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Índice de Volume do Átrio Esquerdo como Preditor de Eventos em Síndrome Coronariana Aguda

Índice de Volume do Átrio Esquerdo como Preditor de Eventos em Síndrome Coronariana Aguda

Autores:

Luciano Barros Pires,
Rodrigo Pires dos Santos

ARTIGO ORIGINAL

Arquivos Brasileiros de Cardiologia

versão impressa ISSN 0066-782X

Arq. Bras. Cardiol. vol.104 no.4 São Paulo abr. 2015

https://doi.org/10.5935/abc.20150030

Prezado Editor,

O Índice de Volume do Átrio Esquerdo (IVAE) é uma medida que vem ganhando importância na prática clínica diária em função das evidências quanto à sua capacidade de predizer mortalidade, tanto em pacientes em seguimento pós-Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) como na população geral1. O estudo de Secundo Junior e cols. buscou avaliar o papel do IVAE como preditor de eventos tardios em pacientes com síndrome coronariana aguda2. Esse estudo pôde corroborar achados anteriores em pacientes com IAM e demonstrou que o IVAE aumentado também pode ser capaz de predizer eventos cardiovasculares maiores em pacientes com angina instável. Do mesmo modo, demonstrou-se que os pacientes com IVAE aumentado eram aqueles com maior prevalência de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), IAM e angioplastia prévios, eram mais idosos, com maior Índice de Massa Corporal (IMC), menor fração de ejeção do Ventrículo Esquerdo (VE) e com disfunção diastólica mais grave, evidenciando que o índice pode ser um marcador relacionado a maior ocorrência de doenças cardiovasculares e comorbidades.

Em estudos de coorte, um problema significativo é a presença de variáveis não controláveis, que são potenciais fatores de confusão com possível interferência nos resultados. O grau de sucesso de reperfusão (avaliado por fluxo TIMI, blush miocárdico ou recuperação do segmento ST), que mantém correlação significativa com melhor sobrevida, pode ser um desses fatores não medidos no presente estudo3. Outro fator de confusão poderia ser a incidência de Fibrilação Atrial (FA) no período extra-hospitalar. É reconhecida a relação causal entre a FA e Acidente Vascular Encefálico (AVE) isquêmico, independente de achados ecocardiográficos. Ela está associada a um aumento no risco de AVE isquêmico em uma razão de quatro a cinco vezes4 e é responsável por mais de 15% desses eventos em pessoas de todas as idades e 30% em pessoas acima de 80 anos5.

Assim, não fica claro, nos resultados de Secundo Junior e cols., se a grande ocorrência de AVE, no seguimento extra-hospitalar, deu-se somente pelo aumento do IVAE ou pela possível ocorrência dessa arritmia, bem como não se pode afirmar que não houve influência de melhor ou pior reperfusão na incidência de eventos, tanto em um como em outro grupo.

REFERÊNCIAS

Moller JE, Hillis GS, Oh JK, Seward JB, ReederGS, Wright RS, et al Left atrial volume: a powerful predictor of survival after acute myocardial infarction. Circulation, 2003;107(17):2207-12.
Santos MA, Faro GB, Soares CB, Silva AM, Secundo PF Jr,et al. Indice de volume atrial esquerdo e predição de eventos em síndrome coronária aguda: registro solar. Arq Bras Cardiol. 2014; 103(4): 282-91
Sattur S, Sarwar B, Sacchi TJ, Brener SJ. Correlation between markers of reperfusion and mortality in ST-elevation myocardial infarction: a systematic review. J Invasive Cardiol. 2014; 26(11):587-95.
Wolf PA, Abbolt RD, Kannel WB. Atrial fibrillation as an independente risk factor for stroke: the Framinghan Study. Stroke. 1991;22(8):983-8.
Wolf PA, Abbott RD, Kannel WB. Atrial fibrillation: a major contributor to stroke in the elderly: the Framingham Study. Arch Intern Med. 1987;147(9):1561-4.