versão impressa ISSN 1413-8123versão On-line ISSN 1678-4561
Ciênc. saúde coletiva vol.24 no.11 Rio de Janeiro nov. 2019 Epub 28-Out-2019
http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320182411.28712017
A docência é uma profissão cujo desgaste intelecto-emocional está sempre presente nos seus trabalhadores, expondo-os a riscos de saúde1,2. Trabalhar em ambientes e condições adversas, sem perspectivas profissionais, somado aos problemas pessoais, preocupa cada vez mais os docentes, visto que eles são potenciais candidatos ao desenvolvimento de doenças variadas, ligadas ou não ao estresse3.
Vários são os fatores que tornam a função de docente universitário propensa a doenças de cunho psicoemocional ou psicossomático, tais como as exigências referentes à alta produtividade científica, necessidade de constante atualização pela participação em congressos/ bancas, as longas jornadas de trabalho, inclusive nos finais de semana e feriados, falta de equipamentos e condições de trabalho, além do estresse tecnológico (caracterizado como uma reação do organismo com componentes psicológicos e físicos, que ocorre quando surge a necessidade inevitável de adaptação às importantes inovações tecnológicas), entre outros. Assim, a exigência e sobrecarga ao professor estende-se além da necessidade de atualização científica, promovendo nele culpa e sentimento de impotência por não conseguir suprir a demanda de tanta informação2,4.
A precarização do trabalho docente tem início nos anos 90, na conjuntura da globalização e das reformas neoliberais com políticas deliberadas que diluem as fronteiras entre o público e o privado, os brasileiros experienciam no campo do trabalho o acirramento das privatizações, a superexploração e a fragilização do poder sindical5. A organização do trabalho docente desde a década de 2000 aumenta ainda mais a precarização deste grupo de trabalhadores, exibindo formas flexibilizadas de contratação, além dos contratos temporários e efetivos baseados em horas-aula (pagamento por aula e ausência de Plano de Carreira), tem sido prática corrente o recurso às bolsas de pesquisa e adicionais por atividade de extensão como forma de remuneração docente apenas por aula ministrada, com menos tempo dedicado à pesquisa e extensão6.
Soma-se a isto o estímulo institucionalizado à concorrência interna, os professores voltam-se uns contra os outros, aprofundando o individualismo, neutralizando a mobilização coletiva. Um exemplo cada vez mais evidente no contexto universitário atual é a disputa individual, e não da unidade acadêmica, por cada mínimo recurso disponibilizado para pesquisas oferecido pelas agências de fomento. Além da concorrência interna, têm sido implementados pelas políticas governamentais para orientar a população e ajudá-la a escolher “a melhor” instituição de ensino, avaliações técnicas, que se sustentam na necessidade de comparações e rankings e buscam o controle da qualidade dos serviços educacionais. Tais fatos aumentam a pressão sobre os professores e promovem aumento no uso de medicação e o adoecimento5.
Diante de tantas atribuições e demandas, algumas instituições de ensino superior ainda oferecem cursos/treinamento destinados à capacitação dos docentes universitários, uma vez que desse profissional se requer, em um nível mais complexo, uma atuação reflexiva, crítica e competente, sendo-lhe exigidas aulas interativas e que estimulem a aprendizagem dos alunos, compelindo-os a uma preparação/capacitação didática. Todavia, tal fato necessita do ensejo e disposição individual de cada docente e, aqueles que não se dispõem a tais adaptações e capacitação podem apresentar maiores dificuldades na execução da sua função, o que contribui para aumentar a exigência do docente dentro e fora do ambiente de trabalho e, por sua vez, pode afetar seu bem-estar em ambos ambientes7.
O processo saúde-doença do docente também é construído no trabalho, de tríplice natureza - biológica, psicológica e social - interdependente e contraditória, fazendo com que o trabalho remeta a possibilidades variadas de consumo, satisfação, adoecimento e morte. Assim, o trabalho pode ser tido como um espaço de reafirmação da autoestima, de desenvolvimento de habilidades, de expressão das emoções, o que o torna um espaço de construção da história individual e de identidade social. Entretanto, o ambiente de trabalho pode produzir enfermidades ocupacionais, comprometendo a saúde física e mental do professor8.
Delcor et al.9 referem em seu estudo que 32,5% dos professores referiram problemas de saúde, sendo as queixas mais frequentes dores nas costas, dores nas pernas e problemas vocais, enquanto os distúrbios psicoemocionais mais comuns foram o nervosismo/ansiedade e cansaço mental. Apesar da grande exposição do docente universitário a problemas de saúde Lima e Lima-Filho8 referem que pouca atenção é dada pelas autoridades governamentais e pelos dirigentes institucionais, o que culmina com um quadro crescente de mal-estar entre os docentes, tanto em termos físicos, psíquicos como interpessoais
A saúde é dimensionada também pela qualidade de vida (QV), a qual abrange diversos aspectos, os quais abrangem a visão da intrínseca relação entre condições de trabalho e saúde, aproximando-se das visões clássicas da medicina social e da discussão que nos últimos anos vêm se revigorando na área e têm no conceito de promoção da saúde sua estratégia central. Tal conceito foi definido, tomando como base a concepção de que se consideram como os determinantes da saúde: o estilo de vida, os avanços da biologia humana, o ambiente físico e social e os serviços de saúde10,11.
Como a QV possui interferência ou interfere no âmbito da saúde, quando visto em sentido ampliado, ela se apoia na compreensão das necessidades humanas fundamentais, materiais e espirituais e, têm no conceito de promoção da saúde seu foco mais relevante, ressaltando que viver sem doença ou superar as dificuldades impostas por uma morbidade influenciam diretamente no entendimento da QV do indivíduo11.
Diante disso, o objetivo do presente estudo foi identificar a interferência de aspectos ligados a saúde na QV e QVT de docentes universitários das áreas da saúde, exatas, humanas e agrárias.
Trata-se de um estudo observacional, descritivo, de corte transversal realizado nas dependências de uma instituição de ensino superior (IES) pública localizada em um estado do centro-oeste brasileiro. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), respeitando-se os preceitos éticos de pesquisa envolvendo seres humanos. Todos os voluntários assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
A população docente na instituição de ensino superior analisada (IES) era de 386 servidores e a partir deste número foi realizado o cálculo amostral por intermédio do OpenEpi®, utilizando nível de confiança de 95%, resultou em uma amostra mínima de 193 docentes para uma representatividade em relação a toda a população da IES, todavia também foi feito o cálculo amostral por área do conhecimento/sexo e atingiu-se a representatividade em cada uma das áreas. Avaliou-se todas as áreas do conhecimento existentes na IES, afim de se ter uma visão geral das questões referentes à saúde, QV e QVT desta população. Foram incluídos no estudo os docentes com mais de seis meses de docência universitária independentemente de seu vínculo empregatício. Foram excluídos do estudo: questionários incompletos, portadores de deficiência física, docentes exercendo exclusivamente atividade administrativa ou em período de licença e docentes alunos de programas de pós-graduação Stricto Sensu em estágio de docência (Tabela 1).
Tabela 1 População e amostra (N = 284).
Área conhecimento | Total de professores | Questionários respondidos |
---|---|---|
Ciências biológicas e da saúde | 158 | 113 |
Ciências agrárias e da terra | 55 | 38 |
Ciências exatas | 61 | 51 |
Ciências humanas | 112 | 82 |
Total | 386 | 284 |
A coleta de dados ocorreu simultaneamente em todos os cursos da IES. Para tanto, utilizou-se três instrumentos, um questionário sobre aspectos sociodemográficos com dados relacionados a saúde, um instrumento específico para avaliação da QVT, o Total Quality of Work Life (TQWL-42) e o instrumento genérico proposto pela Organização Mundial de Sáude (OMS) para avaliação da QV, denominado WHOQOL-Bref.
O primeiro instrumento corresponde a um questionário construído pelos próprios autores para coleta de dados sociodemográficos e relacionados à saúde. O questionário foi construído no formato estruturado e com os dados nominais categorizados. Após a sua elaboração ele foi refinado por 3 juízes, sendo estes, pesquisadores da área temática em questão ou experts no método proposto. Após o refinamento procederam-se as devidas correções e realizou-se dois pré-testes. Dos pré-testes culminou-se em adequações para que se obtivesse a versão final utilizada neste estudo.
O segundo instrumento, o TQWL-42, foi construído e validado por Pedroso et al.12 para quantificação da QVT em diferentes populações. Tal instrumento é fundamentado nos principais modelos clássicos de QVT encontrados na literatura e alicerçado no instrumento WHOQOL-100. Este instrumento possui 42 questões do tipo Likert e é dividido em 5 esferas: - Esfera 1: Biológica/Fisiológica; - Esfera 2: Psicológica/Comportamental; - Esfera 3: Sociológica/Relacional; - Esfera 4: Econômica/Política; -Esfera 5: Ambiental/Organizacional.
Por fim, o terceiro instrumento, o WHOQOL-Bref, criado pela OMS em 1998, e validado para a língua portuguesa por Fleck et al.13 possui 26 questões do tipo Likert divididas em 4 domínios: - Domínio 1: físico; - Domínio 2: psicológico; - Domínio 3: relações sociais; Domínio: 4: ambiental.
Neste estudo, todos os questionários foram auto administrados, todavia em caso de dúvida, os pesquisadores estiveram à disposição para auxiliar os respondentes, convertendo a aplicação em assistida.
Para verificação da confiabilidade dos dois instrumentos na população estudada foi realizado o cálculo do Alfa de Cronbach, o qual determinou α = 0,80 para o TQWL-42 e α = 0,85 referente ao WHOQOL-Bref.
Para fins estatísticos, foram considerados apenas os questionários respondidos integralmente, no caso do WHOQOL-Bref e TQWL-42, enquanto para o questionário sociodemográfico foram aproveitados aqueles cujos dados utilizados no estudo estavam com as respostas completas, sendo descartados os demais. Nos casos em que um instrumento foi descartado os demais também o foram para aquele respondente.
Os dados coletados foram transferidos para uma planilha do Excel (Microsoft Office Excel® 2010) formando um banco de dados para realização da estatística descritiva e para um programa de análise estatística, sendo este, o software SPSS® (versão 22.0). Após a análise descritiva dos dados foi feito o teste de Shapiro-Wilks com a finalidade de determinar se os dados tinham distribuição normal. Feito isto, realizou-se a comparação da QV e QVT pelo o teste U de Mann-Whitney e o teste de Kruskal-Wallis, quando a comparação apresentava três ou mais grupos. Também foi realizado o Coeficiente de Correlação de Spearman para correlacionar os aspectos sociodemográficos quantitativos com os escores obtidos no TQWL-42 e no WHOQOL-Bref. Os resultados foram considerados estatisticamente significativos ao nível de 5% (p < 0,05).
A amostra do presente estudo foi composta por 284 docentes, sendo 113 da área da saúde, 82 das humanas, 51 das exatas e 38 das agrárias. Chegou-se a tal amostra após excluírem-se 11 questionários por inadequação de preenchimento e 29 por enquadramento nos critérios de exclusão.
A Figura 1 apresenta o resultado da correlação entre idade e QV, a qual demonstrou correlação fraca e significante (r = 0,119 e p = 0,045) entre as varáveis. A análise foi feita por meio do coeficiente de correlação de Spearman.
Na Tabela 2 estão apresentados os dados sociodemográficos dos docentes por área de conhecimento. Nas áreas exatas e agrárias há predomínio de docentes do sexo masculino e em todas as áreas houve dominância de docentes casados. Em relação a faixa etária, na área de saúde a maior parte dos docentes possuem entre 31-40 anos, enquanto na área das exatas é de 20-30 anos. Em oposição, as ciências agrárias possuem maior parte dos docentes com idade acima de 51 anos.
Tabela 2 Dados sociodemográficos distribuídos por área conhecimento (N = 284).
Variável | Saúde (N = 113) |
Humanas (N = 82) |
Exatas (N = 51) |
Agrárias (N = 38) |
---|---|---|---|---|
Sexo | ||||
Masculino | 50 (44,2%) | 48 (58,5%) | 40 (78,4%) | 27 (71,1%) |
Feminino | 63 (55,8%) | 34 (41,5%) | 11 (21,6%) | 11 (28,9%) |
Estado civil | ||||
Casado/União | 80 (70,8%) | 52 (46%) | 34 (66,7%) | 27 (71,1%) |
Solteiro | 26 (23%) | 21 (25,6%) | 13 (25,5%) | 8 (21,1%) |
Divorciado | 7 (6,2%) | 1 (1,2%) | 4 (7,8%) | 2 (5,3%) |
Viúvo | 0 (0%) | 8 (9,8%) | 0 (0%) | 1 (2,6%) |
Idade | ||||
20-30 | 24 (21,2%) | 20 (24,4%) | 21 (41,2%) | 2 (5,3%) |
31-40 | 65 (57,5%) | 24 (29,3%) | 14 (27,5%) | 11 (28,9%) |
41-50 | 14 (12,4%) | 26 (31,7%) | 11 (21,6%) | 11 (28,9%) |
Acima de 51 | 10 (8,8%) | 12 (14,6%) | 5 (9,8%) | 14 (36,8%) |
Os dados referentes às variáveis relacionadas a saúde são apresentados na Tabela 3. Observa-se que a maior parte dos docentes não possui doença diagnosticada, apesar disso os docentes das agrárias possuem maior número de docentes adoecidos. Em relação ao tabagismo e uso de bebida alcoólica, prevaleceram os não tabagistas e uso ocasional moderado de bebidas. A maior parte dos docentes realizam atividades de lazer de 1-2 vezes semanais, já em relação a prática de atividade física, o sedentarismo e a prática ocasional de baixa intensidade foram os mais relatados. Com relação à avaliação do sono, esta foi tida como boa ou regular por maior parte dos docentes avaliados (Tabela 3).
Tabela 3 Variáveis relacionadas à saúde distribuídas por área de conhecimento (N = 284).
Variáveis | Saúde | Humanas | Exatas | Agrárias | QV | QVT |
---|---|---|---|---|---|---|
(N = 113) | (N = 82) | (N = 51) | (N = 38) | (N = 284) | (N = 284) | |
Doença diagnosticada | ||||||
Sim | 18 (15,9%) | 13 (15,9%) | 4 (7,8%) | 8 (21,1%) | 14,75 ± 1,68 | 3,4 ± 0,034 |
Não | 95 (84,1%) | 69 (84,1%) | 47 (92,2%) | 30 (78,9%) | 15,27 ± 1,75 | 3,42 ± 0,43 |
Afastamento por doença | ||||||
Sim | 17 (15%) | 6 (7,3%) | 8 (15,7%) | 4 (10,5%) | 14,56 ± 1,71 | 3,31 ± 0,43 |
Não | 96 (85%) | 76 (92,7%) | 43 (84,3%) | 34 (89,5%) | 15,29 ± 1,73 * | 3,44 ± 0,42 |
Uso de medicamentos | ||||||
Sim | 31 (27,4%) | 25 (30,5%) | 17 (33,3%) | 15 (39,5%) | 14,87 ± 1,75 | 3,46 ± 0,40 |
Não | 82 (72,6%) | 57 (69,5%) | 34 (66,7%) | 23 (60,5%) | 15,35 ± 1,72 ** | 3,41 ± 0,42 |
Tabagismo | ||||||
Não | 110 (97,3%)*** | 71 (86,5%)*** | 49 (96%) | 33 (86,8%) | 15,22 ± 1,75 | 3,42 ± 0,47 |
Uso ocasional | 1 (0,9%) | 8 (9,8%) | 1 (2%) | 5 (13,2%) | 14,59 ± 1,66 | 3,29 ± 0,31 |
Uso frequente | 2 (1,8%) | 3 (3,7%) | 1 (2%) | 0 (0%) | 15,78 ± 1,85 | 3,51 ± 0,69 |
Uso de bebidas alcoólicas | ||||||
Não | 53 (46,9%) | 37 (45,1%) | 22 (43,1%) | 11 (28,9%) | 15,31 ± 1,73 | 3,47 ± 0,43 |
Ocasional moderado | 57 (50,4%) | 35 (42,7%) | 28 (54,9%) | 26 (68,5%) | 15,11 ± 1,8 | 3,37 ± 0,4 |
Ocasional excessivo | 2 (1,8%) | 6 (7,3%) | 0 (0%) | 1 (2,6%) | 15,16 ± 1,9 | 3,5 ± 0,55 |
Frequente e moderado | 1 (0,9%) | 4 (4,9%) | 1 (2%) | 0 (0%) | 15,23 ± 0,94 | 3,58 ± 0,32 |
Atividades de lazer | ||||||
Não | 28 (24,8%) | 21 (25,6%) | 15 (29,4%) | 7 (18,4%) | 15,09 ± 1,77 | 3,30 ± 0,41 |
1-2 vezes semanais | 66 (58,4%) † | 47 (57,3%) | 31 (60,8%) | 25 (65,8%) | 15,55 ± 1,68 † | 3,44 ± 0,43 |
3-4 vezes semanais | 16 (14,2%) † | 11 (13,3%) | 3 (5,8%) | 4 (10,4%) | 16,02 ± 1,65 † | 3,54 ± 0,37 |
5-6 vezes semanais | 3 (2,6%) | 1 (1,2%) | 1 (2%) | 1 (2,6%) | 14,89 ± 2,2 | 3,52 ± 0,32 |
Todos os dias | 0 (0%) | 2 (2,4%) | 1 (2%) | 1 (2,6%) | 15,5 ± 0,65 | 3,54 ± 0,47 |
Hobby | ||||||
Sim | 62 (54,9%) | 45 (54,9%) | 31 (60,8%) | 13 (34,2%) | 15,21 ± 1,76 | 3,47 ± 0,41 |
Não | 51 (45,1%) | 37 (45,1%) | 20 (39,2%) | 25 (65,8%) | 15,17 ± 1,75 | 3,39 ± 0,42 |
Atividade física | ||||||
Sedentário | 31 (27,4%) | 27 (32,9%) | 11 (21,6%) | 9 (23,7%) | 14,65 ± 1,74 | 3,27 ± 0,43 |
Ocasional de baixa intensidade | 29 (25,8%) | 25 (30,5%) | 15 (29,5%) | 17 (44,7%) | 15,09 ± 1,83 | 3,39 ± 0,43 |
Ocasional de moderada intensidade | 7 (6,2%) | 7 (8,5%) | 4 (7,8%) | 0 (0%) | 15,49 ± 1,76 | 3,49 ± 0,38 |
Regular de baixa intensidade | 17 (15%) | 8 (9,8%) | 7 (13,7%) | 3 (7,9%) | 15,29 ± 1,52 | 3,53 ± 0,35 |
Regular de morada intensidade | 18 (15,9%) †† | 12 (14,6%) | 9 (17,6%) | 8 (21,1%) | 15,85 ± 1,62 †† | 3,54 ± 0,39 †† |
Regular de alta intensidade | 11 (9,7%) | 3 (3,7%) | 5 (9,8%) | 1 (2,6%) | 15,74 ± 1,4 | 3,52 ± 0,31 |
Avaliação do sono | ||||||
Muito bom | 21 (18,6%) | 12 (14,6%) | 8 (15,7%) | 6 (15,8%) | 15,85 ± 1,74 ††† | 3,53 ± 0,48 ††† |
Bom | 39 (34,5%) ††† | 34 (41,5%) ††† | 21 (41,2%) | 19 (50%) | 15,75 ± 1,51 ††† | 4,38 ± 0,39 |
Regular | 38 (33,6%) | 28 (34,1%) | 14 (27,5%) | 8 (21,1%) | 14,64 ± 1,5 | 3,33 ± 0,37 |
Ruim | 12 (10,6%) | 8 (9,8%) | 8 (15,6%) | 3 (7,8%) | 13,66 ± 1,81 | 3,22 ± 0,43 |
Muito ruim | 3 (2,7%) | 0 (0%) | 0 (0%) | 2 (5,3%) | 15,64 ± 2,69 | 3,53 ± 0,33 |
Alimentação | ||||||
Equilibrada | 64 (56,6%) | 52 (63,4%) ‡ | 28 (54,9%) | 31 (81,6%) ‡ | 16,76 ± 1,25 ‡ | 3,44 ± 0,42 |
Vegetariana | 1 (0,9%) | 1 (1,2%) | 1 (2%) | 0 (0%) | 15,5 ± 1,58 | 3.40 ± 0,48 |
Desequilibrada | 48 (42,5%) | 29 (35,4%) | 22 (43,1%) | 7 (18,4%) | 14,71 ± 1,84 | 3,39 ± 0,41 |
Atividade física | ||||||
Sedentário | 31 (27,4%) | 27 (32,9%) | 11 (21,6%) | 9 (23,7%) | 14,65 ± 1,74 | 3,27 ± 0,43 |
Ocasional de baixa intensidade | 29 (25,8%) | 25 (30,5%) | 15 (29,5%) | 17 (44,7%) | 15,09 ± 1,83 | 3,39 ± 0,43 |
Ocasional de moderada intensidade | 7 (6,2%) | 7 (8,5%) | 4 (7,8%) | 0 (0%) | 15,49 ± 1,76 | 3,49 ± 0,38 |
Regular de baixa intensidade | 17 (15%) | 8 (9,8%) | 7 (13,7%) | 3 (7,9%) | 15,29 ± 1,52 | 3,53 ± 0,35 |
Regular de morada intensidade | 18 (15,9%) †† | 12 (14,6%) | 9 (17,6%) | 8 (21,1%) | 15,85 ± 1,62 †† | 3,54 ± 0,39 †† |
Regular de alta intensidade | 11 (9,7%) | 3 (3,7%) | 5 (9,8%) | 1 (2,6%) | 15,74 ± 1,4 | 3,52 ± 0,31 |
Avaliação do sono | ||||||
Muito bom | 21 (18,6%) | 12 (14,6%) | 8 (15,7%) | 6 (15,8%) | 15,85 ± 1,74 ††† | 3,53 ± 0,48 ††† |
Bom | 39 (34,5%) ††† | 34 (41,5%) ††† | 21 (41,2%) | 19 (50%) | 15,75 ± 1,51 ††† | 4,38 ± 0,39 |
Regular | 38 (33,6%) | 28 (34,1%) | 14 (27,5%) | 8 (21,1%) | 14,64 ± 1,5 | 3,33 ± 0,37 |
Ruim | 12 (10,6%) | 8 (9,8%) | 8 (15,6%) | 3 (7,8%) | 13,66 ± 1,81 | 3,22 ± 0,43 |
Muito ruim | 3 (2,7%) | 0 (0%) | 0 (0%) | 2 (5,3%) | 15,64 ± 2,69 | 3,53 ± 0,33 |
Alimentação | ||||||
Equilibrada | 64 (56,6%) | 52 (63,4%) ‡ | 28 (54,9%) | 31 (81,6%) ‡ | 16,76 ± 1,25 ‡ | 3,44 ± 0,42 |
Vegetariana | 1 (0,9%) | 1 (1,2%) | 1 (2%) | 0 (0%) | 15,5 ± 1,58 | 3.40 ± 0,48 |
Desequilibrada | 48 (42,5%) | 29 (35,4%) | 22 (43,1%) | 7 (18,4%) | 14,71 ± 1,84 | 3,39 ± 0,41 |
*comparado aos que não se afastaram por doença;
**comparado aos que fazem uso de medicamentos;
***comparado aos que fumam (na QVT);
†comparado aos que não tem atividade de lazer (na QV);
††comparado aos sedentários (QV e QVT);
††† comparado ao sono regular ou ruim;
‡comparada a alimentação desequilibrada (na QV). Análises feitas por meio dos testes U de Mann-Whitney e de Kruskall-Wallis considerando p < 0,05. QV: qualidade de vida; QVT: qualidade de vida no trabalhado.
Na comparação da QV e QVT entre as categorias das variáveis relacionadas a saúde pode-se verificar algumas diferenças significantes. Foi verificado que a QV dos professores que já se afastaram do trabalho por motivo de doença (QV = 14,56 ± 1,71) apresentaram um escore geral significativamente menor (p = 0,023) daqueles que nunca se afastaram (QV = 15,29 ± 1,74), o mesmo ocorreu em relação ao uso de medicamentos, de modo que os professores que fazem uso de medicamentos (QV = 14,87 ± 1,76) referiram um escore de QV estatisticamente menor (p = 0,034), quando comparados àqueles que não o fazem (QV = 15,35 ± 1,72). Em relação a influência do lazer, constatou-se que os professores que referiram ter 1-2 (QV = 15,55 ± 1,77) ou 2-3 (QV = 16,02 ± 1,65) atividades de lazer por semana apresentaram uma melhor QV (p = 0,001) do que aqueles que não tinham este tipo de atividade (QV = 15,09 ± 1,77) (Tabela 3).
A prática de atividade física impactou tanto a QV quanto a QVT dos professores. Os docentes sedentários apresentaram uma QV (QV = 14,65 ± 1,75) e QVT (QVT = 3,54 ± 0,39) significativamente pior (p = 0,006 para QV e p = 0,003 para QVT) comparados aos docentes que praticavam atividade física regular de moderada intensidade (QV = 15,38 ± 1,62 e QVT = 3,27 ± 0,42). Do mesmo modo que a atividade física, a qualidade do sono também teve reflexo na QV e QVT, sendo que em ambas os professores que referem ter um sono muito bom (QV = 15,85 ± 1,74 e QVT = 3,53 ± 0,48) apresentaram uma percepção da QV e QVT significativamente melhor (p = 0,000 para QV e p = 0,000 para QVT) comparados aos que referiram ter qualidade de sono regular (QV = 14,64 ± 1,5 e QVT = 3,33 ± 0,37) ou ruim (QV = 13,67 ± 1,81 e QVT = 3,22 ± 0,43), assim como os que disseram ter qualidade de sono bom (QV = 15,75 ± 1,50) apresentaram uma QV significativamente melhor (p = 0,000) comparados àqueles com sono regular e sono ruim (Tabela 3).
A alimentação também apresentou diferença na QV dos professores, visto que quando estes possuíam alimentação equilibrada (QV = 15,5 ± 1,58) sua QV foi significantemente maior (p = 0,000) do que aqueles com alimentação desequilibrada (QV = 14,71 ± 1,48), independentemente do tipo de desequilíbrio alimentar apontado (Tabela 3).
Na comparação entre as variáveis, realizada em cada área do conhecimento, verificou-se que os não tabagistas nas humanas (QVT = 3,45 ± 0,39) e na saúde (QVT = 3,42 ± 0,47) apresentaram uma QVT significantemente melhor (p = 0,012 tanto na saúde quanto nas humanas) comparados aos fumantes ocasionais (QVT = 3,04 ± 0,16 na saúde e QVT = 3,01 ± 1,38 nas humanas). Os docentes que referiram ter um sono muito bom (QV = 15,97 ± 1,57 e QVT = 3,55 ± 0,47) ou bom (QV = 15,85 ± 1,61 e QVT = 3,55 ± 0,45) na área da saúde e bom na humanas (QV = 15,83 ± 1,41) também referiram ter uma QV e/ou QVT significativamente melhor (p = 0,000 na QV e QVT da saúde e p = 0,002 na QV da humanas) comparados àqueles que referiram ter um sono regular (QV = 14,58 ± 1,44, QVT = 3,25 ± 0,20 na saúde e QV = 14,50 ± 1,33 na humanas) ou ruim (QV = 12,92 ± 1,80, QVT = 3,20 ± 0,53 na saúde e QV = 14,21 ± 1,71 na humanas). Em relação às atividades de lazer, constatou-se que os docentes da saúde que realizam 1-2 atividades de lazer semanal (QV = 15,25 ± 1,84 e QVT = 3,45 ± 0,49) ou 2-3 (QV = 16,12 ± 1,71 e QVT = 3,56 ± 0,36) atividades de lazer por semana, apresentaram uma melhor QV (p = 0,005) e QVT (p = 0,008) do que aqueles que não tinham este tipo de atividade (QV = 14,24 ± 1,68 e QVT = 3,18 ± ,040).
Na comparação entre a atividade física verificou-se na área da saúde que os docentes cuja prática era regular de moderada intensidade (QV = 16,41 ± 1,35 e QVT = 3,61 ± 0,40) sua QV e QVT foi estatisticamente maior, p = 0,008 e p = 004, respectivamente, comparados aos sedentários (QV = 14,66 ± 1,97 e QVT = 3,24 ± 0,49), aos que faziam atividades ocasionais de baixa intensidade (QV = 14,73 ± 1,98 e QVT = 3,36 ± 0,51), ocasional de moderada intensidade (QV = 15,08 ± 1,77 e QVT = 3,32 ± 0,44) e regular de baixa intensidade (QV = 14,97 ± 1,67). Por fim, verificou-se que os docentes com alimentação equilibrada nas agrárias (QV = 15,84 ± 1,07) e humanas (QV = 15,67 ± 1,53) possuíram uma QV estatisticamente maior (p = 0,030 nas agrárias e p = 0,007 nas humanas) comparado a alimentação desequilibrada (QV = 14,68 ± 1,36, nas agrárias e QV = 14,44 ± 1,54, nas humanas).
A carreira de docência universitária se faz por grande empenho e comprometimento por parte dos docentes, todavia as peculiaridades inerentes a tal função interferem negativamente em aspectos ligados à saúde com reflexo na QV e QVT do docente, conforme verificado no atual estudo, tal como baixa qualidade do sono, poucas atividades de lazer, baixo índice de atividade física e má alimentação.
O trabalho é salutar para a vida e sobrevivência, além de ser fonte de realização, satisfação, QV e mesmo saúde. Entretanto, ele também pode se transformar em elemento patogênico, tornando-se nocivo à saúde, a depender do tipo de trabalho, do ambiente, das condições e da maneira como está organizado2,9.
Como em outras atividades profissionais, o comprometimento da saúde dos professores pode ser associado com diversos aspectos e relaciona-se à sua baixa QV. Desta forma, é importante aprofundar o conhecimento sobre a saúde em professores, explorando mecanismos biológicos, ergonômicos, ocupacionais e psicossociais de ensino, bem como investir em práticas que melhoram a relação de convivência entre os trabalhadores14,15.
A fadiga emocional e mental desenvolvida nesse cotidiano os tornam frágeis, irritados e angustiados, alterando as necessidades fisiológicas relacionadas ao descanso físico e mental. Os professores consideram que trabalhar com pessoas é muito desgastante para a saúde, seja pelo estresse provocado pelas interações diretas com os alunos e a população assistida, seja pelas demais interações no contexto institucional, especialmente aquelas que determinam atitudes que contrariam seus princípios e disponibilidades. Eles próprios têm consciência de que essas situações provocam baixa imunidade e repercussões nas suas condições de saúde geral, favorecendo estados gripais constantes, enxaquecas, labirintites, crises hipertensivas, estados depressivos, problemas dermatológicos, entre outros16.
este fato também pode ser explicado pela precarização e organização contemporânea do trabalho docente, visto que nota-se nas universidades a predominância de uma nova realidade: a demissão de professores doutores de mais larga experiência, cedendo lugar à contratação de especialistas e graduados; a rotatividade de docentes contratados temporariamente; a ênfase na lógica “menos professores, mais alunos”; o rebaixamento das remunerações, sem perspectivas de recuperação de perdas salariais; o desempenho acadêmico baseado na lógica produtivista, a qual dificulta a realização de práticas que visam à transformação social e à indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Ainda versando sobre o fato das baixas remunerações, o docente vincula-se a diferentes instituições de ensino, simultaneamente, ministrando várias disciplinas (algumas delas incompatíveis com a sua formação acadêmica) e deslocando-se de um extremo a outro para poder cumprir a sua jornada de trabalho. Todos esses elementos impactam o trabalho docente, com consequências inquestionáveis sobre a saúde6,17.
Tais afirmações corroboram com o achado do presente estudo, segundo o qual professores universitários com histórico de afastamento por motivos diversos de saúde apresentam uma pior QV. Além dos fatores citados acima, o docente quando deixa sua função por problemas de saúde, ao regressar às atividades acadêmicas tem que retomar toda a rotina de atividades extra aula, e concomitante a isto, diversos fatores impactam sobre esta fase e sobre a QV, tais como, atualização de conhecimentos, envolvimento com novos colegas de trabalho e chefia, novas funções, mudança de rotina, mudança nos horários de trabalho, readaptação ao convívio com alunos, dentre outros6.
Muitos docentes não se afastam das atividades, porém fazem uso de medicamentos. Tal fato foi associado a uma pior QV. Todavia verificou-se que grande parte dos que utilizam de medicação, não referiu nenhuma doença diagnosticada, ou seja, se automedicam. A automedicação é definida como a seleção e uso de drogas por pessoas, ou membros da família do indivíduo medicado, para tratamento de condições ou sintomas autodiagnosticados18. Esta atitude pode incorrer em alguns prejuízos ou riscos, tais como autodiagnostico incorreto, demora na busca por atendimento de um profissional de saúde, reações adversas, interações entre diferentes drogas, modo incorreto de uso/dosagem, escolha incorreta de drogas, mascaramento de doenças mais graves e risco de dependência e/ou abuso18,19.
O presente estudo não se propôs analisar os motivos e como ocorre esta automedicação. Todavia, pela pluralidade de fatores inerentes à docência universitária, pode-se inferir que este fato se associa principalmente a três fatores: falta de tempo para o cuidado ideal com a saúde, ansiedade e quadros álgicos constantes8,16,20-22.
As dores musculoesqueléticas são comuns na população docente, acometendo entre 90-100% desta classe de trabalhadores, esta alta prevalência pode ser explicada pela posição adotada por estes profissionais ao exercerem sua atividade, com o ombro em elevação e postura ortostática ou sentada por longos períodos15,21-24.
Outro fator que pode desencadear ou piorar o quadro de mialgia é a ansiedade, em decorrência do aumento da tensão muscular. Outro fator que pode estar ligado à ansiedade está relacionado a precarização e organização atual do trabalho docente, os quais os expõe a conflitos e tensões da cotidianidade do trabalho que emergem complexos movimentos de fuga, mas também de enfrentamento e ruptura, os quais promovem o dissenso, ligados ao compromisso social coletivo e o devido reconhecimento dos direitos fundamentais de todo e qualquer ser humano à cidadania e de receber educação de qualidade, enquanto padecem com a falta de reconhecimento governamental, social, baixas remunerações, ausência de plano de carreira, falta de estabilidade empregatícia e necessidade de ter mais de um emprego para garantir melhor renda e saúde6,7,17.
A ansiedade é um sintoma que comumente acompanha quadros depressivos e de estresse excessivos, ela é definida como uma sensação vaga e difusa, desagradável, de apreensão ou tensão, que se acompanha de diversas manifestações físicas, tais como, dispneia, taquicardia, tensão muscular, sudorese, tremor, dentro outros25-28.
Verificou-se ainda que os docentes das áreas da saúde e humanas que fazem uso de tabaco apresentaram um menor escore de QV, isto também pode ser uma justificativa acerca da ansiedade e do estresse, visto que os profissionais desta área lidam com situações de angústia e responsabilidades inerentes às suas atividades. No entanto, verificou-se no atual estudo que os tabagistas apresentaram uma pior QV. Embora muitos fumantes não tenham problemas de saúde evidentes, os resultados da combustão do tabaco na produção de agentes tóxicos são potencialmente prejudiciais. Assim, fumantes têm pior saúde física, maior referência de algias, menos vitalidade, alterações emocionais e mentais (depressão, baixa autoestima, e uma predisposição para a adoção de um estilo de vida não saudável) em comparação com não fumantes29,30.
O tabagismo tem um efeito sobre a percepção de saúde, independentemente dos seus efeitos somáticos. Por exemplo, o tabagismo está associado a situações de estresse e dificuldade de adaptação social, o que por sua vez pode afetar a percepção da QV. A falta de vitalidade dos tabagistas pode ser explicada pela disfunção pulmonar que ocorre pela hipersecreção mucosa, capacidade de difusão reduzida, aumento do monóxido de carbono nos pulmões e obstrução do fluxo de ar periférico. Outro mecanismo possível para explicar as diferenças na QV dos fumantes são as lesões musculoesqueléticas, devido à vasoconstrição e hipóxia que prejudicam a perfusão e nutrição destes tecidos29-31.
Contribui também para uma pior QV e QVT a má qualidade do sono, conforme revelado pelo atual estudo. Os professores com pior qualidade do sono apresentam menores índices de QV e QVT. Segundo Souza e Reimão32 a má qualidade do sono, ou a insônia, afeta a QV de seus portadores; afirmam ainda que, quando a insônia é crônica, geralmente reflete distúrbios psicológicos e comportamentais.
No estudo de Souza et al.33 verificou-se que 46% a 51% dos docentes avaliados apresentaram sonolência diurna excessiva e má qualidade do sono, tais fatos podem comprometer a saúde e QV, além de influenciar no desempenho da atividade docente, o que pode afetar a educação de seus alunos. Tal fato se dá por diversos motivos, dentre eles as demandas sociais, níveis de ruído e características de ocupação da profissão docente (excesso de trabalho, alto índice de estresse, atividades extras sala, fatores organizacionais, dentre outros)33,34. Além de o sono interferir na QV, especificamente para os docentes, ele também influencia negativamente para a qualidade vocal, prejudicando este profissional na execução da sua função e diminui sua capacidade produtiva35.
Além da ansiedade, depressão, dores musculoesqueléticas e estresse, outros fatores apresentados no atual estudo corroboram com a perda ou má qualidade do sono referida pelos docentes avaliados, visto que aqueles com menor frequência de atividades de lazer, de atividade física e com má alimentação também apresentaram uma menor QV.
Os docentes das áreas da saúde e humanas que referiram uma boa qualidade do sono também possuíram uma melhor QV. Tais docentes também foram os que menos referiram fazer uso de medicamentos e possuem atividades de lazer mais frequentes. Além disso, os docentes da saúde ainda referiram uma melhor QV quando praticavam atividade física de moderada intensidade e, a atividade física auxilia na diminuição do estresse, propiciando benefícios a todos os sistemas orgânicos, por meio da liberação de opioides endógenos que propiciam bem-estar e relaxamento36,37. Já os docentes das humanas, assim como os das agrárias, apresentaram uma QV melhor quando tinham sua alimentação equilibrada, a qual também mantém um equilíbrio orgânico e auxilia o sono38. Além dos fatores já mencionados, não se pode ignorar que as perdas coletivas referentes a remuneração, desvalorização, diminuição das verbas e auxilio para pesquisa e extensão, alterem o estado emocional dos docentes e impactam negativamente no sono7.
Outro fator que influencia a QV é o estilo de vida, sendo que o sedentarismo é a principal causa de saúde debilitada para um grande número de indivíduos. O fato de adicionar atividade física regular ao estilo de vida desses indivíduos já proporciona melhoras substanciais na saúde global e na QV, conforme relatado pelos docentes da saúde no atual estudo36,37.
Além disso, a prática de atividade física é tida por algumas pessoas como uma atividade de lazer e contribui de maneira positiva para a promoção da saúde e apresenta associação positiva com a QV36. Ademais, a melhora da QV também é percebida quando a prática da atividade física busca a prevenção/promoção, a reabilitação, ou gestão da doença, principalmente porque indivíduos que praticam atividade física possuem uma melhor resposta orgânica contra doenças e afecções, as quais podem diminuir a capacidade funcional e laboral das pessoas39,40. A atividade física também promove estímulos ao sistema muscular, o que por sua vez melhora o equilíbrio de forças atuantes nas articulações, diminuindo a sobrecarga imposta a elas, com consequente diminuição de algias e melhora do bem-estar do indivíduo41.
Além disso, a regularidade na prática de exercícios promove benefícios emocionais, promovidos pelo aumento na produção e liberação de endorfinas pelo sistema nervoso central, fato este que influencia na diminuição do estresse, da ansiedade, da depressão, da tensão emocional e, ainda, melhora a socialização, a qualidade do sono, o bem-estar e, portanto, a QV dos indivíduos39.
A QV dos docentes poderia ser melhor caso não tivessem um grande número de atividades a eles impostas e uma carga horária semanal de trabalho que dificultasse atividades relacionadas a lazer e atividades recreativas. Estes problemas podem agravar a exaustão física e psicológica provocada aos professores42. A participação em atividades de lazer proporciona aos participantes mais disposição, maior agilidade mental, reduz o estresse e permite uma melhor gestão do tempo. Além disso, o professor possui uma relação positiva com a saúde, apresenta não apenas ausência de doenças, mas mostra mais capacidade de aumentar a satisfação com a vida e melhor gestão do estresse. Soma-se a isso o fato das relações sociais produzirem um efeito anti-estresse e de satisfação às pessoas43.
Diante do exposto, salienta-se a necessidade de um olhar mais criterioso e minucioso acerca dos fatores que afetam a QV e, por consequência, a saúde dos docentes universitários, visto que tal profissão exige muito das capacidades físicas, intelectuais, sentimentais e emocionais destes profissionais.
Os docentes universitários das áreas da saúde, exatas, humanas e agrárias possuem aspectos ligados à saúde que interferem negativamente na sua QV e QVT, à exemplo da pior qualidade do sono, do sedentarismo, poucas atividades de lazer, do uso de medicamentos (automedicação), do afastamento por doenças e da alimentação desequilibrada. Além disso, a maior idade está associada a melhores escores de QV nos docentes universitários.