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Influência do comportamento dos pais durante a refeição e no excesso de peso na infância

Influência do comportamento dos pais durante a refeição e no excesso de peso na infância

Autores:

Karen Muniz Melo,
Ana Cláudia Pereira Cruz,
Maria Fernanda Santos Figueiredo Brito,
Lucinéia de Pinho

ARTIGO ORIGINAL

Escola Anna Nery

versão impressa ISSN 1414-8145versão On-line ISSN 2177-9465

Esc. Anna Nery vol.21 no.4 Rio de Janeiro 2017 Epub 28-Set-2017

http://dx.doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2017-0102

INTRODUÇÃO

Na infância ocorre a introdução de alimentos e a formação do paladar e, por isso, constitui um período determinante na formação dos hábitos alimentares. Nessa fase, podem ser definidos os padrões alimentares que estarão presentes nas outras etapas do ciclo de vida.1

As preferências alimentares são originadas por combinação de fatores genéticos e ambientais. O estabelecimento de hábitos alimentares saudáveis deve ser estimulado precocemente na vida do indivíduo.2 Os pais possuem importante papel na formação do hábito alimentar infantil.3 As escolhas alimentares parentais, em relação à quantidade e qualidade dos alimentos4,5 podem determinar o comportamento alimentar das crianças.

O consumo de alimentos pelas crianças está diretamente associado ao seu estado de saúde atual e nos anos futuros.6 As práticas alimentares infantis têm sido caracterizadas por um consumo excessivo de alimentos de alto valor energético, de gordura, sal e açúcar e o baixo consumo de frutas e hortaliças.7 O consumo desses produtos pode estar relacionado à disponibilidade domiciliar.8

Esse contexto tem contribuído para o aumento do excesso de peso na população infantil.7 A prevalência de crianças com excesso de peso ou obesidade aumentou tanto em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento.9,10 Nos países em desenvolvimento, a proporção de crianças com essa condição aumentou de 8,1% para 12,9% para os meninos e de 8,4% para 13,4% para as meninas.10 Na América Latina, estima-se que 3,8 milhões de crianças com idade menor que cinco anos possuem excesso de peso ou obesidade.11 No Brasil, um estudo realizado com 4.388 crianças com idade inferior a cinco anos mostrou que a prevalência de excesso de peso foi de 6,6%.12 Essa situação pode contribuir para o risco das doenças crônicas não transmissíveis.13

O excesso de peso em crianças pode ser resultado dos estímulos externos presentes no seu ambiente.14 Os determinantes biológicos e do estilo de vida da criança têm sido valorizados nas investigações sobre o excesso de peso.14 Contudo, é essencial avaliar a influência do ambiente, especialmente o familiar, no comportamento alimentar em idades precoces e no excesso de peso infantil. Nesse sentido, este estudo teve como objetivo avaliar influência do comportamento dos pais durante a refeição no excesso de peso na infância.

MÉTODOS

Trata-se de estudo transversal e analítico, com abordagem quantitativa, realizado na área de abrangência de uma equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF), no Município de Montes Claros, Norte de Minas Gerais.

A população do estudo constitui-se por crianças na faixa etária de 12 a 59 meses cadastradas na ESF pesquisada. Estimou-se a participação de no mínimo 95 crianças, considerando os seguintes critérios para o cálculo amostral: número total de crianças menores que cinco anos, nível de confiança de 95%, erro amostral de 5% e a prevalência de excesso de peso de 10%.12

Adotou-se como critério de inclusão as crianças que realizavam as refeições principais pelo menos duas vezes na semana com a família e foram excluídas aquelas que possuíam restrições alimentares.

Para a coleta de dados, utilizou-se um questionário contemplando as variáveis sobre a condição sociodemográfica, o consumo alimentar e a influência da família nos hábitos alimentares da criança. Para avaliação das condições econômicas, foi adotado o Critério de Classificação Econômica Brasil.15 O consumo alimentar foi verificado por meio dos marcadores do consumo alimentar para crianças menores de 5 anos padronizado pelo Ministério da Saúde.16

O instrumento Parent Mealtime Action Scale (PMAS)17 traduzido e validado para o português do Brasil e denominado Escala de Comportamento dos Pais durante a Refeição18 foi aplicado para a avaliação do comportamento dos pais na educação alimentar dos filhos. É constituído de 31 questões alocadas em nove domínios: disponibilidade diária de frutas e hortaliças, modelo de consumo de guloseimas, uso de recompensa, muitas opções alimentares, redução de gordura, refeições especiais, limites para guloseimas, persuasão positiva e insistência para comer. A frequência para os comportamentos era avaliada em uma semana típica da família, pelas opções nunca-1, às vezes-2, ou sempre-3. As respostas foram tabuladas e para obtenção do resultado de cada um dos nove domínios avaliados, foi realizada a média das questões que compõem cada domínio. Para manter a coerência da análise, as questões 2 e 31 (domínio Refeição especial) tiveram seus valores invertidos. Quanto maior o escore obtido no domínio (varia entre 1 e 3), mais frequente é o comportamento dos pais.

Avaliaram-se os parâmetros antropométricos de peso e altura das crianças. As crianças menores de dois anos foram pesadas em uma balança pediátrica mecânica (Welmy®, Modelo 109CH), com capacidade máxima de 16kg e precisão de 0,01kg, e tiveram seu comprimento aferido em decúbito dorsal, com um estadiômetro portátil (Alturexata®, com intervalo de 1 mm). As crianças mais velhas foram pesadas em uma balança mecânica (Welmy®, Modelo 110CH), com capacidade máxima de 150kg e precisão de 0,1kg, e tiveram a estatura medida em posição ortostática, utilizando-se antropômetro com a mesma precisão (Alturexata®, com intervalo de 1 mm). Os índices calculados para o diagnóstico nutricional foram: Estatura/Idade (E/I), Peso/Idade (P/I) e IMC/Idade (IMC/I). Esses índices foram classificados conforme o padrão de referência da Organização Mundial de Saúde.19

A coleta de dados foi realizada no ano de 2015, entre os meses de março e junho, por acadêmicos de nutrição e enfermagem devidamente capacitados durante os atendimentos de puericultura na ESF.

Os dados foram digitados em dupla entrada em software Excel® para conferência de inconsistência e foram importados para o software estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS®), versão 19.0 para Windows para análises. Foi realizada a análise descritiva dos dados, por meio da frequência absoluta e relativa. A variável antropométrica IMC/I foi dicotomizada em: grupo 01 - Sem excesso de peso (desnutrido/eutrófico) grupo 02 - Com risco ou excesso de peso (risco de sobrepeso, sobrepeso e obesidade). Todas as variáveis foram submetidas ao teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov. Para avaliar a diferença das médias entre os grupos, utilizou-se o teste t Student para amostras independentes e o valor de confiança aceito foi de p < 0,05.

O projeto deste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) nº 1.057.121/2015 da Associação Educativa do Brasil - SOEBRAS. Todos os participantes da pesquisa assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

RESULTADOS

Participaram deste estudo 115 crianças, sendo 56% do sexo feminino. A idade média foi de 35 meses (± 14,33). A maioria das famílias pertencia à classe econômica C (60%). Em relação ao nível de escolaridade do chefe da família, quase metade (49%) possuía ensino médio completo.

Na análise do consumo alimentar, observou-se que 97% das crianças realizavam as refeições principais (almoço e jantar) diariamente com a família no domicílio. No dia anterior à pesquisa, o consumo de verduras e legumes foi verificado em 65,2% (n = 75) das crianças. As frutas foram consumidas por 83,5% (n = 96) da população infantil. Em relação ao consumo de carnes, observou-se que esse alimento esteve presente nas refeições de 85,2% (n = 98) dos pesquisados. No que diz respeito ao comportamento alimentar, 63,5% (n = 73) faziam as refeições na presença da televisão e 52,2% (n = 60) à mesa.

Na análise antropométrica, verificou-se que o peso médio das crianças foi de 14,67 kg (± 4,07) e a estatura média de 94 cm (± 12,46). Conforme análise do índice antropométrico estatura por idade, observou-se que 93% (n = 107) das crianças apresentaram estatura adequada para a idade e em relação ao índice peso por idade, 12,2% (n = 14) possuíam peso elevado. Na avaliação do IMC/I, observou-se que 12,2% (n = 14) apresentaram magreza, 51,3% (n = 59) eutrofia, 17,4% (n = 20) risco de sobrepeso, 10,4% (n = 12) sobrepeso e 8,7% (n = 10) obesidade.

As medidas descritivas da Escala de comportamento dos pais durante as refeições (frequência, média e desvio padrão) estão apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1 Medidas descritivas do escore total da Escala de comportamento dos pais durante as refeições  

Domínio Itens Frequência (%) Média D.P
1 2 3
Disponibilidade diária de frutas e hortaliças Você dá fruta para o seu filho (a) todos os dias 02 27 71 2,63 0,34
Você come frutas todos os dias 03 54 43
Você come verduras e legumes todos os dias 01 18 81
Modelo de consumo de guloseimas Você toma refrigerante todos os dias 37 51 12 1,66 0,33
Você come balas ou doces todos os dias 41 48 11
Você come salgadinho todos os dias 51 45 03
Uso de recompensa Você faz com que o momento de comer seja uma brincadeira ou uma diversão para seu filho (a) 25 41 34 1,68 0,46
Você dá para o seu filho (a) um alimento preferido como prêmio por bom comportamento 50 41 10
Você oferece para o seu filho (a) um brinquedo ou uma atividade favorita como prêmio por bom comportamento 64 27 09
Você oferece para o seu filho (a) uma sobremesa especial como prêmio por ele (a) comer 54 35 11
Muitas opções alimentares Você deixa seu filho (a) comer o que ele (a) quiser 42 38 20 1,67 0,42
Você deixa seu filho colocar temperos ou molhos na comida como ele (a) quer 89 7 4
Você deixa seu filho substituir um alimento por outro que ele (a) goste 52 39 9
Você deixa seu filho escolher quais alimentos comer, mas apenas entre aqueles que são oferecidos a ele (a) 26 29 45
Redução de gordura Você impede seu filho (a) de comer demais 63 30 7 2,19 0,51
Você faz mudanças na comida do seu filho (a) para diminuir a quantidade de gordura 13 18 69
Você faz mudanças na sua própria comida para diminuir a quantidade de gordura 14 15 71
Refeições Especiais Você come os mesmos alimentos que o seu filho 77 20 03 1,45 0,31
Você senta com seu filho (a), mas não come 28 35 37
Você prepara uma refeição ou alguma comida especial para o seu filho (a) diferente daquela da família 63 34 3
Você coloca um pouco de cada alimento no prato do seu filho (a) 95 4 01
Limites para guloseimas Você estabelece limites quanto ao número de doces que seu filho (a) pode comer por dia 17 13 70 2,54 0,64
Você estabelece limites de quanto refrigerante seu filho (a) pode tomar por dia 15 13 72
Você estabelece limites de quanto salgadinho seu filho (a) pode comer por dia 19 11 70
Persuasão positiva Você diz para o seu filho (a) o quanto você gosta da comida 16 12 72 2,57 0,48
Você diz para o seu filho (a) que será bom o sabor da comida se ele (a) experimentar 10 11 79
Você diz para o seu filho (a) que seus amigos ou irmãos gostam da comida 26 20 54
Você diz para o seu filho (a) que um alimento vai deixá-lo saudável, inteligente e forte 5 12 83
Insistência para comer Você insiste para o seu filho (a) comer mesmo se ele (a) diz “não estou com fome” 21 11 68 2,11 0,63
Você insiste para o seu filho (a) comer quando ele (a) está com sono ou não está se sentindo bem 49 31 20
Você insiste para o seu filho (a) comer quando ele (a) está chateado 30 25 45

Opções de respostas: 1: nunca; 2: às vezes e 3: sempre. DP: desvio padrão.

Os domínios do PMAS Modelo de consumo de guloseimas (p = 0,001) e Refeições especiais (p < 0,001) apresentaram associação significativa com a presença de excesso de peso (Tabela 2). Para esses domínios, as médias foram superiores no grupo de crianças com excesso de peso.

Tabela 2 Escores dos domínios do questionário PMAS respondido pelos pais de acordo com a presença de excesso de peso na infância. 

Domínios Excesso de Peso
Não Sim Valor de p
Média (DP) Média (DP)
Disponibilidade diária de frutas e hortaliças 2,66 (0,36) 2,58 (0,30) 0,256
Modelo de consumo de guloseimas 1,49 (0,40) 1,95 (0,34) 0,001
Uso de recompensa 1,71 (0,43) 1,61 (0,51) 0,271
Muitas opções alimentares 1,69 (0,47) 1,63 (0,31) 0,407
Redução de gordura 2,17 (0,47) 2,22 (0,57) 0,593
Refeições especiais 1,37 (0,23) 1,60 (0,34) 0,000
Limite para guloseimas 2,56 (0,65) 2,51 (0,64) 0,696
Persuasão positiva 2,59 (0,48) 2,56 (0,49) 0,755
Insistência para comer 2,20 (0,61) 1,97 (0,66) 0,080

DISCUSSÃO

Este estudo verificou a relação entre ações dos pais durante as refeições e os hábitos alimentares das crianças com excesso de peso. A família tem papel determinante durante o processo de aprendizagem da alimentação das crianças, de forma que os hábitos de vida dos pais, os estilos parentais e a sua interação com os filhos são significativos para a formação dos hábitos alimentares infantis.5,12,20,21

Na análise do consumo alimentar, quase todas as crianças realizavam as refeições principais diariamente com a família no seu domicílio. Esse achado é importante tendo em vista que a família possui um conjunto de valores, crenças, conhecimentos e hábitos alimentares que podem constituir um fator de proteção ou risco para a saúde.22-24 É importante refletir que, no cenário nacional, o padrão alimentar contemporâneo é constituído de alimentos industrializados e altamente processados, de alto valor calórico, rico em gordura e sódio, o que tem sido inserido no contexto domiciliar, contribuindo para o quadro de obesidade na família.25 Pesquisa realizada em Florianópolis, com adolescentes, verificou que almoçar na escola ou em outro local constituiu um fator de proteção para a ocorrência de sobrepeso/obesidade entre os estudantes da rede pública.22

No presente estudo, aproximadamente um terço da população infantil apresentava-se em risco de sobrepeso ou com excesso de peso. Esses dados estão em consonância com os resultados de uma série histórica sobre o excesso de peso em pré-escolares no Brasil, em que mostrou um aumento significativo no período de 1989 a 2006,26 evidenciando a transição nutricional nas crianças presente nos dias atuais. O excesso de peso em crianças está associado com múltiplas comorbidades, tais como distúrbios cardiovasculares, psicossociais, ortopédicas, respiratórias, gastrointestinais e metabólicas, que podem perdurar durante a vida adulta. A obesidade na infância leva a uma maior morbidade e mortalidade quando adultos.13

O excesso de peso na infância se manifestou estatisticamente relacionado ao comportamento dos pais durante as refeições, no que diz respeito aos domínios "modelo de consumo de guloseimas" e "refeições especiais". Esse resultado está em concordância com o estudo internacional de revisão sistemática que mostrou a relação entre o estilo parental e o IMC infantil.20 Esse quadro pode ser decorrente do atual fenômeno de transição nutricional vivenciado na sociedade, marcado pela dieta hipercalórica, monótona, com alimentos com alta concentração de açúcares, gorduras e sal.27

No domínio "consumo de guloseimas", observou-se que parte relevante dos pais das crianças pesquisadas consome diariamente refrigerantes e doces. Diferentemente dos adultos que realizam suas escolhas alimentares, as crianças menores de cinco anos, dependem dos seus pais para o consumo dos alimentos, que é um reflexo do seu ambiente familiar.5 A alimentação do lactente e do pré-escolar brasileiro é caracterizada pelo consumo precoce de doces e refrigerantes.28 Pesquisa realizada com 4.839 crianças menores de dois anos verificou a alta prevalência de consumo de bebidas açucaradas, que esteve associada aos hábitos familiares.29 Estudo prévio que avaliou o comportamento dos pais na educação alimentar dos filhos, por meio do PMAS, observou maiores escores no domínio modelo de guloseimas associado a uma dieta infantil com maior consumo de lanches.18 Essa condição pode favorecer o desenvolvimento de excesso de peso nessa faixa etária.

O consumo excessivo de guloseimas pela população pediátrica favorece o desenvolvimento precoce de doenças crônicas não transmissíveis como diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica.28

No domínio "refeições especiais", verificou-se que a maioria dos pais relataram que não consomem os mesmos alimentos que o seu filho, que não oferecem uma refeição variada de alimentos e que oferece refeições diferentes da família. Essa prática pode refletir em uma dieta monótona das crianças,28 o que pode repercutir no excesso de peso infantil. Além disso, a oferta de uma refeição especial para a criança pode contribuir na recusa persistente de alguns alimentos.18

Neste estudo, apesar da maioria das crianças realizarem as refeições em família, fator considerado protetor para o excesso de peso,22 verificou que as preparações alimentares foram realizadas de forma diferenciada entre pais e filhos, o que se relacionou com a presença de excesso de peso entre as crianças pesquisadas. Na alimentação responsiva, um aspecto que deve ser considerado é o compartilhamento das refeições. A interação alimentar pressupõe que as refeições de pais e filhos sejam comuns.5 No entanto, apesar de alguns pais terem a preocupação de oferecerem alimentos mais saudáveis para os seus filhos, não consomem o mesmo tipo de alimento o que pode influenciar na aceitação pela criança.

Além das ações dos pais, fatores externos podem influenciar a ingestão de alimentos pela criança.18 Neste estudo verificou-se que grande parte das crianças fazia as refeições assistindo televisão. A influência midiática no consumo alimentar está relacionada à concentração de propagandas, nos horários das refeições principais, que incentivam o consumo de produtos hipercalóricos e de baixa qualidade nutricional.30 Essa prática se contrapõe às orientações para a comensalidade do guia alimentar para a população brasileira, que recomenda comer em ambientes apropriados, sem estímulos para quantidades ilimitadas de alimentos.31

A alimentação e nutrição adequadas são requisitos básicos para a integralidade da atenção em saúde.26 As intervenções para a redução do excesso de peso infantil devem focar a família e o domicílio9,12,32,33 para a promoção de práticas alimentares parentais positivas, tendo em vista o papel da modelagem parental no comportamento alimentar das crianças.32,33 Os pais ou responsáveis devem ser empoderados sobre a alimentação saudáveis e sensibilizados quanto à necessidade de mudança do estilo de vida da família.21

O fortalecimento das ações específicas de cuidado em alimentação e nutrição na Atenção Básica são promissoras,27 por ter como foco do cuidado a família e por desenvolver ações em um território geograficamente conhecido, que possibilita o conhecimento e atuação no contexto familiar. Nesse cenário, o enfermeiro é de fundamental importância no diagnóstico nutricional das crianças e na definição de estratégias de prevenção do sobrepeso e obesidade infantil.34

Os resultados deste estudo precisam ser considerados à luz de algumas limitações como a possibilidade de viés de respostas dos pais quanto à realidade do seu comportamento durante as refeições dos filhos. Não é possível estabelecer uma relação causal, devido ao desenho transversal; além disso, a relação de risco e proteção entre as variáveis pode conter vieses, pela ausência de análises multivariadas. Os dados não podem ser generalizados por ter sido realizado em uma única equipe de saúde da família.

CONCLUSÃO

O comportamento dos pais durante a refeição pode ter influenciado no índice de massa corporal dos seus filhos. O excesso de peso infantil foi associado ao comportamento dos pais para o consumo de guloseimas e oferta de refeições especiais. Espera-se que os resultados deste estudo contribuam para o delineamento de políticas públicas efetivas para a prevenção da obesidade infantil, considerando entre os fatores determinantes, o contexto familiar. Nesse sentido, as estratégias devem contemplar a influência da família nos hábitos alimentares infantis. Sugere-se que novos estudos com desenho longitudinal sejam realizados para avaliar a relação causal entre a parentalidade e o IMC das crianças, bem como a análise da funcionalidade familiar no risco de sobrepeso e obesidade infantil.

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