versão impressa ISSN 1808-8694
Braz. j. otorhinolaryngol. vol.80 no.6 São Paulo set./dez. 2014
http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2014.05.023
O lipoadenoma, tirolipoma ou adenolipoma constitui uma lesão benigna extremamente rara, formada por tecido adiposo e tireoidiano.1–3 Sua origem é desconhecida, alguns autores a justificam por uma anomalia durante o encapsulamento ou por metaplasia de fibroblastos após hipóxia.3–5 A distinção entre lipoadenoma de tireoide e de paratireoide é sutil e requer positividade de tireoglobulina para sua confirmação. O quadro clínico pode ser de nódulos de tireoide com ou sem sintomas compressivos.2,3
Paciente L.R., do sexo feminino, 53 anos, com história de nódulo único em tireoide com 1 ano de crescimento. Ao exame apresentava nódulo fibroelástico de 2cm em lobo esquerdo da tireóide; o lobo direito possuía nódulos e cistos de 4mm. Exames laboratoriais normais; a punção aspirativa do nódulo de 2cm resultou em lesão de padrão folicular. Foi indicada a tireoidectomia total e o exame de congelação manteve resultado de lesão folicular. Após a imuno-histoquímica, o diagnóstico foi de lipoadenoma de tireoide (fig. 1).
O tecido gorduroso em tireoide não é comum, sendo habitual em paratireoides, mama, timo, glândulas salivares e pâncreas,2,3 com disposição de forma difusa ou encapsulada, macro ou microscópica,3–5 de comportamento benigno e, conforme o crescimento, podem ocorrer aumento do volume cervical e sintomas compressivos como dispneia e disfagia.1–3 No presente relato houve sintoma de abaulamento cervical de crescimento lento. Na investigação, a ultrassonografia é o exame mais utilizado, seguido da punção aspirativa, conforme as orientações do ATA e do LATS,3,5 porém não houve diagnóstico diferencial do lipoadenoma.
Na literatura há menos de 30 casos de adenolipomas, a maioria mulheres com idade média de 53 anos, como neste relato.2,5,6 Na revisão da literatura, no Medline, com o indexador lipoadenoma, entre novembro de 1971 e janeiro de 2012, encontraram-se 46 trabalhos e nenhum de lipoadenoma de tireoide. Na plataforma Lilacs, entre 1982 e 2000, encontraram-se três artigos com a palavra-chave adenolipoma e nenhum para adenolipoma ou lipoadenoma de tireoide. A miscelânea de tecido adiposo e de tecido tireoidiano condiz com quatro diagnósticos diferenciais: carcinoma papilífero, lipoma tímico intratireoidiano, lipoma paratireóideo intratireoidiano e lipoadenoma.1,3,5,6.
Na literatura, os pacientes com lipoadenoma tinham função tireoidiana e cintilografia normal, assim como este relato. No presente artigo, o diagnóstico da punção biópsia aspirativa foi padrão folicular da lesão, não citando a presença de tecido adiposo. Provavelmente a falta de critérios citológicos diferenciando um lipoadenoma de tireoide de uma lesão folicular tireoidiana foi a causa.2,5,6 O diagnóstico definitivo foi descrito em anatomopatológico e imuno-histoquímica somente após a cirurgia, como também demonstra a literatura.1,2 Neste relato foi indicada tireoidectomia total segundo critérios de evidência da literatura para nódulos tireoidianos, porque a paciente possuía nódulos bilaterais e para elucidação diagnóstica.3,4 Atualmente, ela mantém níveis normais de hormônios tireoidianos por meio da reposição com levotiroxina.
Este trabalho tem o objetivo de acrescentar mais dados à literatura para uma melhor compreensão dessa rara patologia e, possivelmente, uma mudança na conduta do tratamento. Assim pode-se evitar, em casos selecionados, a abordagem cirúrgica.
Conclui-se que o correto diagnóstico pré-operatório do lipoadenoma de tireoide ainda é de difícil realização em função de sua raridade. O tratamento definitivo consiste na ressecção cirúrgica completa e, devido a sua histologia benigna, o prognóstico é muito favorável. Mais estudos com critérios citológicos são necessários para se reavaliar a necessidade de cirurgia nesses casos.