versão impressa ISSN 1808-8694
Braz. j. otorhinolaryngol. vol.79 no.6 São Paulo nov./dez. 2013
http://dx.doi.org/10.5935/1808-8694.20130143
A mucosite oral (MO) é uma complicação comum na vigência de quimioterapia e (ou) radioterapia, representando, respectivamente, cerca de 40% e 100% dos casos de inflamação da mucosa oral1,2. Eritema, ulceração, hemorragia, edema e dor estão entre os sinais e sintomas, comprometendo nutrição, fala e ingestão hídrica do paciente, predispondo-o à infecção sistêmica3-5. A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica a mucosite oral em: grau 0: ausente; grau 1: eritematosa; grau 2: eritematosa e ulcerada, tolerando-se sólidos; grau 3: eritematosa e ulcerada, tolerando apenas líquidos; grau 4: eritematosa e ulcerada, impossibilitada a alimentação3. A laserterapia de baixa potência (LBP) atua na prevenção e tratamento da MO, proporcionando ações analgésica e anti-inflamatória, maior conforto ao paciente, manutenção da integridade da mucosa e melhor reparação tecidual2-6. Propõe-se, com esse trabalho, analisar a eficiência da laserterapia no tratamento da mucosite oral.
BMCR, setor de oncologia pediátrica, 15 anos, sexo feminino, diagnosticada, inicialmente, com Sarcoma de Ewing em clavícula direita, submetida à quimioterapia com ifosfamida, etoposide e vincristina (doxorrubicina em ciclos subsequentes), sob nutrição parenteral, queixava-se de dor intensa. Detectando-se neutropenia febril e pancitopenia, a paciente recebeu concentrados de hemácias e plaquetas, além de granulokine, cefepime, fluconazol e nistatina. Sob tratamento ortodôntico, higiene oral precária, manifestaram-se lesões de mucosite grau 3 (OMS) na mucosa jugal e trígono retromolar esquerdos. A odontologia retirou o aparelho, removeu o biofilme e fez polimento dentário. Instituiu-se laserterapia três vezes por semana para tratamento das lesões de mucosite. Inicialmente, utilizamos o comprimento de onda (λ) 780 nm, densidade de energia 4,3 J/cm2, analgésico, em torno das lesões. Na segunda sessão, aplicou-se o LBP com λ de 660 nm, densidade de energia 4,3 J/cm2, terapêutico, em torno das lesões (Figura 1). BMCR foi orientada quanto à higiene oral e uso de bochechos com gluconato de clorexidina a 0,12%. Após a primeira sessão, houve remissão da dor; após a segunda, a paciente já se alimentava; após a quarta sessão, as lesões haviam diminuído, cicatrizando quase em sua totalidade após a quinta aplicação. Novo ciclo de quimioterapia foi iniciado duas semanas depois. Laser preventivo de λ 660 nm, densidade de energia 1,3 J/cm2 por ponto, na região de mucosa jugal, assoalho bucal, língua e palato, três vezes por semana, foi aplicado, visando evitar recidiva das lesões. Atualmente, no quarto ciclo quimioterápico, a paciente não mais desenvolveu lesões de mucosite. Evidenciam-se, pois, eficácias clínica e funcional na LBP: acelerando a cicatrização das lesões, diminuindo as dores e o tempo de internação da paciente.
A mucosite bucal é definida como uma inflamação e ulceração dessa mucosa com formação de pseudomembrana e fonte potencial de infecções, especialmente na neutropenia febril1, a exemplo da paciente BMCR. Patologicamente, na mucosite, uma úlcera rasa gera exsudato intersticial, resíduos celulares e de fibrina, produzindo uma pseudomembrana análoga à escara de uma ferida superficial em pele. A mucosite quimioinduzida varia de 40% a 76% para pacientes tratados com quimioterapia padrão e de alta dose, respectivamente1. Na quimioterapia intensiva para remissão pós-recidiva, a associação ifosfamida, carboplatina e etoposide, assim como o irinotecan, são reconhecidamente tóxicos à mucosa oral2. Agentes antimetabólitos (metotrexate, citarabina, mercaptopurina), alquilantes (melfalano, bulsufano), antibióticos (doxorrubicina) e o etoposide, ambos utilizados pela paciente, também induzem mucosite1,2,6. No caso em questão, o LBP elimina a dor já na primeira aplicação. Atribui-se tal fato à liberação de β-endorfina nas terminações nervosas da úlcera, promovendo, simultaneamente, a bioestimulação dos tecidos, reparando mais rapidamente as ulcerações2.
Faz-se necessário fomentar o uso do laser de baixa potência para prevenção e terapia de mucosite oral nos pacientes oncológicos. À Otorrinolaringologia, o mesmo se apresenta como uma opção viável, de baixo custo e sem efeitos colaterais.