versão impressa ISSN 1809-2950versão On-line ISSN 2316-9117
Fisioter. Pesqui. vol.27 no.1 São Paulo jan./mar. 2020 Epub 06-Abr-2020
http://dx.doi.org/10.1590/1809-2950/19006327012020
El objetivo fue estimar la prevalencia de incapacidad para realizar tareas de la vida diaria e identificar una asociación con el dolor y los factores sociodemográficos. Este es un estudio transversal, con una muestra de conveniencia compuesta de individuos que buscaron activamente asistencia médica en un municipio de pequeño porte, quejándose de dolor musculoesquelético y dificultades para llevar a cabo actividades de la vida diaria. La muestra comprendió 766 individuos. Se aplicaron cuestionarios para evaluar el grado de dificultad en la realización de actividades de la vida diaria y el dolor (Cuestionario nórdico musculoesquelético y Escala numérica del dolor). Se estimaron las prevalencias de incapacidad y dolor, así como se construyeron cinco modelos de regresión logística para la incapacidad considerando el sexo, la edad, la ocupación y la presencia y características del dolor. Los hallazgos evidenciaron el 87,6% de prevalencia de alguna dificultad, el 66,1% de mucha dificultad en la realización de actividades de la vida diaria; y el 67,5% de prevalencia de dolor musculoesquelético. Los individuos tuvieron incapacidad en la realización de 3,6 actividades como promedio en la vida diaria. El dolor fue el principal factor asociado para explicarla (OR 9,9; IC95% 5,9-16,5), seguido de la edad. La dificultad para realizar actividades de la vida diaria se asoció con el dolor en los miembros inferiores, con una frecuencia superior a cuatro días a la semana, que había comenzado hace más de cinco años, y de intensidad fuerte o insoportable en los episodios de crisis. Fueron altas las prevalencias de incapacidad y dolor. El dolor musculoesquelético y la edad influyen en la incapacidad funcional. Este estudio puede orientar la elaboración de acciones de cuidado con el fin de minimizar y prevenir dificultades en la realización de tareas diarias.
Palabras clave Dolor; Estadísticas de Secuelas y Discapacidad; Políticas Públicas
O crescente contingente de pessoas com incapacidades implica desafios para o planejamento de ações em saúde, tendo importante repercussão clínica e de saúde pública1. Estima-se que 15% da população do mundo tenha deficiência. Destas, de 110 a 190 milhões de adultos experimentam dificuldades funcionais, com impacto pessoal e social. Devido às condições de saúde, fatores ambientais e envelhecimento populacional, o número de pessoas com incapacidades tende a aumentar2. A dor musculoesquelética (DME), principalmente na coluna, é a situação mais comun e dispendiosa para a incapacidade nas atividades de vida diária (AVD) e no trabalho, com altas taxas de licenças-saúde e aposentadorias3.
Mota et al. (4 mostraram elevada (62,5%) prevalência de dor crônica em população de município amazônico; o estudo ainda apontou que indivíduos com intensidade insuportável e frequência diária do sintoma relataram maior dificuldade para realização de atividades pesadas (91,5%). Revisão descritiva da literatura brasileira realizada por Vasconcelos e Araújo5 descreve que a dor crônica foi significativa em todos os estudos analisados, com prevalências variando entre 29,3% e 73,3%.
Diante do exposto, é importante compreender essa possível relação: dor musculoesquelética e funcionalidade. O medo e a aflição da dor são mecanismos que comprometem o movimento corporal e a funcionalidade3. A DME é reconhecida como problema comum na sociedade, com prevalências superiores a 50%6), (7, e definida como “desagradável experiência sensorial e emocional” (8. Ainda assim, esta condição não apresenta a mesma prioridade dentro do Sistema Único de Saúde que outras condições crônicas possuem. Como seu desfecho não é geralmente uma limitação e a total incapacidade ou morte, ações para a DME são relegadas ao segundo plano, sendo deixadas de lado inclusive pelas, já não tão recentes, redes temáticas de atenção à saúde normatizadas pelo Ministério da Saúde9.
A compreensão da DME, suas implicações na incapacidade física e no comprometimento da execução de atividades de vida, é necessária para planejamento de estratégias e priorização de cuidado e da promoção de melhor funcionalidade. Sem o embasamento científico correto, políticas públicas voltadas para esta população são postas de lado pelos formuladores de políticas. O objetivo do trabalho foi estimar a prevalência de incapacidade para realizar tarefas de vida diária e identificar sua associação com DME e outros fatores sociodemográficos em moradores de município do Nordeste do Brasil, tendo por finalidade desnudar uma importante característica da população que é pouco compreendida.
Trata-se de um estudo transversal. A escolha do município foi feita com base no número de habitantes (35.088), baixo Índice de Desenvolvimento Humano (0,657) e cobertura da Estratégia Saúde da Família (87,7%). Dentro do município foram selecionadas oito localidades, sendo quatro em aglomerações urbanas e quatro em áreas rurais, para realizar a coleta de dados, devido ao maior contingente populacional e à facilidade de acesso para os munícipes. Na mancha urbana eram residentes 78,1% da população, e na rural 21,9%10.
O critério de elegibilidade para os entrevistados foi a busca espontânea para a assistência em saúde. Foram excluídas menores de 13 anos, sem autonomia para responder de forma independente e que não quiseram participar do estudo. Todos os participantes deste estudo ou responsáveis legais assinaram termo de consentimento livre e esclarecido.
A amostra de conveniência consistiu em 766 indivíduos investigados, número suficiente para responder aos objetivos, considerando a menor prevalência de incapacidade funcional em população brasileira (26,8%)11, com margem de erro de 0,04 em 95% das possíveis amostras.
Para verificar a incapacidade funcional, foi questionado o grau de dificuldade utilizando escala de Likert (não se aplica, não consigo, muita dificuldade, pouca dificuldade e sem dificuldade) (12 para realizar as tarefas corporais de vida diária: carregar objeto pesado, carregar objeto leve, subir e descer escadas, ajoelhar, caminhar no plano, ficar na mesma posição e realizar transferências (atividades baseadas no Questionário de Incapacidade de Roland-Morris13). Foi considerada incapacidade funcional qualquer dificuldade em realizar as tarefas questionadas.
A presença de dor musculoesquelética foi investigada pelo Questionário Nórdico14, contendo o relato do entrevistado sobre o local da dor (coluna, membros superiores, membros inferiores e difusa), e acrescentadas perguntas sobre as características da dor: intensidade no momento da entrevista e no período de crise, verificada pela utilização da escala visual analógica15 e categorizada em sem dor, pouca, moderada e forte/insuportável; frequência indicada pelo número de dias com dor na semana; e tempo de início da queixa mensurada pelo início do quadro álgico em meses. Além disso, foram coletados os dados sociodemográficos: idade, sexo, local de moradia e profissão.
Análise dos dados realizada usando o programa Stata, versão 13.0. Prevalência de incapacidade foi estimada com o respectivo intervalo de confiança de 95%. Foi realizada uma análise para a incapacidade baseada em ter e não ter dificuldade em realizar tarefas corporais de vida diária, isto é, alguma incapacidade funcional. A prevalência de dor também foi estimada com o respectivo intervalo de confiança de 95%. Foram calculadas medidas de tendência central e dispersão para as variáveis numéricas e porcentagem para as categóricas. Análises bivariadas foram calculadas para identificar possíveis associações de incapacidade e as variáveis independentes, incluindo a dor musculoesquelética (p<0,20). Foram construídos cinco modelos de regressão logística para incapacidade, considerando sexo, idade, ocupação e presença de dor e as características da dor. Todas as variáveis inclusas nos modelos tiveram p<0,05 nas análises bivariadas.
Das 1.437 pessoas que procuraram assistência à saúde, 845 (58,8%) indivíduos responderam ao questionário da pesquisa, 592 (41,2%) foram excluídos por não contemplarem os critérios de inclusão (Figura 1); 9,3% estavam inconsistentes e foram excluídos. Assim, 766 pessoas participaram do estudo. O maior número de entrevistadas ocorreu na região urbana (76,3%); na área rural o correspondente de respondentes foi de 23,7%.
A prevalência de alguma dificuldade para realizar atividades de vida diárias foi de 87,6% (IC95% 85,3%-89,9%), de muita dificuldade foi de 66,1% (IC95% 62,7%-69,4%), e de DME foi de 67,5% (IC95% 64,3%-70,7%). As características sociodemográficas são apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1 Distribuição absoluta e relativa de dor musculoesquelética e de alguma incapacidade dos indivíduos segundo características pessoais
Características | Dor | Alguma incapacidade | |||
---|---|---|---|---|---|
sim | não | sim | não | ||
% | % | % | % | ||
Idade (anos) | |||||
13 a 59 | 34,9 | 65,1 | 13,9 | 86,1 | |
60 e mais | 26,2 | 73,8 | 7,3 | 92,7 | |
Sexo | |||||
Masculino | 39,1 | 60,8 | 16,6 | 83,4 | |
Feminino | 29,2 | 70,8 | 10,7 | 89,4 | |
Trabalho | |||||
Sem demanda corporal | 33,1 | 66,9 | 13,6 | 86,4 | |
Com demanda corporal | 27 | 73 | 9,5 | 90,5 | |
Apresenta dor | |||||
Não | 34,1 | 66 | |||
Sim | 100 | 100 | 4 | 96 | |
Local dor | |||||
Sem dor | 96,7 | 32,7 | 67,3 | ||
Coluna | 100 | 3,4 | 96,6 | ||
Membros superiores | 6,9 | 93,1 | |||
Membros inferiores | 1,7 | 98,3 | |||
Difusa | 16,7 | 83,3 | |||
Intensidade na crise | |||||
Sem dor | 96 | 32,6 | 67,4 | ||
Pouca | 100 | 6,3 | 93,7 | ||
Moderada | 7,7 | 93,3 | |||
Forte/insuportável | 2,9 | 97,1 | |||
Frequência dor (dias/semana) | |||||
Sem dor | 97,5 | 33,2 | 66,8 | ||
Menos de 1 | 100 | 9,1 | 90,1 | ||
1 a 3 | 3,5 | 96,5 | |||
Mais de 4 | 2,8 | 97,2 | |||
Não sabe definir | 10,8 | 89,2 | |||
Início da dor (meses) | |||||
Sem dor | 100 | 34,1 | 65,9 | ||
0 a 12 | 100 | 6,5 | 93,5 | ||
13 a 60 | 3,2 | 96,8 | |||
61 a 120 | 0,9 | 99,1 | |||
121 a 600 | 4,4 | 95,6 |
Dos 555 indivíduos que relataram dor musculoesquelética, 46,6% relataram dor na coluna, de intensidade forte ou insuportável nos episódios de crise (73,7%), com frequência maior a 4 dias por semana (68,8%), e caráter crônico com início há mais de um ano (33%). As incapacidades foram referidas com maior frequência por idosos (92,75), sexo feminino (89,4%), trabalhadores com demanda corporal (90,5%) e com dor (96%) nos membros inferiores, de intensidade forte/insuportável, com mais de quatro dias semanais e de 5 a 10 anos.
Em média, as pessoas apresentaram dificuldade em 3,6 (DP=2,5) tarefas dentre as oito pesquisadas. As tarefas com a maior frequência de dificuldade relatada pelos indivíduos foram carregar objeto pesado (27,3%), ficar na mesma posição (22,4%) e subir escada (22%). Referente às atividades que os indivíduos não conseguiam realizar, carregar objeto pesado (27%), ajoelhar-se (16,7%) e subir escadas (10,7%) eram as mais frequentes (Gráfico 1).
Gráfico 1 Distribuição relativa dos participantes segundo a dificuldade de realização das atividades de vida diária
A Tabela 2 mostra cinco modelos de regressão logística multivariada dos fatores de associação para dificuldade em realizar as atividades questionadas. No primeiro modelo, a dor é o principal fator de associação para explicá-la (OR 9,9; IC95% 5,9-16,5), seguida da idade superior a 60 anos (OR 2; IC95% 1,1-3,8). Referente à localização (modelo 2), dor em membros inferiores tem maior associação com a alguma incapacidade (OR 23,2; IC95% 7,1-75,7), seguido da coluna (OR 12,2; IC95% 5,9-25,5). No modelo 3, realizar tarefas têm maior associação com a intensidade forte ou insuportável nos episódios de crise (OR 14; IC95% 7,3-26,9). O modelo 4 indica que a associação entre a dificuldade na execução de atividades e a frequência da dor é proporcional. Por fim, a cronicidade do quadro álgico (modelo 5), estabelecida pelo tempo de início, associa-se de maneira que dores entre 61 e 120 meses (OR 45,3; IC95% 6,2-332,5) têm maior influência.
ALGUMA INCAPACIDADE EM REALIZAR FUNÇÕES CORPORAIS | |||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
OR (IC95%) p | |||||||||||
Modelo 1 | Modelo 2 | Modelo 3 | Modelo 4 | Modelo 5 | |||||||
Sexo | Feminino | 1,4 | 0,163 | 1,4 | 0,193 | 1,4 | 0,178 | 1,4 | 0,180 | 1,5 | 0,126 |
(0,8-2,5) | (0,8-2,5) | (0,8-2,5) | (0,8-2,5) | (0,9-2,6) | |||||||
Idade | 60 anos ou mais | 2 (1,1-3,8) | 0,030 | 2 | 0,035 | 2,1 | 0,024 | 2 | 0,028 | 2,1 | 0,024 |
(1-3,7) | (1,1-3,9) | (1,1-3,8) | (1,1-4,1) | ||||||||
Trabalho | Com demanda física | 1,4 | 0,177 | 1,4 | 0,161 | 1,4 | 0,231 | 1,4 | 0,201 | 1,4 | 0,223 |
(0,9-2,3) | (0,9-2,4) | (0,8-2,2) | (0,8-2,3) | (0,8-2,3) | |||||||
Dor | 9,9 | <0,000 | |||||||||
(5,9-16,5) | |||||||||||
Local da dor | Sem dor | 1 | |||||||||
Coluna | 12,2 | <0,000 | |||||||||
(5,9-25,5) | |||||||||||
Membros superiores | 5,6 | <0,000 | |||||||||
(2,5-12,9) | |||||||||||
Membros inferiores | 23,2 | <0,000 | |||||||||
(7,1-75,7) | |||||||||||
Difusa | 2 | 0,247 | |||||||||
(0,63-6,1) | |||||||||||
Intensidade da dor na crise | Sem dor | 1 | |||||||||
Pouca | 7 | 0,010 | |||||||||
(1,6-30,3) | |||||||||||
Moderada | 5 | <0,000 | |||||||||
(2,4-10,6) | |||||||||||
Forte/insuportável | 14 | <0,000 | |||||||||
(7,3-26,9) | |||||||||||
Frequência da dor (dia/semana) | Sem dor | 1 | |||||||||
Menos de 1 | 4,4 | 0,003 | |||||||||
(1,7-11,8) | |||||||||||
1-3 | 11,5 | <0,000 | |||||||||
(3,5-38,1) | |||||||||||
Mais de 4 | 14,3 | <0,000 | |||||||||
(7,3-28) | |||||||||||
Não sabe definir | 3,4 | 0,028 | |||||||||
(1,1-10,1) | |||||||||||
Início da dor (meses) | Sem dor | 1 | |||||||||
0-12 | 6,3 | <0,000 | |||||||||
(3,2-12,5) | |||||||||||
13-60 | 12,8 | <0,000 | |||||||||
(5,4-30,7) | |||||||||||
61-120 | 45,3 ( | <0,000 | |||||||||
6,2-332,5) | |||||||||||
121-600 meses | 9,2 | <0,000 | |||||||||
(3,2-26,4) |
Trata-se de estudo inovador, na medida em que apresenta o impacto de dores na incapacidade, e não apenas em doenças e queixas específicas. Aproximadamente 80% dos participantes tinham incapacidade, a dor foi o principal fator de associação às limitações funcionais. Desta forma, torna-se necessário realizar o planejamento estratégico e priorização de cuidado e tratamento das queixas musculoesqueléticas tanto para o plano terapêutico individual quanto para a gestão das ações e serviços, possibilitando uma melhor capacidade de resposta dos equipamentos de saúde.
Embora a maioria relate dor na coluna, a queixa em membros inferiores teve maior influência sobre a funcionalidade, provavelmente devido às AVDs se relacionarem ao deslocamento. Estudo encontrou limitações funcionais devido a dor lombar em 20% dos entrevistados e 29% naqueles que apresentaram dor nos membros inferiores16. Além do local de dor, o longo tempo de início e frequência apresentaram-se como indicadores importantes, tendo efeito negativo na funcionalidade e qualidade de vida17.
A prevalência de incapacidade funcional varia (15,5% a 87%), a depender principalmente da graduação e das atividades para definir a incapacidade funcional, bem como da população estudada18. Este estudo apresentou elevada prevalência de dificuldade para, em média, três atividades. No Brasil, 36,7% dos adultos relataram incapacidade, considerada dificuldade de caminhar 100 metros13. Na região Sudeste, 98,2% dos idosos apresentam algum grau de incapacidade funcional19. Outros estudos apontaram prevalência de 17,6% de incapacidade para atividades básicas de vida diária e 46,3% para atividades instrumentais de vida diária20. No Sul, 26,8% a 28,8% dos idosos tinham incapacidade para atividade básicas e instrumentais de vida diária11. De 54 países, Irlanda e Noruega foram os com menor incapacidade, 4,3%, e a África do Sul o maior (35,9%)21. A incapacidade funcional merece, portanto, maior atenção política e recursos na saúde pública.
A DME é um dos fatores que pode comprometer as atividades habituais e limitar atividades recreacionais, relações sociais e familiares22. De fato, este estudo constatou que a dor impactou a incapacidade funcional, mais do que o avançar da idade. Para diversos autores4), (23), (24, a presença de dor em uma ou mais partes do corpo é um dos fatores que pode propiciar a incapacidade em atividades como subir escadas, abaixar-se, entre outras25.
A dor em si e o comportamento do indivíduo, por medo de desencadear a dor e a manutenção de uma posição antálgica, contribuem para o desenvolvimento e manutenção de incapacidade. A intensidade da dor tem relação positiva com a disfunção, mas sem influência da localização, duração e tipo de dor crônica26. Dores leves já apresentaram prejuízo na realização de tarefas diárias e dores fortes/insuportáveis limitam ainda mais a vida, tanto em jovens adultos quanto em idosos25.
Existe influência direta entre a idade e a funcionalidade11), (27. Há associação da incapacidade funcional com o aumento da idade (p<0,001), chegando a uma prevalência 3,5 vezes maior nos indivíduos com idade igual ou superior a 80 anos, quando comparados àqueles de 60 a 64 anos11. A idade influenciou na incapacidade, mas em menor dimensão, o contrário do que se esperava. A idade interfere na funcionalidade por questões fisiológicas associadas ao envelhecimento, como diminuição de força, reflexos, equilíbrio, entre outros28. A relação entre sexo e capacidade funcional apresenta dados distintos na literatura27), (29.
Neste contexto, como idade e sexo não são fatores modificáveis para otimizar a capacidade funcional, melhorar a eficiência dos serviços de saúde para o controle da dor pode ser um caminho adequado para as implicações funcionais do ser humano. É importante que o gerenciamento seja realizado por profissionais de saúde com competência, de maneira a identificar janelas de oportunidade junto ao usuário e seus fatores desencadeantes. Para planejamento de uma linha de cuidado para dor, é imprescindível sua identificação precoce.
A DME é a maior queixa de demanda ativa depois de pedidos de laudos e exames em serviços de atenção primária à saúde. Entretanto, a incapacidade é subidentificada, os serviços devem incorporar em sua prática formas de cuidado norteados na equidade do tratamento para DME. Com avaliações adequadas, o cuidado pode ser mais bem estruturado, oferecendo ações que transitam entre a promoção, prevenção, cura e reabilitação30.
Para este processo ser resolutivo, é necessário recursos humanos e infraestrutura adequada. Este deve ser organizado entre todos os atores responsáveis pela saúde, desde os formuladores de políticas, gestores, profissionais e sociedade. Políticas públicas devem ser colocadas em prática, visando uma linha de cuidado para os usuários com dor e incapacidades funcionais decorrentes desta.
Os autores reconhecem as limitações deste estudo. Considerando desenho transversal, não há possibilidade de realizar inferência causal entre dor e funcionalidade, entretanto há análise robusta para verificar possibilidades de associação. Para minimizar erros, foram usados questionários validados. Apesar da amostra de conveniência, houve o cuidado em realizar coleta em oito locais do município. Isto permitiu que a distribuição proporcional da amostra em relação às variáveis sociodemográficas ficasse próxima àquela da população.
As prevalências de alguma e muita incapacidade foram altas. A dor musculoesquelética de caráter crônico, intensidade forte na crise, frequente e, predominantemente, na coluna também apresentou elevada prevalência. Especificamente, a dor em membros inferiores, de intensidade forte/insuportável, frequência maior que quatro dias na semana e com início há mais de cinco anos apresentou maior associação com a incapacidade. Este estudo contribui para direcionar a construção de ações de cuidado que visem minimizar e prevenir dificuldades em realizar tarefas diárias. Sugere-se direcionamento de políticas públicas voltadas para o cuidado da dor e incapacidades, assim como a capacitação de profissionais e melhor estruturação dos serviços.