versão impressa ISSN 1413-8123versão On-line ISSN 1678-4561
Ciênc. saúde coletiva vol.24 no.6 Rio de Janeiro jun. 2019 Epub 27-Jun-2019
http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232018246.20492017
A demência é uma síndrome neurodegenerativa progressiva ou crônica, caracterizada por declínio cognitivo suficientemente severo, a ponto de repercutir negativamente nas funções sociais e na capacidade de execução das atividades da vida diária1. Em 2015, a estimativa era de 46,8 milhões de indivíduos com demência em todo o mundo. Desses, 58% seriam indivíduos de países de baixa e média renda. No Brasil, a estimativa era de 1,6 milhão de idosos com esta característica2. À medida que a expectativa de vida aumenta acredita-se que maior número de indivíduos apresente demência.
Apesar de ser associada à idade2, menor renda, escolaridade3 e depressão4, a demência pode ser prevenida, uma vez que vários fatores de risco modificáveis, tais como fumo5, consumo de álcool6 e inatividade física7 contribuem para sua ocorrência. Além destes fatores, o excesso de peso/obesidade e a gordura abdominal (visceral) vêm sendo estudados como fatores potencialmente modificáveis associados à demência8,9. O índice de massa corporal (IMC) e diferentes indicadores antropométricos de obesidade abdominal são empregados na vigilância epidemiológica10 e na avaliação do risco de desenvolvimento de doenças metabólicas, cardiovasculares, musculoesqueléticas e determinados tipos de câncer, sendo que muitas dessas doenças são consideradas fatores de risco para demência11. Mais recentemente, os indicadores antropométricos (IMC, perímetro da cintura, razão cintura estatura, índice de conicidade) passaram a ser utilizados na associação com a demência e esta relação ainda não está totalmente estabelecida8,9,12-14. Além disso, ainda se discute se o excesso de peso/obesidade e a gordura abdominal têm papel similar na associação com a demência15.
Assim como em relação à demência, a prevalência de excesso de peso/obesidade vem aumentando em todo o mundo, com projeções de aumentos nas próximas décadas16,17. Estas condições contribuem para o aumento dos gastos no sistema de saúde, com implicações no âmbito individual, familiar e social18,19. A identificação de indicadores de saúde associados à demência são importantes para o sistema de saúde, uma vez que permitem identificar aqueles com maior risco de desenvolver, prevenindo e/ou tratando os fatores de risco, melhorando a qualidade de vida e a autonomia dos indivíduos. Diante disso, o objetivo deste estudo foi investigar a associação entre demência e indicadores antropométricos em idosos de Florianópolis.
Pesquisa epidemiológica transversal, de base populacional, realizada com dados da segunda onda do estudo de coorte intitulado EpiFloripa Idoso. O EpiFloripa Idoso investiga as condições de saúde de pessoas com 60 anos ou mais, residentes na cidade de Florianópolis.
O detalhamento da população, a seleção da amostra e a caracterização do local foram publicados previamente20. Na linha de base da pesquisa (2009/2010) foram entrevistados 1.702 indivíduos (taxa de resposta de 89,1%). Na segunda onda do estudo, realizada em 2013/2014, foram excluídos 217 óbitos, o que resultou em 1.488 idosos elegíveis. A amostra analítica do presente estudo inclui os 1.197 indivíduos que realizaram as entrevistas domiciliares em 2013/2014.
O projeto foi aprovado pelo comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina, sendo assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
A demência foi investigada pela presença conjunta de escore baixo no Miniexame do Estado Mental (MEEM) e a incapacidade funcional moderada/grave nas atividades de vida diária (AVD). O MEEM foi categorizado considerando o nível de escolaridade21 (provável déficit cognitivo – sem déficit cognitivo). A incapacidade funcional foi avaliada por meio do Questionário Brasileiro de Avaliação Funcional Multidimensional, validado no Brasil22, usando a seguinte classificação: sem incapacidade (dificuldade/incapacidade em zero a três atividades) e com incapacidade (dificuldade/incapacidade em quatro ou mais atividades).
A massa corporal e a estatura foram mensuradas por meio de procedimentos padronizados e a partir dessas medidas foi calculado o índice de massa corporal (IMC) [
Todas as variáveis independentes foram classificadas em tercis (≤ tercil inferior, tercil médio e ≥ tercil superior).
As variáveis de ajuste foram: sexo; grupo etário (60-69 anos, 70-79 anos e 80 anos ou mais); escolaridade (sem escolaridade formal, 1 a 4 anos, 5 a 8 anos, 9 a 11 anos e 12 anos ou mais); renda familiar em salários mínimos (≤1 SM, > 1 SM a ≤ 3 SM, > 3 SM a ≤ 5 SM, > 5 SM a ≤ 10 SM, >10 SM); tabagismo (nunca fumou, ex-fumante e fumante atual) e ingestão de bebidas alcoólicas (não consome, consumo não abusivo e consumo abusivo) verificado por meio das três primeiras perguntas do questionário AUDIT (The Alcohol Use Disorders Identification Test)25. Os sintomas depressivos foram avaliados por meio da Escala Geriátrica de Depressão26 (normal < 6; suspeita de depressão, ≥ 6). A atividade física no lazer foi verificada por meio do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ)27, versão longa e categorizada em: insuficientemente ativo (< 150 minutos de atividade física no lazer semanal) e ativo fisicamente (≥ 150 minutos de atividade física no lazer semanal).
Foram realizadas análises descritivas, sendo utilizado cálculo de prevalências e intervalos de confiança (IC95%) (variáveis categóricas) e média (IC95%), valores mínimos e máximos, e distribuição por tercil (variáveis contínuas).
A associação entre a demência e os indicadores antropométricos foi identificada por meio de modelos de regressão logística (análises brutas e ajustadas), nos quais foram estimados os Odds Ratio (OR) com seus respectivos IC95%. Considerou-se o nível de significância estatística de 5%.
As análises de dados foram conduzidas no programa estatístico Stata SE 13.0 (Stata Corp. College Station, EUA). Todas as análises levaram em consideração o efeito do desenho do estudo, através da utilização do comando svy.
A amostra do presente estudo foi composta por 1.197 indivíduos com média etária de 73,9 ± 7,3 anos. A maioria dos indivíduos era do sexo feminino, com idade entre 70 e 79 anos, com renda familiar inferior a três salários mínimos, não fumantes, não consumidores de bebidas alcóolicas, insuficientemente ativos no lazer e sem suspeita de depressão (Tabela 1). A prevalência estimada de demência foi de 15,1% (IC95%: 12,6 - 18,0).
Tabela 1 Descrição da amostra de acordo com características sociodemográficas e de saúde. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, 2013/2014.
Variáveis | n | % (IC95%) |
---|---|---|
Sexo (n = 1.197) | ||
Masculino | 419 | 36,9 (33,6-40,3) |
Feminino | 778 | 63,1 (59,7-66,4) |
Faixa etária (n = 1.197) | ||
60-69 anos | 412 | 33,9 (30,3-37,8) |
70-79 anos | 509 | 42,8 (38,9-46,8) |
80 anos ou mais | 276 | 23,3 (21,0-25,7) |
Renda familiar em salários mínimos* (n = 1.141) | ||
Menor igual a 1 SM | 92 | 6,9 (5,2-9,2) |
Maior de 1 SM e menor igual a 3 SM | 327 | 28,6 (25,1-32,4) |
Maior de 3 SM e menor igual a 5 SM | 227 | 19,4 (16,4-22,7) |
Maior de 5 SM e menor igual a 10 SM | 274 | 23,9 (20,5-27,3) |
Maior de 10 SM | 221 | 21,2 (16,6-26,6) |
Tabagismo (n = 1.196) | ||
Não | 731 | 59,7 (56,1-63,1) |
Fumou e parou | 382 | 33,2 (30,0-36,6) |
Fuma atualmente | 83 | 7,1 (5,3-9,6) |
Ingestão de bebida alcoólica (n = 1.196) | ||
Nunca | 751 | 62,2 (57,8-66,4) |
Não abusivo | 268 | 22,1 (18,9-25,8) |
Abusivo | 177 | 15,6 (13,0-18,8) |
Atividade Física de Lazer (n = 1.192) | ||
Insuficientemente ativo | 879 | 73,0 (68,6-77,1) |
Ativo fisicamente | 313 | 27,0 (22,9-31,4) |
Escala Geriátrica de Depressão (GDS)‡ (n = 1.130) | ||
Normal | 907 | 81,0 (77,5-84,0) |
Suspeita à depressão | 223 | 19,0 (16,0-22,5) |
Déficit cognitivo† (n = 1.182) | ||
Sem deficiência cognitiva | 876 | 75,3 (71,1-79,0) |
Provável deficiência cognitiva | 306 | 24,7 (21,0-28,9) |
Incapacidade funcional (n = 1.193) | ||
Não | 821 | 69,8 (66,36-73,02) |
Sim | 372 | 30,2 (26,98-33,64) |
Demência (n = 1.178) | ||
Não | 999 | 84,9 (82,0-87,4) |
Sim | 179 | 15,1 (12,6-18,0) |
Legenda: SM – salários mínimos; GDS – Geriatric Depression Scale ou Escala Geriátrica de Depressão. *Salário Mínimo em 2013 – R$678,00 e em 2014, R$ 724,00. † Categorizado conforme Almeida21. ‡ Categorizado conforme Almeida e Almeida26.
A Tabela 2 apresenta os valores médios, os desvios padrão, os valores mínimos, máximos e a distribuição dos valores dos indicadores antropométricos, em tercis. Observa-se que os tercis superiores foram: IMC ≥ 29,53 Kg/m2; PC ≥ 100,00 cm; RCEst ≥ 100,00 e IC > 1,36.
Tabela 2 Médias, desvios padrão, valores mínimos/máximos e a distribuição dos valores dos indicadores antropométricos. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, 2013/2014.
Variáveis | n | Média (IC95%) | [Mín-Máx] | Tercil inferior | Tercil médio | Tercil superior |
---|---|---|---|---|---|---|
Índice de Massa Corporal (Kg/m2) | 1.148 | 28,22 (27,78-28,65) | [15,38-54,19] | < 25,72 | 25,72-29,51 | ≥ 29,53 |
Perímetro da cintura (cm) | 1.160 | 95,56 (94,58-96,53) | [50,00-143,10] | ≤ 89,00 | 89,10-99,95 | ≥ 100,00 |
Razão cintura estatura | 1.150 | 0,61 (0,60-0,61) | [0,36-0,93] | < 0,57 | 0,57-0,63 | > 0,63 |
Índice de Conicidade | 1.147 | 1,32 (1,31-1,33) | [0,91-1,70] | < 1,28 | 1,28-1,36 | > 1,36 |
Legenda: DP – desvio padrão; Mín – mínimo; Máx: máximo.
As análises bruta e ajustada da associação entre os indicadores antropométricos e demência são apresentadas na Tabela 3. Na análise bruta, a demência foi associada apenas aos tercis superiores da RCEst. e do índice de conicidade. Após ajuste, a RCEst. manteve a associação e a demência foi também associada ao IMC e ao PC. A probabilidade do desfecho foi, aproximadamente, 2 vezes maior naqueles do tercil superior do IMC, do PC e da RCEst., quando comparados ao menor tercil (inferior).
Tabela 3 Análise bruta e ajustada em relação aos indicadores antropométricos e demência. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, 2013/2014.
OR Bruto (IC95%) | p | OR Ajustado* (IC95%) | p | |
---|---|---|---|---|
Índice de Massa Corporal (Kg/m2) | 0,171 | 0,007 | ||
Tercil inferior | 1,00 | 1,00 | ||
Tercil médio | 0,68 (0,41-1,13) | 1,16 (0,62-2,17) | ||
Tercil superior | 1,37 (0,86-2,18) | 2,32 (1,26-4,25) | ||
Perímetro da cintura (cm) | 0,398 | 0,009 | ||
Tercil inferior | 1,00 | 1,00 | ||
Tercil médio | 0,75 (0,45-1,23) | 1,25 (0,62-2,53) | ||
Tercil superior | 1,18 (0,79-1,76) | 2,22 (1,20-4,11) | ||
Razão cintura estatura | < 0,001 | 0,007 | ||
Tercil inferior | 1,00 | 1,00 | ||
Tercil médio | 0,89 (0,50-1,57) | 1,03 (0,46-2,32) | ||
Tercil superior | 2,32 (1,44-3,74) | 2,30 (1,19-4,43) | ||
Índice de conicidade | 0,006 | 0,054 | ||
Tercil inferior | 1,00 | 1,00 | ||
Tercil médio | 1,34 (0,80-2,24) | 1,37 (0,71-2,64) | ||
Tercil superior | 1,82 (1,18-2,80) | 1,92 (0,98-3,74) |
Legenda: OR: Odds Ratio ou Razão de Chances; IC95%: Intervalo de Confiança de 95%. *Ajustado por sexo, faixa etária, renda familiar em salários mínimos, tabagismo, ingestão de bebida alcoólica, atividade física de lazer e escala geriátrica de depressão.
Este estudo verificou a associação da demência com o IMC, o PC, o índice de conicidade e a RCEst., em idosos de Florianópolis. De acordo com os resultados, a demência mostrou associação independente com o maior tercil de todos os indicadores antropométricos, exceto índice de conicidade. A força de associação foi similar para os três indicadores.
No presente estudo, a estimativa de prevalência de demência (15,1%) e diferem do verificado em outros3,28. No estudo de Correa Ribeiro et al.28 (Rede de Pesquisa Fragilidade em Idosos Brasileiros – Seção Rio de Janeiro, FIBRA-RJ), realizado com 683 clientes de planos de saúde (≥ 67 anos) da cidade do Rio de Janeiro, a estimativa de prevalência de demência foi de 16,9%. No entanto, no estudo de Bottino et al.3, realizado com amostra randômica de idosos de comunidade, residentes em 3 distritos da cidade de São Paulo (n = 1.563), a prevalência ajustada pelo desenho do estudo foi de 12,5% entre as pessoas com 60 anos ou mais. As diferenças nas estimativas de prevalência podem estar relacionadas ao uso de diferentes instrumentos e/ou categorização utilizados para verificar a demência nos estudos, métodos de amostragem/coleta dos dados.
Os resultados mostraram que a demência foi positivamente associada ao tercil superior do IMC, assim como identificado em estudo de revisão sistemática12. Dados de estudos prospectivos mostraram resultados controversos13,29,30. No estudo de seguimento conduzido por Qizilbash et al.13, realizado com 1.958.191 indivíduos (40 anos ou mais) atendidos na atenção primária do Reino Unido, o risco de demência foi maior naqueles com baixo peso, enquanto o excesso de peso apresentou papel protetor. Contudo, diferente do presente estudo e como apontado por Kivimäki et al.31, Qizilbash et al.13 não consideraram as covariáveis relacionadas ao estilo de vida e ao nível educacional dos participantes. Além disso, o mesmo valor de classificação do estado nutricional (IMC) foi utilizado para os indivíduos dos diferentes grupos etários, tanto para aqueles com 60 anos ou menos, quantos para aqueles com idade ≥ 60 anos, inclusive para idosos com 80 anos e mais. No estudo de Jeong et al.30, realizado com 467 idosos (≥ 65 anos) de três comunidades rurais da Coréia do Sul, os autores verificaram que o IMC elevado foi associado à demência, somente nos indivíduos com PC elevado. Nas pessoas em que o PC era normal o IMC, perdeu a associação. Dados de estudos de revisão sistemática, meta-análise e prospectivos32-34 mostraram que ter excesso de peso na meia idade aumenta o risco de demência na idade avançada, o que vai ao encontro dos resultados do presente estudo, ainda que os valores de ponto de corte do IMC tenham sido distintos.
A razão pela qual o excesso de peso/obesidade é associado à demência ainda não está completamente esclarecida, provavelmente, devido à complexidade dos seus determinantes, que envolvem fatores ambientais, comportamentais, metabólicos, genéticos e hereditários35. Além dos efeitos mediados por doenças crônicas que são fatores de risco para demência (diabetes, colesterol alto, doença cardiovascular e hipertensão), acredita-se que o excesso de peso/obesidade tenha influência negativa no cérebro muito antes dos sintomas de demência se manifestarem36. Além de alterações na estrutura cerebral35, o estresse oxidativo, a desregulação nos hormônios leptina e insulina37 e uma variedade de metabólitos biodisponibilizados pelo tecido adiposo afetam o cérebro diretamente através da barreira hematoencefálica36. Contudo, outros autores postulam que o risco para demência está relacionado à adiposidade visceral38.
No presente estudo, a demência também foi associada ao maior tercil de dois indicadores de gordura centralizada, PC e RCEst., similar ao verificado por outros estudos8,9,14. A força de associação foi similar para os dois indicadores. Dados do estudo de seguimento SALSA (Sacramento Area Latino Study on Aging), envolvendo 1.351 indivíduos residentes em comunidade (60 a 101 anos), mostraram que o maior PC no período baseline (1998-99) foi associada com maior taxa de demência após 7 anos9. No estudo de seguimento (1992-2003) de Luchsinger et al.8, envolvendo amostra randômica de indivíduos (≥ 65 anos), residentes na região norte da cidade de Nova Iorque, atendidos pelo Medicare, o maior PC foi associado ao maior risco de demência naqueles com idade inferior a 76 anos. Brito et al.14, verificaram associação entre demência e RCEst em idosos (61 a 90 anos) do Distrito Federal, e não verificaram associação com o IC, assim como no presente estudo. Contudo, ressalta-se que esse estudo foi realizado com apenas 84 idosos vivendo em comunidade.
Existem alguns fatores potenciais que explicam a relação entre gordura visceral e demência, além dos fatores relacionados ao excesso de peso/obesidade. O perfil de secreção das gorduras visceral e subcutânea são distintos, sendo o primeiro mais prejudicial. A gordura visceral é metabolicamente ativa e secreta citocinas pró-inflamatórias que podem afetar os tecidos localmente e sistematicamente38. A inflamação sistêmica tem relação com a síndrome metabólica, resistência à insulina, diabetes, dislipidemias e doenças cardiovasculares, condições que aumentam o risco de demência38,39.
Entre os pontos positivos desta investigação salienta-se o fato do estudo ser de base populacional, com amostra representativa de idosos, com boa taxa de resposta (89,1%), ou seja, sem perda significativa de participantes entre a linha de base e seu seguimento. A metodologia empregada na coleta dos dados, o treinamento de entrevistadores, a padronização de medidas e a utilização de questionários validados para a população alvo também reforçam a qualidade dos dados do presente estudo. Destaca-se também o ajuste para características que têm associação com a demência e o excesso de peso/obesidade. Consideram-se como limitações do estudo a utilização de proxy respondente nas questões relacionadas à incapacidade funcional e o uso de questões autorreferidas.
Em conclusão, de acordo com os resultados, a demência foi positivamente associada aos maiores valores (tercil superior) do IMC, PC e RCEst., ou seja, tanto a obesidade quanto a gordura abdominal foram associadas ao desfecho. É importante destacar que não existe consenso quanto ao melhor valor de IMC para idosos, contudo, o valor do tercil superior identificado no presente estudo é superior ao valor usado no Brasil, pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional11. Em relação ao PC, ainda não há consenso quanto ao valor de ponto de corte para idosos e diferentes populações40. Da mesma forma, a RCEst e o índice de conicidade ainda são pouco usados em estudos envolvendo idosos, principalmente na associação com demência. Contudo, ressalta-se que se tratam de indicadores não invasivos, de fácil aplicação e baixo custo e que podem ser usados de forma conjunta na prática clínica, na vigilância e no planejamento em saúde. Visto que a prevalência de excesso de peso/obesidade vem aumentando em todo o mundo16,17 a associação dos indicadores antropométricos de excesso de peso/obesidade abdominal com a demência deve ser levada em consideração, ainda que outros estudos, inclusive de seguimento devam investigar melhor esta associação.