versão impressa ISSN 1413-8123versão On-line ISSN 1678-4561
Ciênc. saúde coletiva vol.23 no.12 Rio de Janeiro dez. 2018
http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320182312.31012016
This article set out to analyze studies on leisure activities among university students in the healthcare area. It conducted a search using the following key words: leisure and students, and their corresponding terms in Spanish and English in the Bireme database, which resulted in 32 articles at the end of the review. In the articles analyzed there was a predominance of the following leisure interests: sports, social, intellectual and artistic activities, with a greater number of articles presenting experiences in sports. It was also noted that the intake of alcohol in the leisure context is often mentioned by this population group. There was a predilection for physical exercised/sport during leisure time, compared to other leisure interests and little knowledge about any other possibilities for leisure. This article also discusses the need to develop strategies that promote leisure among these students, seeking to improve their quality of life. It is noteworthy that they are health professionals in the training phase and it is quite possible that their future orientations might be influenced by their personal practices.
Key words: Leisure activities; Students; Mental health; Alcohol abuse
Existe um consenso de que a prática do lazer seja um importante meio de diminuição das tensões geradas pela sobrecarga no dia a dia, além de um momento de descanso. Embora associado a tais ideias, o lazer pode significar muito mais do que isto. A palavra lazer é originada do latim – licere -, e tem por significado “ser lícito”, “ser permitido”, “poder” “ter o direito”1.
Segundo Norbert e Dunning2: “[...] todas as atividades de lazer são atividades de tempo livre, mas nem todas as de tempo livre são de lazer... as características especiais das atividades de lazer só podem ser compreendidas se forem consideradas, não apenas em relação ao trabalho profissional, mas também, em relação às várias atividades de não lazer, no quadro de tempo livre”. Os autores diferenciam o trabalho profissional e o trabalho não profissional, considerando o primeiro como associado à remuneração, enquanto que o segundo relaciona-se a todas as outras atividades da vida. Deste modo, o trabalho não profissional, embora realizado no tempo livre, não compreenderia lazer, necessariamente.
Martins e Batista3 criticam a evolução social, cultural e financeira que teria transformado o lazer nos dias atuais em um produto, perdendo sua essência. Nas palavras dos autores: “o mundo hipermoderno tomado pelo consumismo termina por influenciá-lo (lazer) de forma a deteriorá-lo, mercantilizá-lo, coisificando-o e empobrecendo-o de significados”3.
Dentro da lógica capitalista, o lazer tende a ser visto como uma vivência supérflua, desnecessária3. No entanto, no que diz respeito à saúde, tais vivências têm sido vistas como importantíssimas, pois permitem que ocorram a construção de relações de vínculos, a corresponsabilidade e a autonomia com a própria saúde4.
Alguns autores têm tentado classificar as atividades compreendidas como lazer, segundo os, assim chamado, conteúdos do lazer: físico-esportivo, artístico, manual, social e intelectual, propostos por Dumazedier5 e turístico, proposto por Camargo6. Discute-se a inclusão nesta lista o conteúdo “virtual”, referindo-se ao uso da internet e jogos eletrônicos7. De um modo geral, na literatura, são encontradas diversas publicações que associam melhor saúde física e/ou mental à vivência do lazer na população em geral8-10, destacando-se a população jovem e os estudantes de graduação11-14.
Considerando pesquisas que têm apontado o período de graduação como um momento tenso na vida dos estudantes e marcado por diferentes formas de sofrimento psíquico15-17, este estudo tem como objetivo apresentar uma revisão da literatura das pesquisas que avaliaram lazer entre estudantes universitários da área da saúde. Este tema se mostra relevante na medida em que o lazer poderia consistir em uma estratégia de enfrentamento ao sofrimento psíquico experimentado pelos estudantes e um recurso a ser estimulado entre seus futuros pacientes.
A revisão de literatura deu-se por uma pesquisa no banco de dados Bireme, que integra as bases Medline e Lilacs, realizada em julho de 2015. A pesquisa utilizou as terminologias cadastradas nos descritores em Ciências da Saúde da Biblioteca Virtual em Saúde, tendo sido utilizados os seguintes descritores: lazer e estudantes, e seus respectivos termos em espanhol e inglês. Outros descritores foram associados a estes, na forma de filtros, para refinar a busca, sendo eles: atividades de lazer, estudantes de medicina, estudantes de enfermagem, qualidade de vida, universidades, estilo de vida, educação médica, currículo, educação em enfermagem, recreação, satisfação pessoal, leitura, estudantes de farmácia, instituições acadêmicas, escolha da profissão, carga de trabalho e saúde mental. Foram utilizadas as ferramentas disponíveis AND/OR da base de dados.
Para a inclusão, foram utilizados os seguintes critérios: (A) pesquisas que se referissem a estudantes de graduação na área da saúde; (B) investigações que pesquisassem lazer em qualquer modalidade incluída entre os conteúdos do lazer; (C) artigos publicados nas línguas: espanhol, inglês e português.
A pesquisa se deu em três etapas: (1) leitura dos títulos dos artigos e seleção dos resumos; (2) leitura dos resumos e seleção daqueles cujos artigos completos seriam buscados; (3) leitura na íntegra dos artigos que se encaixavam no critério de inclusão da pesquisa (Figura 1).
*(A) pesquisas que se referissem a estudantes de graduação na área da saúde; (B) investigações que pesquisassem lazer em qualquer modalidade incluída entre os conteúdos do lazer; (C) artigos publicados nas línguas: espanhol, inglês e português.
Figura 1 Organograma da seleção dos artigos incluídos na revisão.
Inicialmente, como explicado na metodologia, os descritores foram inseridos na base de dados obtendo um resultado de 690 títulos relacionados à pesquisa. Seguindo os passos, cada título foi lido selecionando-se 91 para a leitura dos resumos. Três títulos foram excluídos pois não apresentavam resumos. Posteriormente à leitura dos resumos, 43 artigos foram escolhidos para a leitura na íntegra; entretanto 11 foram eliminados por não ser encontrado o texto completo, finalizando a busca com 32 artigos completos.
Os artigos foram lidos observando-se os seguintes aspectos: tipo de estudo, vivências de lazer investigadas; curso e país no qual o estudo foi desenvolvido, destacando-se os principais achados. Dentre os 32 artigos, quinze se referiam a estudos realizados no Brasil e desessete em outros países: Estados Unidos, México, Espanha, Colômbia, Cuba, Inglaterra e Reino Unido. Para facilitar a visualização, os artigos foram distribuídos em três quadros: aqueles produzidos no Brasil (Quadro 1), aqueles produzidos em outros países (Quadro 2) e aqueles que, independentemente de onde tenha sido produzidos, discutiam o papel do álcool para os estudantes no lazer (Quadro 3).
Quadro 1 Características dos estudos com estudantes universitários na área da saúde no Brasil associados a atividades no âmbito do lazer.
Autor | Ano | Tipo de estudo | Amostra | Público Curso | Cidade/Estado |
---|---|---|---|---|---|
Vieira, E.M., et al. | 2004 | Transversal | 686 | Medicina | São Paulo/SP |
Beuter, M., et al. | 2005 | Descritiva exploratória | 53 | Enfermagem | Santa Maria/RS |
Zonta, R., et al. | 2006 | Qualitativo | 25 | Medicina | Santa Catarina/SC |
Bielemann, R., et al. | 2007 | Transversal | 221 | Educação Física | Pelotas/RS |
Rocha, G.W.F.; Siqueira, H. | 2009 | Empírica | Medicina | Rio de Janeiro/RJ | |
Amaducci, C.M., et al. | 2010 | Transversal | 189 | Enfermagem | São Paulo/SP |
Fiorotti, K.P., et al. | 2010 | Transversal | 229 | Medicina | Espírito Santo/ES |
Meilke, G.I. et al. | 2010 | Transversal | 485 | Estudantes – diversas áreas | Pelotas/RS |
Baldissera, V.D.A.; et al. | 2011 | Qualitativa | 8 | Enfermagem | Maringá/PR |
Guareschi, N.M.F., et al. | 2011 | Descritivo | 23.613 | Psicologia | Brasil |
Sousa, T.F. | 2012 | Transversal | 1.084 | Estudantes1 | Bahia/BA |
Tempski et al. | 2012 | Qualitativo | 56 | Medicina | Brasil2 |
Sousa, T.F., et al. | 2013 | Transversal | 5.461 | Estudantes1 | Bahia/BA |
1 Delineamento transversal proveniente do inquérito de 2010 da pesquisa longitudinal Monitoramento dos Indicadores de Saúde e Qualidade de Vida em Acadêmicos (Monisa), realizada com uma amostra de estudantes de uma instituição de ensino superior pública localizada no Estado da Bahia. 2Seis universidades entre públicas e privadas/ capital e interior.
Quadro 2 Características dos estudos com estudantes universitários na área da saúde no âmbito internacional associados a atividades no âmbito do lazer.
Autor | Ano | Tipo de estudo | Amostra | Público Curso | País |
---|---|---|---|---|---|
Kelly, J.A., et al. | 1982 | Longitudinal | 48 | Medicina | EUA |
Wolf, T.M.; Kissling, G.E. | 1984 | Longitudinal | 104 | Medicina - calouros | EUA |
Folse, M.L., et al. | 1985 | Transversal | 71 | Medicina | EUA |
Rosenthal, T.L. et al. | 1989 | Validação de instrumento | 670 | Estudantes universitários de Psicologia introdutória | EUA |
Bradby, M.; Soothill, K. | 1997 | Longitudinal | 444 | Enfermagem | Inglaterra |
Hodgson, K.; Thomson, R. | 2000 | Transversal | 384 151 137 | Medicina Biologia Direto | Inglaterra |
Haase A. et al. | 2004 | Transversal | 19.298 | Estudantes | 23 países |
Marshall, L.L., et al. | 2008 | Transversal | 109 | Farmácia | EUA |
Sanches, J.R.L. | 2008 | Observacional | 150 | Psicologia | Cuba |
Soto, L., et al. | 2009 | Transversal | 598 | Estudantes | Colômbia |
Salazar-Torres et al. | 2010 | Validação instrumento | 1º 1485 2º 1811 | Estudantes | Colômbia |
Lonsdale, A.J.; North, A.C1. | 2011 | Transversal | 300 117 189 700 | Universitários Psicologia Psicologia Voluntários de várias idades | Reino Unido |
Molina-Garcia, J. et al. | 2011 | Transversal | 639 | Estudantes | Espanha |
Carballeira, M., et al. | 2015 | Transversal | 346 | Psicologia | México e Espanha |
1Publicação contendo quatro estudos, sendo quatro grupos amostrais.
Quadro 3 Características dos estudos do uso de álcool no tempo livre entre os universitários na área da saúde.
Autor | Ano | Tipo de estudo | Amostra | Público | País |
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Mesquita, A.M.C. et al. | 1995 | Quanti-qualitativo | 1.080 | Universitários | Brasil |
Correia, C.J. et al. | 2003 | Tranversal | 256 | Universitários | EUA |
Fournear, A.K. et al. | 2004 | Quase experimental | 356 | Universitários | EUA |
Glindemman, K.E., et al. | 2007 | Experimental | 702 | Universitários | EUA |
Finlay, A.K., et al. | 2012 | Longitudinal | 717 | Universitários | EUA |
Embora o lazer seja constituído por sete conteúdos5-7, chama a atenção que na literatura predominem investigações sobre a prática corporal no contexto do lazer. É possível que esse predomínio esteja relacionado à maior facilidade de mensuração da atividade, por exemplo, em termos do número de horas e vezes por semana que a atividade física pode ser descrita. Outra possibilidade é que, como a prática esportiva tem sido associada a benefícios atribuídos aos efeitos fisiológicos sobre o corpo humano, acabe sendo mais estudada18-23.
Estudos mostram que praticar exercício físico regularmente e de variadas intensidades tem-se associado a melhor condicionamento físico, liberação de beta-endorfinas – sensação de bem-estar, diminuição de glicemia e pressão arterial e aumento de massa óssea e magra24-27.
Entre as atividades físicas mais comumente investigadas está a musculação, atividade corporal que apresenta benefícios tanto no que diz respeito a ganho de massa magra e diminuição de taxas glicêmicas quanto à melhora do condicionamento cardiorrespiratório24-26. Essa prática corporal está associada a variáveis como: renda, gênero, idade, período do curso18,20,28. Além dos benefícios fisiológicos já mencionados, observou-se nos achados a valorização do componente social, corroborando estudos desenvolvidos em uma universidade do interior de São Paulo29,30.
Outras modalidades também têm sido investigadas no âmbito do esporte como futebol, como caminhada e/ou corrida. O futebol tem grande influência da cultura nacional, enquanto caminhada e/ou corrida são práticas corporais que não necessitam de grandes investimentos financeiros, e com benefícios para saúde física e mental. Entretanto, o gênero ainda tem sido uma variável significativa, visto que homens tendem a praticar mais tais modalidades que mulheres18,19,23.
Há estudos mostrando que ao longo do tempo, no curso de medicina, existe uma tendência à diminuição das atividades físicas e também de atividades de lazer e recreação21. Sousa et al.28 também observaram no Brasil que, durante o curso, os estudantes universitários aumentam a prevalência de condutas negativas à saúde: diminuem as atividades físicas no lazer e aumentam o consumo de bebidas alcoólicas, entre outras.
Chamou a atenção nos achados desta revisão alguns estudos cujo conteúdo no âmbito do lazer foi o intelectual, artístico e social. Atividades como, leitura, estudar e /ou ouvir música, teatro, assistir TV, frequentar ambientes sociais como os espaços do centro acadêmico e/ou esportivos, foram todos mencionados como atividades desenvolvidas no tempo livre31-36. Tais modalidades podem estar associadas aos benefícios fisiológicos que regulam o humor e o estado de bem-estar, além do apoio social27,29.
Estudos mostraram que tais vivências, além do benefício próprio, também têm uma conotação acadêmica, pois práticas como o aprendizado de uma língua estrangeira, música e teatro melhorariam o currículo do estudante no futuro, podendo interferir, por exemplo, na seleção para a residência médica31,33.
Com o intuito de pesquisar as percepções acerca do lazer, Baldissera et al.37 observaram diferenças sobre o lazer na vida pessoal do estudante de enfermagem e na vida profissional além da compreensão do senso comum atribuído ao lazer. Na Inglaterra, Bradby e Soothill38 observaram que estudantes de enfermagem apresentavam uma grande variedade de experiências no contexto do lazer. Beuter et al.32 estudaram o contexto do cuidado de si e do outro entre estudantes da mesma categoria e observaram que as atividades de lazer mais vivenciadas pelos estudantes estavam dentro do conteúdo artístico, intelectual e social, sendo: ouvir música e assistir tv. Para eles, os estudantes deveriam vivenciar mais amplamente os demais conteúdos do lazer com o intuito de trabalhar o corpo, a mente, a destreza manual, além das relações sociais, e, a partir da experiência pessoal, transportar tais vivências para o campo de atuação profissional.
Qualidade de vida e estresse e sua relação com as atividades de lazer também foram investigados, em amostras de estudantes universitários. Os estudos encontrados observaram uma tendência a mostrar uma diminuição de estresse e melhor qualidade de vida nos sujeitos que vivenciam algum tipo de atividade no âmbito do lazer e outros estudos apenas citaram o lazer como estratégias de enfrentamento ao estresse11,21,39-43. Em um estudo qualitativo os alunos do curso de Medicina da Universidade Federal de Santa Catarina apresentaram como estratégias de enfrentamento ao estresse a valorização dos relacionamentos interpessoais, equilíbrio entre estudo e lazer, prática de atividade física, entre outras como organização do tempo, cuidados com a saúde, alimentação e o sono, religiosidade, e trabalhar a própria personalidade diante de situações adversas assim como procurar ajuda psicológica11. Amaducci et al.39 observaram que a estratégia mais abordada dos alunos para diminuição da fadiga foram sono de qualidade (64,5%) e lazer (63,5%), além de outras como descansar ou relaxar, práticas esportivas, tomar banho, práticas religiosas, entre outras menos citadas pela amostra estudada.
Kelly et al.41 acreditavam que o estudante precisava aprender técnicas de relaxamento, aprendizado de organização das prioridades, técnicas de modificação cognitiva, assim como planejamento do tempo para o lazer com o intuito de minimizar o estresse causado pela sobrecarga do curso. Outros estudos também discutem a necessidade de ensinar estratégias de enfrentamento ao estresse causado pela extensa grade curricular dos cursos de ensino superior40,42. Marshall et al.43 observaram que atividades como correr, ter tempo para a família e amigos, cochilar e/ou dormir, assistir TV e consumir álcool foram estratégias apontadas pelos estudantes de farmácia nos EUA para o enfrentamento do estresse e uma melhor qualidade de vida. É importante destacar que os autores não avaliaram se a associação com o uso de álcool não estaria, na verdade relacionada com rede de relacionamentos.
Assim como a associação de qualidade de vida e lazer entre universitários, foi encontrada na literatura a associação entre estilo de vida e saúde. Pesquisa realizada na Colômbia, cujo objetivo foi investigar o estilo de vida em dez dimensões, observou associação entre práticas saudáveis e satisfação com estilo de vida e saúde em geral, sendo que a única exceção foi exercício e atividade física44. Fiorotti et al.17, ao descreverem o perfil do estudante de medicina, mostraram que este é um público de nível socioeconômico e cultural elevado, o que em geral está associado a maior disponibilidade de atividades de lazer. Contudo, o que os autores encontraram foram estudantes sobrecarregados devido à extensa grade curricular e que relatavam ter pouco tempo para o lazer. Corroborando os achados de Fiorotti et al.17, Sanches45 detectou entre os estudantes de psicologia em uma universidade de Cuba a necessidade e a posterior implantação de um programa de recreação organizado com estrutura física, profissionais habilitados e materiais disponíveis.
Haase et al.22 pesquisaram em 23 países a questão da inatividade física no lazer e observaram que havia níveis de prática corporal abaixo do recomendado, apesar de uma forte crença quanto ao comportamento saudável entre as culturas.
Um estudo realizado com estudantes de psicologia do México e da Espanha objetivou investigar as diferenças de bem-estar dentro das duas culturas – coletivista e individualista, resultando a valorização de ambas para a satisfação sentimental e vital. Segundo os autores, observou-se que a cultura mexicana valoriza o bem-estar subjetivo global e a satisfação com a saúde enquanto a cultura espanhola valoriza a satisfação com o ócio46.
Algumas pesquisas tiveram por objetivo a criação e validação de um instrumento específico para a mensuração das vivências no contexto cultural do lazer47,48.
Em 1989, Rosenthal et al.47 observaram que o instrumento denominado de leisure interests checklist – LIC apresentou grande potencial para utilização na descrição de interesses do lazer. Em 2010 na Colômbia foi validado um instrumento para avaliar o estilo de vida de jovens universitários em oito dimensões, sendo elas: atividade física, tempo de lazer, alimentação, consumo de álcool, cigarros e drogas ilegais, sono, habilidade interpessoal e enfrentamento no estado emocional48. Esse instrumento apresentou propriedades psicométricas adequadas, sendo avaliado como adequado para identificação das necessidades dos jovens universitários na Colômbia, assim como um instrumento norteador para ações voltadas a promoção e prevenção dentro das universidades48.
Observando a associação do consumo de álcool no lazer dos universitários, foram encontrados artigos que discutem o uso de bebidas alcoólicas no tempo livre dos universitários e os fatores a este associado (quadro 3). Entre os estudantes de medicina da Universidade de São Paulo, na década de 90, Mesquita et al.49 observaram que frequentar bares como atividades de lazer, entre outros aspectos, são fatores de risco para o aumento do consumo de substâncias psicoativas. Finlay et al.50 observaram que havia maior propensão ao uso de álcool por estudantes que frequentavam as atléticas e que passavam mais tempo em atividades sociais enquanto havia menor uso de álcool por estudantes que frequentam encontros religiosos ou voluntários. Fournear et al.51 e Glindemman et al.52 observaram que o uso de intervenção incentivo/recompensa nas festas em fraternidades era uma ferramenta muito positiva em favor da diminuição do consumo de álcool nas atividades sociais no contexto do lazer.
A associação entre consumo de álcool no tempo livre na vida dos estudantes encontrados nesta revisão bibliográfica28,50-52 confirmam os achados encontrados em pesquisas anteriores53-61. Esses dados intensificam a necessidade da criação de estratégias para o enfrentamento ao uso nocivo de tal substância objetivando melhor saúde para os estudantes.
Entre os estudos revisados há aqueles que apontam os resultados negativos para a saúde, associados de algum modo à falta de lazer entre os estudantes universitários11,17,39,40,42,43,45.
Por conta de todas as evidências que apontam para pior saúde física e/ou mental associado à falta de lazer, é importante encontrar estratégias para minimizar tais riscos. Uma possibilidade talvez seja difundir entre os estudantes o modelo de habilidades do ócio62, fortalecendo a proposta de Beuter et al.32 de inserir na formação dos universitários o conceito do lazer e a teoria da recreação terapêutica. Esta estratégia objetivaria não somente a compreensão da importância do lazer como vivência pessoal, mas também, como futuros disseminadores dessas práticas no caso dos estudantes da área da saúde.
A partir da revisão bibliográfica é possível observar que boa parte dos estudos ainda apresenta uma visão limitada do lazer, restringindo-o em especial às práticas corporais. Por outro lado é fundamental que se amplie o espectro do que se compreende como lazer, tendo em vista que há trabalhos que valorizaram outros interesses do lazer associando-os positivamente à saúde dos estudantes universitários.
Ressalta-se também os achados de estudos que apontaram uma associação positiva entre a valorização do tempo livre utilizado com vivências no âmbito do lazer e melhores condições de saúde, potencializando a necessidade de criação de ambientes propícios para tais práticas, além de mais investimento em estudos nesta área.
Foi observado ainda a associação de ingestão de álcool nessa população no contexto do lazer, pontuando a necessidade de criação de estratégias para educar e incentivar o consumo mais consciente.
Por fim, diante dos achados, destaca-se a necessidade de se criar estratégias para lidar com as tensões geradas no período universitário na vida desses jovens, incentivando a adoção de uma cultura e educação voltadas para o lazer como busca de melhor qualidade de vida . É possível que estas estratégias possam influenciar suas formações profissionais fazendo com que, futuramente, estes estudantes atuem como disseminadores das vivências no contexto do lazer, para aqueles que estejam sob seus cuidados.