versão impressa ISSN 1677-5449versão On-line ISSN 1677-7301
J. vasc. bras. vol.13 no.4 Porto Alegre out./dez. 2014
http://dx.doi.org/10.1590/1677-5449.0014
Apesar de termos deixado a era analógica na avaliação de imagens médicas1, a adaptação aos novos métodos digitais requer não só dedicação à técnica, mas também compreensão tridimensional anatômica do paciente. A manipulação de imagens utilizando os algoritmos de reconstrução tridimensional multiplanares (3D MPR) e intensidade de projeção máxima (MIP) demanda inicialmente a constatação da real validade do método e de sua superioridade sobre os métodos tradicionais analógicos ou semidigitais de mensuração. Constatação esta que muitas vezes é elucidada no curso básico de manipulação de imagens médicas utilizando o software OsiriX2,3.
O curso foi criado com o intuito de introduzir o método para especialistas, detentores de experiência prévia em Cirurgia Vascular, Cardiovascular ou Radiologia, porém sem experiência na manipulação de imagens.
A presente pesquisa entre os participantes objetivou avaliar a compreensão dos médicos que realizaram o curso da metodologia por eles aplicada anteriormente para programação cirúrgica endovascular e sua opção de método após realização do curso4.
Este é um estudo retrospectivo dos questionários aplicados aos alunos do Curso OsiriX, no período de agosto de 2011 a setembro de 2013.
Um questionário com 17 perguntas relacionadas ao curso assistido e ao conhecimento prévio foi aplicado após a conclusão do curso (Tabela 1). O questionário foi preenchido em computador fornecido pelo curso, via intranet, e o resultado obtido foi exportado em banco de dados tabulado no formato Excel.
Tabela 1 Perguntas realizadas em questionário on line após o curso.
Pergunta |
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|
Resultado foi analisado no software Wizard 1.3.13 (Evan Miller) e as características expressas como dados categóricos, tendo sido apresentadas as frequências absolutas e as proporções. Foram utilizados o teste de chi quadrado e Shapiro-Wilk para avaliação da distribuição das respostas, considerando o p<0,05, para significância estatística.
Um número de 161 questionários foram respondidos e os resultados foram (Tabela 2), em relação às especialidades dos participantes: Cirurgiões Vasculares - 140 (88,6%); Cirurgiões Cardíacos - 13 (8,2%); Radiologistas - 2 (1,3%), e outras especialidades - 3 (1,9%).
Tabela 2 Principais perguntas e resposcas do quescionário aplicado.
Especialidades (p<0,0001) | |||||
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Cirurgião Vascular | Cirurgião Cardíaco | Radiologista | Outras | ||
140 (88,6%) | 13 (8,2%) | 2 (1,3%) | 3 (1,9%) | ||
Método de Mensuração (p< 0,0001) | |||||
Laudo do Radiologista | Chapa Impressa e Compasso | Imagens Axiais | OsiriX com Imagens Axiais | 3d MPR | 3d MPR + MIP |
17 (12,5%) | 19 (14%) | 50 (36,8%) | 16 (11,8%) | 19 (14%) | 15 (11%) |
Conhecimento prévio de OsiriX (p<0,0001) | |||||
Nenhum | Pouco | Básico | Avançado | ||
62 (38,8%) | 73 (45,6%) | 24 (15%) | 1 (0,6%) | ||
Refaz medidas no intraoperatório (p<0.0001) | |||||
Sim | Não | ||||
110 (81,5%) | 25 (18,5%) | ||||
Continuará refazendo medidas ro intraoperatório (p<0,0001) | |||||
Sim | Não | ||||
36 (25,9%) | 103 (74,1%) |
Destes, 92 (57,5%) já possuíam um computador Apple, necessário para rodar o software OsiriX.
Com relação ao seu conhecimento prévio, 62 (38,8%) reportaram nenhum conhecimento; 73 (45,6%) reportaram pouco conhecimento; 24 (15%) responderam conhecimento básico, e apenas 1 (0,6%) considerou seu conhecimento como avançado.
Com relação ao método de mensuração utilizado, 17 (12,5%) confiavam nas medidas do laudo do Radiologista; 19 (14%) utilizavam as chapas impressas e usavam compasso; 50 (36,8%) utilizavam as imagens axiais para fazer as medidas (em qualquer programa de visualização de imagens); 16 (11,8%) utilizavam as imagens axiais no próprio OsiriX; 19 (14%) utilizavam o método 3D MPR, e 15 (11%) utilizavam o 3D MPR e o 3D MPR associado ao MIP.
Dos participantes, 110 (81,5%) afirmaram refazer as medidas no intraoperatório com o uso do cateter centimetrado, apesar de terem feito as medidas anteriormente, por um dos métodos supracitados.
Dos alunos que afirmaram refazer as medidas no intraoperatório, 78 (70,9%) consideraram que, após o curso, deixarão de refazer as medidas no intraoperatório.
A maioria, 147 (94,8%) participantes, concorda que o curso mudou sua prática diária (Figura 1).
Figura 1 Distribuição da pergunta 'O curso mudou sua prática diária?'. A graduação da resposta foi conforme as seguintes opções: 1) Discordo completamente; 2) Discordo parcialmente; 3) Não concordo nem discordo; 4) Concordo parcialmente; 5) Concordo completamente. Não apresenta distribuição normal pelo teste de Shapiro-Wilk (p<0,0001).
A autoavaliação por meio de questionários on-line mostrou-se eficaz previamente, para o autoconhecimento5. A autoavaliação das próprias competências, após o Curso OsiriX, mostrou-se aumentada. Assim como já descrito anteriormente, cursos de curta extensão podem influenciar positivamente na autoavaliação6.
O curso tem o intuito primário de alertar o aluno da existência de melhores métodos de avaliação de imagem e, secundariamente, ensinar-lhe a técnica para executá-la. A reflexão do aluno sobre as informações adquiridas – e a consequente opção própria pelo método a ser utilizado – é mais eficaz7 do que a imposição não elucidada de um determinado método, com exaustiva repetição da técnica.
Assustadoramente, uma parcela dos alunos ainda utilizava métodos não considerados seguros para programação endovascular8,9, como o uso de compassos e chapas impressas (14%), e a confiança cega em laudo escrito por Radiologista (12,5%). Porém, nota-se uma evolução para a mídia digital, quando a grande maioria já utilizava algum método de avaliação de imagem em computador. Um número de 66 alunos (48,5%) utilizava as imagens axiais para fazer as medidas, método considerado não ideal, porém já realizado no computador. Dos alunos, 19 (14%) utilizavam o método 3D MPR, considerado a medida ideal para diâmetros e extensões de vasos não tortuosos8, e 15 (11%) utilizavam o 3D MPR e o 3D MPR associado ao MIP, este último considerado importante ferramenta na mensuração de extensões de vasos tortuosos.
Um número de 110 alunos (81,5%) afirmou refazer as medidas no intraoperatório e 70,9% consideraram que, após o curso, deixarão de refazer as medidas no intraoperatório, acreditando no resultado da angiotomografia, método já considerado adequado para o planejamento cirúrgico endovascular10.
A educação continuada por meio de curso especializado mostrou-se eficaz na compreensão da importância do método de análise de imagens por reconstrução tridimensional multiplanar e algoritmos de otimização de imagens.