versão impressa ISSN 1413-8123versão On-line ISSN 1678-4561
Ciênc. saúde coletiva vol.23 no.9 Rio de Janeiro set. 2018
http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232018239.22532016
O envelhecimento compreende um processo onde o organismo humano passa por diversas mudanças fisiológicas que proporcionam uma redução natural de determinadas capacidades do corpo, as quais são fortemente diferenciadas de acordo com as condições de vida1. Neste processo, podem surgir diversas condições crônicas que se caracterizam pelo início gradual de prognóstico usualmente incerto e com longa duração, podendo culminar em possíveis incapacidades2-4.
A ocorrência de duas ou mais doenças em um mesmo indivíduo é denominada multimorbidade5,6. É considerada um problema de saúde pública dado o impacto negativo na qualidade e na expectativa de vida do indivíduo7-9. No entanto, apesar dos avanços e das novas técnicas de controle e abordagens da multimorbidade, o manejo adequado é um desafio para os sistemas e serviços de saúde pública contemporânea10-14.
O processo de transição demográfica no Brasil, caracterizado pelo aumento acentuado da população idosa, em comparação aos demais extratos populacionais, vem ocorrendo a partir da segunda metade do século passado, quando o número de idosos aumentou de 3 milhões em 1960, para 7 milhões em 1975 e 14 milhões em 2002. Estima-se que o número de idosos alcance 32 milhões em 202015. No último censo demográfico, 10,79% da população brasileira era representado por pessoas com 60 anos ou mais, correspondendo a mais de 20 milhões de indivíduos16.
Dentre as diferentes morbidades que acometem a população idosa, a depressão tem se configurado num importante problema. A depressão pode ser definida como um distúrbio da área afetiva ou do humor com significativo impacto funcional em qualquer faixa etária. A prevalência mundial da depressão em idosos varia de 0,9% a 9,4% nos que vivem em comunidade e de 14% a 42% entre os institucionalizados17. Estudos brasileiros apontam que a população idosa residente na comunidade apresentou sintomas depressivos com prevalência entre 19% e 34% nas diferentes regiões do País18-21.
Dentre os fatores associados à depressão em idosos destacam-se além das variáveis demográficas como sexo, idade avançada e baixa escolaridade, o tabagismo, as doenças cardiovasculares, endócrinas, neurológicas e oncológicas, bem como maior número de medicamentos diários, incapacidade funcional, percepção negativa da própria saúde, baixo nível de atividade física habitual e insônia22,23.
A multimorbidade em idosos tem mostrado ser um fator colaborador para o possível desenvolvimento da depressão. Uma pesquisa brasileira realizada com idosos da Estratégia de Saúde da Família em Dourados (MS) mostrou que 27% dos idosos participantes possuíam no mínimo três doenças crônicas e apresentavam sintomas depressivos, quando o número de doenças crônicas passa para cinco a depressão afeta 48,1% dos idosos24.
Uma pesquisa realizada na Espanha com 471 idosos mostrou prevalência de sintomas depressivos em 19,7%, estando estes associados à presença de multimorbidade25. Em Singapura também foi observada associação positiva entre a presença de doenças crônicas e sensação de isolamento entre idosos, sendo este considerado um sintoma da depressão26, o que reforça a existência de relação direta entre depressão e multimorbidade.
Em inquérito realizado em 2010 com idosos da Estratégia de Saúde da Família no município de Senador Guiomard, estado do Acre, foi observado que individualmente, a hipertensão e os distúrbios cardiovasculares, por exemplo, estão associados à qualidade de vida total e aos domínios da qualidade de vida27. Vale destacar que no estado do Acre os idosos correspondiam a 4,32% da população, mas em Senador Guiomard, a proporção de idosos era de 7,91%16.
Portanto, com a presente investigação pretende-se analisar a associação da presença de multimorbidade com sintomas de depressão e qualidade de vida em idosos cadastrados na Estratégia de Saúde da Família de Senador Guiomard, Acre.
Estudo transversal integrante do projeto “Condições de saúde, qualidade de vida e depressão em idosos atendidos na Estratégia de Saúde da Família em Senador Guiomard, Acre” realizado entre agosto e setembro de 2010, com idosos atendidos pela Estratégia de Saúde da Família (ESF) da zona urbana do município de Senador Guiomard, Acre.
Foi realizada amostragem probabilística tomando por base a população idosa cadastrada na ESF, que naquele ano apresentava 100% de cobertura. Os procedimentos de amostragem e de coleta de dados foram previamente descritos27.
Assim, participaram do estudo 264 idosos de ambos os sexos com 60 a 102 anos de idade que responderam um questionário estruturado em módulos temáticos que versavam sobre informações sociodemográficas e econômicas, hábitos de vida, presença de morbidades, qualidade de vida e depressão.
Na presente investigação a multimorbidade, analisada como variável dependente, foi construída a partir do autorrelato pelo idoso do diagnóstico prévio feito por profissional de saúde para as seguintes morbidades: hipertensão, diabetes, distúrbio cardiovascular (má circulação, acidente vascular encefálico e problema cardíaco), distúrbio musculoesquelético (problema na coluna, reumatismo, artrite/artrose e osteoporose), insônia, catarata, anemia, distúrbio gastrintestinal/urinário. Foi adotada a definição de multimorbidade a ocorrência simultânea de duas ou mais doenças num mesmo indivíduo6.
A depressão, tratada como variável independente ou explicativa, foi identificada com o emprego da Escala de Depressão Geriátrica (EDG-15) adotando o ponto de corte 5/6 pontos para não caso/caso como sugestivo da doença28.
A variável independente ou explicativa qualidade de vida foi obtida por meio do Questionário de Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde, versão abreviada WHOQOL-Bref (The World Health Organization Quality of Life Assesment)29. Os escores dos domínios físico, psicológico, social e ambiental e da qualidade de vida total foram analisados em tercil.
Foram tratadas como variáveis de ajuste: sexo; idade (“60 a 69 anos”, “70 a 79 anos” e “80 anos e mais”); escolaridade (“analfabeto/fundamental – 1 incompleto” e “fundamental – 1 completo e mais”); situação conjugal (“com companheiro” e “sem companheiro”); e classificação econômica, obtida por meio do Critério Brasil de Classificação Econômica30 que considera o poder de compra das pessoas nas seguintes classes: A1, A2, B1, B2, C1, C2, D e E. No presente estudo optou-se por dividir em duas classes “B/C” e “D/E”, uma vez que nenhum idoso foi classificado na classe A.
Na análise descritiva foram verificadas as frequências absolutas e relativas de todas as variáveis analisadas por sexo, sendo estimadas as diferenças nas frequências entre os idosos com e sem multimorbidade pelo teste qui-quadrado de Pearson. Também foram estabelecidas médias com seus respectivos desvios-padrão para os domínios da qualidade de vida, onde foram testadas as diferenças das médias entre os indivíduos com e sem multimorbidade por meio do teste t de Student para amostras independentes.
Modelos de regressão logística não pareada estimaram a magnitude de associação em Odds Ratio (OR), com seus respectivos intervalos de confiança em 95% (IC95%), entre a variável dependente multimorbidade e cada variável independente: depressão e os domínios da qualidade de vida e a qualidade de vida total em tercil, tendo o tercil superior, indicativo de melhor qualidade de vida, como referência. Foram estimados três modelos: o primeiro centrando-se na associação bruta entre multimorbidade e depressão e cada domínio da qualidade de vida. O segundo modelo levou em consideração o ajuste pela faixa etária e sexo. No terceiro modelo foi calculada a associação ajustada pela idade, sexo, escolaridade, classificação econômica e situação conjugal. Em todas as análises foi considerado o nível de significância de α = 0,05. Os dados foram analisados com o auxílio do Software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS v.17).
O projeto-base da presente pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Acre e todos os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Em relação aos 264 idosos avaliados, observou-se que 61,0% eram do sexo feminino, 52,1% tinham 70 anos ou mais, 79,9% eram analfabetos ou possuíam o ensino fundamental 1 incompleto, 58,0% não tinham companheiro, 64,0% se encontravam quanto à classificação econômica nas classes D e E. A multimorbidade foi identificada em 66,3% dos entrevistados, mas não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas na distribuição entre os indivíduos com e sem multimorbidade nas variáveis sociodemográficas. A escala de depressão geriátrica identificou 27,3% de idosos com depressão, sendo maior a proporção dos indivíduos com multimorbidade em comparação àqueles sem multimorbidade (Tabela 1).
Variáveis | Multimorbidade | |||
---|---|---|---|---|
| ||||
Total n (%) | Sim n (%) | Não n (%) | p-valor* | |
Sexo | 0,094 | |||
Masculino | 103 (39,0) | 62 (35,4) | 41 (46,1) | |
Feminino | 161 (61,0) | 113 (64,6) | 48 (53,9) | |
Idade (grupo etário)a | 0,131 | |||
60 a 69 anos | 126 (47,9) | 76 (43,7) | 50 (56,2) | |
70 a 79 anos | 90 (34,2) | 66 (37,9) | 24 (27,0) | |
80 anos ou mais | 47 (17,9) | 32 (18,4) | 15 (16,8) | |
Escolaridade | 0,179 | |||
Analfabeto/ Fundamental – 1 incompleto | 211 (79,9) | 144 (82,3) | 67 (75,3) | |
Fundamental – 1 completo ou mais | 53 (20,1) | 31 (17,7) | 22 (24,7) | |
Situação conjugal | 0,667 | |||
Com companheiro(a) | 111 (42,0) | 72 (41,1) | 39 (43,8) | |
Sem companheiro(a) | 153 (58,0) | 103 (58,9) | 50 (56,2) | |
Classificação econômica (ABEP) | 0,125 | |||
B/C | 95 (36,0) | 67 (38,3) | 28 (31,4) | |
D/E | 169 (64,0) | 108 (61,7) | 61 (68,6) | |
Depressão (EDG-15) | 0,003 | |||
Não | 192 (72,7) | 117 (66,9) | 75 (84,3) | |
Sim | 72 (27,3) | 58 (33,1) | 14 (15,7) | |
Total | 264 (100) | 175 (66,3) | 89 (33,7) |
* Qui-quadrado de Pearson. a perda da informação idade de um participante (n = 263).
Também foram observadas menores médias em todos os domínios da qualidade de vida, exceto o ambiental, entre os sujeitos com multimorbidade quando comparados aos sem o agravo (Tabela 2).
Variáveis | Multimorbidade | |||
---|---|---|---|---|
| ||||
Total média ± dp | Sim média ± dp | Não média ± dp | p-valor* | |
Qualidade de Vida | ||||
Físico | 57,2±11,46 | 55,3±11,61 | 60,9±10,23 | <0,001 |
Psicológico | 63,8±10,56 | 62,4±10,42 | 66,5±10,35 | 0,003 |
Social | 62,4±12,05 | 61,0±12,53 | 65,2±10,57 | 0,005 |
Ambiental | 50,4±7,97 | 50,0±7,99 | 51,0±7,95 | 0,360 |
Total | 63,5±15,00 | 60,6±14,44 | 69,1±14,54 | <0,001 |
* Teste t Student.
Houve associação entre a presença de multimorbidade e menor escore nos domínios da qualidade de vida. Após ajuste por sexo, idade, classificação econômica, escolaridade e situação conjugal, as magnitudes das associações variaram entre 2,54 e 5,14 vezes maior a chance de pertencer aos tercis inferiores da qualidade de vida nos domínios físico, psicológico, social e qualidade de vida total dado que o idoso tinha um quadro de multimorbidade. De maneira semelhante, os indivíduos com multimorbidade apresentaram 2,39 vezes maior a chance de depressão indicada pelo EDG (Tabela 3).
Variáveis | OR (IC95%) (modelo 1)* | OR (IC95%) (modelo 2)** | OR (IC95%) (modelo 3)*** |
---|---|---|---|
Depressão (EDG-15) | |||
Sem depressão | 1 | 1 | 1 |
Com depressão | 2,66 (1,38-5,10) | 2,44 (1,26-4,75) | 2,39 (1,23-4,68) |
Domínios da Qualidade de Vida | |||
Físico | |||
Tercil superior | 1 | 1 | 1 |
Tercil intermediário | 1,73 (0,94-3,17) | 1,63 (0,87-3,07) | 1,69 (0,89-3,21) |
Tercil inferior | 3,05 (1,56-5,95) | 2,97 (1,42-6,22) | 2,90 (1,37-6,16) |
p tendência | 0,001 | 0,004 | 0,005 |
Psicológico | |||
Tercil superior | 1 | 1 | 1 |
Tercil intermediário | 1,49 (0,79-2,82) | 1,26 (0,65-2,43) | 1,30 (0,67-2,52) |
Tercil inferior | 2,70 (1,39-5,26) | 2,58 (1,30-5,12) | 2,54 (1,26-5,10) |
p tendência | 0,003 | 0,008 | 0,010 |
Social | |||
Tercil superior | 1 | 1 | 1 |
Tercil intermediário | 2,28 (1,20-4,35) | 2,55 (1,32-4,93) | 2,56 (1,32-4,98) |
Tercil inferior | 2,53 (1,25-5,11) | 2,64 (1,29-5,42) | 2,71 (1,30-5,66) |
p tendência | 0,003 | 0,002 | 0,002 |
Ambiental | |||
Tercil superior | 1 | 1 | 1 |
Tercil intermediário | 1,13 (0,62-2,05) | 1,10 (0,60-2,01) | 1,09 (0,59-2,00) |
Tercil inferior | 1,22 (0,64-2,32) | 1,27 (0,66-2,43) | 1,27 (0,65-2,48) |
p tendência | 0,536 | 0,481 | 0,493 |
Total | |||
Tercil superior | 1 | 1 | 1 |
Tercil intermediário | 2,81 (1,56-5,07) | 2,60 (1,43-4,73) | 2,65 (1,45-4,87) |
Tercil inferior | 4,94 (1,94-12,56) | 5,21 (2,00-13,55) | 5,14 (1,96-13,51) |
p tendência | <0,001 | <0,001 | <0,001 |
*Modelo 1: bruto. **modelo 2: ajustado por sexo e idade. ***Modelo 3: ajustado por sexo, idade, classificação econômica, escolaridade e situação conjugal.
Entre os idosos atendidos pela ESF da cidade de Senador Guiomard, Acre, observou-se que a maioria apresentava multimorbidade, condição esta mais frequente entre aqueles classificados como depressivos pela EDG. Entretanto, no que tange às variáveis socioeconômicas entre os idosos com multimorbidade, estes não diferiram estatisticamente daqueles sem esta condição.
Os achados da prevalência de multimorbidade no presente estudo encontram ressonância em importantes estudos de revisão sistemática que apontaram que a prevalência de multimorbidade entre idosos é maior que a encontrada entre jovens e adultos de meia idade e varia de 55 a 98%31, sendo maiores as frequências entre os idosos atendidos em unidades de atenção primária32. Na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, a prevalência de multimorbidade foi de 57,9% entre pessoas com 60 anos ou mais tendo, na população em geral de 20 anos acima, sido observada prevalência de depressão de 59,5% entre as pessoas com multimorbidade33. Já na cidade de Bagé, também na região Sul do Brasil, foi encontrada prevalência de multimorbidade de 81,3% entre idosos34, sendo nesta mesma população encontrada prevalência de 18% de sintomas de depressão pela EGD34,35.
A prevalência de sintomas de depressão entre os idosos de Senador Guiomard assemelha-se à encontrada em Dourados (MS), onde se verificou 34,4% entre aqueles acompanhados pela ESF24. Na Espanha, evidenciou-se depressão em 19,7% dos idosos e esta se associou à presença de comorbidades e risco social25. Contudo, na presente investigação, observou-se que a prevalência de depressão entre os idosos com multimorbidade é duas vezes maior que entre aqueles sem multimorbidade, evidenciando o impacto da multimorbidade na saúde afetiva e no humor, áreas relacionadas à depressão17.
A depressão é um transtorno mental, fato que em parte auxilia no entendimento da sua relação com a multimorbidade, uma vez que os problemas psíquicos tornam as pessoas mais suscetíveis ao aumento do número de doenças31,36, sendo os sintomas depressivos associados ao maior número de doenças crônicas37.
Diferentemente dos dados identificados na presente investigação, foi reportado que a multimorbidade está associada à idade avançada, ao sexo feminino e ao baixo nível econômico31,38. Destacando-se como consequências negativas o declínio funcional e incapacidades39, diminuição da qualidade de vida31,40, aumento da demanda por serviços e dos custos com a saúde, bem como aumento do risco de mortalidade38, o que representa um grave problema de saúde pública.
Neste sentido, o aumento da expectativa de vida tem como consequência a convivência cada vez mais frequente com doenças crônicas, o que acarreta um aumento de multimorbidade entre pessoas idosas, condição esta que leva ao incremento da utilização de serviços de saúde, incapacidades físicas e funcionais e piora da qualidade de vida41. Em estudo brasileiro, realizado em Bauru, foi verificado que o número de morbidades se associou aos menores escores da qualidade de vida42.
Em estudo anterior, analisando individualmente a presença de hipertensão, distúrbio cardiovascular, insônia e anemia, pode-se observar associação aos menores escores dos domínios da qualidade de vida, exceto o ambiental27. Na presente investigação, os idosos com multimorbidade apresentaram maiores chances de pior qualidade de vida (tercil inferior), confirmando a relação da multimorbidade com a diminuição da qualidade de vida41. Uma possível explicação para este fato é que os idosos que sofrem de diferentes doenças crônicas têm que reajustar seu cotidiano e suas tarefas, o que interfere diretamente na diminuição da qualidade de vida43.
Na pesquisa sobre o envelhecimento na Alemanha identificou-se correlação negativa entre sintomas depressivos e o número de morbidades crônicas com os domínios físico e psicológico da qualidade de vida, mostrando que, a despeito da multimorbidade, há indícios de que os suportes social e emocional precoce parecem ser alternativas promissoras para a proteção à qualidade de vida na velhice no que tange aos domínios físico e psicológico44. Desta maneira, torna-se mister a implementação de políticas para o fortalecimento dos laços sociais e familiares, criando redes de apoio para um envelhecimento saudável e com a melhor qualidade de vida possível.
Algumas limitações são reconhecidas na presente investigação, como a impossibilidade de fazer inferências causais em virtude do delineamento transversal, o que impõe a necessidade de analisar com cautela as associações observadas. Outra limitação é a definição de morbidades pelo autorrelato, embora morbidades crônicas autorreferidas possam expressar uma medida aproximada das informações obtidas por exames clínicos45.
A despeito das limitações citadas, cabe destacar como pontos positivos a representatividade da amostra de idosos cadastrados na ESF e o caráter inédito do estudo na região, uma vez que se desconhece qualquer estudo populacional voltado para as relações da multimorbidade com depressão e qualidade de vida na população idosa, embora estudos voltados para as morbidades e qualidade de vida sejam crescentes no Brasil.
Os achados apontam que a multimorbidade em idosos está fortemente associada à presença de sintomas de depressão e menor percepção da qualidade de vida, exceto no domínio ambiental. Deste modo, um desafio para a Estratégia de Saúde da Família, no que tange à pessoa idosa, é criar mecanismos para um cuidado eficaz de modo a reduzir os impactos da senilidade na qualidade de vida, possibilitando que “o viver” no processo de redução das reservas funcionais, a senescência, não seja acompanhado de sofrimento e redução da qualidade de vida.