1):232-235.