Compartilhar

Joséphine Schouteden-Wéry no litoral belga: uma bióloga entre o trabalho de campo e a formação de coleções

Joséphine Schouteden-Wéry no litoral belga: uma bióloga entre o trabalho de campo e a formação de coleções

Autores:

Alda Heizer,
Aline Cardoso Cerqueira

ARTIGO ORIGINAL

História, Ciências, Saúde-Manguinhos

versão impressa ISSN 0104-5970

Hist. cienc. saude-Manguinhos vol.21 no.3 Rio de Janeiro jul./set. 2014

http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702014000300014

ABSTRACT

This text presents the findings and other aspects about the fieldwork of biologist Joséphine Schouteden-Wéry on the coast of Belgium. The information is taken from an article published in 1911 in Recueil de L’Institut Botanique Léo Errera, a periodical of the University of Brussels. Schouteden-Wéry replied to the Royal Society for Medical and Natural Sciences of Brussels (Société Royale des Sciences Médicales et Naturelles de Bruxelles) about the geological, climatic, hydrological and other factors that regulate the geographical distribution of species. She took part in study trips to the Congo, a Belgian colony in Africa, and was a leading member of the Union of Colonial Women (L’Union des Femmes Coloniales).

Key words: collection; natural sciences; geographical distribution of species; Joséphine Schouteden-Wéry (1879-1954)

A organização de coleções e as práticas de campo, bem como suas representações e sua inserção na circulação de objetos, têm ocupado lugar de destaque na historiografia em geral e nas ciências em particular. Tais materiais associados a periódicos, congressos e exposições integram um processo cada vez mais rico de possibilidades de análise. Trata-se da circulação de homens e mulheres, objetos, coleções, teorias, partes constitutivas das práticas científicas em diferentes tempos e lugares (Heizer, Silva, 2012).

Nessa perspectiva, as coleções biológicas encerram informações inestimáveis e nos permitem afirmar que o estudo de plantas, animais e fungos podem indicar importantes informações para a própria história da Terra. Sendo assim, os jardins botânicos e museus, com seus arboretos, herbários e bibliotecas, têm como parte de sua missão institucional a guarda das coletas que constituem o acervo biológico, que, longe de ser um depósito de informações somente para biólogos, vem se tornando objeto de interesse também para os historiadores das ciências.

A taxonomista brasileira Graziela Barroso (Barroso, 2003, p.141), em sua aula inaugural para alunos de botânica, no Rio de Janeiro, afirmava que “manter um herbário fechado ou só franqueado a botânicos já formados não é boa medida. Herbário não trabalhado é um ‘cemitério de plantas’ como o classificava o velho Duke”. Portanto, a dinâmica desses espaços e as abordagens possíveis podem ser desafiadoras para os pesquisadores (Jardine, Secord, Spary, 1997; Lopes, 2001; Diagre, 2006; Almeida, Vergara, 2008; Lopes, Heizer, 2010; Casazza, 2011).

Afinada com a perspectiva acima está a “Introdução” do livro Alfred Russel Wallace in the Amazon: footsteps in the forest, no qual a botânica Sandra Knapp, do Museu de História Natural de Londres, afirma que “as bibliotecas são lugares mágicos” (Knapp, 2013, p.25). Ela narra como chegou às ilustrações de Wallace e assinala como interessa ao historiador das ciências detalhar esta busca, porque confirma alguns locais como território a serem explorados, que muitas vezes estão à espera de novas perguntas e abordagens.

Por tudo isso, circunstanciar aspectos do universo de produção de um estudo específico, em nosso caso o de uma bióloga belga nos primeiros anos do século XX, interessou-nos particularmente.

O objetivo inicial de nossa pesquisa foi realizar, na seção de obras raras da biblioteca do Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), um levantamento dos periódicos que pudessem conter parte da produção de um biólogo belga, Jean Massart,1 que esteve no Brasil em expedição à Amazônia em 1922 (Massart et al., 1929; Heizer, 2008). Massart era considerado um conservador importante e um biólogo respeitado no meio acadêmico (Heizer, 2011); esteve à frente de instituições e, principalmente, de controvérsias referentes a território. Interessava-nos, inicialmente, buscar os interlocutores de Massart, seus temas de interesse e a especificidade de sua prática de campo e de colecionamento. Durante tal levantamento bibliográfico, deparamo-nos com um artigo que nos chamou a atenção. Tratava-se de um trabalho da botânica Joséphine Schouteden-Wéry.

O volume, organizado pelo próprio Jean Massart (Massart, 1911), apresenta o resultado da pesquisa dessa bióloga, sua conterrânea. Mais do que um relato de seus resultados, o texto de Joséphine é a resposta a uma polêmica intitulada “Algumas pesquisas sobre os fatores que regulam a distribuição geográfica das algas em Veurne Ambacht [região sudoeste da zona costeira belga]”.

Joséphine Schouteden-Wéry: notas sobre uma trajetória

Nascida em 4 de julho de 1879, Joséphine era natural de Molenbeek Saint-Jean, Bruxelas. Aos 25 anos, diplomou-se em botânica, especializando-se em anatomia, fisiologia e paleontologia dos vegetais. Dedicou-se aos estudos de algas, foi aluna de Léo Errera2 e colaborou com diferentes biólogos, entre eles, Jean Massart. Publicou diversos artigos na Revue de l’Université de Bruxelles, entre outros periódicos não menos importantes, e atuou junto à École Normale pour filles de Bruxelas, em 1924 (Gubin, 2006).

Esposa de Henri Schouteden, doutor em ciências e diretor do Museu do Congo, em Tervueren, Joséphine iniciou seus trabalhos de campo em viagens de estudos no Congo, à época colônia belga na África,3 colaborando regularmente para o Bulletin de L’Union des Femmes Coloniales, o que lhe valeu a produção de um livro-álbum Tissage et vannerie, em 1927. Tornou-se presidente da seção de artes e ofícios indígenas em 1933. Foi membro de sociedades científicas, como a Real Sociedade Botânica da Bélgica. Passou a representar a união de femmes coloniales na Comissão de Artes e Ofícios implementada pelo Ministério das Colônias e, em seguida, presidiu o comitê de redação do Boletim da mesma entidade, até 1951.

Figura 1 : Joséphine Schouteden-Wéry 

Apresentada em suas biografias como botânica, arqueó-loga e feminista, a atuação diferenciada de Joséphine con- firma que tanto pesquisadores quanto o resultado de suas práticas de campo podem ser analisados em paralelo com outros pesquisadores e materiais produzidos. Ela atuou em função das circunstâncias vividas e dos lugares por onde passou, e, mais ainda, sempre considerando o material produzido em diálogo com outras áreas do conhecimento, em diferentes loci de produção das ciências biológicas.

Joséphine Schouteden-Wéry e a distribuição geográfica de algas, em 1907

Se minhas listas são inevitavelmente incompletas, elas ao menos têm uma vantagem: trazem a informação exata da estação onde cada espécie foi encontrada

(Schouteden-Wéry, 1911, p.102-103).

Em 1911, a Recueil de l’Institut Botanique Léo Errera, da Universidade de Bruxelas, publicou o texto já mencionado “Algumas pesquisas sobre os fatores que regulam a distribuição geográfica das algas em Veurne Ambacht”, de Schouteden-Wéry. O periódico foi organizado por Jean Massart, abrigou artigos originais e reedições de especialistas sobre floração e condições térmicas de diferentes estações, como o outono e o inverno, e seus efeitos e estudos topográficos sobre a variedade das plantas, entre outros aspectos.

Figura 2 : Frontispício do periódico do Instituto Botânico Léo Errera, organizado por Jean Massart, no qual foi publicado o artigo de Joséphine Schouteden-Wéry 

Dez anos antes da publicação da pesquisa de Joséphine, o mesmo periódico alertara para o problema da dispersão das memórias científicas e de que forma o instituto poderia cumprir a missão de divulgar pesquisas originais e reimpressões de artigos até então não divulgados. Seus editores eram pesquisadores e professores – Léo Errera, Charles Bommer4 e Jean Massart –, os quais realizavam pesquisas sobre o conhecimento da flora da Bélgica e atuavam na formação de jovens interessados em mapear a diversidade biológica de seu país – e de seus domínios.

Joséphine Schouteden-Wéry realizou excursões científicas, e seus estudos abrangiam a geografia, a geologia, a botânica e a zoologia dos locais. Ela concentrou seus trabalhos no campo, coletando e formando coleções depositadas em diversos herbários, como o da Universidade de Harvard, nos EUA, por exemplo, além de ter sido diretora do atual Museu Real da África Central,5 localizado na Bélgica.

Segundo a própria autora, o artigo publicado no periódico do instituto “foi uma resposta a uma questão colocada pela Real Sociedade de Ciências Naturais e Médicas de Bruxelas”, quando esta fez uma “solicitação por pesquisas sobre fatores geológicos, climáticos, hidrológicos, químicos etc., que regulam a distribuição de organismos de mesmo grupo numa região natural” (Schouteden-Wéry, 1911, p.101). O estudo também foi resultado de um pedido feito pelo zoólogo e botânico Charles Bommer e por Jean Massart, em virtude da criação de uma seção de geobotânica na referida sociedade, em 1904. Joséphine comenta que tal projeto, criado por eles, continha indicações para o desenvolvimento da pesquisa. Segundo Massart e Bommer, “as investigações científicas deveriam seguir três direções: realizar um levantamento da flora; representar os diferentes aspectos dessa flora; e indicar as causas que imprimem tais características” (p.101). Junte-se a essas recomendações o fato de os trabalhos no campo das ciências naturais terem o caráter da minúcia, ou seja, a particularidade da descrição tanto morfológica quanto fisiológica, e também o detalhamento do ambiente em que as observações e análises são desenvolvidas. Tudo isso mais que justifica o estudo de Joséphine ter recebido o prêmio da Real Sociedade de Ciências Naturais e Médicas de Bruxelas, em 1907.

A publicação de 1911 contou com oito autores e tratou de pesquisas sobre diferentes assuntos. Três deles dedicaram-se a estudos sobre algas, e, além do artigo de Joséphine, o de Henri Micheels, da Universidade de Bruxelas, “Note sur la forme du thalle chez Dictyota dichotoma”, ocupou-se da morfologia das algas – com fotografias e referências a outros trabalhos. Outro artigo trata de um estudo topográfico sobre a variabilidade e distribuição do Fucus vesiculosos L., escrito por um pesquisador ligado à Universidade de Amsterdã, Théo J. Stomps. Há também artigos que discorrem sobre a distribuição geográfica de plantas, como o de Léo Errera sobre a eficácia dos meios de disseminação, que inicialmente seria resultado de suas observações datadas de 1899. Segundo o organizador do volume, como não fora possível publicar o texto antes, foi elaborado com base em escritos de Errera, bem como de listas extraídas dos cadernos de herborização.

É possível perceber a presença das recomendações de Massart e Bommer nas minúcias e no amplo trabalho de campo – ditados pelas tabelas de coletas e análises de dados –, e a explicação para cada assunto tratado – clima, composição química do solo, da água etc. – na tentativa de não apenas mapear a flora algológica, como também pesquisar os fatores que estabelecem a distribuição das algas na região em referência.

Joséphine apresenta seu trabalho em 112 páginas, colocando as indicações de Massart e Bommer para os trabalhos da seção de geobotânica e fazendo um breve relato sobre a escolha da região para estudo. Segundo ela, a região costeira foi escolhida por conter áreas de formações geológicas diferentes e clima semelhante por estarem muito próximas umas das outras. A bió-loga também agradece a Henri van Heurck6 pelas identificações das espécies de diatomáceas, a Jean Massart, que identificou a maioria das Schizophytas presentes em seus estudos e “que deixou, amplamente disponível para a minha informação, múltiplos documentos, listas de determinação etc., que ele possuía da região de Veurne-Ambacht”, e ao seu marido, que identificou grande número de organismos flagelados (Schouteden-Wéry, 1911, p.102-103).

A autora explica o que seria a planície costeira belga para, a seguir, apresentar os elementos que compõem essa formação, na tentativa de compreender os fatores que regulam a distribuição das algas. No que diz respeito aos aspectos físicos, ela descreve a formação do terreno, “que constitui três faixas estreitas de diferentes formações que se estendem paralelamente à costa”. São elas: a zona entremarés, as dunas e os pôlderes, locais onde as coletas das algas foram realizadas (Schouteden-Wéry, 1911, p.104).

Ao discorrer sobre o clima de cada uma dessas regiões, Joséphine utiliza-se de estudos de outros cientistas que foram publicados pelo Ministério da Agricultura de Bruxelas. Segundo ela, trata-se de “excelentes monografias agrícolas” (Schouteden-Wéry, 1911, p.110). No tópico sobre geologia, ela indica, “para informações geológicas mais detalhadas” (p.114), consultar o trabalho de Jean Massart “Essai de Géographie botanique des districts littoraux et alluviaux de la Belgique” (Recueil de L’Institut Botanique Léo Errera, t.7, p.170), e, mais adiante, ao abordar a origem da Terra, retira “quase que completamente” (p.114) parte de outro trabalho seu que fora anteriormente publicado (Sur le litoral belge: la plage, les dunes, les alluvions, les polders, les anciennes rivières: excursions scientifiques organisées par l’Extension de l’Université libre de Bruxelles et dirigées par Jean Massart).

Figura 3 : Representação do limite da formação dos pôlderes marinhos (Schouteden-Wéry, 1911, p.105) 

Em seguida ao detalhamento e à explicação de cada item apontado, a bióloga belga, “antes de passar à apresentação da distribuição geográfica dos organismos que estudamos” (Shouteden-Wéry, 1911, p.130), continua expondo, em tópico à parte, elementos sobre as condições de existência das algas, tratando da nutrição, das reservas alimentares e do modo de vida desses organismos. Para Joséphine, estudar as condições de existência das algas favoreceria a pesquisa dos fatores que regulam a distribuição desses organismos nas regiões a descrever.

Considerações finais

O achado de nossa pesquisa é exemplar para pensarmos a circulação de ideias, objetos e textos em diferentes instituições. A atuação da botânica belga não se limitou ao trabalho de campo, e suas reflexões estão longe de ser descoladas de seu universo teórico e de vida, o que desfaz dois mitos em torno da ação de cientistas mulheres na passagem do século XIX para o XX: o de que tais mulheres exerciam uma função de colaboração necessariamente junto a homens de ciência e o de que elas limitavam seu campo de atuação a um espaço circunscrito.

A autora pesquisada demonstra o quão amplo era seu trabalho, uma vez que apresenta listas com os nomes das espécies de algas coletadas em cada área de estudo e extensas tabelas que indicam a distribuição geográfica de cada espécie encontrada. Assim, e do ponto de vista da pesquisa científica, Joséphine Schouteden-Wéry oferece uma importante contribuição para o conhecimento da flora algológica da Bélgica, que hoje povoa herbários como o da Universidade de Harvard e coleções de periódicos em bibliotecas como os das obras raras do JBRJ.

Figura 4 : Parte da tabela com a distribuição geográfica de cada espécie (Shouteden-Wéry, 1911, p.178) 

Figura 5 : Parte da lista com a relação de algas encontradas, indicando área e data da coleta (Shouteden-Wéry, 1911, p.139) 

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Marta; VERGARA, Moema (Org.). Ciência, história e historiografia. Rio de Janeiro: Via Lettera. 2008.
BARROSO, Graziela Maciel. O taxonomista e o herbário. In: Peixoto, Ariane Luna (Org.). Coleções biológicas de apoio ao inventário, uso sustentável e conservação da biodiversidade. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. p.141-148. 2003.
CASAZZA, Ingrid F. O Jardim Botânico do Rio de Janeiro: um lugar de ciência (1915-1931). Dissertação (Mestrado em História das Ciências e da Saúde) – COC/Fiocruz, Rio de Janeiro. 2011.
DIAGRE, Denis. Le Jardin botanique de Bruxelles (1826-1912): miroir d’une jeune nation. Thèse (Doctorat en Histoire) – Université Libre de Bruxelles, Bruxelles. 2006.
GUBIN, Eliane et al. (Dir.). Dictionnaire des femmes belges. XIXe et XXe siècles. Paris: Éditions Racine. 2006.
HEIZER, Alda. Jean Massart e a criação das reserves naturelles na Bélgica na primeira década do século XX. Cadernos de Pesquisa do CDHIS, v.24, n.1, p.13-22. 2011.
HEIZER, Alda. Notícias sobre uma expedição: Jean Massart e a missão biológica belga ao Brasil, 1922-1923. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v.15, n.3, p.849-864. 2008.
HEIZER, Alda; SILVA, Felipe de Araújo. História e natureza em coleções em museus e jardins botânicos. In: Magalhães, Aline Montenegro; Bezerra, Rafael Zamorano (Org.). Coleções e colecionadores: a polissemia das práticas. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional. p.217-227. 2012.
JARDINE, Nicholas; SECORD, James A.; SPARY, Emma C. (Org.). Cultures of natural history. Cambridge: Cambridge University Press. 1997.
KNAPP, Sandra. Alfred Russel Wallace in the Amazon: footsteps in the forest. London: Natural History Museum. 2013.
LOPES, Maria Margaret. Viajando pelo campo e pelas coleções: aspectos de uma controvérsia paleontológica. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v.8, supl., p.881-897. 2001.
LOPES, Maria Margaret; HEIZER, Alda (Org.). Colecionismos, práticas de campo e representações. João Pessoa: Universidade Estadual da Paraíba. 2010.
MASSART, Jean (Org.). Recueil de L’Institut Botanique Léo Errera. t.8. Bruxelles: Henri Lamertin. 1911.
MASSART, Jean. Nature, n.72, p.537. 28 set. 1905.
MASSART, Jean et al. Une mission biologique belge au Brésil, 1922-23. Bruxelles: Imprimerie Medicale et Scientifique. 1929.
SCHOUTEDEN-WÉRY, Joséphine. Quelque rechesches sur les facteurs qui règlent la distribuition géographique des Algues dans le Veurne-Ambacht (région S.W. de la zone maritme belge). Recueil de L’Institut Botanique Léo Errera (Université de Bruxelles) publié par Jean Massart. Tome VIII. Bruxelles. Henri Lamertin, Editeur-Libraire. 1911.
SCHOUTEDEN-WÉRY, Joséphine. Sur le littoral belge: la plage, les dunes, les alluvions, les polders, les anciennes rivières: excursions scientifiques organisées par l’Extension de l’Université libre de Bruxelles et dirigées par Jean Massart. Bruxelles. 1906.