Compartilhar

Frequência da Aterosclerose Subclínica em Brasileiros Infectados pelo HIV

Frequência da Aterosclerose Subclínica em Brasileiros Infectados pelo HIV

Autores:

David Everson Uip

ARTIGO ORIGINAL

Arquivos Brasileiros de Cardiologia

versão impressa ISSN 0066-782Xversão On-line ISSN 1678-4170

Arq. Bras. Cardiol. vol.110 no.5 São Paulo maio 2018

https://doi.org/10.5935/abc.20180082

Os avanços no tratamento da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (Human Immunodeficiency Virus - HIV) resultaram na redução significativa da mortalidade relacionada à síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). A maioria dos pacientes infecta-se entre 19 e 39 anos de idade, recebe medicamentos a partir do diagnóstico, não havendo a priori prazo para interrupção. No seguimento desses pacientes, tem-se observado a emergência de doenças crônicas não infecciosas relacionadas a diversos fatores de risco, inclusive idade e doença cardiovascular. Estudos mostram que há ação direta do vírus no endotélio vascular (processo inflamatório crônico) e ainda ação dos medicamentos antirretrovirais (TARV) no metabolismo lipídico.1

A incidência de eventos cardiovasculares entre os pacientes infectados pelo HIV é baixa e, por isso, difícil de ser estudada. A aterosclerose subclínica está associada ao risco aumentado de eventos na população geral. Ela pode ser detectada por métodos não invasivos, como a ultrassonografia das carótidas, com o objetivo de medir a espessura da camada médio-intimal e verificar a presença da placa aterosclerótica, e a tomografia das artérias coronárias para mensurar o escore de cálcio. A angiotomografia das artérias coronárias permite ainda a avaliação da presença, composição e extensão das placas coronarianas, além da detecção de estenose.

O estudo “Frequência de Aterosclerose Subclínica em Brasileiros Infectados pelo HIV2 teve por objetivo avaliar esses fatores de risco para doença cardiovascular e encontrou resultados semelhantes aos de outros estudos realizados em diversos centros de pesquisa no mundo. Como referência, é importante citar o trabalho Multicenter AIDS Cohort Study (MACS).3

O MACS é um estudo prospectivo em desenvolvimento que acompanha homens que fazem sexo com homens, infectados e não infectados pelo HIV, em quatro cidades americanas (Baltimore/Washington DC, Chicago, Los Angeles e Pittsburgh). A inclusão dos casos iniciou-se nos anos 1987-1991, ocorrendo novas inclusões em 2001-2003 e a partir de 2010. Os pacientes submetem-se a duas entrevistas anuais, incluindo questionamento sobre comportamento, exame físico geral e exames laboratoriais específicos e inespecíficos. De janeiro de 2010 a agosto de 2013, 1001 homens foram submetidos a tomografia cardíaca. Desses, 618 eram infectados pelo HIV, com idade variando entre 40 e 70 anos e sem história prévia de revascularização do miocárdio. A conclusão do trabalho demonstrou que as placas coronarianas, especialmente as não calcificadas, foram mais prevalentes e extensas nos pacientes soropositivos, independentemente da presença de outros fatores de risco.

Alguns fatos merecem referência: 1. O aumento atual do número de casos em homens jovens que fazem sexo com homens; 2. A decisão da Organização Mundial de Saúde de iniciar a terapêutica específica, assim que firmado o diagnóstico etiológico; 3. O aumento da sobrevida dos pacientes, com diminuição da ocorrência das infecções oportunistas; 4. A relevância dos efeitos adversos causados presumidamente pelos TARV, destacando-se a necrose osteoarticular, a síndrome metabólica e as doenças cardiovasculares.

O trabalho em questão contradiz a visão inicial, que referenciava a doença aterosclerótica ao uso de TARV e demonstra a importância das medidas preventivas quanto à obrigatoriedade de dieta adequada, à realização de exercícios físicos e à introdução precoce de medicamentos objetivando a correção das alterações metabólicas.

REFERÊNCIAS

1 DAD Study Group, Friis-Moller N, Reiss P, Sabin CA, Weber R, Monforte Ad, et al. Class of antiretroviral drugs and the risk of myocardial infarction. N Engl J Med. 2007;356(17):1723-35.
2 Salmazo OS, Bazan SG, Shiraishi F, Bazan R, Okoshi K, Hueb JC. Frequency of subclinical atherosclerosis in Brazilian HIV-Infected patients. Arq Bras Cardiol. 2018; 110(5):402-410
3 Post WS, Budolf W, Kingsley L, Palella FJ, Witt MD, Li X, et al. Associations infection and subclinical coronary atherosclerosis: the Multicenter AIDS Cohort Study (MACS). Ann Intern Med. 2014;160(7):458-67.