versão impressa ISSN 0021-7557versão On-line ISSN 1678-4782
J. Pediatr. (Rio J.) vol.94 no.6 Porto Alegre nov./dez. 2018
http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2017.09.005
O período entre a concepção e os dois primeiros anos de vida é considerado fundamental para o desenvolvimento saudável da criança e alterações dos mecanismos fisiológicos nessa época precoce da vida podem elevar o risco de doenças crônicas não transmissíveis na vida adulta.1-3
O recém-nascido pré-termo, além da imaturidade de seus órgãos e da pequena reserva de energia e nutrientes, ao nascer é exposto a um ambiente altamente desfavorável, com limitação de nutrientes,4 o que pode ocasionar uma restrição de crescimento extrauterino.
É fundamental o apoio nutricional adequado para todos os recém-nascidos pré-termo, principalmente aqueles nascidos com muito baixo peso e com restrição de crescimento intrauterino pelo maior risco para mortalidade e morbidade pós-natal.5 A oferta de nutrientes logo após o nascimento deve ser iniciada o mais precocemente possível, pela elevada prevalência de restrição de crescimento no período de internação nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN).6-9
O conhecimento do requerimento energético e de adequados substratos nutricionais favorece o melhor planejamento nutricional ofertado aos neonatos na fase pós-natal mais crítica e pode prevenir a restrição de crescimento extrauterino e o acúmulo em excesso de gordura corporal em recém-nascidos pré-termo.10
O objetivo deste estudo foi avaliar, longitudinalmente, o gasto energético de repouso, o crescimento e a quantidade ofertada de energia e macronutrientes em um grupo de recém-nascidos pré-termo adequados e pequenos para idade gestacional.
Foi feito um estudo de coorte em recém-nascidos pré-termo adequados e pequenos para a idade gestacional ao nascimento, internados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Instituto Nacional em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira/Fiocruz.
Foram elegíveis para a avaliação do gasto energético de repouso os recém-nascidos pré-termo com peso de nascimento inferior a 1.500 gramas ou idade gestacional < 32 semanas que nasceram e foram internados na UTIN do hospital.
Foram incluídos os recém-nascidos que respiravam espontaneamente em ar ambiente e não apresentavam malformação congênita, doenças infecciosas, síndromes genéticas e isoimunização Rh. Aqueles que apresentaram hemorragia intracraniana (HIC) grau III e IV e enterocolite necrozante no decorrer do estudo foram excluídos.
Os recém-nascidos participantes do estudo foram avaliados uma vez por semana, no 7˚, 14˚, 21˚, 28˚ dias de vida e no momento que antecedeu a alta hospitalar.
O gasto energético de repouso foi medido pela calorimetria indireta (Deltatrac II® Metabolic Monitor; Datex-Ohmeda, Finlândia) que usa o princípio de circuito aberto, permite a medição do consumo de oxigênio e produção de dióxido de carbono, usa um gerador de fluxo contínuo. A produção de energia do indivíduo é calculada a partir dos equivalentes energéticos do oxigênio consumido e do gás carbônico produzido, usa-se a equação de Weir.11
Para maior conforto, beneficiar o sono e a pouca movimentação os recém-nascidos foram colocados em decúbito ventral antes do exame. Esse exame foi feito com os recém-nascidos em incubadora em zona termoneutra, para melhor monitoramento da temperatura. A frequência cardíaca e a saturação de oxigênio foram monitoradas durante todo o exame.
Todas as avaliações do gasto energético de repouso foram feitas na unidade neonatal uma hora após a administração da dieta. Após atingir o steady-state (estabilidade das medidas verificadas pelo equipamento), foram feitas 60 medições minuto a minuto do VO2, VCO2 e gasto energético, foram obtidos no fim as médias e os desvios-padrões.12,13
O equipamento foi calibrado antes do início do estudo com o teste de queima do álcool, de acordo com especificações do fabricante. Antes de cada exame, o calorímetro foi aquecido por 30 minutos e a seguir calibrado com uma mistura conhecida de gases como 5% de dióxido de carbono (CO2) e 95% de oxigênio (O2).
Para cálculo do valor do requerimento energético, foi adicionada a média de 60 kcal/kg/dia ao gasto energético de repouso, obtido por calorimetria indireta. Essa adição é devido à demanda energética usada para atividade do recém-nascido, termorregulação, efeito térmico dos alimentos, perda fecal e estoque de energia conforme orientação da Academia Americana de Pediatria.14
O crescimento foi avaliado semanalmente pelas medidas do comprimento, perímetro cefálico e peso corporal. O peso do recém-nascido foi obtido diariamente, com balança (Filizola®, SP, Brasil) com precisão de 5 gramas. O comprimento foi mensurado por meio de estadiômetro infantil, que se adequa à incubadora, com precisão de 0,1 cm, na qual a criança foi posicionada em superfície plana, na parte firme do estadiômetro com a cabeça em plano de Frankfurt, os joelhos foram estendidos e os pés flexionados em ângulo de 90° apoiados na parte móvel do estadiômetro. O perímetro cefálico foi mensurado por meio de fita métrica inextensível com precisão de 0,1 cm, posicionada na porção posterior mais proeminente do crânio (occipício) e na parte frontal da cabeça (glabela).
A idade gestacional de nascimento foi considerada pela ultrassonografia gestacional do primeiro trimestre (USG), data da última menstruação (DUM) e na ausência dessas foi considerado o valor calculado pelo método de Ballard et al. (1991),15 nessa ordem. O grau de gravidade de doença dos recém-nascidos foi calculado através do Snappe II (Score for Neonatal Acute Physiology with Perinatal Extension-II), e foram considerados valores maiores do que 20 para identificar recém-nascidos mais graves.
Para classificação do estado nutricional dos recém-nascidos ao nascer, foi usada a curva de Fenton e Kim (2013).16 Na classificação do escore Z do peso para idade gestacional, foram considerados pequenos para a idade gestacional os recém-nascidos com escore Z < -1,28 desvios-padrões e adequados para idade gestacional escore Z entre ≥ -1,28 e < 1,28 desvios-padrões (correspondente ao percentil entre 10-90).
A terapia nutricional foi calculada durante toda a internação do recém-nascido com o documento diário preenchido pela equipe de enfermagem (documento que indica a dieta infundida no recém-nascido diariamente) e as informações de cada tipo de alimentação (parenteral, enteral e oral). Essas informações foram registradas em um software que calcula a quantidade total de energia e macronutrientes.
O uso de leite humano na unidade estudada foi elevada. Assim, a composição energética e de macronutrientes do leite humano oferecido foi calculada pela técnica de espectrofotometria, através da técnica Infrared Analysis (Milko-ScanMinor 104®, Foss, Dinamarca). Para essa dosagem foi necessária uma amostra de 7 ml do leite humano oferecido ao recém-nascido.
A dieta enteral e/ou oral composta de fórmula láctea especifica para recém-nascido pré-termo foi calculada a partir das informações contidas no rótulo do produto, respeitaram-se o volume e a diluição.
A oferta nutricional foi calculada pela taxa hídrica (ml/kg/dia), energética (kcal/kg/dia), proteica (g/kg/dia), lipídica (g/kg/dia) e de carboidrato (g/kg/dia).
Os dados foram inseridos em planilhas especificas e posteriormente analisados no software SPSS (SPSS Inc. Released 2007. SPSS para Windows, versão 16.0. Chicago, EUA).
A evolução das medidas seriadas do gasto energético foi avaliada a partir de modelos para dados longitudinais não paramétricos para medidas repetidas, para diferença entre medianas (teste de Mann-Whitney) e modelagem hierárquica para análise de associação.
Análises descritivas e bivariadas foram feitas no sentido de identificar padrões e associações prévias nos dados. O nível de significância adotado para as análises foi de 5%.
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos do Instituto Fernandes Figueira - CAAE: 00754612.9.0000.5269. E foi obtido junto aos responsáveis pelos recém-nascidos elegíveis para o estudo o termo de consentimento livre e esclarecido.
Participaram do estudo 61 recém-nascidos, 43 adequados (AIG - 18 masculinos e 25 femininos) e 18 pequenos para idade gestacional (PIG - seis masculinos e 12 femininos). Os valores de escore de Snappe ≤ 20 estavam presentes em 81,4% dos AIG e em 77,8% dos PIG. Em relação ao tipo de parto, a frequência de parto normal foi 37,2% nos AIG e 5,6% nos PIG. As características neonatais durante a internação demonstraram diferença significativa entre os dois grupos e podem ser observadas na tabela 1.
Tabela 1 Média e desvio-padrão das características neonatais durante a internação
AIG (n = 43) | PIG (n = 18) | p | |
---|---|---|---|
Média ± DP | Média ± DP | ||
Ao nascimento | |||
Peso (g) | 1415 ± 311 | 1260 ± 163 | 0,014a |
Escore z (peso/idade) | -0,03 ± 0,73 | -2,01 ± 0,57 | 0,000a |
Comprimento (cm) | 40,5 ± 2,4 | 38,3 ± 3,2 | 0,57 |
Escore z (comprimento/idade) | -0,37 ± 0,62 | -2,03 ± 0,72 | 0,000a |
Escore z (PC/idade) | -0,40 ± 0,66 | -1,37 ± 0,69 | 0,000a |
Idade gestacional | 29 ± 1,3 | 33 ± 1,3 | 0,000a |
Menor peso (g) | 1244 ± 289 | 1187 ± 1 | 0,34 |
Dia menor peso (dias) | 6 ± 1,6 | 3 ± 1,4 | 0,000a |
Perda de peso (%) | 12 ± 6,3 | 5,5 ± 3,5 | 0,000a |
Recuperação de PN (dias) | 16 ± 5 | 7 ± 4,2 | 0,000a |
Início VO (dias) | 3 ± 1,2 | 3 ± 1,3 | 0,148 |
Dia dieta plena | 16 ± 4,3 | 18 ± 4,6 | 0,153 |
Oxigenioterapia (dias) | 7 ± 8,7 | 2 ± 2,9 | 0,002a |
NPT (dias) | 8 ± 4,8 | 10 ± 4,7 | 0,136 |
Na alta hospitalar | |||
Hospitalização (dias) | 39 ± 13,8 | 34 ± 9,3 | 0,081 |
Escore z (peso/idade) | -1,47 ± 0,66 | -2,93 ± 0,55 | 0,000a |
Escore z (comprimento/idade) | -1,17 ± 0,71 | -2,38 ± 0,57 | 0,000a |
Escore z (PC/idade) | -0,30 ± 0,74 | -0,96 ± 0,69 | 0,005a |
AIG, adequado para idade gestacional; NPT, nutrição parenteral total; PC, perímetro cefálico; PIG, pequeno para idade gestacional; PN, peso de nascimento; VO, via oral;
ap valor significativo < 0,05.
Na análise das medidas seriadas do gasto energético de repouso, apesar de não ser encontrada diferença estatística entre os grupos, os valores aumentaram gradativamente a cada semana. Até o 28° dia de vida, ocorreu um aumento do gasto energético de 26,3% no grupo adequado e 21,8% nos pequenos para idade gestacional (tabela 2).
Tabela 2 Mediana e IQR do gasto energético de repouso (kcal/kg/dia), peso (gramas) e comprimento (cm) a cada semana de recém-nascidos pré-termo adequados e pequenos para idade gestacional
AIG (n = 43) | PIG (n = 18) | p | |
---|---|---|---|
GER | |||
7º dia | 44,1 (15,1) | 46,7 (10,3) | 0,98 |
14º dia | 46,3 (12,3) | 50,7 (19,5) | 0,07 |
21º dia | 54,3 (13,1) | 53,7 (17,4) | 0,46 |
28º dia | 55,7 (14,3) | 57,0 (13,1) | 0,99 |
Alta hospitalar | 54,8 (11,0) | 54,3 (20,3) | 0,99 |
Peso | |||
7º dia | 1353 (261) | 1325 (228) | 0,38 |
14º dia | 1415 (324) | 1414 (220) | 0,71 |
21º dia | 1540 (375) | 1600 (315) | 0,92 |
28º dia | 1690 (425) | 1733 (325) | 0,84 |
Alta hospitalar | 1914 (194) | 1850 (119) | 0,10 |
Comprimento | |||
7º dia | 41,0 (1,7) | 39,5 (2,4) | 0,10 |
14º dia | 41,0 (2,5) | 40,0 (1,5) | 0,50 |
21º dia | 41,8 (3,0) | 41,5 (2,6) | 0,71 |
28º dia | 42,0 (3,0) | 42,1 (2,0) | 0,59 |
Alta hospitalar | 43,0 (1,9) | 43,0 (1,5) | 0,51 |
cm, centímetros; GER, gasto energético de repouso; IQR, intervalo interquartil.
A figura 1 ilustra a oferta de energia recebida pelos dois grupos durante as primeiras semanas de vida e demonstra valores abaixo do requerimento energético medido. Essa diferença pode ter contribuído para o declínio dos valores do escore Z do peso/idade e comprimento/idade ao longo do tempo (tabela 1).
Figura 1 Mediana do requerimento energético estimado e energia recebida nos cinco momentos analisados em cada grupo, nas quatro primeiras semanas de vida e alta hospitalar.
Os valores de energia e dos macronutrientes recebidos pelos recém-nascidos durante a internação estão especificados na tabela 3. Não foi encontrada diferença significativa entre a terapia nutricional recebida pelo grupo adequado e pequeno para idade gestacional.
Tabela 3 Média dos valores dos macronutrientes e energia recebidos pelos dois grupos durante as quatro primeiras semanas de vida e alta hospitalar
Proteína (g/kcal/dia) | Lipídeo (g/kcal/dia) | Carboidrato (g/kcal/dia) | Energia (g/kcal/dia) | ||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
AIG | PIG | AIG | PIG | AIG | PIG | AIG | PIG | ||||
1a | 2,3 ± 1,0 | 2,6 ± 0,4 | 1,6 ± 0,5 | 1,5 ± 0,4 | 8,9 ± 1,5 | 8,0 ± 1,4 | 61,7 ± 14,2 | 58,4 ± 9,5 | |||
2a | 2,6 ± 0,65 | 2,5 ± 0,8 | 3,1 ± 0,8 | 2,6 ± 0,5 | 10,0 ± 1,2 | 10,2 ± 2,2 | 79,7 ± 11,8 | 76,1 ± 15,1 | |||
3a | 3,0 ± 0,84 | 3,1 ± 0,6 | 4,5 ± 1,5 | 3,9 ± 1,3 | 10,8 ± 1,8 | 11,3 ± 1,7 | 95,7 ± 21,1 | 93,5 ± 16,6 | |||
4a | 3,3 ± 0,6 | 3,2 ± 0,6 | 5,4 ± 1,5 | 4,7 ± 1,5 | 11,7 ± 1,1 | 11,7 ± 1,4 | 109,3 ± 16,4 | 103,1 ± 16,1 | |||
Alta hospitalar | 3,3 ± 0,8 | 3,2 ± 0,8 | 5,8 ± 1,6 | 5,4 ± 1,7 | 11,5 ± 2,3 | 12,4 ± 1,9 | 111,7 ± 20,4 | 111,5 ± 20,1 |
Uma das principais metas das práticas nutricionais neonatais é fornecer ao pré-termo uma nutrição em quantidade e qualidade, que proporcione um aumento nos índices ponderais semelhante ao dos fetos na mesma idade gestacional intraútero.17
Uma técnica que pode auxiliar na adequada programação da oferta de energia diária é o conhecimento do gasto energético de repouso, considerando sua elevada contribuição, estimada em torno de 40 a 50%, do requerimento diário.18
Analisamos o gasto energético de repouso entre os dois grupos de recém-nascidos pré-termo e não encontramos diferença significativa. No entanto, a partir da terceira semana de vida dos dois grupos, os valores medianos do gasto energético apresentaram-se acima do valor estimado pelo guideline da Academia Americana de Pediatria (2009).14
Os valores estabelecidos no guideline são usados para cálculo da terapia nutricional oferecida ao recém-nascido pré-termo e o conhecimento desse percentual acima do previamente estimado deve ser considerado para que o cálculo de energia não seja subestimado. Outros estudos também demonstraram aumento progressivo do gasto energético e valores acima dos usados nas recomendações atuais,19-21 o que corrobora a necessidade de alteração na prescrição nutricional em UTIN e fornecimento de energia total ajustada a essa população de risco.
O grupo de recém-nascidos pequenos para idade gestacional é pouco avaliado em relação ao requerimento energético. Alguns estudos sugerem que eles apresentam hipermetabolismo quando comparados com recém-nascidos sem restrição intrauterina. Nesse estudo não foi encontrada diferença metabólica significativa nas primeiras semanas de vida, o que é diferente de alguns resultados da literatura.10,22,23
Os estudos que encontraram diferença no gasto energético dos recém-nascidos pequenos e adequados para idade gestacional também usaram a calorimetria indireta para mensurar o metabolismo basal. No entanto, os métodos empregados foram diferentes dos usados nesse estudo.
No estudo de Calderay et al. (1988)22 foram avaliados oito recém-nascidos pequenos (35 ± 2 semanas) e 11 adequados para idade gestacional (32 ± 2 semanas) e a avaliação do gasto energético ocorreu quando o ganho de peso diário apresentava-se acima de 15 g/kg/dia. Essa avaliação ocorreu entre a segunda e a terceira semana de vida e os valores do gasto energético foram significativamente diferentes, 64 ± 8 kcal/kg/dia no grupo dos pequenos para idade gestacional e 57 ± 8 kcal/kg/dia nos adequados.
Cai et al. (2003)23 avaliaram 154 recém-nascidos a termo com média de 5,4 ± 0,7 dias pós-natal, com peso de nascimento entre 2.500 e 4.000 gramas. Os valores do gasto demonstraram diferença significativa entre crianças com peso de nascimento ˃ 4.000 g (44,5 ± 5,9 kcal/kg/dia) e com peso entre 2.500-4.000 g (48,3 ± 6,1 kcal/kg/dia). Os autores sugerem que o peso de nascimento tem forte efeito no gasto energético e esse é menor comparado com o de recém-nascidos pré-termo devido à demanda energética de órgãos com elevado metabolismo (como cérebro, fígado, coração e rim) e por apresentarem menos tecido adiposo marrom.
Bauer et al. (2011)10 avaliaram 32 recém-nascidos pré-termo com 35 semanas de idade gestacional e indicaram diferença estatística do gasto energético entre pequenos e adequados para idade gestacional mas sem alteração hormonal, perfil lipídico e pressão sanguínea. Eles sugerem que o gasto energético é inversamente correlacionado com o peso de nascimento.
Neste estudo, os recém-nascidos foram classificados em adequados e pequenos para idade gestacional de acordo com o peso, comprimento e perímetro cefálico corrigidos para cada idade gestacional. As medidas antropométricas (peso, comprimento e perímetro cefálico) foram analisadas através do escore Z durante todo o período do estudo, portanto com o uso de uma medida ajustada para a idade gestacional, diferentemente dos estudos citados acima. Dessa forma, foi possível estudar o gasto energético em uma população mais homogênea.
Como visto na tabela 2, o peso e comprimento ao longo das semanas avaliadas são semelhantes entre os dois grupos e o que os diferenciam são suas correspondentes idades gestacionais (diferença de quatro semanas).
Outros fatores diferentes entre os estudos são a metodologia empregada, a idade gestacional na qual a avaliação do gasto energético foi feita e as diferentes práticas nutricionais.
Sepúlveda et al. (2013)24 também avaliaram o gasto energético e a composição corporal de crianças. Entretanto, as crianças prematuras foram avaliadas em torno de 6,7 anos e foram separadas de acordo com o estado nutricional de nascimento, recém-nascidos de muito baixo peso ao nascer pequenos e adequados para idade gestacional. Esses autores verificaram diferença no tamanho corporal, parâmetros metabólicos e gasto energético, sugeriram que avaliações futuras são necessárias para entender a repercussão do crescimento pós-natal.
Neste trabalho, a terapia nutricional foi semelhante nos dois grupos e vale ressaltar que os valores de energia e proteína recomendados para o adequado ganho de peso de recém-nascidos de muito baixo peso ao nascer, segundo o grupo de Koletzko et al.,25 só foram atingidos entre a 3ª e a 4ª semana de vida.
O longo tempo para se atingirem valores mínimos recomendados de energia e macronutrientes torna-se um fator relevante para o crescimento extrauterino, pois durante esse momento de baixa ingestão ocorre acúmulo do déficit de nutrientes a cada dia, em especial de proteínas e energia total.6
Pela diferença entre a energia requerida e energia ingerida, a cada semana ocorre baixo ganho ponderal que reflete num prejuízo da evolução do estado nutricional, como observado no escore Z de peso e comprimento menores na alta hospitalar em relação ao nascimento, em ambos os grupos. Em relação ao perímetro cefálico, o escore Z na alta hospitalar é maior do que no nascimento em ambos os grupos.
Apesar do crescimento inadequado nas primeiras semanas pós-natal, refletido pelo declínio do escore Z do peso e comprimento, a evolução adequada do escore Z do perímetro cefálico pode sugerir a hipótese de que o corpo poupa energia para o desenvolvimento do cérebro. Essa dinâmica do crescimento nos recém-nascidos pré-termo pode minimizar sequelas no desenvolvimento neurológico da criança.26
A insuficiência do crescimento pós-natal entre o nascimento e a alta hospitalar continua a ser um problema importante em recém-nascidos pré-termo. As práticas de alimentação devem seguir protocolo mais agressivo, com atendimento individualizado e uma equipe de apoio nutricional que vise a melhorar o resultado nessas crianças de alto risco.27
São necessários mais estudos que visem ao acompanhamento do crescimento após a alta hospitalar, para conhecer a repercussão da restrição nutricional desse período inicial da vida pós-natal, avaliar a composição corporal em curto e longo prazos, verificar alterações do crescimento corporal, crescimento cerebral através do perímetro cefálico, assim como desenvolvimento neuropsicomotor, alterações hormonais e outras alterações futuras.
Considerando os resultados que demonstram um gasto energético alto ao longo das primeiras semanas de vida, fica evidente a necessidade de fornecer ao recém-nascido pré-termo um melhor aporte energético já nas primeiras semanas de vida, para que os neonatos com ou sem restrição intrauterina possam atingir o seu potencial máximo de crescimento e desenvolvimento.