versão impressa ISSN 0101-2800versão On-line ISSN 2175-8239
J. Bras. Nefrol. vol.37 no.3 São Paulo jul./set. 2015
http://dx.doi.org/10.5935/0101-2800.20150058
Senhor Editor,
A doença renal crônica (DRC) representa um problema de saúde pública nos países nos quais foi adequadamente estudada. O diagnóstico precoce da DRC, com tratamento das suas complicações e comorbidades, permite diminuir a velocidade da perda funcional renal e reduzir a mortalidade cardiovascular em até 50%.1Adicionalmente, a identificação de taxas de filtração glomerular (TFG) anormais permite a adequação da dosagem dos medicamentos de eliminação renal, avaliar a realização ou não de determinados exames de imagem, auxilia no processo de indicação da terapia de substituição da função renal e na avaliação dos doadores de rins.
Após a segunda década de vida, a TFG (valor normal em adulto jovem em torno de 120 mL/min/1,73 m2) diminui progressivamente, em média 8-9 mL/min/1,73 m2/década. Existe considerável debate sobre a importância desta "diminuição fisiológica" da TFG com a idade, em muitas situações atribuídas aos efeitos da concomitância de hipertensão arterial, aterosclerose, doenças cardiovasculares observadas nos idosos. A diminuição da TFG com a idade associada a alterações de nefrosclerose2 torna os idosos particularmente "susceptíveis" a desenvolverem DRC, com taxa de prevalência que pode alcançar 47% entre adultos com idade igual ou acima de 70 anos.3
A TFG é considerada a melhor indicação da função renal e sua estimativa tem sido sugerida nas principais diretrizes sobre DRC.4,6 Contudo, nas equações de Cockcroft-Gault (CG),7 Modification of Diet in Renal Disease (MDRD)8 e Chronic Kidney Disease Epidemiology(CKD-EPI),9 preconizadas nas diretrizes citadas e as mais utilizadas clinicamente na estimativa da TFG, os indivíduos idosos não foram incluídos ou estavam sub-representados.
Recentemente, uma equação para estimar a TFG baseada na creatinina, sexo e idade (foram incluídos apenas indivíduos com mais de 70 anos de idade) foi desenvolvida para o estudo Berlin Initiative Study.10 A performance da equação, denominada BIS1, foi comparada com o Hioxal (padrão ouro), três equações baseadas na creatinina (CG, MDRD e CKD-EPI) e três equações baseadas na cistatina C (propostas pelo CKD-EPI) e demonstrou o segundo menor viés entre todas as equações e, quando comparada às equações CG, MDRD e CKD-EPI, apresentou a menor taxa de classificação errônea da DRC nos participantes com menos de 60 mL/min/1,73 m2.
Em anexo, apresentamos dois nomogramas, um para idosos do sexo feminino (Figura 1) e outro para o masculino (Figura 2), baseados na equação BIS1. Nos nomogramas, os estágios da DRC são identificados com diferentes cores e também se destaca a importância da necessidade da identificação de marcador(es) de lesão do parênquima renal para TFG estimadas igual ou maiores que 60 mL/min/1,73 m2.
Em suma, as tabelas apresentadas, baseadas na equação BIS1, parecem ser mais precisas para estimar a TFG em idosos, permitem identificar pacientes com DRC em estágios da doença em que ela é clinicamente assintomática e dispensam a utilização de "ferramentas" (computador, telefone celular, calculadoras e acesso a internet) nem sempre disponíveis. Contudo, por ter sido desenvolvida em um grupo de indivíduos idosos alemães da raça branca, precisa ser validada em outros grupos étnicos, como sugerem os próprios autores.