versão impressa ISSN 1808-8694
Braz. j. otorhinolaryngol. vol.79 no.6 São Paulo nov./dez. 2013
http://dx.doi.org/10.5935/1808-8694.20130136
O interesse no estudo da relação entre o envelhecimento e o processamento auditivo temporal tem sido crescente em função da existência de idosos que não apresentam perda auditiva e relatam dificuldades para detectar sons com fraca intensidade e para compreender a fala, principalmente em situações de competição sonora, enquanto outros idosos, com evidentes perdas auditivas, nem sempre apresentam tais queixas1.
Por ser a fala uma sequência encadeada, extremamente rápida, de sons, o prejuízo na resolução temporal pode ocasionar aos idosos a perda de informações acústicas que sejam muito breves, mas importantes para um processo efetivo de comunicação no dia-a-dia2. Acredita-se que a habilidade de resolução temporal diminuída seja um dos fatores envolvidos na dificuldade de compreensão de fala em idosos, e não necessariamente somente a perda auditiva2.
Uma queixa comum dos indivíduos idosos diz respeito à dificuldade da compreensão da linguagem falada, principalmente em situações de comunicação desfavoráveis, como velocidade de fala aumentada3,4. Além disso, um dos maiores obstáculos enfrentados pelos idosos na comunicação é o reconhecimento de fala no ruído4-6.
Tais problemas na demanda comunicativa são reportados tanto pelos idosos que apresentam perda auditiva quanto por aqueles com audição normal4. Porém, há indícios de que o desempenho para reconhecer a fala pode ser ainda pior no idoso que apresenta perda auditiva7.
Os testes tradicionais para avaliar a habilidade do processamento auditivo temporal utilizam estímulos não verbais; porém, sabe-se que materiais que utilizam tais estímulos não são suficientes para analisar o desempenho na compreensão de fala. A avaliação do reconhecimento da fala por meio de testes que utilizem sentenças é importante, pois desta forma é possível simular situações mais próximas àquelas vividas cotidianamente pelos indivíduos8. A aplicação do teste Listas de Sentenças em Português - LSP9 conjuntamente ao Listas de Sentenças Lentificadas em Português - LSPL10 pode ser realizada para investigar a habilidade de reconhecimento de sentenças na ausência e presença de ruído. Além disso, a comparação entre os resultados de ambos os testes permite que o pesquisador faça inferências sobre o funcionamento de aspectos temporais.
O objetivo do estudo foi verificar a influência das variáveis perda auditiva e velocidade de apresentação do estímulo verbal no reconhecimento de fala em idosos, no silêncio e no ruído.
O presente estudo está vinculado ao projeto "Reconhecimento de sentenças com diferentes velocidades de fala", registrado no Gabinete de Projetos do Centro de Ciências da Saúde sob o nº 029457 e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa de uma Instituição de Ensino Superior, com certificado de nº 0098.0.243.000-11. O estudo foi desenvolvido no Laboratório de Próteses Auditivas do Serviço de Atendimento Fonoaudiológico da mesma.
Todos os indivíduos participantes foram informados sobre os objetivos, justificativa, benefícios, riscos e procedimentos da pesquisa; garantia de esclarecimentos ao participante; garantia de sigilo da identidade e dos dados obtidos, os quais ficaram sob responsabilidade do fonoaudiólogo-pesquisador; liberdade de recusa à participação por qualquer motivo, não sendo obrigatória a conclusão das avaliações; possibilidade de entrar em contato com o examinador pessoalmente ou por telefone quando achassem necessário.
Estes dados estavam contidos no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE, que foi devidamente lido e assinado por aqueles que concordaram em participar do estudo.
O grupo de idosos com audição normal (Grupo Controle - GC) foi composto por sujeitos advindos de Grupos de Terceira Idade, ao passo que o grupo de sujeitos com perda auditiva (Grupo Estudo - GE), por idosos que aguardavam o recebimento de próteses auditivas do programa de concessão do Governo Federal desenvolvido na Instituição de origem, além de alguns idosos também provenientes dos Grupos de Terceira Idade.
Para que os sujeitos fizessem parte do estudo, deveriam obedecer a algumas características: ter idade superior a 60 anos, considerado idoso para países em desenvolvimento, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS); apresentar Índice Percentual de Reconhecimento de Fala (IPRF) igual ou superior a 72%; não apresentar alterações de orelha externa; não apresentar histórico de alterações e deficiências que comprometessem a execução dos procedimentos (distúrbios neurológicos, psicológicos, mentais ou cognitivos) e/ou alterações de fala perceptíveis.
Além disso, os idosos do GC deveriam apresentar limiares auditivos dentro dos padrões de normalidade -média tritonal igual ou inferior a 25 dB11; enquanto os do GE, apresentar perda auditiva neurossensorial de grau leve a moderadamente grave11 e nunca ter feito uso de próteses auditivas.
Para compor os grupos estudados, os voluntários foram submetidos à anamnese, inspeção visual do meato auditivo externo, Audiometria Tonal Liminar (ATL) nas frequências de 250 a 8.000 Hz por via aérea e de 500 a 4.000 Hz por via óssea, determinação do Limiar de Reconhecimento de Fala (LRF) para dissílabos e Índice Percentual de Reconhecimento de Fala (IPRF) para monossílabos, em ambiente tratado acusticamente, utilizando um audiômetro digital de dois canais, modelo Affinity AC440, marca Interacoustics e fones auriculares tipo TDH-39P, da marca Telephonics.
O grupo de idosos normo-ouvintes (GC) foi composto por 31 sujeitos, seis do gênero masculino e 25 do gênero feminino, com idades entre 61 e 81 anos. Enquanto o grupo de idosos com perda auditiva (GE) por 26 sujeitos, 12 do gênero masculino e 14 do gênero feminino, com idades entre 60 e 84 anos - destes, 14 apresentaram perda auditiva neurossensorial de grau leve na melhor orelha e 12 de grau moderado.
Após a separação dos sujeitos nos referidos grupos, estes tiveram os Índices Percentuais de Reconhecimento de Sentenças no Silêncio (IPRSS), e Índices Percentuais de Reconhecimento de Sentenças no Ruído (IPRRS) obtidos por meio do teste Listas de Sentenças em Português LSP9, além dos Limiares de Reconhecimento de Sentenças Lentificadas no Silêncio (LRSSL), Índices Percentuais de Reconhecimento de Sentenças Lentificadas no Silêncio (IPRSSL), Limiares de Reconhecimento de Sentenças Lentificadas no Ruído (LRSRL), Índices Percentuais de Reconhecimento de Sentenças Lentificadas no Ruído (IPRSRL) com a aplicação do teste Listas de Sentenças Lentificadas em Português - LSPL10.
O teste LSP9 é composto por um livro e um Compact Disc (CD), constituído por uma lista de 25 sentenças em Português brasileiro, denominada Lista 1A12; além de sete listas com 10 sentenças cada uma, denominadas 1B a 7B13; um ruído com espectro de fala14 e um tom puro de calibração.
Já o LSPL10 é um material desenvolvido a partir do material do LSP9, que consiste das mesmas sentenças, porém modificadas junto a um profissional das áreas da física, engenharia elétrica e engenharia acústica. Tal transformação se deu de modo que todas as listas de sentenças sofreram uma elongação de 25% em relação à duração original das mesmas, considerado este o prolongamento máximo capaz de alterar minimamente o conteúdo espectral do material. Para isso, utilizou-se um algoritmo que possui configuração de transformação padrão de duração que não gera alterações musicais-subjetivas. Este algoritmo faz parte do software Cubase SX/SL 3, da empresa Steinberg/Yamaha.
Assim, foi produzido um novo CD que ficou contido pelas oito faixas com as listas de sentenças originais do LSP, porém com velocidade de fala diminuída, além da faixa com o tom puro de calibração e o ruído competitivo de espectro de fala que fazem parte do material original9.
As medidas pesquisadas com estes materiais foram obtidas em cabina tratada acusticamente, utilizando-se o audiômetro digital de dois canais anteriormente descrito; além de um sistema de amplificação com caixas de som Iridium PA100, para medidas em campo livre.
A calibração do equipamento para a obtenção das medidas em campo livre foi realizada previamente no local onde o paciente seria posicionado, ou seja, a um metro das caixas de som, a 0º, 0º graus azimute, por um profissional habilitado para este serviço, registrado no Inmetro São Paulo, tendo sido obtidas as medidas em Nível de Pressão Sonora (NPS), utilizando a escala A do medidor, com respostas rápidas, por ser considerada aquela que mais se aproxima da resposta auditiva humana, além de ser a mais usada pela maioria dos pesquisadores nesta área.
Além disso, durante toda a pesquisa, as medidas em campo livre, foram monitoradas pelo examinador com o auxílio de um Medidor de Pressão Sonora Digital, da marca RadioShack, considerando as características do sinal de teste e da necessidade de manter sempre as mesmas condições acústicas do ambiente.
Para estabelecer os parâmetros de calibração do canal das sentenças, foi utilizado como referência o tom puro presente na primeira faixa do CD; assim, garantiu-se que as condições de apresentação dos estímulos de fala tenham sido mantidas constantes.
Por sua vez, para a calibração do ruído, presente no outro canal do CD, por se tratar de um som contínuo, utilizou-se o próprio ruído como referência. A saída de cada canal foi calibrada usando-se o VU-meter do audiômetro. Tanto o tom puro, presente no canal um, quanto o ruído, presente no canal dois, foram colocados no nível zero.
As sentenças e o ruído, gravados em CD, em canais independentes, foram apresentados com o uso de um CD Player Digital, modelo 4149, da marca Toshiba, acoplado ao audiômetro e caixas de som descritos.
A obtenção de tais medidas se deu na seguinte ordem: LRSSL, IPRSSL e IPRSS, LRSRL, IPRSRL e IPRSR. Antes de iniciá-las, foi realizado o treinamento para familiarização dos participantes com o teste.
Foram apresentadas as sentenças de 1 a 5 da lista 1A do material lentificado, sem a presença de ruído competitivo. Em seguida, foram obtidos os LRSSL, IPRSSL e IPRSS.
Além de familiarizar os sujeitos com o teste, este treinamento serviu também para a determinação da intensidade inicial necessária de apresentação, para que cada idoso tivesse êxito na primeira sentença de cada lista do teste15. Assim, antes da obtenção das medidas com ruído, este foi realizado novamente, desta vez com as sentenças de 6 a 10 da lista 1A, acompanhadas do ruído competitivo fixo a 65 dB NPS (A). Por fim, foram pesquisados os LRSRL, IPRSRL e IPRSR.
Para determinar os Limiares de Reconhecimento de Sentenças Lentificadas no Silêncio (LRSSL), foi utilizada a lista 1B do LSPL, sem a presença de ruído competitivo. Já para a obtenção dos Limiares de Reconhecimento de Sentenças Lentificadas no Ruído (LRSRL), a lista 4B do LSPL, com ruído competitivo.
A estratégia utilizada para a pesquisa dos LRSL foi a sequencial ou adaptativa, ou ainda, ascendente-descendente16. Esta permite mensurar o nível necessário para o indivíduo identificar, de forma correta, aproximadamente 50% dos estímulos de fala apresentados em uma determinada relação sinal/ruído (S/R).
Seguindo essa estratégia, quando o sujeito reconhecia corretamente o estímulo de fala apresentado, a intensidade de apresentação para a próxima sentença era diminuída; caso contrário, aumentada. Uma resposta só foi considerada correta quando o indivíduo repetiu, sem nenhum erro ou omissão, toda a sentença apresentada.
Foram dados intervalos de 4 dB até a primeira mudança no tipo de resposta e, posteriormente, intervalos de apresentação dos estímulos de 2 dB entre si até o final da lista, conforme recomendado pela literatura16.
Na pesquisa do LRSRL, a intensidade do ruído foi mantida constante a 65 dB NPS (A).
A pesquisa dos Limiares serviu para determinar o valor de apresentação das listas para obtenção dos Índices.
Primeiramente, foi determinado o Índice Percentual de Reconhecimento de Sentenças Lentificadas no Silêncio (IPRSSL), utilizando a lista 2B do material lentificado (LSPL) e, após, o Índice Percentual de Reconhecimento de Sentenças no Silêncio (IPRSS) por meio da apresentação da lista 3B com sentenças em velocidade típica (LSP). Da mesma forma, obteve-se o IPRSRL com as sentenças da lista 5B do LSPL e o IPRSR por meio da 6B do LSP, ambas com ruído competitivo.
Para a apresentação das listas e obtenção dos Índices no Silêncio e no Ruído, foram fixadas as intensidades encontradas nas pesquisas dos LRSSL e LRSRL, respectivamente. Enquanto que a intensidade do ruído foi mantida constante a 65 dB NPS (A) na pesquisa dos IPRSRL e IPRSR.
Os Índices foram calculados por meio da pontuação por palavras17. Esta forma de cálculo foi escolhida pelo entendimento de que desta forma é possível fazer uma análise mais precisa de o que o paciente é capaz ou não de reconhecer durante uma conversação, sem desprezar acertos.
Para este cálculo, são atribuídos dois pontos para cada palavra de conteúdo (substantivos, adjetivos, verbos, advérbios e numerais) repetida corretamente e um para cada palavra funcional (artigos, as preposições, as conjunções, os pronomes e as interjeições) correta. Ao término da apresentação da lista, é obtido o total de pontos e estes são multiplicados por um valor pré-estabelecido, que dará a porcentagem final de acerto, que será o Índice Percentual de Reconhecimento de Sentenças do sujeito.
Para verificar a normalidade das variáveis, foi utilizado o teste Lilliefors e, para a significância, o teste t para variáveis dependentes, quando as variáveis apresentaram normalidade e o Wilcoxon para as variáveis sem distribuição normal.
Foi considerado nível de significância estatística de p < 0,05 (5%).
No GC, os valores obtidos nas pesquisas dos IPRSS, IPRSSL, IPRSR e IPRSRL apresentaram distribuição normal, segundo o teste Lilliefors. A Tabela 1 evidencia que os idosos sem perda auditiva investigados apresentaram melhores resultados à apresentação das sentenças em velocidade diminuída, com diferença estatisticamente significante, quando avaliados no silêncio, mas não no ruído.
Sujeito/Medida | IPRSS | IPRSSL | Dif (IPRSS-IPRSSL) | IPRSR | IPRSRL | Dif (IPRSR-IPRSRL) |
SC1 | 58,50% | 64,41% | -5,91% | 52,17% | 61,20% | -9,03% |
SC2 | 63,18% | 84,75% | -21,57% | 69,93% | 51,60% | 18,33% |
SC3 | 66,70% | 87,01% | -20,31% | 57,70% | 74,40% | -16,70% |
SC4 | 47,97% | 79,10% | -31,13% | 63,27% | 44,40% | 18,87% |
SC5 | 60,84% | 79,10% | -18,26% | 69,93% | 60,00% | 9,93% |
SC6 | 57,33% | 63,28% | -5,95% | 83,25% | 86,40% | -3,15% |
SC7 | 76,05% | 73,45% | 2,60% | 81,03% | 49,20% | 31,83% |
SC8 | 47,97% | 55,37% | -7,40% | 77,70% | 60,00% | 17,70% |
SC9 | 65,52% | 63,28% | 2,24% | 56,61% | 30,00% | 26,61% |
SC10 | 83,07% | 80,25% | 2,82% | 74,37% | 84,00% | -9,63% |
SC11 | 80,73% | 91,53% | -10,80% | 67,71% | 49,20% | 18,51% |
SC12 | 70,20% | 100,00% | -29,80% | 52,17% | 46,80% | 5,37% |
SC13 | 82,49% | 57,60% | 24,89% | 90,48% | 86,58% | 3,90% |
SC14 | 81,90% | 68,93% | 12,97% | 38,85% | 40,80% | -1,95% |
SC15 | 84,75% | 81,90% | 2,85% | 46,62% | 50,40% | -3,78% |
SC16 | 67,86% | 73,45% | -5,59% | 61,05% | 62,40% | -1,35% |
SC17 | 76,05% | 85,88% | -9,83% | 69,93% | 88,80% | -18,87% |
SC18 | 81,90% | 96,05% | -14,15% | 85,47% | 78,00% | 7,47% |
SC19 | 66,69% | 87,36% | -20,67% | 35,20% | 37,20% | -2,00% |
SC20 | 51,48% | 82,49% | -31,01% | 72,15% | 56,40% | 15,75% |
SC21 | 79,56% | 84,75% | -5,19% | 43,29% | 33,60% | 9,69% |
SC22 | 65,52% | 100,00% | -34,48% | 54,39% | 44,40% | 9,99% |
SC23 | 57,33% | 57,63% | -0,30% | 44,40% | 34,80% | 9,60% |
SC24 | 71,37% | 61,02% | 10,35% | 64,38% | 67,20% | -2,82% |
SC25 | 52,65% | 66,67% | -14,02% | 53,28% | 51,60% | 1,68% |
SC26 | 51,48% | 75,71% | -24,23% | 57,72% | 46,80% | 10,92% |
SC27 | 75,71% | 79,10% | -3,39% | 48,84% | 73,20% | -24,36% |
SC28 | 47,97% | 56,50% | -8,53% | 43,29% | 30,00% | 13,29% |
SC29 | 70,02% | 80,23% | -10,21% | 56,61 | 50,40% | 6,21% |
SC30 | 77,22% | 67,80% | 9,42% | 67,71% | 88,80% | -21,09% |
SC31 | 54,99% | 59,89% | -4,90% | 53,28% | 56,40% | -3,12% |
p = 0,001690* | p = 0,131644 |
*Valor significante estatisticamente. SC: Sujeito do Grupo Controle; IPRSS: Índice Percentual de Reconhecimento de Sentenças no Silêncio; IPRSSL: Índice Percentual de Reconhecimento de Sentenças Lentificadas no Silêncio; Dif: Diferença; IPRSR: Índice Percentual de Reconhecimento de Sentenças no Ruído; IPRSRL: Índice Percentual de Reconhecimento de Sentenças Lentificadas no Ruído; p: valores de significância (teste t para variáveis dependentes).
Os valores obtidos na pesquisa dos IPRSS, IPRSSL e IPRSRL do GE apresentaram distribuição normal, segundo o teste Lilliefors. Na Tabela 2, é possível observar que os idosos com perda auditiva apresentaram melhores resultados, com diferença estatisticamente significante tanto no silêncio quanto no ruído, quando avaliados com sentenças em velocidade diminuída.
Sujeito/Medida | IPRSS | IPRSSL | Dif (IPRSS-IPRSSL) | IPRSR | IPRSRL | Dif (IPRSR-IPRSRL) |
SE1 | 71,37% | 84,75% | -13,38% | 55,50% | 46,80% | 8,70% |
SE2 | 49,14% | 72,30% | -23,16% | 69,93% | 85,20% | -15,27% |
SE3 | 76,05% | 87,01% | -10,96% | 72,15% | 72,00% | 0,15% |
SE4 | 38,61% | 62,15% | -23,54% | 54,39% | 74,24% | -19,85% |
SE5 | 64,35% | 72,32% | -7,97% | 15,54% | 43,20% | -27,66% |
SE6 | 77,22% | 72,32% | 4,90% | 71,04% | 91,20% | -20,16% |
SE7 | 56,16% | 67,80% | -11,64% | 64,38% | 44,40% | 19,98% |
SE8 | 51,48% | 39,55% | 11,93% | 56,61% | 81,60% | -24,99% |
SE9 | 60,84% | 65,54% | -4,70% | 43,29% | 58,80% | -15,51% |
SE10 | 74,88% | 67,80% | 7,08% | 48,84% | 74,40% | -25,56% |
SE11 | 91,26% | 76,84% | 14,42% | 61,05% | 58,80% | 2,25% |
SE12 | 66,69% | 63,28% | 3,41% | 62,16% | 63,60% | -1,44% |
SE13 | 83,07% | 83,62% | -0,55% | 72,15% | 88,80% | -16,65% |
SE14 | 81,90% | 83,62% | -1,72% | 38,85% | 58,80% | -19,95% |
SE15 | 74,88% | 89,27% | -14,39% | 63,27% | 79,20% | -15,93% |
SE16 | 63,18% | 64,41% | -1,23% | 33,30% | 33,60% | -0,30% |
SE17 | 64,35% | 64,41% | -0,06% | 45,51% | 57,60% | -12,09% |
SE18 | 47,97% | 39,55% | 8,42% | 62,16% | 70,80% | -8,64% |
SE19 | 28,08% | 67,80% | -39,72% | 12,21% | 43,20% | -30,99% |
SE20 | 36,27% | 64,41% | -28,14% | 71,04% | 78,00% | -6,96% |
SE21 | 42,12% | 53,11% | -10,99% | 83,25% | 79,20% | 4,05% |
SE22 | 65,52% | 80,23% | -14,71% | 21,09% | 42,00% | -20,91% |
SE23 | 79,56% | 67,80% | 11,76% | 65,49% | 70,80% | -5,31% |
SE24 | 97,11% | 83,62% | 13,49% | 56,61% | 51,60% | 5,01% |
SE25 | 69,03% | 73,45% | -4,42% | 53,28% | 48,00% | 5,28% |
SE26 | 59,67% | 68,93% | -9,26% | 17,76% | 28,80% | -11,04% |
p = 0,047283* | p = 0,002030* |
* Valor significante estatisticamente. SE: Sujeito do Grupo Estudo; IPRSS: Índice Percentual de Reconhecimento de Sentenças no Silêncio; IPRSSL: Índice Percentual de Reconhecimento de Sentenças Lentificadas no Silêncio; Dif: Diferença; IPRSR: Índice Percentual de Reconhecimento de Sentenças no Ruído; IPRSRL: Índice Percentual de Reconhecimento de Sentenças Lentificadas no Ruído; p: valores de significância (testes t para variáveis dependentes e Wilcoxon).
O interesse em pesquisar as variáveis perda auditiva e velocidade de apresentação do estímulo verbal no reconhecimento de fala na população idosa surgiu pelo fato de estudos afirmarem que o tempo afeta a habilidade de reconhecer a fala4,18 e por ser comprovado que indivíduos com perda auditiva e sujeitos idosos19,20 podem apresentar dificuldade para compreender o que lhes é dito.
Déficits de memória e atenção e uma desaceleração generalizada e progressiva no funcionamento do cérebro são responsáveis pela maioria dos declínios relacionados à idade21, além disso, o déficit no processamento auditivo da fala relacionado com a idade é um dos muitos fatores que contribuem para os desafios na escuta diária de idosos22.
Uma correta interpretação requer atenção direcionada por parte do ouvinte, considerando que o déficit cognitivo reduz a capacidade dos idosos para manipular e integrar o fluxo contínuo de informações que são recebidas, logo a fala acelerada é um dos desafios adicionais à percepção22.
Assim, buscou-se identificar se quando, além do processo de envelhecimento, também está presente o comprometimento auditivo periférico, a habilidade de reconhecer a fala é ainda mais prejudicada e se diferentes velocidades de fala, realmente modificam o desempenho desta população.
A pesquisa deste aspecto por meio do reconhecimento de sentenças foi escolhida, pelo entendimento de que estes são estímulos mais próximos aos quais os sujeitos realmente são expostos em seu dia-a-dia8.
Inicialmente, na análise das medidas obtidas no silêncio percebe-se que tanto os sujeitos do grupo de idosos normo-ouvintes (GC) quanto de idosos com perda auditiva (GE) apresentaram melhora estatisticamente significante à apresentação das sentenças em velocidade diminuída, o que evidencia que os idosos de ambos os grupos se beneficiaram com a lentificação da fala, nesta situação.
Estes achados serão discutidos com resultados de estudos que, na maior parte, aplicaram testes conhecidos que avaliam o processamento auditivo temporal por meio de estímulos não verbais, devido à dificuldade em encontrar pesquisas que utilizaram estímulos de fala para investigar o aspecto temporal na habilidade de reconhecer a fala.
Alguns estudos2,23 já pesquisaram a influência do aspecto temporal no desempenho de sujeitos idosos, por meio de testes que avaliam ordenação e resolução temporal e não encontraram diferença no desempenho do processamento auditivo temporal entre os grupos com normalidade e perda auditiva, sugerindo que o fator que realmente interfere neste declínio é o envelhecimento. Os achados da presente pesquisa, que demonstraram que os idosos, independentemente da audição periférica, beneficiaram-se quando a fala foi apresentada em velocidade mais lenta no silêncio, concordam com estes estudos.
A evidência de que a velocidade interfere no desempenho de idosos foi relatada em pesquisa24 que constatou a piora que estes sujeitos demonstraram quando expostos a frases comprimidas, que aceleraram sua apresentação. O presente estudo agrega o fato de que não só o reconhecimento de fala piora com a fala acelerada, como referido, como também pode ser facilitado por meio da velocidade de fala diminuída.
Por sua vez, na análise das medidas obtidas na presença de ruído competitivo, o GC não teve diferença estatisticamente significante no desempenho com as diferentes velocidades de apresentação; por outro lado, o GE melhorou significantemente com a lentificação das frases. Isso demonstra o quanto a fala mais lenta é importante para os idosos, principalmente para aqueles com perda auditiva.
Os achados do presente estudo nos mostram a importância da orientação aos familiares, principalmente dos idosos candidatos ao uso de próteses auditivas, quanto às estratégias de comunicação, como o falar mais lentamente, para que os sujeitos dessa população desempenhem de forma satisfatória o diálogo no dia-a-dia. A importância da orientação à família para o sucesso comunicativo dos mesmos já foi relatada25.
Nossos resultados também servem como alerta aos profissionais para que, além de tentar falar mais claramente, utilizem o recurso de diminuir a velocidade com que se comunicam com os idosos.
Embora o grau de audibilidade influencie fortemente a compreensão da fala, alguns idosos parecem enfrentar mais dificuldades do que seria esperado a partir da análise das configurações audiométricas. Uma parte das dificuldades de reconhecimento de fala dos idosos deriva de declínio relacionado à idade em capacidades cognitivas, mudanças no processamento auditivo, ou uma combinação dos dois19.
Pesquisadoras26 referem que, além da perda auditiva, é possível observar mudanças nas funções cognitivas de sujeitos mais velhos e acrescentam que estas, no idoso, caracterizam-se pela lentidão, sugerindo déficit na transmissão do processamento temporal.
Por meio da avaliação do reconhecimento de sentenças no ruído, foi evidenciada melhora nos idosos com perda auditiva com a lentificação da fala, mesmo sem a entonação que deve-se utilizar na comunicação e sem as pistas visuais, nas quais os sujeitos se apoiam para melhor apreender o que escutam de seu interlocutor em ambientes desfavoráveis. Isto demonstra o quanto a velocidade de fala diminuída realmente é importante para uma melhor compreensão da mensagem ouvida em ambientes de difícil escuta.
Além disso, o teste LSPL possibilita que o profissional tenha mais um recurso com dados objetivos para as orientações a serem dadas para os pacientes idosos que, após adaptação de próteses auditivas, muitas vezes permanecem com dificuldades na comunicação, apesar de as avaliações de desempenho indicarem resultados quantitativos positivos, mas que não se confirmam na avaliação do benefício.
Assim, é possível quantificar e demonstrar para o idoso que, para ele sentir uma melhora mais efetiva em situações de comunicação, pode ser necessário mais que apenas a audibilidade proporcionada pela amplificação sonora.
A orientação com relação às estratégias de comunicação possivelmente será melhor compreendida e absorvida por parte do paciente e de seus familiares, assim como estimulará o interesse e maior adesão aos programas de reabilitação envolvendo treinamento auditivo de habilidades que poderão favorecer o aspecto temporal, para que os sujeitos obtenham melhor desempenho comunicativo.
Dessa forma, se espera que haja mais entendimento de que as próteses auditivas sozinhas não são capazes de solucionar todas as queixas auditivas e que um bom desempenho é resultado de uma soma de fatores que estão envolvidos durante o processo de seleção e adaptação de próteses auditivas, sendo o processamento auditivo temporal um deles.
Os achados da presente pesquisa evidenciam que os idosos, independentemente da audição periférica, beneficiaram-se no que concerne ao reconhecimento da mensagem ouvida, quando a fala foi apresentada em velocidade mais lenta no silêncio.
Quanto à fala no ruído, o estudo mostrou evidências de que idosos com perda auditiva se beneficiaram mais do que aqueles com normalidade auditiva, quando a velocidade da fala foi diminuída.