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Hibernoma: uma causa incomum de massa pleural

Hibernoma: uma causa incomum de massa pleural

Autores:

Edson Marchiori,
Gláucia Zanetti,
Bruno Hochhegger

ARTIGO ORIGINAL

Jornal Brasileiro de Pneumologia

versão impressa ISSN 1806-3713

J. bras. pneumol. vol.41 no.1 São Paulo jan./fev. 2015

http://dx.doi.org/10.1590/s1806-37132015000100015

Ao Editor,

Relatamos aqui o caso de um paciente do sexo masculino de 37 anos de idade, assintomático, que foi encaminhado ao nosso serviço devido a anormalidades observadas em uma radiografia de tórax de rotina. Os achados do exame físico e dos exames laboratoriais foram normais. Uma nova radiografia de tórax revelou uma grande opacidade no hemitórax inferior esquerdo. A TC revelou uma massa heterogênea pleural no hemitórax inferior esquerdo (Figura 1). A massa parecia ser uma lesão extrapulmonar surgindo da parede torácica. Não havia calcificações. A excisão cirúrgica completa foi realizada. O espécime bruto apresentava-se como uma massa marrom-amarelada, macia, encapsulada e bem circunscrita, medindo 10 × 9 × 5 cm (Figura 2A). Os achados microscópicos apontaram para um diagnóstico de hibernoma (Figura 2B). Até o presente momento, o paciente permanecia assintomático e avaliações de seguimento subsequentes foram normais.

Figura 1 - TC de tórax com reconstruções nos planos axial, coronal e sagital (A, B, e C, respectivamente), mostrando uma massa pleural heterogênea com áreas de baixa atenuação (tecido adiposo, setas) no hemitórax inferior esquerdo. 

Figura 2 - Fotografia da peça bruta (A), demonstrando uma massa bem circunscrita, encapsulada, macia, marrom-amarelada medindo 10 × 9 × 5 cm. Abaixo, fotomicrografia (B) mostrando que, histologicamente, o tumor consistia de dois tipos de células tumorais: células com citoplasma eosinofílico intenso granular; e células multivacuoladas claras com gotículas lipídicas, sem evidências de atipia celular ou mitose (H&E; aumento, 200×). 

Hibernomas são tumores benignos raros que são denominados assim devido a sua semelhança histológica com a gordura marrom de animais em hibernação, também vista em fetos humanos e, em grau decrescente com a idade, em adultos.(1-3) A distribuição desse tumor acompanha os locais de persistência de gordura marrom. Os locais mais comuns são a coxa, ombro, costas, pescoço, tórax, extremidades superiores, abdome e retroperitônio. Localizações intratorácicas incluem o mediastino e o pericárdio. Os tumores envolvendo a pleura são extremamente raros. Na maioria dos casos, um hibernoma manifesta-se como uma massa indolor e é um achado incidental em exames físicos ou de imagem. Embora esses tumores sejam sempre benignos, eles tendem a crescer muito, e sintomas podem surgir a partir da compressão de estruturas adjacentes. Em indivíduos com hibernomas, relata-se uma significativa perda de peso, atribuída à termogênese excessiva do tecido tumoral responsável pelo catabolismo de lipídios e carboidratos circulantes em energia térmica.(4) A excisão cirúrgica completa é o tratamento de escolha, e o prognóstico pós-operatório é excelente. Não há relatos de recidiva ou de doença metastática em pacientes com hibernomas. (1,2) O espécime bruto tipicamente mostra um tumor bem encapsulado, firme e de coloração amarronzada. A microscopia revela células de gordura uni ou multivacuolizadas com nucléolos centrais pequenos.(1)

Na TC, um hibernoma geralmente se apresenta como uma massa de baixa atenuação heterogênea (com regiões de atenuação de gordura e de partes moles); na ressonância magnética em sequência T1 e T2, ele é visto como uma massa heterogênea hiperintensa. Em estudos de imagem, os principais diagnósticos diferenciais são lipoma e lipossarcoma. Devido à semelhança de seu teor de gordura, hibernomas e lipomas têm características de sinal semelhantes na ressonância magnética e na TC. Embora os hibernomas sejam mais heterogêneos devido a sua composição diferente, em termos de seus elementos fibrosos e vasculares, a análise histopatológica é sempre necessária para um diagnóstico preciso.(1,2)

REFERÊNCIAS

1. Little BP, Fintelmann FJ, Mino-Kenudson M, Lanuti M, Shepard JA, Digumarthy SR. Intrathoracic hibernoma: a case with multimodality imaging correlation. J Thorac Imaging. 2011;26(2):W20-2.
2. Ugalde PA, Guilbault F, Vaillancourt R, Couture C. Subpleural hibernoma. Ann Thorac Surg 2007;84(4):1376-8.
3. Kumazoe H, Nagamatsu Y, Nishi T, Kimura YN, Nakazono T, Kudo S. Dumbbell-shaped thoracic hibernoma: computed tomography and magnetic resonance imaging findings. Jpn J Radiol. 2009;27(1):37-40.
4. Hertoghs M, Van Schil P, Rutsaert R, Van Marck E, Vallaeys J. Intrathoracic hibernoma: report of two cases. Lung Cancer. 2009;64(3):367-70.