versão impressa ISSN 1806-3713versão On-line ISSN 1806-3756
J. bras. pneumol. vol.43 no.2 São Paulo mar./abr. 2017
http://dx.doi.org/10.1590/s1806-37562017000200002
A DPOC é um importante problema de saúde pública; é a terceira principal causa de morte nos Estados Unidos. Além disso, os pesquisadores dizem que a prevalência da DPOC aumentará nas próximas décadas. Os motivos desse aumento são o aumento do tabagismo em países em desenvolvimento e o envelhecimento mundial, já que a prevalência da DPOC em pessoas mais velhas (com mais de 60 anos de idade) é até três vezes maior do que em pessoas mais jovens. Consequentemente, já se estabeleceu uma relação entre DPOC e envelhecimento pulmonar acelerado, incluindo senescência celular e moléculas antienvelhecimento. Portanto, conhecer as alterações relacionadas com a DPOC que acompanham o envelhecimento pode ajudar a descobrir novas terapias contra essa importante doença.1
Classicamente, a DPOC é definida pela Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD) como sendo uma doença que causa sintomas respiratórios e limitação persistente do fluxo aéreo. Essa limitação do fluxo aéreo é demonstrada pela espirometria na forma de relação VEF1/CVF reduzida (VEF1/CVF pós-broncodilatador < 0,70).2 No entanto, demonstrou-se recentemente que fumantes com relação VEF1/CVF preservada podem também apresentar sintomas respiratórios, exacerbações respiratórias, limitação de atividades, enfisema e espessamento das paredes das vias aéreas na TC de tórax.3-5
Em especial, pessoas com enfisema na TC de tórax e relação VEF1/CVF preservada apresentam menor DLCO, qualidade de vida alterada, exacerbações respiratórias mais frequentes e até mesmo maior mortalidade.3,6 Portanto, precisamos prestar atenção a pacientes com enfisema na TC (ETC) antes que eles apresentem alteração da relação VEF1/CVF. No entanto, como podemos evitar que o ETC evolua para DPOC segundo a definição da GOLD?
Uma possibilidade é usar bloqueadores dos receptores de angiotensina II (BRA) ou inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA). Um estudo recente avaliou 4.472 participantes e mostrou que BRA e IECA relacionavam-se com progressão lenta do ETC.6 No entanto, é preciso confirmar esse achado em ensaios clínicos aleatórios com pacientes que apresentem ETC e relação VEF1/CVF normal, especialmente porque ainda não há tratamento recomendado para essas pessoas.2
Outra possibilidade é usar modelos experimentais para estudar como prevenir a progressão do enfisema de uma fase inicial para uma fase avançada (isto é, de parâmetros normais de mecânica respiratória para parâmetros alterados). Nesse ponto, o modelo proposto por Rodrigues et al. é interessante.7 Ele induz enfisema inicial por meio de um curto período de exposição a fumaça de cigarro em virtude do efeito potencializador da elastase, o que facilita o uso desse modelo por outros pesquisadores (em virtude do curto período de tempo necessário para induzir enfisema). É importante, porém, usar esse modelo experimental em estudos futuros para demonstrar se o enfisema progride após a cessação da exposição à fumaça de cigarro ou não. A confirmação dessa progressão permitirá que os pesquisadores usem esse modelo murino para testar intervenções cujo objetivo seja inibir o agravamento do enfisema. Possíveis terapias que são interessantes para estudar são a atividade física, o uso de anti-inflamatórios e o uso de N-acetilcisteína.
A atividade física foi avaliada em um estudo populacional com 6.790 participantes.8 Os autores constataram que a DPOC se desenvolvia mais lentamente em fumantes ativos que faziam atividade física regular de intensidade moderada a alta do que naqueles que faziam atividade física de baixa intensidade. No entanto, são necessários estudos adicionais com seres humanos e animais para que esses efeitos sejam mais bem compreendidos e para confirmar os possíveis benefícios da atividade física no tocante à diminuição da incidência da DPOC e à prevenção da progressão da doença.
Outro ponto que deve ser investigado é o potencial papel do exercício na sobreposição de asma e DPOC. Recentemente, estudos com seres humanos e com animais demonstraram que o exercício tem efeitos benéficos na asma. Freitas et al.9 realizaram um ensaio clínico controlado aleatório com 52 pacientes obesos com asma; um grupo foi submetido a um programa de perda de peso mais exercício e outro foi submetido a um programa de perda de peso mais simulação de exercício (respiração e alongamento). Os pacientes submetidos a perda de peso e exercício apresentaram melhora no controle clínico e na função pulmonar, além de redução da inflamação das vias aéreas e da inflamação sistêmica em comparação com os pacientes submetidos a simulação de exercício. Além disso, em um modelo animal de asma, o exercício também reduziu a inflamação das vias aéreas e até mesmo a remodelação das vias aéreas.10
Em suma, o modelo experimental em questão7 é mais fácil de usar em pesquisas e pode abrir novas janelas para a compreensão da doença e para testar inibidores da progressão do enfisema.