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Hipertensão Arterial: Aspectos Fisiopatológicos, Estresse Psicossocial e Preferência por Alimentos

Hipertensão Arterial: Aspectos Fisiopatológicos, Estresse Psicossocial e Preferência por Alimentos

Autores:

Heno Ferreira Lopes

ARTIGO ORIGINAL

Arquivos Brasileiros de Cardiologia

versão impressa ISSN 0066-782Xversão On-line ISSN 1678-4170

Arq. Bras. Cardiol. vol.113 no.3 São Paulo set. 2019 Epub 10-Out-2019

https://doi.org/10.5935/abc.20190202

A hipertensão arterial tem alta prevalência em países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento. Juntamente com glicemia alta, hiperlipidemia, sobrepeso e obesidade ela é considerada como uma consequência dos fatores de risco comportamentais que são: sedentarismo, uso de tabaco, uso nocivo do álcool e dietas inadequadas.1 A causa da hipertensão arterial na maioria das vezes (mais de 90%) é desconhecida. Sendo que a ativação do sistema nervoso simpático, do sistema renina angiotensina aldosterona e a curva de pressão natriurese alterada tem papel importante na fisiopatogênese da hipertensão.2 O estresse oxidativo também vem sendo apontado como fenótipo intermediário no desenvolvimento da hipertensão arterial.3 Estudos experimentais e epidemiológicos apontam o estresse psicossocial como um possível gatilho para provocar o desbalanço autonômico (aumento da atividade simpática) no paciente hipertenso.4 Esse desbalanço autonômico pode ser observado até mesmo antes da instalação da hipertensão arterial em indivíduos filhos de pais hipertensos.5 Além do estresse psicossocial a dieta não saudável contribui de alguma forma com o desenvolvimento de hipertensão e para maior morbidade/mortalidade cardiovascular.6

Se por um lado a dieta tem papel importante na fisiopatogênese da hipertensão, por outro a adoção de uma dieta saudável pode resultar no melhor controle da pressão arterial. A dieta DASH (Dietary Approach to Stop Hypertension), citada em diretrizes do mundo inteiro, foi avaliada por Appel et al.,7 e foi a primeira cientificamente testada que resultou em queda significativa na pressão arterial em pacientes hipertensos. A dieta DASH é composta de alimentos de fácil acesso como verduras, legumes, frutas, oleaginosas, carne magra, leite e derivados com pouca gordura. Em estudo envolvendo pacientes hipertensos obesos8 tentamos elucidar os possíveis mecanismos envolvidos na redução da pressão arterial após o consumo de dieta padrão DASH. Nesse estudo demonstramos que o consumo de uma dieta padrão DASH resulta na melhora da capacidade antioxidante, sobretudo em pacientes hipertensos obesos. Como o estresse oxidativo tem papel na fisiopatogênese da hipertensão arterial, esse é um dos possíveis mecanismos para a redução da pressão arterial naqueles que consomem alimentos estudados na dieta DASH na devida proporção.

Embora já exista dieta testada e com impacto positivo no sentido de reduzir a pressão arterial, como no caso da DASH, há uma tendência do ser humano a consumir preferencialmente alguns tipos de alimentos. Em estudos prévios, principalmente experimentais, já foi avaliada a associação da exposição ao estresse e estado emocional com a preferência para alguns alimentos específicos.9

No artigo de Ulrich-Lae et al.,9 eles descrevem a associação do consumo de alimentos doces e ricos em gordura com a melhora do estresse em animais. Uma vez que o animal e o ser humano em situação de estresse têm preferência para alimentos mais calóricos (carboidratos e gorduras) a tendência é desenvolver obesidade. Sabe-se que a obesidade tem relação direta com a hipertensão arterial.10

Nessa edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Dalmazo et al.,11 demonstraram a associação de nível de estresse com o maior consumo de alimentos ricos em gordura em pacientes portadores de hipertensão arterial. Os achados desse estudo apontam para a importância da abordagem multidisciplinar em pacientes hipertensos, principalmente aqueles com nível elevado de estresse psicossocial.

REFERÊNCIAS

1 Organização Pan-americana de Saúde/Organização Mundial de Saúde. (OPAS/OMS). Doenças cardiovasculares. [ Accessed May 12].2017 ]. Available from:
2 Saxena T, Ali AO, Saxena M. Pathophysiology of essential hypertension: an update. Expert Rev Cardiovasc Ther. 2018;16(12):879-87.
3 Baradaran A, Nasri H, Rafieian-Kopaei M. Oxidative stress and hypertension: Possibility of hypertension therapy with antioxidants. J Res Med Sci. 2014;19(4):358-67.
4 Esler M. The Sympathetic System and Hypertension. Am J Hypertens. 2000;13(6 Pt 2):99S-105S.
5 Lopes HF, Silva HB, Consolim-Colombo FM, Barreto Filho JA, Riccio GM, Giorgi DM, et al. Autonomic abnormalities demonstrable in young normotensive subjects who are children of hypertensive parents. Braz J Med Biol Res. 2000;33(1):51-4.
6 GBD 2017 Diet Collaborators. Health effects of dietary risks in 195 countries, 1990-2017: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2017. Lancet. 2019;393(10184):1958-72.
7 Appel LJ, Moore TJ, Obarzanek E, Vollmer WM, Svetkey LP, Sacks FM, et al. A Clinical Trial of the Effects of Dietary Patterns on Blood Pressure. N Engl J Med. 1997;336(16):1117-24.
8 Lopes HF, Martin KL, Nashar K, Morrow JD, Goodfriend TL, Egan BM. DASH diet lowers blood pressure and lipid-induced oxidative stress in obesity. Hypertension. 2003;41(3):422-30.
9 Ulrich-Lai YM, Fulton S, Wilson M, Petrovich G, Rinaman L. Stress exposure, food intake and emotional state. Stress. 2015;18(4):381-99.
10 Leggio M, Lombardi M, Caldarone E, Severi P, D'Emidio S, Armeni M, et al. The relationship between obesity and hypertension: an updated comprehensive overview on vicious twins. Hypertension Res. 2017;40(12):947-63.
11 Dalmazo AL, Fetter C, Goldmeier S, Irigoyen MC, Pellanda LC, Barbosa EC, et al. Estresse e consumo alimentar em pacientes hipertensos. Arq Bras Cardiol. 2019; 113(3):374-380.