versão impressa ISSN 0066-782Xversão On-line ISSN 1678-4170
Arq. Bras. Cardiol. vol.114 no.2 São Paulo fev. 2020 Epub 20-Mar-2020
https://doi.org/10.36660/abc.20200032
Inicio destacando a importância da multidisciplinaridade na evolução do saber.
Em 1842, estudando a frequência das vibrações da luz de estrelas que se deslocavam, um físico austríaco, de nome Johann Christian Doppler, definiu que a frequência da luz das estrelas era modificada conforme ela se aproximasse ou se distanciasse. Um século e meio depois, essa “curiosidade fútil” passou a ser aplicada para fazer diagnósticos de cardiopatias congênitas. E, desde muito, sabemos entender se o trem está se aproximando ou se afastando.
Desnecessário destacar as similaridades entre os conhecimentos das ciências biomédicas, com realce para a experimentação animal. As afinidades com a Cardiologia ficam caraterizadas nesta publicação.1
A felipressina é uma análoga sintética do hormônio vasopressina (hormônio antidiurético ou ADH) produzido pela neurohipófise. É de interesse especial na odontologia, por atuar como vasoconstritor que alonga o tempo do efeito de anestésicos locais.
Em um modelo de hipertensão induzida artificialmente - e aplicando protocolo muito bem ilustrado na Figura 1 do texto sob comentário - foi analisada a influência de atenolol e de felipressina na pressão arterial de ratos artificialmente hipertensos, anestesiados, submetidos à exposição à fumaça de cigarros. Os resultados indicaram que o tabagismo pode reduzir a vasodilatação da epinefrina e aumentar a resposta hipertensiva quando comparada à ação da felipressina. Esses dados se adicionam à literatura sobre os efeitos cardíacos dos vasoconstritores. Uma recente revisão,2 contudo, concluiu que são necessários mais estudos para aumentar a força das evidências.
Chamam a atenção os níveis pressóricos basais elevados dos ratos anestesiados. A hipertensão arterial não é a resposta habitual à anestesia com a associação cetamina e xilazina,3 o que sugere que a dose de anestésico não foi suficiente para impedir atividade simpática exacerbada nos animais submetidos à cirurgia.
Recente publicação dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia,4 conduzida em humanos despertos concluiu que: “a felipressina aumentou a pressão arterial diastólica de pacientes hipertensos com pressão arterial controlada. Pacientes com traços de ansiedade elevados apresentaram aumento na pressão arterial sistólica em alguns procedimentos”. Considere-se, também, que o cateter arterial foi introduzido após oclusão da artéria carótida esquerda, podendo ter ativado resposta dos barorreceptores do bulbo carotídeo e consequente hipertensão arterial. Teria sido preferível cateterizar a artéria femoral.
É interessante o tempo breve (10 min/dia) a que os ratos foram submetidos à inalação de fumaça de cigarro. Habitualmente, o tempo de exposição à fumaça é mais longo.5
Oportuna a publicação deste trabalho nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Acena para os médicos a necessidade de darem atenção para o cardiopata que se interessa em ser esclarecido sobre os riscos do tratamento odontológico a que vai ser submetido.