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Honório HM, Santiago JF. Fundamentos das Revisões Sistemáticas em Odontologia. São Paulo: Quintessence Editora; 2018.

Honório HM, Santiago JF. Fundamentos das Revisões Sistemáticas em Odontologia. São Paulo: Quintessence Editora; 2018.

Autores:

Thaís Branquinho Oliveira Fragelli

ARTIGO ORIGINAL

Ciência & Saúde Coletiva

versão impressa ISSN 1413-8123versão On-line ISSN 1678-4561

Ciênc. saúde coletiva vol.25 no.3 Rio de Janeiro mar. 2020 Epub 06-Mar-2020

http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232020253.07972019

O livro Fundamentos das Revisões Sistemáticas em Odontologia1 reúne vários especialistas brasileiros no método de Revisão Sistemática (RS), contando ainda com a colaboração internacional de Zbys Fedorowicz. Os organizadores justificam a obra à partir da observação da necessidade de ampliar o conhecimento do método e de fornecer um material que pudesse facilitar a condução de uma RS nos diversos campos do conhecimento.

É uma obra com 384 páginas dividido em duas partes. A primeira, compreendendo os 8 primeiros capítulos, trata das etapas para a condução de uma revisão sistemática ocupando 3/4 da obra e, a segunda, descreve particularidades das RS’s na área da odontologia.

O Capítulo 01 constitui um capítulo introdutório que retrata de maneira sucinta porém didática a problemática do excesso de informações enfrentados pelos profissionais traduzindo por vezes em “dilemas terapêuticos”. Também são expostos os tipos de estudos classificando-os por nível de evidências. Descreve ainda, resumidamente, as etapas de uma RS, deixando o aprofundamento no tema para os capítulos subsequentes.

No Capítulo 2 é destacado o planejamento das RS. Aqui é demonstrada uma árvore de decisão de quando se deve ou não realizar uma RS, considerando aquelas já existentes e verificando à partir de um checklist para avaliação da qualidade metodológica. Outro ponto abordado é a importância da pergunta norteadora, também defendido por Mattick et al.2, considerando as estratégias PICO, PICOS, PICOT, PECO e PIRO. Há exemplos utilizando as estratégias e os tipos de pesquisa e um direcionamento, como também uma recomendação, de como realizar uma busca preliminar de RS’s sobre o tema, de acordo com a pergunta norteadora proposta. Considerando que o planejamento constitui etapa fundamental para o processo de RS, este capítulo cumpre seu objetivo com demonstrações visuais bem claras facilitando a compreensão e o processo decisório do leitor.

No Capítulo 3 são apresentadas as diretrizes para a construção do protocolo da RS enfatizando a importância de sua existência para a replicabilidade do estudo. Ainda são enfatizadas as diretrizes do PRISMA, seus vários tipos e extensões, apresentando também um detalhamento do Checklist PRISMA Statement, que é o tradicionalmente utilizado3,4. Além disso, um ponto importante que é abordado neste capítulo é a plataforma PROSPERO, onde são feitos os registros das RS. É um capítulo com informações bem detalhadas e com o passo a passo do processo de construção do protocolo.

O Capítulo 4 contempla as estratégias de busca bibliográfica, as bases de dados em Ciências da Saúde, bem como os métodos de acesso à literatura cinza, pontos também abordados por Yaylali e Allaçam5. A busca pelos descritores é explicada destacando as ferramentas Mesh, Decs e Emtree. Há um detalhamento de como construir as estratégias de busca com o uso dos operadores booleanos, uso dos campos específicos para busca em cada uma das bases, os recursos de truncamento e exemplos de estratégias utilizando o acrônimo PICO.

No Capítulo 5 é feita descrição sobre a extração dos dados a partir das buscas realizadas. Um importante recurso, que não é obrigatório, apontado aqui, são os gerenciadores de referências, no entanto, é uma ferramenta que otimiza o tempo nessa etapa da RS. Apesar de existir vários gerenciadores, inclusive citados no presente capítulo, é detalhado o Endnote Web, suas formas de captura, exportação direta, importação nas principais bases em Ciências da Saúde, além dos recursos de armazenamento e de gerenciamento das referências. Aqui os autores poderiam ter detalhado outra ferramenta que também possui acesso gratuito, porém que permitisse o trabalho offline. Outro ponto aprofundado no capítulo é a forma de preenchimento dos campos do fluxograma PRISMA a partir da identificação e da seleção dos estudos. Descreve-se uma sequência para realizar a seleção dos artigos detalhando sobre os critérios de elegibilidade, os checklists a serem considerados na coleta e o processo de extração dos dados, de maneira que o leitor possa ter ferramentas para a tomada de decisão e se é possível ou não a realização da metanálise.

No Capítulo 6 encontra-se a definição do termo metanálise e a indicação de softwares estatísticos para análise quantitativa. Considerando o nível de aprofundamento dos capítulos anteriores, aqui poderia ter sido detalhado algum dos softwares indicados. Apesar de propor ser um apanhado introdutório, o capítulo traz informações didáticas e bem detalhadas e que facilitam ao leitor a compreensão do processo de metanálise.

Neste capítulo também é explicado sobre o tamanho do efeito e a interpretação do gráfico de floresta. Outro ponto apontado foi a análise da heterogeneidade dos estudos bem com as providências que o leitor pode recorrer caso encontre uma heterogeneidade expressiva entre os estudos selecionados, como por exemplo as recomendações do Manual de Colaboração Cochrane, a análise de subgrupos e a metarregressão, defendido também por Pereira e Galvão6.

O Capítulo 7 contempla a análise qualitativa da RS. Neste capítulo são enumeradas as diversas ferramentas para avaliação qualitativa baseada nos tipos de estudo e, de maneira bem detalhada, também é explicada a análise do risco de viés e fornecida ao leitor instrumentalização para este objetivo.

O Capítulo 8 descreve sobre a escrita de uma RS. Para o detalhamento da estrutura formal da redação, este foi dividido em duas partes destacando os elementos que devem compor o artigo final. O capítulo está contextualizado no campo da odontologia, o que não traz empecilhos para as demais áreas da saúde e apresenta pequenas observações em cada uma das partes formais de maneira a demonstrar ao leitor particularidades que devem ser observadas na estruturação escrita da RS.

A Parte 2 foi organizada de maneira que o leitor possa verificar particularidades da RS nas áreas de especialidades da Odontologia. Corresponde a aproximadamente 1/4 da obra e está compreendida dos capítulos 9 ao 20. Os capítulos são curtos e bem objetivos, abordando especificidades da RS nas diversas áreas da odontologia, inclusive a aplicada na saúde coletiva.

As RS constituem instrumentos importantes para as abordagens baseadas em evidências. Neste aspecto, aponta a síntese dos melhores dados disponíveis para favorecer a tomada de decisão, o que torna a presente obra um recurso com potencial de contribuir para a saúde coletiva.

Além disso, é um material que facilita o acesso à informação aos diversos profissionais por encontrar-se em português e, não apenas para a odontologia, como se propõe o título mas, para todas as áreas da saúde que pretendam se enveredar pelo campo das RS. Todo o processo de elaboração da RS está contido, em sua maioria, na Parte 1 com uma qualidade de detalhes muito rica. Pôde-se verificar também o cuidado na inserção das ilustrações, não só pela quantidade de figuras mas também pela qualidade da informação e do material, deixando a obra bem didática e facilitando a compreensão textual.

Por fim, o livro tem uma linguagem bem didática tanto textual quanto gráfica e atende aos objetivos propostos de ser uma obra indicada para graduandos, pesquisadores, docentes e pós-graduandos, porém, cumpre-se a discordância dos autores quanto a ser indicada apenas para odontologia, podendo ser sim uma obra indicada para profissionais de quaisquer áreas da saúde que pretendam realizar suas Revisões Sistemáticas.

REFERÊNCIAS

1 Honório HM, Santiago JF. Fundamentos das Revisões Sistemáticas em Odontologia. São Paulo: Quintessence Editora; 2018.
2 Mattick K, Johnston J, de la Croix A. How to...write a good research question. Clin Teach 2018; 15(2):104-108.
3 Moher D, Shamseer L, Clarke M, Ghersi D, Liberati A, Petticrew M, Shekelle P, Stewart LA; PRISMA-P Group. Preferred reporting items for systematic review and meta-analysis protocols (PRISMA-P) 2015 statement. Syst Rev 2015; 4(1):1-9.
4 Galvão TF, Pansani TSA, Harrad D. Principais itens para relatar Revisões sistemáticas e Metaanálises: A recomendação PRISMA. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2015; 24(2):335-342.
5 Yaylali IE, Alaçam T. Critical Assessment of Search Strategies in Systematic Reviews in Endodontics. J Endod 2016; 42(6):854-860.
6 Pereira MG, Galvão TF. Heterogeneidade e viés de publicação em revisões sistemáticas. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2014; 23(4):775-778.